Primeiro Capítulo



– Você gostaria que eu fizesse o quê? – a voz rouca de Hermione não podia esconder seu choque. Ali era a recepção de gala para o Marché Internacional du Film, e o Marché, ou Mercado, era o lado prático e básico do festival de filmes de Cannes. Todas as pessoas importantes estavam lá naquela noite.
– Poderia ser uma noite agradável.
Um calor subiu pelas faces dela. Ignorando os investidores ricos reunidos à sua volta, encontrou o arrogante olhar italiano.
– Lamento que você tenha escolhido a mulher errada.
Uma das sobrancelhas do homem se arqueou. Parecia totalmente distraído dos outros, assim como do fato de que ali era uma recepção particular, uma festa muito exclusiva, para pessoas com bolsos cheios e conexões corretas. O Marché era o lugar onde os filmes eram adquiridos, direitos estrangeiros negociados, e o dinheiro trocava de mãos. O Marché era a única razão pela qual Hermione estava em Cannes.
– Você é Hermione Granger. Modelo?
Ela sentiu como se ele a tivesse asfixiado com um pano. Mal podia respirar.
– Se não se importa, estou tentando fazer negócios aqui.
Os olhos dele brilharam. Olhos esverdeados com um brilho de esmeralda que se estreitaram em seguida.
– Eu também.
Houve uma risada embaraçada e um baixo murmúrio de vozes vindo de um grupo de homens ali perto. Alguns estavam se divertindo, outros pareciam desconfortáveis, e o rosto de Hermione queimou da testa até o queixo.
– Acho que nós poderíamos nos divertir. – continuou o italiano com o mesmo sorriso malicioso no rosto. – Ligue para mim.
Ela retesou os músculos quando ele colocou um cartão pessoal com acabamento de verniz em suas mãos, e imediatamente tentou devolvê-lo.
– Eu não quero isso.
– Por que não? Você parece uma garota divertida. Estou sempre interessado em uma boa diversão.
Por que ele estava fazendo aquilo? O que queria, afinal? Ela havia mexido muitos pauzinhos a fim de conseguir um convite para a festa daquela noite e tinha apenas uma chance, esta chance, para tentar interessar aqueles patrocinadores por seu filme. O festival de duas semanas já estava na metade e, até então, não encontrara ninguém para investir em seu projeto. O filme era tudo agora. As crianças dependiam dele.
– Aprecio seu voto de confiança – disse Hermione com firmeza, mantendo o sorriso falso no lugar. –, mas italianos não fazem realmente o meu tipo.
Foi como se tivesse puxado a corda de um violino. O ar pareceu zunir, uma onda de tensão envolveu os dois, e Hermione teve a sensação física mais intensa que já havia conhecido em anos.
– Não? – o tom de voz dele era de zombaria.
– Não. – ela podia senti-lo. Senti-lo respirar fundo, senti-lo soltar o ar, senti-lo pensar. Tremeu interiormente, abalada pela intensidade da emoção.
– Entretanto, seu último namorado era italiano.
Hermione enrubesceu. Não deveria estar surpresa com o fato de que aquele homem conhecesse sua vida amorosa. Afinal, os paparazzi a perseguiam por todos os lugares, especialmente quando ela estava saindo com Andrea Mossimo, um piloto italiano de carros de corrida, alguns meses antes.
– Último ainda é a palavra em vigor. – respondeu ela com um sorriso, embora seus olhos ainda brilhassem de raiva.
– Isso mesmo. Você dispensou Andrea depois do trágico derrame que ele sofreu, certo?
Aquilo pareceu ter um efeito imediato no grupo de investidores internacionais. Os executivos começaram a se afastar de dois em dois, de três em três, e Hermione sentiu puro pânico ao notar que estavam indo embora! Perdendo a chance de que eles lançassem seu filme e, depois do modo como aquele homem a embaraçara na frente de todos, não havia meios de as pessoas acreditarem que ela tinha um assunto sério em mãos.
– Perfeito. – murmurou o italiano quando ficou sozinho com Hermione. – Agora somos somente você e eu.
Os olhos de Hermione queimaram quando ela fechou as mãos, amassando o cartão que ele a forçara pegar. Tinha um filme sem patrocínio, um documentário importante que necessitava ser distribuído, e aquele homem acabara de estragar tudo.
– Como você pôde fazer isso? – acusou, arrasada pela oportunidade perdida. Havia colocado tantas esperanças naquela noite. Precisava tanto daqueles contatos.
Ele enfiou as mãos nos bolsos traseiros da calça social e fingiu-se de inocente.
– Fazer o quê?
Mas Harry sabia o que tinha feito, e sabia exatamente o que estava fazendo. Ouvira dizer que Hermione, uma das modelos mais quentes de Milão, queria um convite para a festa luxuosa e, ironicamente, foi Harry quem conseguiu um convite sem que ela soubesse.
