Sexto Capítulo
A sala de exibição estava escura. Houve um silêncio absoluto quando o filme terminou. Hermione apertou as mãos nos braços da cadeira e tentou reprimir a onda de desapontamento. A platéia não tinha gostado. Não haviam sentido a emoção. Não viam as crianças como ela via.
As luzes foram acesas e o auditório vermelho continuou silencioso, e então, subitamente, alguém estava aplaudindo. Muitas pessoas estavam aplaudindo.
Hermione sentiu arrepios por toda a pele. Os aplausos aumentaram, cada vez mais rápidos e fortes, e ela não sabia o que pensar, ou o que sentir. Eles tinham gostado?
Uma mão tocou-lhe o cotovelo.
– Levante-se. – alguém falou em seu ouvido. – Eles querem vê-la. Querem reconhecer você.
Ela se levantou lentamente e mais luzes se acenderam. Sentiu-se como se estivesse parada diante de um refletor, embora não houvesse nenhum.
Os aplausos ainda soavam nos ouvidos de Hermione enquanto o teatro se esvaziava. Tivera apenas dois desejos naquela noite. Que Harry a tivesse acompanhado na exibição, para quem telefonara e deixara um recado no hotel, mas ele nunca retornara, e que Allie estivesse lá naquela noite para ver aquilo.
Allie teria adorado. Allie merecia os aplausos.
– Você fez um trabalho excelente.
Hermione virou-se para encontrar Harry em pé na fileira de assentos atrás dela. Trajava smoking, e sozinho. Ela sentiu uma onda de surpresa e prazer e puxou a echarpe de seda mais para perto dos ombros nus.
– Você veio.
– Eu tinha de assistir.
Novamente, aquela pontada de prazer, pensou Hermione enquanto o peito se comprimia e a emoção era amarga e doce ao mesmo tempo. Harry Potter deveria ser o inimigo, mas não parecia mais o inimigo. De maneira alguma.
– Liguei para seu hotel, mas você não retornou... – a voz de Hermione falhou e ela enrubesceu. Soava como uma adolescente.
– Tive alguns negócios em Milão. Voltei para casa por um dia, e só retornei esta noite.
– Mas você viu o filme?
– Inteirinho.
– E o que realmente acha?
– É um filme muito honesto e poderoso.
Ela sabia que estava sorrindo. Não podia evitar. Tinha esperado tanto tempo por aquela noite.
– Foi Allie quem fez tudo. Ela teve a visão. Fez a parte mais difícil. Eu só queria me certificar de que o filme fosse visto, e foi. Obrigada.
Ele olhou ao redor para o teatro quase vazio agora.
– Eu gostaria que o espaço tivesse sido maior. Mais pessoas deveriam ter assistido.
– Talvez algum dia.
Os olhos de Harry a estudaram.
– Você realmente se importa com as crianças, de verdade?
– Como posso não me importar? São crianças tão lindas, e não terão futuro se permanecerem lá. Estas garotas merecem um destino melhor. Merecem lares e educação, boa nutrição e, acima de tudo, amor.
– E quanto à adoção?
– Isso faz parte do nosso objetivo, mas não é fácil adotar crianças da Índia. Existe muita burocracia, e mesmo se algumas pessoas conseguirem vencê-las, nem todas as crianças serão adotadas. Então, esta é a segunda metade da equação, conseguir fundos para ajudar as crianças que não podem ser adotadas. Tentar levar um teatro ao orfanato, tentar conseguir livros e suprimentos. Obter remédios, comida e roupas. Há tanto a ser feito.
O semblante de Harry suavizou-se.
– E você quer fazer isso.
– Sim.
Ele estendeu uma das mãos e afastou uma mecha de cabelo castanho do rosto dela.
– Você não pode salvar o mundo.
Hermione gostava da sensação da mão forte e quente em seu rosto. Entretanto, as palavras de Harry a magoaram.
– Por que não?
Graças a Deus, ele não riu. Apenas meneou a cabeça uma vez, de maneira lenta e misericordiosa.
– Não me faça responder isso. Você teve um longo dia. Deixe-me levá-la para jantar.
Hermione abriu a boca para recusar o convite, mas não foi capaz. Gostava da companhia dele. Tinha adorado vê-lo ali aquela noite. De alguma maneira, o apoio de Harry importava mais do que deveria, e ela não estava pronta para se despedir ainda.
