Segundo Capítulo
Hermione esfregou os braços nus de leve, tentando conter os arrepios que lhe percorriam a pele. Tudo que tinha de dar errado já dera. E agora fora publicamente humilhada por um capitalista italiano e aventureiro, Harry Potter, em uma das festas mais prestigiadas de Cannes.
– Eu nunca toquei em um centavo da conta bancária de Andrea.
– Então, onde foi parar o dinheiro dele?
Ela deu de ombros, impaciente.
– Em drogas, provavelmente. Foi por isso que ele teve o derrame.
– Então, você o deixou.
– Foi uma decisão mútua. – Por que ela estava tendo aquela conversa?
– Não foi isso o que Andrea disse.
Hermione lutou contra a ânsia de vômito. Estava definitivamente enjoada.
– Se desgosta tanto de mim, Sr. Potter, por que teve trabalho em me mandar um convite para a festa de hoje?
– Curiosidade. – seus ombros largos se flexionaram. – E prevenção. Eu queria me certificar de que você não se aproveitasse de ninguém aqui em Cannes. Que não enganasse ninguém.
– Eu não engano as pessoas. – ela descobriu que era incapaz de tirar os olhos do rosto de Harry Potter. Com traços marcantes e fortes, linhas tão claras e distintas, que pareciam quase esculpidas. – Estou aqui para o festival de cinema.
– O festival?
– Estou representando um filme.
Harry assobiou suavemente.
– Um filme. Primeiro modelo e agora atriz. Eu não sabia que você tinha tantos talentos ocultos.
Hermione detestava como ele a fazia se sentir. Trabalhava duro e honestamente, e sabia disso.
– Como metade das pessoas que estão aqui hoje, estou lançando meu projeto.
Os olhos de Harry nunca deixaram os seus, mesmo quando ele deu um outro gole no champanhe.
– Eu sabia que você estava procurando dinheiro.
As palavras ofensivas que ele lhe dissera antes, negócio lucrativo e velho rico, ecoaram na mente de Hermione, mas ela controlou sua reação. Não podia fazer uma cena. Precisava das pessoas presentes naquele local.
– Estou procurando por um comprador para o filme, e se eu não puder encontrá-lo, então terei de distribuí-lo por mim mesma, mas como tudo nos negócios, isso exige dinheiro.
– Bem, é fácil então. Você precisa de dinheiro. Eu tenho dinheiro. Considere negócio fechado.
Ela tremeu, sentindo o vestido de lantejoulas arranhar a pele. Harry Potter não a respeitava. Aos olhos dele, ela não era melhor do que uma prostituta cara. E agora acabara de lhe oferecer dinheiro.
– O que quer, Sr. Potter?
– Oh, isso é fácil. – ele estreitou os olhos e sorriu de modo perverso. – Quero você.
Hermione o olhou por um momento, incapaz de encontrar as palavras, devido à intensidade de suas emoções.
– A mim?
Ele assentiu uma vez, os cabelos negros refletindo as luzes dos sofisticados lustres de cristais pendurados no teto do salão de festas.
– Quero o mesmo acordo que você fez com Andrea.
Por um momento, Hermione não ouviu nada, exceto um grito de indignação em sua própria cabeça, mas então controlou o temperamento, lembrando-se das cem crianças órfãs que tinha conhecido em sua viagem para a Índia.
Cem garotinhas sem um futuro. Cem garotinhas sem esperança.
Mas o documentário poderia mudar tudo. Seu filme poderia dar uma chance àquelas meninas.
O olhar de Harry prendeu o seu.
– De quanto você precisa?
Ela ergueu o queixo em desafio.
– Quanto você tem?
Subitamente, ele riu.
– Então, conte-me sobre seu filme. Você faz o papel principal?
– Não. – e de repente Hermione soube que não podia... não iria continuar aquela conversa por nem mais um minuto. Não precisava se defender, e certamente não precisava ser insultada. Arranjaria o dinheiro e encontraria o apoio para Um Coração sem perder o auto-respeito.
Encarando-o, esboçou um pequeno sorriso sofrido.
– Adeus, Sr. Potter.
Estava chovendo do lado de fora do Hotel Majestic e Hermione, incrédula, observou a rua, enquanto a chuva forte embaçava as luzes brilhantes de Cannes. Andou alguns quarteirões antes de se dar conta de que deveria ter esperado um táxi. Estava completamente ensopada e congelando, e ainda tinha muitas quadras à frente.
