Coragem
Capítulo 11 – Coragem
11. Estamos chegando ao fim do livro e de suas lições básicas na arte de conquistar bruxas. E guardamos o mais importante para o final: a coragem. Coragem para ser ousado, compreensivo, simples, humilde, educado e atencioso. Coragem para mudar e se mostrar, de fato, atrás de algo. Pois tenha em mente: assim que ela perceber que você a quer, deixará claro que também não teria problema em te dar uma chance (para situações distintas, procure outros títulos da editora, como “Doze maneiras de melhorar sua aparência”, “Quinze fragrâncias essenciais para sua vida” ou “Trinta razões para ser feliz sozinho”). Portanto, agora que você já conhece quase todos os mandamentos da conquista, crie coragem para colocá-los em prática. Não vai ser difícil. Você já se imaginou agindo em cada situação toda vez que lia os capítulos mesmo, não é?
Ron não sabia exatamente o quanto haviam andado, mas sentia como se tivesse corrido milhas de distância. Havia um cansaço generalizado em seus músculos, como se, de repente, as últimas horas pesassem em cada centímetro de seu corpo. Tentava se equilibrar enquanto atravessava os corredores junto de Hermione, carregando algumas presas de basilisco trazidas da Câmara Secreta e ainda uma vassoura embaixo do braço. Ele e a garota corriam pelo castelo com pressa, tentando evitar serem vistos pela maior parte das pessoas. Não precisavam de perguntas incômodas.
- Será que Harry está na Sala Precisa? – disse Hermione, que corria à sua frente, também carregando uma pilha de dentes amarelados enormes. Haviam passado por vários grupos de alunos e alguns professores, e de algumas janelas já era possível ouvir barulhos de explosões e vozes.
- Vamos ver – Ron falou, incerto. De alguma maneira a batalha parecia, senão começada, próxima do início.
A voz de Hermione lhe trazia uma espécie de calor cansado ao seu corpo; algo novo, que Ron mal entendia. Quando achava que estava abatido demais para abrigar novas emoções, era dominado pelo cheiro adocicado da garota, o tato da pele macia e, principalmente, o roçar de seus lábios na boca dela. E um calor entusiasmado crescia dentro de si, de maneira que Ron praticamente esquecia das dores que se espalhavam por seu corpo.
Ele não sabia o que fazer com aquilo. Ou melhor, sabia. Só não tinha a coragem de fazê-lo no momento. Na Câmara Secreta Ron havia estado muito próximo de beijá-la, mas não concretizou sua vontade - não com a garota tão vulnerável, após o momento pavoroso em que a alma de Voldemort projetara o rosto do ruivo em meio à luz dourada, num eco sinistro do que havia sido destruir o medalhão para ele.
Tentou se controlar, não resistindo a senti-la mais próxima de si. Ainda que tivesse, em vários momentos durante muitos anos, tido o impulso de se aproximar fisicamente de Hermione, Ron jamais havia sentido a necessidade daquele momento. Era como se a hora certa tivesse chegado.
Ou melhor, como se já tivesse chegado e passado, e eles estivessem vivendo em algum período incerto de oportunidades perdidas.
Ele expulsou esses pensamentos da cabeça, voltando a se concentrar no caminho até a Sala Precisa. Perdera a conta de quantas vezes se vira perdido em imagens e vontades envolvendo o toque morno de Hermione nos últimos anos, mas aquela não era a hora.
Depois de ir de encontro à garota, que havia parado bruscamente em sua frente, tropeçando em seu pé e batendo com seu nariz dolorosamente na parte de trás de sua cabeça, teve certeza que ali não era o momento para tais devaneios. Definitivamente.
- Ai! Ron, presta atenção! – ela exclamou num sussurro alarmado, virando-se para encará-lo. – Acho que ouvi a voz de Harry.
- Desculpa – ele murmurou, sentindo que suas orelhas ardiam. Falando baixo para não alertar ninguém e se esgueirando colado às paredes de pedra do corredor, eles estavam, invariavelmente, muito perto um do outro.
- Ouça! – ela disse, atenta aos ruídos do corredor. De fato, uma voz distante, que dizia algo usando o nome de Voldemort, lembrava bastante a de Harry. Hermione se adiantou pelo corredor e Ron a seguiu de perto.
