Quinto Capítulo



Hermione disse a Harry para deixá-la em paz, e assim ele fez.
Então permitiu a si mesma algumas horas de autocomiseração antes de tomar uma atitude.
Não iria deixar seu filme passar despercebido. Se não podia fazer a exibição, então interessaria distribuidores de uma outra maneira. Cobriria as paredes de Cannes com uma sinopse de Um coração. Imprimiria centenas de panfletos e os deixaria em todos os lugares.
Aquilo soou como um bom plano até que teve realmente de distribuir centenas de panfletos. Mais tarde, naquela manhã, parada na esquina da Croisette, a rua alinhada com enormes tendas nomeadas como Pavilhão Americano e Pavilhão Inglês, onde em cada uma delas havia pessoas bebendo, conversando e fazendo negócios, ela tentou esquecer que seus pés queimavam e seus braços estavam doloridos.
Dores não importavam. As garotinhas importavam. O sonho de Allie importava. Coisas sérias importavam. Não bolhas nos pés e dores nos braços.
Lembrar das meninas motivou Hermione. Recomeçou a andar e estava passando pelo Pavilhão Italiano quando uma voz a saudou do lado de dentro:
– Como vai?
Ela retesou os músculos. Não ele de novo! Havia milhões de pessoas em Cannes e tinha de cruzar com Harry Potter a cada cinco minutos?
Hermione pegou a pilha grossa de panfletos e estudou-o quando ele saiu do pavilhão.
Parecia extraordinário naquela tarde. Camisa branca casualmente aberta no pescoço. Calça cinza-clara em um fino tecido italiano. Bonitos sapatos e cinto de couro.
E, é claro, o incrível rosto dele.
– Tudo bem. – respondeu ela, sabendo que estava à beira de um colapso, mas não querendo admitir isso.
– Por que não entra, descansa um pouco e bebe algo gelado?
– Não posso. Ainda tenho centenas de panfletos para distribuir.
– Pode me dar um?
Sem palavras, ela entregou-lhe um e Harry estudou o papel.
– É uma visão geral do projeto. – disse ela.
– Bom trabalho. – Harry murmurou, lendo as informações. – Você tem tudo aqui. Linhas gerais do projeto, um programa de computador, sinopse do roteiro, informações para contato. Muito bem feito. – ele ergueu os olhos e encarou-a, assentindo em aprovação. – Não vi as linhas gerais de um projeto tão bem definidas e compreensíveis aqui em Cannes ainda.
Ela não sabia se era pela expressão nos olhos dele ou pelas palavras de aprovação, mas enrubesceu de prazer.
Era tão bom ouvir alguma coisa positiva, porém, no momento em que percebeu o quanto se importava com o elogio de Harry, criticou-se por ser uma completa tola.
A opinião de Harry Potter não era importante. Ele era um homem cruel. Tinha transformado o sonho dela em Cannes num pesadelo.
– Aqui, dê-me metade desses panfletos. – acrescentou ele. – Vou ajudá-la a distribuí-los. Assim você não precisará ficar em pé o dia inteiro.
Aquele era o modo de Harry se desculpar? Ela não tinha certeza nem se devia aceitar um pedido de desculpas, se ele o fizesse.
– Sou bom nesse tipo de coisa. – acrescentou Harry com seriedade. – Eu costumava trabalhar na Bolsa de Valores. Entregava papéis pelo prédio inteiro. Eu era muito rápido e muito confiável.
Os lábios de Hermione se curvaram num pequeno sorriso.
Mesmo se quisesse recusar a oferta, não poderia.
Precisava muito da ajuda dele. As crianças precisavam muito de qualquer ajuda possível.
– Eu já cobri a área do Carlton até o Grand Hotel. Tenho o resto da Croisette para percorrer.
– Certo. – o olhar esverdeado de Harry encontrou o seu e o prendeu por um momento, e então, por mais um momento.
Hermione sentiu um estranho tremor percorrê-la. – Vou pelo lado direito da avenida. Você vai pelo esquerdo. Nós nos encontramos no final.
Levou quase duas horas até ela acabar de trabalhar do seu lado da Croisette. Fãs começaram a reconhecê-la, e tivera de passar boa parte do tempo dando autógrafos e posando para fotos.
– Que tal aquele drinque gelado agora? – ofereceu Harry, abrindo caminho em meio ao grupo de fãs e resgatando-a de uma outra sessão de fotos.
Ela assentiu agradecida. A boca estava seca e a cabeça doía por causa das luzes brilhantes e do barulho da multidão.
Harry franziu o cenho e pressionou levemente as mãos na testa de Hermione.
– Você está bem, cara?
A sensação da mão dele ali era maravilhosa, fria e firme, e ela conseguiu um pequeno sorriso.
– Apenas com sede.
Ele concordou, mas a expressão permaneceu vigilante.
– Vamos levá-la para a sombra. – disse ele, colocando uma mão protetora no meio das costas dela, tirando-a da rua congestionada e levando-a em direção ao Hotel Martinez.
Hermione sentiu um tremor quando os dedos longos pressionaram suas costas. Adorava o jeito como Harry a tocava, a confiança que passava e o modo fácil que lidava com aglomerações. Eles passaram pelo saguão do hotel e foram para o restaurante do terraço, onde se sentaram e sentiram a brisa fresca da tarde.
