Noite passada



Batidas insistentes na porta o despertou da sua leitura.
Ele bufou, levantando-se.
Se fosse mais um daqueles adolescentes trouxas que Merlin sabe como descobriram aquele lugar remoto para fazer aquela barulhenta festinha de reveillon, ele não responderia por si.
Sacando a sua varinha, ele abriu a porta... e quase caiu estatelado no chão.
Com um vestido muito decotado para a temperatura que fazia naquela noite, Narcissa Malfoy estava parada à sua porta.
Cabelos muito loiros, pele muito alva e o vestido branco, faziam-na se confundir com a densa neve... e contrastar estonteantemente com o negro da noite. Ele quase deixou de escutar o barulho que os malditos adolescentes trouxas faziam, olhando para a bela estátua de gelo que estava á sua frente.
- Severo.
Ele se afastou, para deixá-la entrar, ainda sem conseguir tirar os olhos dela.
Fechou a porta, enquanto ela sorria, nervosa.
- O que está acontecendo lá fora? Todos enlouqueceram?
- Trouxas. Ainda quero saber como eles conseguiram chegar aqui.
Ela começou a andar de um lado para o outro, vez por outra tropeçando na longa veste. Parecia procurar palavras.
- Narcisa? Porque não se senta?
Ela parou, o olhando. Os olhos, ele pôde perceber, estavam marejados.
- Eu... eu prefiro ficar de pé.
Severo assentiu, dando um passo ao encontro dela.
- O que aconteceu?
- Eu estava numa festa de ano novo quando me encontrei com Pansy Parkinson, a namoradinha de Draco. Eu pensei que eles passariam a noite juntos – ela soluçou – mas ele não estava com ela. Você sabe para onde ele foi, não?
Ele se aproximou um pouco mais, tomando cuidado com o que falaria.
- Sim, Narcisa, eu s...
Mas, antes que ele pudesse terminar de responder, ela agarrou o colarinho dele e o trouxe para perto. A proximidade o atormentava tanto quanto as lágrimas que agora escorriam pelo rosto dela.
- E você não me falou nada? Não fez nada?Meu filho pode morrer!
Ele segurou os pulsos frágeis dela, tentando acabar com aquela proximidade incomoda, mas ela não se deixou afastar.
- Ele não vai morrer, Narcisa. Se você não se lembra, ele já teve uma tarefa bem mais difícil do que invadir Azkaban! E ele está acompanhado de muita gente boa!
- Severo, é a prisão mais segura do mundo!
- Tão segura que há pouco tempo presenciou uma fuga em massa!
- Mas agora não temos mais a cooperação dos Dementadores! Existem feitiços, e trasgos, e aurores...
- E você acha que o lorde das trevas não explicou como quebrar as barreiras, os feitiços... não trouxe os trasgos para o nosso lado? Não deu um jeito de diminuir a segurança? Nada vai acontecer! Nada!
Ela desviou o olhar.
- Nem com o meu marido?
Ele se calou por um momento. Não esperava que ela perguntasse pelo marido. Aliás, desejava que ela não perguntasse por ele. Nunca mais.
- Nem com Lúcio – ele respondeu com a expressão mais dura. – Ele já pagou pelas suas falhas com o tempo que passou preso.
Ela passou um momento calada. Quando voltou a virar o rosto para o dele – Severo percebeu mais uma vez o quão perto eles estavam –, já não tinha mais lágrimas nos olhos.
- Você realmente acha que o meu filho e o meu marido voltarão ilesos?
- Sim.
Ela deu um sorriso amarelo de quem não está muito convencida e os dois mergulharam num profundo silêncio.
Silêncio em que os seus olhos não se desgrudavam e em que as suas bocas ficavam inexplicavelmente secas. Em que as suas mãos ficavam frias e suadas... talvez até um tanto trêmulas. Em que os seus corações batiam fortes e num só ritmo, em que seus corpos se tornavam tão quentes, mesmo que eles se sentissem frios, implorando pelo calor do corpo próximo.
Silêncio no qual o olhar dele se desviou para a boca dela, que se entreabriu para um suspiro quente e leve. No qual os olhos dela se fechavam e ela inclinava o rosto, oferecendo os seus lábios à ele.
Silêncio quebrado por uma série de explosões.
Os dois se separaram, ofegantes. Ele exclamou:
- O que diabo é isso?
Narcisa expiou a janela de vidro, que refletia luzes multicoloridas.
De repente, ela sorriu.
- Fogos de artifício. É meia noite! Feliz ano novo, Severo.
E então, ele o fez.
Por mais incomum, inesperado e completamente contra tudo o que ele tinha feito na vida dele, ele o fez.
Talvez movido pelo momento estranho que eles tinham acabado de passar, talvez pela paixão quase incontrolável que ele vinha sentindo nos últimos tempos, ou apenas pelo fato de muitos acharem que aquilo dá sorte quando feito no ano novo, Severo deu dois passos à frente, agarrou Narcissa pelos cabelos e fez os seus lábios se encostarem, num mais que esperado beijo.
Quando os dois lentamente se separaram, Narcissa suspirou, encantada.
- Severo... Eu amo você.
E voltou a fazer contato com o corpo dele. As mãos deslizavam pelo seu rosto, seus lábios.
Ele sentiu que tudo estava para ficar mais interessante – ou perigoso – quando as mãos dela começaram a desabotoar a sua camisa.
Na ponta dos pés, Narcisa passou a depositar beijinhos leves no rosto dele, no pescoço...
- Eu amo você.
O abraçou.
- Eu me apaixonei por você.
Mordeu a orelha dele em desespero.
- Você é o melhor homem que eu já conheci na minha vida.
E ele não quis mais saber da racionalidade quando o vestido dela caía e revelava o corpo que ele tanto cobiçava.

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