Quarto Capítulo



Eles tinham cancelado a exibição do seu filme?
Hermione sentiu como se alguém tivesse jogado um balde de água fria sobre sua cabeça. A exibição não podia ter sido cancelada. Era sua melhor chance para interessar um grande distribuidor.
– Não pode ser. Eu coloquei anúncios. Distribuí panfletos.
– Aparentemente, houve algum tipo de confusão. Parece que o teatro...
Harry nunca teve a chance de continuar. Ela desligou de repente e saiu da cama para vestir uma roupa.
Hermione chegou no saguão em menos de três minutos. Ainda estava prendendo os cabelos num rabo quando as portas do elevador se abriram. Harry estava esperando no saguão.
– O que está acontecendo? – ela exigiu saber, enfiando a bainha de sua blusa verde de renda para dentro da calça jeans desbotada.
Ele entregou-lhe um café expresso em copo descartável.
– Vamos. Tenho um carro esperando. Iremos ao escritório do festival, juntos.
Mas no banco de trás da limusine, Hermione mal podia segurar o copo de café, as mãos tremendo terrivelmente.
– Não entendo.
– Eu queria mais informações.
– Por quê?
– Eu estava curioso sobre o seu projeto.
– Porque não acreditou que havia realmente um projeto, certo?
– Você é modelo, Hermione...
– Vá para o inferno! – ela inclinou-se para a frente a fim de bater na divisória de vidro entre o assento de trás e o motorista. – Por favor, pare o carro. Eu quero descer.
Harry segurou-lhe o braço.
– Não seja tola. Estamos quase lá.
Ela desvencilhou o braço.
– Não me importo. Não preciso que você me julgue. Minha vida já é dura o bastante, sem você para torná-la ainda mais difícil.
O motorista estacionou no meio-fio. Hermione rapidamente pegou sua bolsa e um livro encadernado que continha informações do projeto, incluindo roteiro, um programa específico de computador e o objetivo do filme.
Harry praguejou baixinho.
– Estou tentando ajudar você, Hermione.
– Ajudar-me? – retorquiu ela, pegando na maçaneta da porta. – Assim como me ajudou no Majestic? – ele era inacreditável. Realmente inacreditável. – Bem, pare de me ajudar, porque sua idéia de ajuda está matando meu filme.
Hermione saiu do carro de Harry e apressou-se para o escritório do Festival Internacional du Film. Mas seu pedido sem fôlego por ajuda foi recebido com quase indiferença.
– O teatro não está mais disponível. – a mulher na recepção do escritório respondeu enquanto manuseava uma pilha de formulários.
Hermione colocou seu livro pesado sobre o balcão.
– Mas como? Por quê?
– A sala de exibição na Riviera foi duplamente agendada. Um filme tinha de sair. O seu.
– Sim, mas nós agendamos o espaço há semanas. – Hermione mexeu na bolsa, procurando o comprovante entre a papelada. – Tenho a confirmação aqui.
– É só uma folha de papel. Todo mundo tem papel. Todos têm um filme. Aqui é Cannes.
Os dedos de Hermione se curvaram em volta do comprovante. Sentia-se como se um caco de vidro tivesse se alojado em seu peito.
– Deve haver alguma coisa que você possa fazer.
– Está fora do meu alcance.
Hermione não podia acreditar.
– Quando foi tomada a decisão de cancelar meu documentário?
A mulher murmurou alguma coisa em francês, então se moveu para o computador a fim de abrir um arquivo.
– Tarde da noite de ontem. – ela ergueu a cabeça e olhou para Hermione. – Houve uma reunião após a festa do Majestic.
A festa do Majestic. O evento no qual tinha estado na noite anterior. Seu filme fora cancelado depois da recepção. Seu filme fora cancelado depois que Harry a desacreditara na frente de todos.
Era inútil. E estava exausta. Tudo era tão difícil, e vinha lutando por seu projeto há tanto tempo.
Sem mais palavras, deixou o escritório do festival, os ombros caídos de fadiga. Saiu para o ar livre, piscou com o brilho da luz do sol, e viu Harry parado ao lado do carro, esperando-a.