Harry pediu chá da tarde para os dois, e quando estavam acomodados à mesa, coberta com uma fina toalha de linho branco, Hermione começou a relaxar. O sol estava glorioso. Da mesa, eles podiam ver a praia cheia, com fileiras de guarda-sóis listrados e um mar de corpos bronzeados.
– Eu não sabia que Andrea tinha um problema com drogas. – a voz de Harry quebrou o silêncio.
– Era um grande problema. – respondeu ela calmamente.
– Mas ele se esforçou muito para esconder de você.
– É para onde foi todo o dinheiro dele?
Ela deu de ombros. Não gostava de falar sobre Andrea.
Não gostava de pensar nele. Andrea tinha sido uma pessoa extremamente nociva. Namorá-lo foi uma das piores coisas que Hermione fizera na vida.
– Drogas e jogos. Ele se envolveu com algumas pessoas erradas, mas eu não sei os detalhes. Ele não discutia essas coisas comigo.
Harry suspirou e deslizou uma das mãos pelos cabelos escuros, despenteando-os, e parecendo ainda mais charmoso.
– Meu Deus. Eu entendi tudo errado. Somei dois mais dois e obtive cinco. Desculpe.
Ela o olhou e seu coração deu um pequeno salto. Aquilo era tolice. De modo algum se permitiria envolver-se com Harry. Entretanto, havia alguma coisa nele que a fazia responder, independentemente de sua vontade.
– Você não era o único que confiava em Andrea. – disse ela após um momento, tentando ignorar seus sentimentos internos, aquela pequena parte esperançosa de sua alma. Talvez um dia fosse levada a sério. Talvez um dia encontrasse o homem certo, seu verdadeiro amor. – Muitas pessoas confiavam em Andrea. Ele podia ser encantador quando queria. Sabia como enganar os outros. – Hermione respirou profundamente. – E certamente me enganou.
– Lamento que ele a tenha magoado.
Ela deu de ombros.
– Se ele não tivesse feito isso, eu não teria desejado escapar da Europa por um tempo, e não teria concordado em narrar o filme. Suponho que posso dizer que a traição de Andrea acabou me levando a encontrar minha missão.
O intenso olhar de Harry encontrou o dela.
– Destino.
– Não...
– Destino. – repetiu ele.
E o silêncio reinou entre os dois, um silêncio longo e tenso que, de alguma maneira, os unia.
Destino.
Hermione expeliu o ar devagar, o pulso acelerado, e de repente se perguntou se ele podia ter razão. Talvez o destino também a unira a Harry. Talvez houvesse alguma coisa maior esperando por eles... um destino juntos.
Não.
Absolutamente não. Ela ergueu um das mãos, como que para quebrar a magia. Aquilo devia ser efeito de sua exposição prolongada ao sol. De seu estado de fadiga.
Não era Harry e não era o destino, e não podia permitir a si mesma apreciar tanto a companhia daquele homem. Ele era impossível. Tinha tornado sua vida miserável, e de maneira alguma iria deixá-lo se conectar com sua mente, com seu coração ou com qualquer outra parte de seu corpo.
Hermione afastou a cadeira da mesa e se levantou.
– Preciso ir. Está tarde. Ainda tenho muita coisa para fazer.
Harry se levantou, também.
– O que mais posso fazer para ajudar? Sei que deve haver mais.
Ele provavelmente podia fazer mais. Talvez pudesse lhe comprar uma exibição, e comprar-lhe a platéia, também. Mas não podia pedir-lhe isso. Era perigoso.
Errado.
– Se você quer ajudar, apoie o grupo Ajude Agora. É uma organização não-governamental com a qual Allie trabalhava, e tenho certeza que eles dariam boas-vindas a uma doação.
Harry acompanhou-a até a rua e colocou-a no banco de trás de um táxi, mas não deixou o motorista partir. Inclinando-se para dentro do veículo, os olhos verdes prenderam os dela.
– Eu tinha uma irmã mais nova com necessidades especiais. Ela morreu alguns anos atrás, mas teria gostado de você, Hermione. Teria gostado do que você está fazendo. – ele hesitou por um momento. – Eu gosto do que você está fazendo.
Ela meneou a cabeça. Não sabia o que dizer. Harry estava mexendo com suas emoções novamente, fazendo a sentir tantas coisas contraditórias.
– Gabi foi adotada. – acrescentou ele calmamente. – Da Romênia. Minha mãe sempre quis uma garotinha. Gabi era a sua garota.
Quando Harry olhou para o rosto de Hermione, entendeu que estava apaixonado. Perdidamente apaixonado.
Estendendo a mão, tocou-lhe o rosto.
– Se precisar de alguém do seu lado, Hermione, você tem a mim.
Os olhos dela se encheram de lágrimas.
– Eu preciso. Ainda quero uma exibição de Um coração. Se você pudesse dar alguns telefonemas... usar algumas influências...
Ele endireitou o corpo.
– Verei o que posso fazer.

Que emoção! Vocês vão conhecer o Harry mais maravilhoso do Mundo nos próximos três e últimos capítulos… Esperando pelos comentários. Bjao .

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