Terceiro Capítulo
Harry beijou Hermione do jeito que ela sempre quisera ser beijada. O beijo parecia absolutamente certo e o homem, absolutamente errado. Entretanto, se não pensasse em Harry, mas apenas na sensação e na emoção... Tinha sido tão bom, tão maravilhoso. Tão excitante.
A mão grande e forte deslizou da nuca de Hermione para as costas, e o passeio vagaroso dos toques ao longo da coluna dela provocou arrepios de prazer através de cada nervo de seu corpo.
Ele a tocava da maneira que um homem devia tocar uma mulher. Segurava-a com confiança, a pressão dos lábios nem forte nem suave, mas tirando dela uma resposta indefesa e irresistível.
Aquele, pensou Hermione meio zonza, era o primeiro beijo real de sua vida. Um beijo que eletrificava, um beijo que podia mudar uma pessoa para sempre.
Ele levantou a cabeça e deslizou o polegar pelo rosto vermelho e quente de Hermione.
– Até amanhã, cara.
Ela recuou com o termo carinhoso em italiano.
– Então, o que você vai fazer? Ficar andando atrás de mim?
Ele sorriu de leve.
– Eu poderia. Você tem um belo traseiro.
– Ainda não gosto de você.
– Ótimo. Eu ainda não quero que você goste.
Eles se entreolharam por um longo momento, e ela viu um brilho nos olhos de Harry, um brilho de sentimento que camuflava as palavras ditas.
E então ele se virou e partiu.
Enquanto Harry voltava para o saguão do hotel e se dirigia para seu carro, uma voz o chamou do bar.
– Harry! Venha tomar um drinque comigo.
Era Draco, um velho amigo dos tempos de universidade, que tinha se tornado diretor de elenco e possuía um gigantesco escritório bem-sucedido em Paris.
– Aquela não era Hermione Granger? – perguntou Draco, sinalizando para o atendente de bar e pedindo dois uísques.
Harry se sentou no banco do bar no interior escuro.
– Sim. – respondeu, pensando que havia alguma coisa em Hermione Granger que mexera com ele. Gostava dela. Não devia, mas gostava.
– Pensei que você tivesse desistido de modelos. – disse Draco, sentando-se no banco oposto.
– Eu desisti.
– Então, vocês não estão juntos?
– Não. – Harry estava tentando arduamente esquecer o fogo nos olhos castanhos de Hermione, a maciez da boca, e a maneira perfeita como os dois haviam se encaixado. – Por quê?
– Porque eu gostaria muito de levar aquela mulher para a cama.
Harry sentiu a raiva surgir, e alguns nós se formaram em seu estômago. Ridículo. Quem dizia que Hermione se interessaria por Draco?
Draco pegou um cigarro e ofereceu-lhe o maço.
– O que aconteceu com Joy?
Harry recusou o cigarro. Draco sempre fora fascinado por Joy, uma modelo americana que Harry tinha namorado anos atrás, e uma mulher que usava qualquer um, e todos, para conseguir o que queria. Inclusive usara a irmã mais nova de Harry, Gabi. Quando Joy tinha abandonado Harry, também abandonara Gabi, e sua irmã ficara arrasada.
Gabi não entendia o que havia acontecido com sua “melhor” amiga.
– Não tenho a menor idéia.
Draco subiu a tampa do isqueiro com o polegar e acendeu o cigarro.
– Ouvi dizer que Hermione está tentando conseguir patrocínio para um filme. – disse ele, gesticulando em direção aos elevadores. – Infelizmente, ela não sabe absolutamente nada sobre como conseguir que um filme independente seja distribuído.
– Ela não é a produtora, é?
– Bem, não é um grande filme. É apenas um documentário. – Draco deu uma tragada e soltou a fumaça. – Sobre a Índia. E crianças órfãs. Originalmente, ela deveria apenas narrar, mas então a diretora, uma jovem irlandesa, morreu logo depois que as filmagens começaram, e a sua modelo assumiu o comando.
O estômago de Harry se contraiu. Podia ver a si mesmo na recepção do Hotel Majestic. Podia ouvir as próprias palavras de zombaria.
– Então, existe um filme de verdade?
– Oui. Chama-se Um coração. – Draco soltou a fumaça pela segunda vez. – Estou surpreso que você não soubesse. Todos estão falando sobre os problemas que ela está tendo em conseguir apoio, mas ninguém viu o tal documentário, e, vamos encarar a realidade, amigo. Ela é modelo, não neurocirurgiã. Será que o filme é inteligente?
Harry deixou o hotel sem ter tocado em seu uísque.