Harry virou uma esquina e apareceu de frente a eles, soltando um grito que mesclou alívio e raiva; sua expressão deixava claro que estava, provavelmente, procurando pelos dois.
- Onde diabos vocês estavam? – ele gritou, se adiantando a passos largos.
- Câmara Secreta – Ron respondeu, sem delongas. Harry parou, abruptamente, e o encarou confuso.
- Câmara… o quê?
- Foi o Ron, foi tudo idéia do Ron! – Hermione disse, sem fôlego. Seu rosto já não trazia mais resquícios dos momentos de agonia passados ao tentar destruir a taça, mas estava iluminado por um largo sorriso orgulhoso. Apenas seus olhos ainda poderiam demonstrar que estivera chorando, mas o vermelho e as olheiras se confundiam com a sombra de cansaço que dominava todos eles. – Não foi absolutamente brilhante? Lá estávamos nós, depois que vocês saíram, e eu disse para o Ron que mesmo que nós achássemos o outro, como iríamos destruí-lo? Ainda nem nos livramos da taça! E ele pensou nisso! O basilisco!
- Mas o que…?
- Algo para destruir os Horcruxes – Ron falou, e Harry mirou as presas do basilisco nas mãos dos dois, arregalando os olhos em esclarecimento.
- Mas como vocês entraram lá? – ele perguntou, olhando para Ron. – É preciso falar Parseltongue!
- Ele falou! – sussurrou Hermione, virando-se para Ron com o rosto admirado. – Mostra para ele, Ron!
Ele tentou, novamente, proferir o sussurro sinistro que havia produzido no banheiro da Murta-que-geme, e chegou a se assustar com a veracidade das palavras sibilantes que saíram de sua boca.
- Foi o que você fez para abrir o medalhão – ele justificou para Harry, que o encarava quase assustado. – Eu tive que tentar algumas vezes antes de acertar, mas no final conseguimos.
- Ele foi incrível! – Hermione disse novamente, com entusiasmo. – Incrível!
A voz animada da garota fazia suas orelhas enrubescerem ainda mais, e Ron tentou a todo custo não formar um sorriso satisfeito demais. Mas ouvir o entusiasmo dela falando de si próprio sempre fora um prazer imenso para ele, e Ron não resistiu a, pelo menos, formar uma expressão que ele sabia deixá-lo como uma criança visitando a Dedosdemel pela primeira vez.
- Então… - Harry parecia perdido nas informações trazidas pelos dois, e olhava de Ron para Hermione com o olhar ainda confuso. – Então…
- Então estamos com um Horcrux a menos – com alguma dificuldade para segurar tudo, Ron tirou do bolso do casaco o que havia sido a taça de Hufflepuff e agora parecia um amontoado de metal dourado sujo de preto em vários lugares, como se tivesse sido queimado. – Hermione o destruiu. Achei que ela devesse, ela ainda não havia tido o prazer.
Ron não ousou olhar para Hermione ao seu lado, mas ele próprio sentiu um certo desconforto ao tocar o objeto. Parecia inacreditável que aquele pedaço de ouro inofensivo pudesse ter sido, alguns minutos antes, o responsável por algo tão pavoroso.
- Genial! – gritou Harry, animado.
- Não foi nada – Ron falou, tentando não demonstrar sua própria satisfação, apesar de saber não conseguir fazê-lo efetivamente. Uma risada forte e orgulhosa vinda de Hermione fez sua situação se agravar; não só suas orelhas arderam como fogo, mas seus lábios começaram a formar o sorriso mais bobo que ele lembrava ter usado na vida. – Então o que há de novo com você?
Uma explosão vinda de cima quase o interrompeu, e Ron se sentiu arrastado de volta para a realidade do momento – a guerra estava se formando e, se a batalha ainda não havia se estendido ao interior do castelo, era questão de tempo. Um pouco de poeira caiu do teto sobre eles, como o prenúncio do que não tardaria a vir.
- Eu sei como é o diadema, e sei onde está – Harry também parecia prever o que viria, e falava rápido. – Ele o escondeu exatamente onde eu escondi meu livro de Poções antigo, onde todos têm guardado coisas por séculos. Ele pensou que fosse o único a ter achado o lugar, venham.
