Capitulo 6



CAPÍTULO VI

Depois de uma hora de exercícios puxados, Hermione caiu ao lado de Harry, no tatame. Mal podia respirar, e cada osso de seu corpo parecia ter sido triturado.

- Já quer desistir? – provocou ele outra vez.

- Só por enquanto – respondeu ela, arfando.

O rosto corado pelo exercício estava coberto de gotículas de suor. O cabelo espetava-se para todos os lados, como um simpático porco-espinho.

- Lembra-se do dia em que fomos nadar no rio? – disse Harry, em tom saudoso. – Você quase morreu afogada porque não queria admitir que era longe demais para você. Tive de trazer você de volta.

- Eu quase consegui – insistiu ela, lembrando a ocasião à qual ele se referia.

- No caminho de volta, a parte de cima do seu maiô saiu – afirmou ele, aproximando-se e encarando-a de perto.

Hermione sentiu o impacto do olhar dele como se fosse a ocasião referida. Havia a mesma intimidade da primeira vez entre os dois. Os olhos de Harry pousados nos seios nus a tinham feito corar no rosto e no colo, disparando o coração como nunca acontecera antes. Ele não a envergonhara, nem fizera pouco da sua situação. Erguera-a da água com suavidade, e a observara longamente. Só isso. Depois a colocara de volta, encontrara o sutiã e o devolvera a ela. Virara de costas para que ela vestisse com tranqüilidade. Tudo acontecera de forma tão natural que ela mal registrara a experiência.

- Acima de tudo lembro da expressão em seu rosto – comentou ele, em voz baixa. – Você ficou chocada, excitada e deliciada, tudo ao mesmo tempo. Um pintor ficaria maluco tentando captar aquela expressão.

- Foi a primeira vez – declarou ela. – Naturalmente para você não deve ter sido algo único.

- Como pode ter tanta certeza?

Ela evitou os olhos verdes que procuravam os seus.

- Tudo isso foi há muito tempo, não foi? Agora somos pessoas diferentes.

Num átimo, todos os lugares estranhos e aventuras em que estivera metido passaram pela mente de Harry. Todos os contatos que os dois tiveram, desde o início do relacionamento até a última vez. A única vez em que importava de verdade que ele tivesse acreditado nela. O que não ocorrera.

- Eu desapontei você.

- Pode ser, mas você não teria sido feliz se tivesse assumido um compromisso comigo. Precisava muito de liberdade, e por isso também não deu certo com Cho.

- Com Cho foi diferente – afirmou ele, estreitando os olhos. – Ela sabia desde o princípio que eu não pretendia me casar, e me aceitou assim. Porém nunca disse isso a você.

- Até pensar que eu tinha feito amor com Rony – completou ela. – Foi isso que feriou seu orgulho mais que tudo.

- O amor vem de uma forma muito forte para alguns homens, Hermione. A idéia de acomodar-se custa a cristalizar...

- Eu sabia que você ainda não estava pronto – afirmou ela, sorrindo. – E apesar do fato de que você não ter feito nenhuma proposta, eu não teria aceitado, por saber que você desejava entrar para a CIA muito mais do que casar-se. Mas era gostoso fazer de conta.

- Hermione, uma vez eu perguntei o que achava de tentar outra vez. Você nunca me respondeu. Eu não estava brincando.

- Não sei, Harry – ponderou ela, com expressão incerta e o coração acelerado.

- Agora você é uma mulher, e poderíamos começar de onde paramos. Podemos ter um relacionamento completo, sem os inconvenientes da adolescência.

- O que está querendo dizer é que podemos dormir juntos, é isso?

Ele ajeitou o uniforme, evitando olhar para ela.

- É isso mesmo.

- Foi o que pensei ter entendido.

Hermione estendeu a mão e começou a calçar as meias e os sapatos, sem olhar para os lados, ou responder a pergunta.

- Então? – perguntou ele, sem conseguir conter-se.

- Então o quê? – Ela levantou as sobrancelhas.

- O que acha de começar outra vez?

- Não gosto de ficar colando cacos de espelho até formar um inteiro outra vez – disse ela. – E sabe muito bem como me sinto sobre sexo. Já conversamos sobre isso. Não pretendo ficar transando por aí.

- Você não iria ficar transando por aí. Iria transar só comigo.