Erguendo a cabeça, encarou-o. Ele era bonito, mas parecia tão contido que a fez sentir um estranho aperto no coração. Hermione precisava de alguém do seu lado, alguém para lhe abrir portas, para fazer as coisas acontecerem, e Harry fizera isso tudo.
Estivera a seu lado. Tinha sido magnífico.
Pela primeira vez, Hermione não o temia. Pela primeira vez, queria apenas relaxar e ser ela mesma com Harry. Sem mais preocupações. Sem mais dúvidas. Sem mais luta. Talvez um jantar fosse tudo que necessitava.
– Sim. É uma ótima idéia. Obrigada.
Eles comeram em um restaurante escondido atrás dos grandes hotéis, a algumas quadras da agitada e congestionada Croisette. Depois do jantar, conseguiram evitar boa parte da multidão, caminhando para o Carlton ao longo da praia.
A lua brilhava na água e as ondas estouravam, formando uma espuma lindamente branca contra a areia escura. Tão convidativa, que Hermione tirou as sandálias vermelhas de salto para andar descalça a seu lado na areia fria.
Eles caminharam em silêncio por quase meio quilômetro e ela se deu conta de que adorava estar com Harry. Amava o jeito como ele a fizera se sentir naquela noite, não apenas em relação à vida, mas também em relação a si mesma. Ele parecia tão forte, tão enraizado, tão... real.
Erguendo o vestido vermelho, Hermione sentiu a água circular-lhe os pés. A temperatura fria produzia uma sensação agradável em sua pele. O céu ali parecia tão grande. Infinito. Virando-se, olhou para o cenário brilhante do centro de Cannes com o mar de pavilhões brancos.
– Isso podia ser um filme. – murmurou, gesticulando para a grande praia vazia como um cenário da cidade. – Imagine a exibição de um filme aqui na praia, seguida de uma grande festa de gala. Nenhum teatro pode competir com esta beleza. – ela deu uma risadinha sem-graça e o olhou. – Desculpe, estou falando demais.
– Não se desculpe. Eu gosto disso. Gosto de suas idéias, de seus pensamentos. Quero saber tudo sobre você.
– Mas eu posso falar demais. Ou dizer as coisas erradas.
Harry parou a seu lado.
– Para que serve uma mente se você não pode ter uma opinião? E de que serve uma opinião, se você não pode expô-la?
Hermione sorriu com fraqueza, uma forte emoção a dominando.
– Cuidado. Eu tenho muitas opiniões.
– Ótimo. Quem sabe um dia eu posso realizar algum de seus sonhos. – murmurou ele casualmente. Então deu mais alguns passos na praia e se sentou. – Junte-se a mim. E me conte sobre a Argentina. Nunca estive lá.
Ela sentou-se ao lado dele, e Harry tirou o paletó e colocou-o sobre os ombros nus de Hermione, que imediatamente se aninhou no tecido macio.
– Isso me lembra de Mar y Sierras, o que, traduzindo rudemente, significa “montanhas e mar”.
– Soa romântico.
– Pode ser. É para onde os argentinos gostavam de viajar. Como aqui na Riviera Francesa, Mar y Sierras tem lindas praias e estações de férias, excelente vida noturna e cassinos. O mesmo tipo de público próspero e na moda...
De súbito, Harry inclinou-se para a frente, segurou-lhe a nuca e interrompeu-lhe as palavras cobrindo a boca de Hermione com a sua.
Hermione respirou fundo quando os lábios mornos de Harry saborearam os seus, quando sentiu a pele quente e a fragrância maravilhosa, o corpo rígido em contato com o seu. Naquele momento, soube instintivamente que aquilo era exatamente o que precisava.
Então deslizou as mãos para tocar-lhe as faces e sentiu-lhe a textura dos cabelos macios.
Os lábios de Harry entreabriram os seus, enquanto os de Hermione tremiam com as incríveis sensações que a boca máscula e maravilhosa dele contra a sua lhe causava.
A mágica do beijo não era técnica, e sim pura energia. A energia entre os dois era quase tangível.
Harry deitou-a na areia macia sobre o paletó preto, protegendo-lhe as costas com o gesto. Então ergueu a cabeça e olhou-a, a expressão intensa e profunda.
– Você não imagina o quanto eu queria fazer isso.
– Então, talvez, você deva fazer de novo. – sussurrou ela sem fôlego.
Lindo!!! My god! Que emoção... é, o harry sempre conseguiu ... ele é magnifico. mas ainda tem mais... amanha posto o penúltimo capítulo, ok? bjao obrigada por todos os comentários
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