O caminho até a Sala Precisa foi abalado pelos ruídos de explosões e gritos vindos de fora. As paredes do castelo pareciam tremer com sons abafados, como se antecipasse uma tempestade. À visão da sala quase vazia, Ron tentou imaginar onde estariam todos os bruxos que lotavam o espaço até algum tempo atrás. Pensou em seus irmãos e pais - se eles também só ouviriam aquelas explosões à distância, como ele - e sua barriga foi dominada por um frio incômodo.
Na sala só estavam Tonks, Ginny e uma senhora idosa com roupas espalhafatosas, que Ron sabia ser a avó de Neville.
- Ah, Potter, você pode nos dizer o que está acontecendo – a última disse, com um ar de elegância que a situação dificilmente poderia ter.
- Estão todos bem? – perguntaram Tonks e Ginny, em uníssono.
- Pelo que sabemos, sim – Harry respondeu, apressado. – Ainda está chegando gente pela passagem do Hog’s Head?
- Eu fui a última a passar – disse a Sra. Longbottom. – Eu a lacrei, não acho sábio deixá-la aberta agora que Aberforth deixou o pub. Você viu meu neto?
- Ele está lutando.
- Naturalmente – disse a avó de Neville, sem esconder o orgulho. Ela se dirigiu à saída com impressionante agilidade. – Com licença, devo ir ajudá-lo.
Tonks parecia angustiada e impaciente. Assim que soube que Remus estava planejando lutar nos terrenos da escola, saiu velozmente pela passagem dos corredores, sem olhar para trás.
- Ginny – disse Harry, virando-se para a ruiva, que também parecia impaciente, mas beirava o tédio. – Sinto muito, mas você terá de sair também, só um pouco. Depois você pode voltar.
Ron encarou a irmã com a autoridade que dificilmente servia de algo, aquiescendo a cada palavra de Harry. Ginny pareceu simplesmente maravilhada, no entanto, em poder sair da sala.
- E depois você pode voltar! – Harry gritou, enquanto ela saía correndo na direção em que Tonks havia ido.– Você tem que voltar!
Ron assistiu a irmã desaparecer na passagem para fora da sala, seus cabelos vivos balançando a cada passo em direção a liberdade. Ele não sabia o que o fazia sentir pior: saber que ela estaria no castelo próximo de ser invadido por comensais, ou estar presa a uma sala, onde qualquer invasão poderia ser fatal. Visualizando a sala sendo tomada por partidários das trevas, repentinamente outro cômodo fechado surgiu em sua mente.
- Espere um pouco – ele disse, bruscamente, sem pensar. – Estamos esquecendo de alguém!
- Quem? – perguntou Hermione.
- Os elfos domésticos, eles estão todos lá embaixo na cozinha, não estão?
- Você quer dizer que nós devemos mandá-los lutar? – perguntou Harry, com uma sombra de indignação na voz. Ron nem quis ver o que seria a expressão de Hermione antes de se explicar.
- Não – ele disse, séria e calmamente. – Quero dizer que devemos falar para eles irem embora. Nós não queremos mais nenhum Dobby, né? Não podemos ordenar que eles morram por nós…
Tão repentinamente quanto os elfos domésticos surgiram em sua mente, no entanto, eles desapareceram por completo, dando lugar a uma confusão de sentimentos, pensamentos e dúvidas que Ron não tentou acompanhar racionalmente.
Primeiro ele ouviu o baque forte de vários objetos caindo no chão sem cerimônias, e virou-se para ver que Hermione havia soltado todas as presas de basilisco que carregava. Ainda que seu primeiro reflexo fosse estranhar o que ela havia feito, Ron mal teve tempo de pensar em explicações para o que acontecia.
Só foi capaz de se perguntar por que Hermione se dirigia até ele com tanta rapidez e por que ela tinha um brilho tão decidido e cego nos olhos; por que se apoiou na ponta dos pés e por que jogou os braços com tanta força ao redor de seu pescoço.
