Solução do ano novo



Um tímido gemido que vinha da cama foi suficiente para despertá-lo dos devaneios que a mera lembrança da noite passada trazia.
Severo Snape voltou o seu olhar para a mulher que puxava um pouco do lençol para cobrir o seu corpo nu e bocejava, enquanto graciosamente sentava-se.
Ele poderia jurar o rosto dela corou quando os seus olhares finalmente se cruzaram.
- Bom dia, Severo.
Ele baixou o jornal, privando-se da reportagem que vinha tentando, sem muito sucesso, ler com atenção.
A sua voz saiu mais áspera do que pretendera.
- Bom dia, Narcisa. Espero que tenha dormido bem.
O sorriso se alargou.
- Ah, como uma pedra.
Ela o olhou por um momento, talvez esperando que ele votasse à cama e retomasse as carícias de horas atrás... mas, como ele se negou qualquer movimento, ela levantou-se, arrastando as cobertas brancas pelo chão.
Corando visivelmente, ela disse.
- Estou nua.
Severo quase não pode se privar de sorrir.
- Eu preciso lhe lembrar o motivo?
- Como eu poderia esquecer? – Ela se abaixou para pegar o traje que ainda se encontrava jogado no chão. – Isso parece ter muito pano para ser vestido numa manhã.
Ele deu de ombros.
- Está frio.
- Nem tanto.
Ao dizer isso, Narcisa deixou que o lençol deslizasse pelo seu corpo, revelando-o mais uma vez para Severo... que não pôde se furtar de contemplar cada centímetro dele, de desfrutar da bela visão.
Agora, mais do que nunca, Narcisa surtia um efeito avassalador sobre Snape... Ela conseguira, depois de passar a noite com ele, penetrar nas suas mais profundas defesas... e ele não gostava nem um pouco disso.
Decidido, levou os seus olhos de volta para o jornal... embora a concentração fosse inexistente.
Sem sobreaviso, Cissy afastou dele o jornal, sentou-se em seu colo e começou a afagar-lhe os cabelos.
- O que tanto tem nesse jornal que é mais interessante do que eu?
Ele suspirou.
- Notícias sobre a invasão a Azkaban.
Como se tivesse recebido um grande balde de água fria, Narcisa pulou do colo de Severo e voltou para a cama, onde novamente cobriu o seu corpo e sentou-se ereta, com uma expressão séria e – por que não dizer – assustada.
- O que diz?
- Houve certas... complicações na missão.
Ele jamais revelaria que as tais complicações só aconteceram porque ele informou à Ordem da Fênix de todos os planos que foram cuidadosamente traçados pelo Lorde das Trevas e por ele mesmo.
- Complicações? – Narcisa franziu o cenho, preocupada – Mas... Draco?
- Não houve prisões ou mortes. Draco certamente está bem.
Ela mordeu ligeiramente o lábio. Estava aliviada, mas algo ainda a incomodava...
- E o meu marido?
Severo não conseguiu deixar de desviar o seu olhar.
- Com as complicações, os comensais não puderam soltar todos os prisioneiros, como planejado... apenas os mais importantes foram soltos. Lúcio está entre eles, não se preocupe.
- O que isso quer dizer?
- Que o Lord não o soltaria apenas para se vingar pessoalmente por seus erros. Ele apenas soltou o pessoal que julgou indispensável. O seu marido foi perdoado e não corre mais perigo.
Ela jamais saberia o quanto o seu suspiro de aliviado doeu em Severo.
Um silêncio constrangedor se instalou... e foi ele quem retomou a conversa.
- O que você vai fazer agora, Cissy?
Ela deu de ombros, tentando sorrir.
- Cumprir a minha obrigação, Severo. Farei o que uma Black tem que fazer... O que uma Malfoy tem que fazer.
Ele se levantou, caminhando para a janela de vidro.
O seu olhar perdeu-se na paisagem alva. Como se estivesse dando uma bronca num aluno do primeiro ano, ele disse:
- Uma mulher de puro sangue não deve ficar andando com um mestiço. Muito menos dormindo com ele. E menos ainda se ela é casada.
- Eu não me importo com o seu sangue.
- Se importa. Você sabe que, no fundo, se import...
Narcisa quase gritou, indignada.
- Eu não sou Bellatrix.
Ela suspirou, tentando buscar controle. Com a voz ainda um pouco alterada, explicou-se.
- Se eu ficasse, seria um escândalo.
- Eu sei.
- E agora... nada mais pode acontecer, sabe? Lúcio... se um dia ele descobre... eu sou casada com ele.
- Eu sei.
- É impossível.
- Eu sei.
E silêncio.
Depois de uns três minutos, Severo sentiu os delicados braços de Narcissa envolvê-lo pela cintura, num carinhoso abraço.
Virou-se.
Narcisa já estava vestida e penteada, pronta para voltar para a sua casa, seu marido, sua vida.
Um pequeno fio de lágrima chamou a atenção dele.
Com a voz embargada, ela sussurrou:
- Eu amo você.
E, sem esperar resposta, saiu.
Com pesar, Severo viu pela janela aquela bela figura desaparecer na paisagem.
Ele estava certo desde o início: era impossível.
Quase riu quando percebeu que a sua única resolução de ano novo era tirar Narcisa Malfoy da sua cabeça.

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