Já tinha visto a linda Hermione atuando, sabia o quanto ela podia ser sorrateira, e queria saber exatamente o que a cuidadosa modelo argentina aprontava desta vez. Por que estava em Cannes? O que queria, ou, mais corretamente, quem era sua presa?
– Humilhar-me dessa maneira. – gritou ela, lágrimas enchendo-lhe os olhos.
Harry tinha de admitir que ela era boa. As lágrimas pareciam verdadeiras. Se não soubesse da angústia que ela fizera Andrea passar, teria sido ludibriado por aquelas lágrimas nos olhos castanhos, porém Hermione Granger, assim como sua ex-namorada, Joy, era uma manipuladora de primeira. Havia sempre alguma coisa que mulheres como aquelas queriam, e sempre alguém novo na cadeia alimentar.
– Vamos lá. – disse ele, acenando para um garçom uniformizado e pegando duas taças de champanhe da bandeja de prata. – Não é tão ruim assim. A noite é uma criança. O festival apenas começou.
– E termina daqui a uma semana. – respondeu ela, recusando a taça de champanhe que ele lhe estendia.
– Sete dias inteiros. Com sua aparência, você não terá problema em encontrar seu próximo negócio lucrativo.
– Negócio lucrativo?
O tom de voz dela tinha aumentado, enquanto o rosto empalidecia. Ele deu de ombros e bebeu um gole do champanhe.
– Um velho rico, então.
– É isso que você acha que estou fazendo?
– Você é uma mulher linda.
Hermione hesitou.
– E isso faz de mim uma prostituta?
Ela parecia chocada. Para Harry, o tom de mágoa era semelhante ao de uma garota de escola católica. Teve de admirar tal habilidade. A mulher era uma atriz melhor do que tinha esperado. Ou talvez Joy o tivesse tornado mais perceptivo.
– Dificilmente, cara. (N/A: Cara significa querida.) Você é sensacional. Parece mais uma princesa.
– E deixe-me adivinhar. Você adora princesas.
– Princesas mimadas. – replicou ele, inclinando a taça, deixando as bolhas subirem. – Mas você vai me dizer que não é nenhuma das duas coisas.
– Você acha que me conhece.
– Ah, eu a conheço o bastante.
Hermione ficou enjoada. Às vezes, detestava sua carreira, detestava o fato de que seu rosto e corpo eram familiares para estranhos, mas tinha escolhido sua profissão aos 18 anos. Trabalhar como modelo na Europa fora sua passagem para sair da Argentina e nunca se arrependeu de ter deixado Buenos Aires.
– Você não me conhece. – disse ela friamente. Seu pai era o último conde Tino Granger. Um dos aristocratas mais ricos da Argentina, havia comprado e vendido pequenas nações em um dia. Ela sabia tudo sobre homens poderosos e arrogantes.
– Então, me ensine. – murmurou ele. – Estou louco para aprender.
O exame detalhado do italiano a fez querer correr e se esconder. Ele não a estava apenas medindo. Estava projetando, imaginando como ela era por baixo do brilhante vestido de noite, mas Hermione tinha certeza de que ele já sabia como ela era. Afinal, no ano anterior, sua foto estava espalhada em quase toda a Itália, em um anúncio de lingerie que revelava muito.
– Eu não gosto de você.
– E pensar que tive tanto trabalho para lhe conseguir um convite para a recepção desta noite.
Hermione teve a sensação de estar pisando em cimento fresco.
– Você me mandou o convite?
Ele deu um gole do champanhe, mas sem tirar os olhos dela.
– Sim.
– Quem é você?
Ele sorriu.
– Eu lhe dei o meu cartão.
Sim, ele lhe dera. Hermione o amassara em suas mãos úmidas de suor, transformando-o numa bola de papel. Desamassou o pedaço de papel cor de marfim e olhou para baixo. Apenas um nome. E um número de telefone. Nada mais. Então leu o nome. Harry Potter. Hermione se sentiu literalmente tonta. Não podia ser. Ele não seria...
– Algum problema, Srta. Granger?
Ela o fitou, a boca secando. Ele não podia ser Harry Potter. Harry Potter era diretor de um banco de investimento, o principal patrocinador de Andrea. Harry era o dinheiro atrás do carro de Andrea, e facilmente depositara alguns milhões na conta do piloto no último ano.
Harry inclinou a cabeça e sorriu de modo quase benevolente.
– Você ainda era amante de Andrea quando lhe esvaziou a conta bancária, ou isso foi depois do derrame que ele teve?

Oie! Espero que se acostumem à fic sem dificuldade... Creio que não é muito difícil, ou é? Mas, gostaram?
Estou de braços abertos para qualquer opinião, qualquer coisa...
Próximo capítulo demora séculos, até milénios, se não comentarem! Comentários são sempre bem-vindos. Eu respondo a dúvidas e isso... Bj

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