- Certo, e por quanto tempo, Harry? – indagou ela, os olhos castanhos procurando os dele. – Até que você fique cansado?

- Está distorcendo minhas palavras.

- Não estou, não. Você precisa de uma mulher, e eu estava disponível – gritou ela, os olhos fuzilando de raiva. – Muito obrigada Harry. É muito lisonjeiro ter um homem olhando para mim e enxergando meia hora de diversão.

Ela levantou-se de repente, e ele fez o mesmo, sentindo-se frustrado e zangado. Ela não o deixou terminar. Parecia que ela não queria que ele fizesse nenhuma proposta séria. Por outro lado não o queria, ou não o amava o suficiente para encarar um relacionamento com ele, sem a presença de laços permanentes. Essa sempre fora a barreira entre eles, e parecia ainda estar em pé, mais sólida do que nunca. Hermione não confiava nele.

- Deixe eu dizer uma coisa – continuou ela, alterada. – Quando eu quiser um homem para dormir comigo, eu mesma procuro. E não será um figurão com uma longa lista de ex-amantes! Eu não dormiria com você nem que me apresentasse um atestado médico dado pelo Ministro da Saúde.

Dito isso, apanhou a valise e passou por ele em direção à saída.

- Espere um pouco – disse ele, assim que a alcançou, bloqueando-lhe o caminho. – Você não vai a lugar nenhum sozinha. Esqueceu o que estamos fazendo aqui? Seu perseguidor não descansa, sabia?

Ela hesitou. A raiva subitamente tornou-se menos importante do que o fato de que Erikson poderia estar do lado de fora.

- Estou contente que tenha usado seu bom senso – disse Harry. – Espere até eu trocar de roupa, e vou levar você para casa. Depois disso, a não ser pelos contatos profissionais, nós ficamos separados. Está bem assim?

- Está ótimo! Se existe uma coisa da qual eu não preciso, é de um homem em minha vida. Consigo me virar muito bem sozinha...

- Eu também. E quando fico muito necessitado, saio com Cho. Pelo menos ela não tem idéias tão antiquadas sobre sexo.

Depois de declarar o que sabia que atingiria Hermione, ele voltou-se e caminhou para os vestiários. Ela ficou ali, vendo confirmadas suas piores expectativas, porém irredutível para não demonstrar a dor que sentia no coração.

Desolada, olhou para a própria sacola de equipamento, o pensamento absorto em Harry. Tivera esperança que as atitudes dele tivessem se alterado, e percebia agora que isso não acontecera. Ele não alterara suas atitudes básicas; ainda era incapaz de assumir um compromisso.

Não queria uma ligação permanente, ao passo que ela não poderia sobreviver numa relação solta. A verdade é que Hermione era muito intensa e possessiva para viver com a consciência de que poderia representar apenas um passatempo. Harry iria se utilizar dela pelo tempo que quisesse, já que ela estava disponível, depois iria dispensá-la como um sapato usado. O que aconteceria então? Ficaria na rua da amargura.

Harry retornou em cinco minutos, com aparência descansada e boa disposição, a despeito de toda a atividade durante a aula da discussão posterior. Mesmo depois do que fora dito, ele separava a parte profissional, cônscio de que Erikson aguardava apenas um momento de distração. Era preciso respeitar o inimigo, e o perseguidor de Hermione não parecia o tipo de homem que desiste com facilidade, principalmente depois de ter o machismo arranhado.

Acompanhou-a em silêncio, depois deixou-a na porta do apartamento, com uma despedida quase formal. Ambos foram para a cama mais cedo, contrariando seus hábitos.

Ele não queria de modo algum discutir o presente ou o passado, depois do que ela dissera. Fora injusto, pois sua intenção ao voltar para a cidade natal, era a de acomodar-se na vida.

O problema é que Hermione não queria ouvir. Talvez fosse um raciocínio lógico para quem pensava apenas na carreira, mas indicava também o ciúmes de Cho, pela ração violenta logo depois do nome ter sido mencionado. O que não significa em absoluto que ela gostasse dele.

A verdade é que exagerara o relacionamento com a outra apenas para irritar Hermione. Cho fora um envolvimento sem conseqüências, muitos anos atrás, e nenhum dos dois encarara o assunto com seriedade. Ela ainda era uma mulher atraente, porém Harry amava Hermione. Que não o queria mais, como deixara bem claro naquela noite. Isso o magoara, acima de tudo. O simples fato de observá-la em movimento já o excitava, e ela não queria nada com ele.