O filme de Hermione era realmente legítimo? Era um documentário sobre crianças, sobre órfãos, e ele a embaraçara na frente das pessoas que ela mais precisava?
Se esse fosse o caso, era o maior imbecil do mundo.
Depois de um banho quente, Hermione vestiu um robe branco do hotel e abriu a porta do quarto para a varanda. A chuva tinha se transformado num leve nevoeiro e o aroma da noite estava fresco e doce, mas era difícil esquecer de tudo o que lhe acontecera há poucas horas.
Tinha sido uma noite muito difícil, e estava tentada a vestir uma roupa, pegar um avião e voltar para a Índia, onde era verdadeiramente necessária.
Não era querida nem mesmo desejada ali. Harry Potter se incumbira de deixar isso bem claro para todos.
Em Cannes, era vista apenas como mais um rosto bonito, porém inútil. Uma das razões pelas quais deixara Buenos Aires seis anos atrás tinha sido para fugir de uma mãe egocêntrica, assim como do estilo de vida de sua família egocêntrica.
Desde muito pequena, Hermione sempre quisera mais. Não coisas materiais, e sim mais emoção, mais paixão, mais ação. Tinha pensado que trabalhar como modelo lhe proporcionaria o caminho para uma vida mais interessante, contudo, depois de seis anos na profissão, descobrira-se ainda mais limitada.
Os homens a adoravam por ser bonita. Mas não queriam que abrisse a boca e expressasse seus pensamentos e projetos.
Então, tinha parado de falar. E não muito depois, sentiu-se como uma boneca Barbie sorridente, embora por dentro estivesse fria e solitária.
Com um suspiro, Hermione encostou-se na porta. Não namorava há quase um ano. Não quisera sair com mais ninguém depois de Andrea, mas o beijo de Harry naquela noite tinha mexido profundamente com alguma coisa em seu interior.
Harry era quase tão cruel quanto Andrea, mas o beijo fora incrível. Havia alguma coisa no jeito como ele a tocava... algo no beijo que a fazia se sentir aquecida de dentro para fora.
Como um beijo podia ser alguma coisa que clareava a mente de alguém? Fazendo uma pessoa acreditar em possibilidades de um futuro melhor?
Um beijo não podia fazer isso.
Era apenas uma armadilha de sua mente, um truque da imaginação, racionalizou. Estava cansada. Arrasada. Era hora de ir para a cama. No dia seguinte, seria a exibição de Um coração, seu momento mais importante em Cannes até agora.
A exibição era tudo. A exibição transportaria a imensa necessidade, contando, em cores e fotos, o que as palavras não podiam dizer. As pessoas veriam o orfanato do vilarejo, as dezenas de garotinhas que tinham sido abandonadas por suas famílias, e o destino de meninas mais velhas que eram vendidas em prostituição.
Hermione apagou a luz, sabendo que, na manhã seguinte, tudo pelo que sua amiga Allie tinha trabalhado se tornaria realidade.
O toque do telefone acordou Hermione.
– Detesto ser o portador de más notícias, mas é melhor você descer.
A voz rouca masculina pertencia a um único homem.
– Não estou interessada. – respondeu ela, irritada por ter reconhecido a voz de Harry Potter tão rapidamente.
– Você vai ficar, eu lhe garanto.
Hermione se sentou na cama.
– Não tenho tempo para isso.
– Acho que você tem. – então sua voz tornou-se mais gentil: – Hermione, é melhor você descer. Isso é importante.
Alguma coisa no tom de Harry enviou arrepios ao longo da coluna dela. Ele soava preocupado. Muito preocupado. Mas Harry não era seu amigo e não estava do seu lado, então por que se preocuparia com ela?
– Você está me assustando.
– Sinto muito. – houve um momento de hesitação antes de ele falar de novo: – A exibição de seu filme foi cancelada.
Oie! Eu sei que vocês gostariam de capítulos maiores, mas é que a fic é bem pequena, então, se eu simplesmente juntasse dois capítulos em um, não só a história se resumiria em quatro capítulos, como também depois haveria a sensação de as coisas correram e acontecerem muito depressa. E, é claro, eu não posso acrescentar algo mais…
Harry agora já sabe toda a verdade, já sabe que cometeu o erro de humilhar Hermione na frente de grandes pessoas e, para piorar, a exibição do filme foi cancelada.
Com certeza, ela o deve odiar com todas as suas forças, afinal, o filme era como um sonho.
Vamos ver o que vai acontecer, entretanto.
Não deixem de comentar. Bjão.
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