No momento em que se preparava para atravessar a rua, viu um rápido movimento pelo canto do olho. Sentiu os pêlos da nuca se arrepiarem. Seu sexto sentido a avisou para virar. E quando o fez, percebeu que não estava mais sozinha. Dois homens estavam atrás dela, literalmente atrás, e Hermione sabia que queriam alguma coisa.
Olhou para a direita, depois para a esquerda, procurando por outro pedestre, mas a chuva diminuía o efeito das luzes, deixando a rua escura, e ela soube que tinha cometido um terrível erro ao voltar a pé sozinha para o hotel.
Subitamente, uma Mercedes escura parou próximo ao meio-fio. O vidro escuro do lado do passageiro baixou. Harry Potter inclinou-se sobre o assento de passageiro vazio.
– Você está bem?
Hermione tremeu e cruzou os braços sobre o peito, protegendo-se do frio.
– Bom ver você, Harry.
Os olhos esverdeados se estreitaram. Ele então abriu a porta para ela.
– Entre.
No momento em que estava sentada, Harry acelerou o carro e partiu.
– Você está hospedada no Carlton, certo?
O Hotel Carlton era o lugar onde todos os grandes diretores e produtores americanos ficavam.
– Sim. – ela tremia tanto, que foram necessárias algumas tentativas para conseguir pôr o cinto de segurança.
– Obrigada.
Ele olhou de lado para ela.
– Nós deveríamos chamar a polícia.
– E dizer o quê? Que dois homens se aproximaram de mim na esquina?
– Eles podiam ter machucado você.
– Eu sei. – ela ergueu a cabeça e seu olhar encontrou o dele por um breve momento. – Obrigada.
O estômago de Harry se contraiu. Os olhos dela eram maravilhosos. Havia tanta emoção ali, tanta inteligência e intensidade. Tinha visto as fotografias de Hermione, fora a seus desfiles diversas vezes em Milão, mas a expressão da linda modelo era sempre dura e... vazia. E ele tinha assumido que a mulher era dura e vazia por dentro, também.
Mas estava começando a perceber que Hermione Granger podia ser muito mais interessante do que imaginara. Talvez não fosse a modelo tão fria e insípida que Andrea havia descrito.
Harry deixou o manobrista do Hotel Carlton pegar o carro, e cobriu os ombros nus de Hermione com o paletó de seu terno enquanto a escoltava ao longo do elegante saguão cheio de gente.
Ela ainda estava uma pilha de nervos, mas, mesmo tensa e molhada, com os cabelos longos penteados para trás e o paletó de Harry sobre os ombros, cabeças viravam-se para olhá-la.
Harry sentiu os olhares e ouviu os sussurros quando eles passaram pelo saguão, e tinha certeza de que Hermione também, mas ela não disse nada, os ombros eretos, a cabeça erguida, andando como se não tivesse uma única preocupação no mundo.
No elevador, ela tirou o paletó dos ombros e lhe devolveu.
– Não sei bem o que dizer. – a expressão era cautelosa. – Esta noite você me destruiu, e depois me salvou. Por quê?
Boa pergunta, pensou Harry, consciente do pequeno grupo parado atrás deles, sendo uma das pessoas uma atriz americana de cinema.
– Destino. – respondeu, dando de ombros.
O maxilar de Hermione se contraiu.
– Eu não acredito em destino.
As portas douradas do elevador se abriram e Harry estendeu uma das mãos entre as portas, a fim de mantê-las abertas para ela. O grupo de pessoas atrás estava se movendo rapidamente para entrar no elevador, e Harry retirou a mão e aproximou-se de Hermione, dando passagem aos outros.
Quando fez isso, sentiu o perfume delicioso, um leve aroma floral que, de alguma maneira, combinava perfeitamente com ela.
– Bem, talvez você devesse acreditar. – sussurrou no ouvido de Hermione. Então abaixou a cabeça e a beijou.
Oie! Vocês devem estar se perguntando"Deus do Céu, que espécie de homem é esse?" Pois eu digo e afirmo com toda a certeza que esse homem ainda vai surpreender muito mais, muito mais mesmo...
Não me matem por ter parado numa parte relevante, afinal quase todos os capítulos terminam desse jeito. É para manter a ansiedade e o interesse pelo próximo capítulo. E agora agradeço aos vossos gentis comentários, e espero que estejam a gostar da fic tanto como eu gosto dessa história...
Não deixem de comentar, ok?
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