Não queria mais se preocupar com o assunto, pois acreditava não haver mais nada a fazer. O melhor no momento era uma boa noite de sono, pensou, virando para o canto e fechando os olhos.

Por muitos dias não viram nem sinal de Erikson. Essa constatação foi um choque para Hermione, que procurava por ele e pelos dois carros em todos os cantos, cada vez mais apreensiva. Com o passar do tempo, a ausência de telefonemas e de contatos visuais por parte do perseguidor, ela foi relaxando a vigilância. Acalmou-se, convencida de que o homem fora cuidar da própria vida. Talvez tivesse resolvido que não valia a pena tanto trabalho para vingar-se. Se é que não se tratava de algum estratagema psicológico, para induzi-la a sentir-se segura. A segunda hipótese ficava mais remota com o passar dos dias, e Hermione acabou convencida de que não ouviria mais falar dele.

Entretanto, a ausência de Erikson foi a única coisa que lhe deu prazer, porque passou a tratar da conta de Cho. Isso significava passar cada vez mais tempo com ela, que agora estava saindo com Harry outra vez.

Com um detalhe adicional e torturante, escolhera Hermione como confidente, partilhando com ela todos os detalhes de seus encontros.

- Gostei muito da sua idéia, meu bem – declarou Cho, num almoço em que discutiam negócios. – Mas as coisas não devem interferir com minha vida privada. Esse projeto, com a arte final, precisa ficar pronto até o final da tarde. Esta noite vou à ópera com Harry.

Hermione não moveu uma sobrancelha perante a afirmação, evitando qualquer demonstração de sentimentos. Por outro lado, acreditava que algum dia o sorriso plástico que usava acabaria não saindo mais do rosto.

- Vamos ver o que posso fazer - disse ela, imaginando os argumentos que teria que usar com o pessoal da produção para realizar o que a outra pedira; talvez não quisessem cooperar.

- Ótimo. Então ficamos resolvidas nessa parte. Só tem mais uma coisa Hermione: será que você precisa ter um apartamento ao lado do de Harry? – indagou Cho, visivelmente irritada. – Esse fato parece inibi-lo quando estamos juntos lá.

- Ele se mudou para o apartamento ao lado do meu por causa das ameaças de um ex-segurança que despediu por minha causa e estava me ameaçando – informou Hermione, deixando de mencionar que Harry fizera barulho suficiente para certificar-se de que ela percebesse quando Cho esteve lá. Não dormia direito, depois disso. – Mas desde que o sujeito não aparece mais, não vejo motivo para que ele fique. O certo seria voltar para o seu próprio apartamento.

Na verdade gostaria muito que Harry partisse. Pelo menos não teria de ouvir os risos e outros ruídos que o casal fazia.

- Sabia que iria concordar! Eu disse a ele que não haveria problema algum se nós duas conversássemos sobre o assunto. Os homens são tão covardes na parte emocional, não acha?

Isso significava que ela havia discutido o assunto com Harry.

- Ele mesmo podia ter perguntado – queixou-se Hermione.

- Ah, ele não teve coragem de vir falar com você – disse Cho, dispensando o assunto com um gesto de mão. – Mas quando eu contar a ele que conversamos, vai ficar aliviado.

- Tenho certeza que vai.

- E quanto à cobertura das redes de televisão? Acha que pode conseguir a CNN?

Ao final da tarde, Hermione sentia-se exausta. Mal conseguia pensar. Não se lembrava de outra ocasião semelhante.

Harry parou brevemente em seu escritório, como um estranho numa visita de cortesia. Foi muito educado, mas parecia distante. Ela sabia que ainda era vigiada por questões de segurança, mas não parecia haver nada pessoal no envolvimento. Cada vez mais, ela se lamentava pelo passado entre eles. Por que ele não podia ter ficado fora da minha vida? Perguntou-se, cheia de auto-compaixão.

Ele mal entrara no escritório para dizer que ela estaria por conta própria naquela noite, já que ele pretendia sair com Cho. Avisou-a para que não relaxasse as precauções contra Erikson, assunto que quase os levou a uma discussão. Foi um alívio quando ele saiu. Sentia-se perfeitamente capaz de cuidar de si mesma, sem necessidade de nenhuma sombra.