Ela suspirou. Seu controle, sua paciência, sua perspectiva... tudo havia acabado, e ela andou até ele, querendo guerra.
– Você fez isso. – gritou descontrolada. – É tudo culpa sua. A exibição foi cancelada depois que você me humilhou na frente de todos!
– Espere! – ele ergueu as duas mãos. – Acalme-se.
– Você quer que eu me acalme? Dificilmente. Vim aqui para conseguir a distribuição de um filme, e você estraga tudo. Acabou com minha reputação, também. Como convive consigo mesmo, Potter? Como se mete na vida das pessoas dessa forma?
– Eu não...
– Você fez isso. – seu coração estava disparado, as mãos tremiam muito. Nada daquilo teria acontecido se o homem cuidasse da própria vida. – Você sabe que todos os teatros estão reservados há meses, alguns desde o festival do último ano. De modo algum iremos conseguir um outro espaço na última hora.
Ele franziu o cenho.
– Sinto muito.
Lágrimas faziam os olhos de Hermione arderem, entretanto, preferia queimar no inferno a derramá-las.
– Não, você não sente. Fez exatamente o que queria fazer. Me desacreditou como uma legítima produtora de cinema. – ela apertou o livro encadernado contra o peito.
– Mas sabe de uma coisa, Harry? Você não me prejudicou. Prejudicou dezenas de garotinhas.
Ela abriu o livro e apontou para uma página de fotografias em branco e preto.
– Todos estes bebês deveriam morrer no momento em que nascessem. Por quê? Elas são meninas. Em alguns vilarejos de Tamil Nadu, eles ainda matam crianças do sexo feminino no nascimento. Acredita-se que o nascimento de uma menina é uma praga para a família.
Ela ergueu a cabeça e o fitou, dor e mágoa brilhando nos olhos.
– Um coração é a história de um orfanato em Tamil Nadu tentando salvar estes bebês indesejados. Um coração é constituído por pessoas no sul da Índia que tentam fazer uma diferença, apesar de sua pobreza.
Ela rasgou a página das fotos do caderno e entregou a ele.
– É um filme que deve ser assistido, e teria sido se não fosse por você.
Harry olhou para a página de fotografias. Havia meia dúzia de fotos e todas as garotas eram muito pequenas, a maioria entre um e três anos de idade. Tinham lindos olhos castanhos e expressões sombrias.
– Eu não cancelei sua exibição. – disse ele em tom baixo. – Eu não faria isso com você.
– Mas você me envergonhou.
Harry não podia se lembrar da última vez em que se sentira tão pequeno, cruel e insignificante. Era verdade, envergonhara-a. Tinha pensado que Hermione estava usando as pessoas, que estava brincando com elas a fim de realizar um objetivo próprio, exatamente como Joy fizera com ele. E como Andrea tinha dito que Hermione agira com ele.
Mas Andrea havia mentido.
Hermione não era como Joy. Hermione nunca fora insensível, egoísta e arrogante.
– Por quê? – perguntou com voz rouca.
Ele engoliu em seco, sentindo o peso da culpa.
– Achei que eu estivesse protegendo os outros. – Deus, as palavras pareciam fracas, a desculpa esfarrapada. – Você estava com Andrea quando ele tinha dinheiro, mas então, depois do acidente e depois que ele perdeu tudo que possuía, você desapareceu da vida dele.
Hermione balançou a cabeça, os lábios tremendo de sofrimento e desgosto.
– Não que você esteja interessado em fatos, mas eu não usei Andrea. Ele me usou. Esvaziou minha conta bancária. Dormiu com outras mulheres pelas minhas costas. E quando teve o derrame, não estava sozinho. Estava na cama, nu, cheirando aquele pó branco com uma de minhas melhores amigas.
Harry sentiu como se ela o tivesse esbofeteado.
– Não sei o que dizer.
– É claro que não. É fácil ser cruel, não é?

Bem… Que reviravolta… E agora?
Talvez amanhã poste o capítulo cinco… Vocês devem estar desconsolados porque os capítulos são pequeninos… Então eu talvez poste… Aguardo comentários e as vossas especulações…

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