Uma voz fraca e quase imperceptível no fundo de sua mente ainda se perguntou por que seu rosto estava tão próximo do dele, mas a maior parte de si já sabia. Assim que seus lábios macios se encontraram com a boca entreaberta e surpresa de Ron, todas as dúvidas desapareceram junto ao barulho do resto do castelo, às vozes distantes e os medos que o dominavam há meses.
Ron sabia que ele também havia derrubado tudo o que carregava, mas o barulho pareceu distante e irreal. Não parou para analisar nada mais, apenas a força com que pôde abraçar Hermione de volta, capaz de erguê-la do chão. Beijou-a com a mesma intensidade, aquela de anos de espera, que já havia previsto nas incontáveis vezes em que se imaginara com a coragem de fazer o que tinha vontade.
Os braços de Hermione estavam enroscados em seu pescoço com uma firmeza admirável, e seus dedos se encontravam na nuca de Ron, traçando caminhos pelos seus cabelos. Só o que Ron podia ouvir era sua respiração um pouco ofegante, que aquecia o rosto do garoto com o cheiro adocicado pelo qual ele tanto havia ansiado.
Não soube exatamente quanto tempo havia passado até que a voz de Harry se sobressaísse à mistura de sensações inimagináveis que experimentava. Mas sabia que, não fosse o amigo, não haveria cansaço capaz de o fazer querer sair daquele lugar tão cedo.
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Hemione havia saído da Câmara Secreta dominada por sensações que jamais havia conhecido.
O rosto dourado do Ron sinistro de Tom Riddle não aparecia mais em sua mente. Qualquer angústia sentida durante o tempo em que o Horcrux dizia aquelas palavras arrepiantes, com uma voz que pareceu ecoar profundamente em sua cabeça, havia desaparecido do peito de Hermione. No lugar, ficara o calor com que os braços do verdadeiro Ron a haviam envolvido, o cheiro cítrico real de seus cabelos, o toque leve em sua nuca. E, principalmente, o macio de seus lábios roçando na boca de Hermione, como uma sombra morna de conforto. Uma sombra que havia lhe deixado com a sensação mais incompleta que ela conhecia.
Hermione caminhou com uma dúvida palpitando em seu interior. Atravessou o castelo na companhia de Ron sabendo que alguma coisa estava errada naquela situação. Adentrou a Sala Precisa com a certeza de que algo, algo muito importante, ainda estava faltando.
Ela não mediu elogios na hora de contar a Harry o que havia se passado enquanto ele os procurava. Se havia algo que Hermione sabia era reconhecer uma idéia brilhante quando via uma. E a de Ron fora, na hora certa, o pensamento ideal. Mesmo após o encontro pavoroso com a alma de Voldemort ela era capaz de dar as boas vindas ao alívio de estarem com mais um Horcrux destruído.
Principalmente quando qualquer resquício do Ron dourado e assustador havia sido destruído pela presença do Ron verdadeiro a envolvendo. Ruivo, sardento e desengonçado. Hermione observou enquanto ele assistia a Ginny sair da Sala Precisa, sob protestos de Harry. Tocou com a ponta dos dedos o canto de sua própria boca, hábito que havia se tornado um reflexo quase irritante na última hora. Só o que ela queria agora era completar o encontro rápido e confuso entre seus lábios e os de Ron.
Vontade para a qual aquele era, invariavelmente, o pior dos momentos. Estavam prestes a vasculhar a Sala Precisa em busca de um Horcrux. Beijos poderiam esperar.
- Espere um pouco – a voz de Ron cortou seus pensamentos com a agilidade de uma faca afiada. Hermione coçou o queixo intensamente, num disfarce forçado. – Estamos esquecendo de alguém!
- Quem? – ela disse, procurando se mostrar natural. Perguntou-se porque sua voz saíra tão falha.
- Os elfos domésticos, eles estão todos lá embaixo na cozinha, não estão? – Ron continuou, e Hermione sentiu que sua expressão se transformava radicalmente.
Ergueu a testa e arregalou os olhos, virou-se para ele e atentou-se a cada palavra que dizia. Já tinha a boca entreaberta em indignação, pronta para dar-lhe a resposta que merecia. Se Ron realmente estivesse pretendendo o que ela achava que estaria…
- Você quer dizer que nós devemos mandá-los lutar? – perguntou Harry, dando voz à dúvida de Hermione. A garota continuou a encarar Ron com o rosto ansioso por uma resposta, pronta para largar todas as presas de basilisco que carregava, puxar a varinha do bolso e mandar-lhe um protesto merecedor de sua idéia. O ruivo não parecia ousar mirá-la nos olhos.