Pelo menos era o que pensava até chegar em seu carro.

Erikson estava sentado no banco da frente.

Ela estacou assim que o viu. Isso significava que ele voltara, que tudo iria recomeçar. Significava também que durante esse tempo todo Erikson não desistira, simplesmente aguardara uma boa oportunidade para agir.

Hermione teve vontade de chorar. Seu estômago contraiu-se em vários nós, enquanto ela imaginava como lidar com a situação.

- Oi, gostosa – cumprimentou ele, sem a menor cerimônia. – Pensou que eu tinha esquecido de você?

- Saia já do meu carro!

- Por que não vem me tirar daqui? – desafiou ele.

Ela não tinha a menor intenção de tentar. Erikson era um agente de segurança treinado. As poucas habilidades que ela aprendera poderiam funcionar bem com um novato, ou junto com o elemento surpresa, mas o homem provavelmente seria mais graduado que ela em caratê.

Harry uma vez lhe dissera que era importante escolher a hora e o lugar que dessem mais vantagens. E nunca se atacava; esperava-se oponente. Todos esses pensamentos passaram por sua mente enquanto encarava o ocupante de seu veículo.

- Muito bem, sr Erikson. Acho que vou deixar que a polícia faça isso por mim.

Voltou-se e dirigiu-se rapidamente para o prédio, o rosto vermelho de raiva com a ousadia do sujeito. Ao atingir a porta do prédio escutou a porta do carro bater. Virou-se a tempo de ver Erikson sair do carro e dirigir-se para o próprio veículo. Ligou o motor e saiu devagar, buzinando e acenando ao passar por ela.

Por um instante ela hesitou, imaginando se deveria chamar a polícia de qualquer jeito. Não demorou muito, pois sem o homem dentro do carro não havia mais nada que a polícia pudesse fazer, e ela já sabia disso.

Retornou ao próprio carro e abriu a porta. Com o canto do olho reparou em algo que não se encontrava habitualmente ali. No segundo seguinte, seus olhos se voltaram para o objeto no chão, avistando-o antes que explodisse: era uma granada. Fez uma careta e recuou, mas não chegou a dar nem um passo.

O artefato explodiu.

Hermione levou as mãos à frente dos olhos instintivamente para evitar a onda de concussão, esperando ser jogada para trás. Porém tratava-se de uma granada de gases. Um ruído forte magoou seus ouvidos, depois o carro encheu-se de fumaça espessa e de cheiro irritante. Ela recuou e conseguiu escapar do pior, exceto por uma dor irritante nos olhos e na garganta. Começou a tossir.

Aquela fora a última gota. Maldito Erikson! Chorando de raiva, ela retornou ao interior do edifício e discou para a polícia. Poucos minutos depois, dois policiais chegaram num carro-patrulha. Harry apareceu logo atrás deles.

Correu na direção de Hermione, e ela precisou resistir ao impulso de cair nos braços dele. Voltou-se para o policial que chegou primeiro e relatou fielmente os acontecimentos. Harry permaneceu ao lado dele, escutando, o rosto cada vez mais sério.

Depois Hermione respondeu às perguntas que lhe foram feitas.

- Faz tempo que ele fugiu – finalizou ela. – Pensei que ele não quisesse me ferir.

- Se ele quisesse ferir a senhora, teria usado uma granada de estilhaços, não de gases – garantiu o policial mais jovem.

- Mas com esse ato, podemos enquadrá-lo na lei contra terrorismo, e também por arrombamento de veículo.

- Se conseguirmos colher algum tipo de impressão digital, seria quase certo obtermos uma ordem de prisão – afirmou o outro policial; depois voltou-se para Hermione: - Ele estava de luvas?

Ela pensou na breve visão que tivera de Erikson, e recordou-se da imagem dos dedos sobre o volante. De luvas pretas.

- Estava – admitiu contrafeita.

- Lá se vai nosso caso. É a sua palavra contra a dele.

- Mas...

- Desculpe, mas a lei é assim. Sempre digo que é uma vergonha, mas não adianta. Não existe nada que possamos fazer, madame. Tem idéia de quantos tarados dão em cima das mulheres, porque não podemos dar proteção a elas? A gente fica com raiva só de ouvir o que esses caras fazem. Precisamos de uma lei nova para poder agir. A senhorita não é a única vítima, embora possa estar se sentindo assim no momento.

- Estou mesmo!

- Cuidado com esse sujeito! Você não devia estar aqui sozinha, a uma hora dessas.

- Não devia mesmo – concordou Harry, franzindo a sobrancelha. – Sou o chefe da segurança, aqui no prédio. Pensei que o cara tivesse desistido. O erro foi meu.

- Poderia ter sido fatal para ela – comentou o policial mais velho, sem rodeios.

- Acha que não sei disso? – perguntou Harry, os olhos angustiados.

Algo na forma como disse aquilo fez com que o policial não insistisse. O sujeito pediu desculpas a Hermione e saiu com seu companheiro.

- Preciso levar o carro para casa – disse ela.

- Não, senhora. Vamos trancar tudo e deixá-lo aí. Em primeiro lugar, ele precisa ser limpo antes que possa sentar para dirigir.

- É verdade. Nem tinha reparado – comentou ela, procurando as chaves para trancar o veículo.

Harry ajudou-a a fechar o carro, e deu-lhe uma carona para casa. Assim que partiram, ele manifestou-se:

- Desculpe...

- Seu trabalho não é me vigiar o tempo inteiro – disse Hermione. – Você tem que proteger muitas pessoas.

- Eu pensei mesmo que ele tinha desistido. Ia completar duas semanas desde a última vez que vimos o sujeito. Agi como um agente novato, não como um profissional. Escutei o chamado no rádio com a faixa da polícia que tenho no carro. Não tinha idéia de como ia encontrar você quando cheguei no estacionamento. Fui muito estúpido!

Ela percebeu, entre outras coisas, que o orgulho dele estava ferido.

Cometera um erro profissionalmente porque estava com a mente ocupada por Cho. Não admitiria isso a ninguém, muito menos para ela, mas Hermione sabia. Passou o trajeto todo olhando para fora do carro, pela janela. Ainda em silêncio, desceram e entraram no elevador.

- Obrigada por me acompanhar até minha casa – disse ela, à porta de seu apartamento.

- Você vai ficar bem?

- Claro. Não sou retardada. Posso muito bem fazer a higiene pessoal, depois ir para a cama, sem a ajuda de ninguém.

- Mantenha as portas fechadas – aconselhou ele. – e não circule perto das janelas.

- Acho que está ficando paranóico, sabia? Acha que ele vai usar um rifle com mira telescópica para me acertar?

- Não tenho a menor idéia do que ele pode fazer – desabafou Harry. – Mas você não pode mais se descuidar. Entendido?

- Não fui descuidada. Olhei e não vi ninguém no estacionamento – defendeu-se Hermione, irritada. – Só enxerguei o sujeito quando cheguei perto do carro. Mas não cheguei perto o suficiente para que ele tivesse a chance de me agarrar.

- E se ele tivesse uma arma, Hermione?

- Pelo amor de Deus, Harry! Ele não vai me dar um tiro. Já poderia ter feito isso várias vezes!

Ele não respondeu, e nem ao menos sorriu. Enxergava mentalmente a imagem do corpo desejado caído na calçada, com o rosto para baixo, os olhos abertos e vidrados, o sangue escorrendo dos ferimentos. Assistira a morte de outros agentes que raciocinaram da mesma forma. Sabia por experiência, como gente do tipo de Erikson podia ser imprevisível.

- Estou muito bem – disse ela. – Calma, Harry, eu estou muito bem. E se você quiser se mudar, eu já disse a Cho que por mim está ótimo. Não tenho medo...

- De que diabos está falando?

- Cho me contou que você está ficando cansado de morar ao lado do meu apartamento. Ela deve ser insegura, ou algo parecido, porque me conta todos os detalhes do relacionamento com você...

- Mas acontece que eu nunca disse nada para ela sobre esse assunto – respondeu ele, zangado. – Além do mais, eu nem consideraria essa idéia até que situação com Erikson fique resolvida, de um jeito ou de outro.

Aquela afirmação fez com que ela se sentisse leve outra vez. Cho mentira. Harry não pretendia afastar-se dela.

- Não sabia que ela tinha tanto contato com você – comentou ele.