- Não – Ron disse, por fim, com a voz calma. – Quero dizer que devemos falar para eles irem embora. Nós não queremos mais nenhum Dobby, né? Não podemos ordenar que eles morram por nós…
Se alguém lhe pedisse que explicasse depois, Hermione não saberia como começar. Ou como terminar. Só percebeu que havia largado todas as presas de basilisco quando ouviu o estrondo dos objetos caindo no chão em cascata. O primeiro passo na direção de Ron ela também deu sem ter em mente, de fato, o que estava fazendo. Mas logo que descobriu para onde suas pernas a levavam, Hermione deixou qualquer tipo de hesitação ou medo desaparecer de sua mente. Deixou, aliás, que sua mente parasse por completo de desfilar as razões para não fazer o que pretendia fazer em alguns segundos.
Estavam no meio de uma guerra. Precisavam procurar a quinta parte da alma do maior bruxo das trevas de todos os tempos. Harry estava logo ao lado.
Mas tudo se apagava quando ela repensava as palavras quase inocentes e preocupadas de Ron, que chegaram até ela trazendo uma avalanche de momentos ilustrados por abraços na Toca e a sombra do meio beijo dado na Câmara Secreta, e que vinha empurrada por uma intensa vontade de não perder mais um segundo e terminar aquilo que esperava há meses.
Ele tinha com o rosto confuso e surpreso, mas Hermione não esperou por nada; simplesmente jogou seus braços em volta do pescoço de Ron e colou sua boca na dele.
A princípio seus lábios estavam rígidos em surpresa, mas no instante seguinte ela pôde sentir que ele largava tudo o que carregava, seus braços a envolviam com força e seus lábios respondiam ao beijo com intensidade.
Ron a beijou com tamanha vontade que ela soube que o momento acontecido na Câmara Secreta não estava apenas incompleto, mas era uma parte ínfima do total. Quando ele a ergueu do chão, Hermione teve certeza de que não queria que aquele momento acabasse nunca.
As razões contrárias, no entanto, não tardaram a aparecer. Logo ela pôde ouvir, ainda que parecesse fora de sintonia, a voz de Harry os chamando de volta.
- Ei! Tem uma guerra acontecendo aqui!
O grito do amigo fez com que Ron afastasse o rosto do dela levemente, e os dois se encararam ofegantes, ainda abraçados um ao outro.
- Eu sei, cara – disse Ron, com a voz fraca e um sorriso quase etéreo, parecendo levemente tonto. – Então é agora ou nunca, né?
Hermione sorriu com prazer, imaginando como ela mesma não havia pensado naquilo ao pesar as razões para ir ou não além em seu objetivo. Ron a encarou com um sorriso. Sua boca estava vermelha e ela tinha certeza de que a sua própria não estaria diferente. Sentiu que suas bochechas começavam a esquentar, e desviou o olhar apenas para encontrar algo parecido acontecendo nas orelhas de Ron.
- Deixa isso para lá, e o Horcrux? – Harry continuou a dizer, com a voz elevada. – Vocês acham que podem só… esperar até nós conseguirmos o diadema?
Simultaneamente, eles afastaram os braços um do outro e se puseram a recolher as presas do basilisco, espalhadas pelo chão.
- Sim… certo… foi mal – murmurou Ron, e Hermione viu que não só a ponta de suas orelhas estavam rosas, como suas bochechas também. Sentia que as suas ardiam e não reprimiu um riso fraco. Quando Harry se virou para sair da Sala Precisa, Ron se permitiu fazer o mesmo. Após se encararem por um momento antes de seguirem o amigo em direção ao corredor de Hogwarts, Hermione teve certeza. Ainda tinham um beijo a terminar para acabar com a sensação incompleta que continuava a dominá-la – ainda que, dali em diante, de uma maneira mais ansiosa do que apreensiva.