- Eu estou manuseando a conta dela – informou Hermione. – Os outros tiraram o corpo fora, um por um, até que sobrasse para mim. Na verdade, ela é perfeccionista e ninguém quer trabalhar com ela, mas nos damos bem. Faço de conta que estou adorando ouvir quando ela conta sobre a sua devoção por ela. Funciona como um charme.

- Devoção?! – estranhou Harry. – Não é bem isso o que ela consegue de mim...

- Sei muito bem o que ela consegue de você. Cho fez questão de contar esse pedaço também.

- Mas não existe nada para contar – declarou ele surpreso. – Não estou dormindo com ela!

Hermione deu de ombros.

- Não precisa me poupar desse assunto. Não estou alimentando esperança nenhuma nesse sentido, pode ficar tranqüilo. Quando eu casar, e pretendo fazer isso um dia, meu marido será meu primeiro amante.

- Ele vai precisar ser um cara muito especial para aceitar um relacionamento desse tipo – disse Harry, com o rosto vermelho.

- Talvez ele acredite estar recebendo um presente – argumentou ela. - É preciso uma mulher inteligente para não arriscar a saúde e a do futuro marido só para não se destacar na multidão.

- Você é puritana.

- Minha moral é um assunto que só diz respeito a mim. Você não passa do chefe de segurança da companhia onde eu trabalho...

Os olhos verdes estavam postos nos dela.

- Tente outra coisa.

- Você não tem o direito de...

Ele puxou-a, interrompendo a frase, e pousando a boca sobre a dela.

Ela enrijeceu e tentou resistir, mas os braços a envolviam de forma tão aconchegante, puxando seu corpo contra o dele, que a reação não durou. Os lábios sequiosos sobre os seus não tiveram de esperar muito; Hermione entreabriu a boca.

Harry não tirou partido imediato disso, torturando-a com movimentos deslizantes dos lábios, tocando-a levemente, até que ela não agüentasse mais e impulsionasse o corpo de encontro ao dele, a boca procurando capturar a dele. Todos os sentimentos do passado voltaram, como se o tempo não tivesse corrido desde a separação. Um ansiava pelo outro.

- Diga o que quer – sussurrou ele, em seu ouvido.

As mãos fortes agora acariciavam seus quadris, puxando-os contra a rigidez dele, de forma a que ela pudesse sentir sua ereção.

- Harry...

- Vamos, Hermione – provocou ele. – Me diga o que quer fazer.

- Não é justo... – protestou ela, debilmente.

- A vida não é justa...

A mão dele insinuou-se pela nuca, os dedos penetrando nos cabelos e virando a cabeça no ângulo desejado. Os olhos verdes que mergulharam nos dela tinham algo de assustador.

- Agora, deixe eu provar sua boca - murmurou ele. - E você vai provar a minha...

Ela sentiu o beijo como nenhum outro. O calor e umidade dos dois misturaram-se, as línguas acariciando-se com movimentos eróticos. Os corpos procuravam-se, ávidos de contato. Hermione entregou-se, sentindo-se derreter de encontro ao corpo masculino, sem considerar passado ou futuro enquanto sentia o toque agradável da língua que deslizava dentro dela.

A penetração provocante despertou nela um desejo quase incontrolável, que a fez estremecer. Ele riu e tornou os movimentos mais significativos, num ritmo lento.

Começou a sentir contrações no ventre, e os músculos das pernas estremeceram. Ouviu os próprios gemidos em meio ao calor enorme produzido nos locais de contato entre os corpos.

A mão de Harry deslizou para a base da espinha, e começou a guiar os movimentos dos quadris contra os dele. Desta vez o gemido de Hermione ecoou pelo corredor vazio, lembrando a ambos que se encontravam num lugar público.

Foi bem a tempo.

O ruído do elevador parando penetrou na mente de ambos, provocando a separação. Ele afastou-se dela no instante em que um casal de meia idade desceu. Ambos olharam para eles com certa indulgência, e caminharam de mãos dadas para o outro lado do corredor.

Harry sentia-se incapaz de qualquer movimento. Escutou uma porta fechando-se a distância, e só então voltou-se para Hermione. Ela parecia tão enfraquecida quanto ele. Estava apoiada na própria porta, a boca e os lábios avermelhados pelo beijo e pela excitação.