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Os três haviam se separado para procurar melhor o diadema de Rowena Ravenclaw, Harry tomando o caminho que ele tentava recordar da vez em que estivera na mesma Sala Precisa, na ocasião em que a utilizara para esconder o livro do Príncipe. Hermione seguiu por um dos corredores formados pelas coisas espalhadas, e Ron planejava ir na direção contrária, mas uma força incontrolável o fez seguir o caminho da garota.
Sabia que aquele não era, de fato, o momento mais apropriado para aquilo, nem o lugar mais indicado – apesar de já ter ouvido muitas histórias de casais que encontraram na Sala Precisa o ideal para suas necessidades, o grande ambiente de coisas escondidas não parecia a versão mais correta para o que Ron pretendia. Mas ele não conseguiu esperar o suficiente; apesar de ter falado distraidamente para Harry, aquilo era uma guerra e eles realmente não tinham tempo a perder.
- Ron, já estou olhando aqui, vá para o outro lado – Hermione disse, quando percebeu que ele a seguia, virando rapidamente para trás e voltando a se concentrar nas prateleiras e pilhas de objetos antigos.
Ele não quis falar nada, apesar de saber que já estavam longe o suficiente de Harry para que ele não os ouvisse – Ron já quase não escutava mais os passos do amigo. Sem pensar muito mais do que provavelmente deveria, ele se adiantou e puxou Hermione por uma das mãos. A garota se virou, assustada, e Ron a trouxe para si, passando o outro braço por seus ombros.
- Ron, não podemos… - ela tentou dizer, antes que ele colasse seus lábios nos dela.
Pareceu ainda melhor do que o anterior, e Ron se perguntou se beijos com a pessoa certa realmente tinha essa tendência a melhorar indefinidamente. Com Lavender ele havia se cansado após algumas vezes, como se tudo se tornasse tedioso em pouco tempo. Hermione o beijava com a mesma intensidade de antes, se não mais, e era como se fosse algo inteiramente novo. Ele respondeu passando suas mãos pelo cabelo fofo e cheiroso da garota, apoiando sua cabeça enquanto encontrava seus lábios com uma força que crescia a cada momento.
Foi ela que interrompeu, empurrando levemente o abdômen de Ron, olhando para baixo enquanto falava.
- Ron… agora não – ela disse quase em um sussurro, apoiando a testa no peito do garoto, demonstrando o quanto era difícil para ela também.
- Hermione – ele disse, abaixando o rosto para buscar a boca dela, falando contra sua bochecha. – Eu esperei bastante tempo por isso…
Ela riu, fracamente, abrindo espaço para que os lábios de Ron encontrassem os dela novamente. Ele a beijou de leve.
- Acredite, eu também – ela falou, ambas as bocas se tocando. Ela manteve os olhos fechados e sorriu discretamente. – Mas vamos ter tempo o suficiente depois que isso tudo acabar. E quanto mais cedo acharmos esse diadema…
Ron respirou fundo e beijou Hermione uma última vez. Quando se separaram, ela sorriu e, ao abrir os olhos, ele pôde distinguir um brilho que não via há muito tempo.
- Vai para aquele lado – ela disse, empurrando-o com uma das mãos, quando ele resistiu a soltar a sua.
- Okay… - Ron disse, assistindo enquanto Hermione desaparecia por um corredor à frente. Resolveu ir até Harry, que estava no lugar mais provável a abrigar o diadema. Quando pensou ouvir vozes, Ron tirou a varinha do bolso e andou até o amigo torcendo para não terem encontrado mais problemas. Cada vez mais, achava que precisavam destruir esses malditos Horcruxes o mais rápido possível.
Afinal, seus motivos eram os mais nobres – e verdadeiros – possíveis.
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N/A: pessoal, preciso escrever rápido porque no momento estou em uma lanhouse em meio a uma viagem caótica em Porto Seguro (até agora só vi estrada e nenhuma praia, então a viagem ainda tá meio stress haha). Desculpa a demora a atualizar, mas fui viajar dia 18 e só agora consegui um computador. No mais, cap novo agora só por volta do dia 15 de janeiro, mas acho que pago o atraso com um epílogo que eu não tinha previsto. :)
Bom ano novo e obrigada pelos comentários!! beijão
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