- Eu podia ter você agora mesmo – disse ele, emocionado. – Você sabe disso também.

- Não vamos esquecer Cho – balbuciou ela, através do turbilhão de emoções que lhe cruzava a mente.

- Que se dane a Cho. Eu quero você!

Ela desviou os olhos.

- Você está excitado, é só isso. Um belo banho frio de chuveiro resolve o assunto.

- Cho não me mandaria tomar um chuveiro frio.

- Então por que não vai procurar por ela? – indagou ela, estreitando os olhos.

- Muito obrigado pela sugestão – disse ele furioso. – Acho que é exatamente o que vou fazer.

Encaminhou-se para o elevador, vermelho de raiva. Entrou e bateu com violência no botão do andar térreo. As portas fecharam-se, e ele não chegou a levantar os olhos na direção de Hermione.

Ela poderia ter gritado de puro ódio. Não pretendia ir para a cama com ele apenas para mantê-lo afastado de Cho, e se ele pensava que isso poderia ter acontecido, ainda não a conhecia bem.

Entrou e trancou a porta atrás dela, apoiando-se na madeira. Como ele pôde fazer uma coisa daquelas! Beijá-la como se fosse a coisa mais normal do mundo. Como se ela estivesse a disposição dele... Agora ia se revirar na cama a noite inteira, perturbada pela própria imaginação, enxergando Cho nua na cama, enroscando no corpo de Harry. Que presunção, a dele, de achar que poderia usá-la como usava Cho! Resolveu controlar-se e não pensar mais no assunto, para não dar a ele a satisfação de obter o efeito desejado. Ligou a televisão.

Entretanto, Harry dirigia pela cidade, bem longe do bairro onde morava Cho. Pensava que não deveria ter tocado Hermione daquela forma.

Agora iria passar as próximas horas recordando a maciez da pele dela, e a suavidade dos gemidos. Mas em compensação descobrira uma coisa: Hermione o desejava tanto quanto ele a desejava.

Deixara que ela o tirasse do sério com os comentários feitos. Ela tinha ciúmes de Cho, mas não queria confiar nele. Esse era o ponto importante. Precisava controlar mais o próprio temperamento e as emoções. Entrementes, ambos tinham de lidar com Erikson. A granada o abalara tanto quanto a ela; precisava fazer algo enquanto ainda havia tempo para agir.

Na manhã seguinte, Harry foi mais cuidadoso do que de hábito. Tocou a campainha de Hermione meia hora antes do combinado. Ela saiu da cama para atender, de camisola curta.

- Não fique olhando – avisou ela, baixando o rosto. – Estou horrível...

Antes de responder, os olhos verdes passaram pelas pernas bronzeadas, e pelo tecido fino sobre os seios. O efeito era devastador.

- Nesses trajes você é capaz de virar a cabeça de um cego, garota – comentou Harry, sorrindo.

- Pois não pretendo virar a sua cabeça mais – avisou ela. – Só quero me vestir para ir trabalhar. Tem um pouco de café na cozinha. Pode se servir enquanto eu me visto.

- Tem certeza que não quer ir assim mesmo? Seria uma sensação.

Hermione colocou as mãos nos quadris, os olhos fuzilando.

- É só um corpo, afinal de contas. Cho tem um parecido, e tenho certeza que foi muito apreciado ontem à noite.

- Está com ciúmes? – quis saber Harry, erguendo uma sobrancelha.

- Ciúmes? De Cho? Ah! Por que eu teria ciúmes dela? Não quero você, cara.

- Não foi isso o que pareceu, ontem à noite...

- Nem vou me dar ao trabalho de responder isso. Mas posso garantir que não desejo você! – gritou ela, voltando-se e entrando no quarto.

Ainda com raiva, encostou a porta e tirou a camisola, parando um instante em frente ao espelho, só de calcinha cor-de-rosa, reparando que o colo estava avermelhado.

A porta abriu-se e os olhos de Harry percorreram seu corpo.



Obs: Mais um capitulo!!!Espero que tenham curtido!!!!Amanhã posto fic nova, e espero que gostem dela com gostaram das outras!!!E então, o que acharam das capas de "Perseguição" e "Cilada do Destino"? Espero que tenham gostado.Quando a nova fic tiver uma capa eu aviso vocês!!!Bjux!!!!

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