Humildade
N/A: Momento R/H que eu só reparei quando fui reler o capítulo 24 de DH antes de escrever este:
“Eu preciso de vocês dois, também!” [Harry chamou Ron e Hermione, que estavam se escondendo, meio ocultos, no batente da porta da sala de estar.
Os dois andaram até a luz, parecendo estranhamente aliviados.
Pag. 392, edição britânica.
Então... eu não sei se já estava preparada para quase-beijos, mas a Jo pediu, né?
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Capítulo 9 – Humildade
9. Talvez você não tenha percebido, mas durante todo o livro nós trabalhamos arduamente para despertar em você, leitor, um senso de humildade e modéstia. Nunca usaríamos do sarcasmo e ironia para te depreciar e, é claro, tirar com a sua cara se não houvesse uma razão correta e coerente para isso. E ela é: lembre-se de que você não é perfeito, largue mão do orgulho e seja humilde. A maioria dos bruxos erra feio quando tenta conquistar garotas porque acha que é invencíveis e que precisa sempre estar com a razão. Pois esse é um dos maiores erros possíveis: lembre-se de que é VOCÊ que está atrás dela, e comporte-se como tal.
Nada mais encontrava lugar na mente de Ron além do toque frio da pele dela em seus braços, a respiração lenta em seu ouvido e o aroma adocicado de seus cabelos, fraco e gasto, como se fosse parte da lembrança de uma outra Hermione - sem marcas ou dor.
A Hermione que Ron havia falhado em proteger.
Ele nem ao menos se concentrou ao aparatar da Mansão Malfoy até Shell Cottage, mas suas forças estavam tão determinadas e focadas em sair dali que em alguns segundos ele apareceu no quintal da casa de Bill e Fleur, inteiro como antes. Hermione ainda estava em seus braços, inconsciente, com a respiração mais lenta do que deveria.
A visão da garota de olhos fechados e boca entreaberta fez suas pernas tremerem. Já sem equilíbrio por causa da aparatagem, Ron caiu de joelhos na grama fofa.
- Ron!
A voz de Bill soou distante, mas ao erguer o rosto Ron, pôde vê-lo se aproximar com a expressão alarmada. O irmão se agachou ao seu lado e, vendo que todo o corpo de Ron tremia, ofereceu os braços para segurar Hermione.
- Ela está bem?
- Não – Ron sentiu suas pernas fraquejarem, mas não hesitou por um momento até que estivesse novamente de pé, a garota ainda firme em seus braços. - Aonde eu posso levá-la?
Bill não precisou ouvir mais nada, fez sinal para que o seguisse e andou até a casa, em direção ao andar superior.
- Fleur está cuidando do Sr. Ollivanders, eu vou chamá-la – Bill apontou para o mesmo quarto em que Ron dormiu durante o tempo em que ficou na casa. – Leve-a até o quarto de hóspedes.
Ron deu passos largos até a cama do quarto, onde deitou Hermione devagar e com cuidado. A garota deu uma mexida repentina quando ele passou a mão por suas costelas, e soltou um gemido fraco.
A respiração de Ron se intensificou, e ele precisou apertar as mãos e se afastar da cama, aos tropeços, para evitar que seus olhos não abrissem caminho para as lágrimas que tentava ignorar nos últimos minutos. Não poderia se deixar distrair das suas tarefas vitais: aparatar, trazer Hermione à segurança, certificar-se de que ela ficaria bem…
- Como ela está? – Fleur disse ao entrar no quarto e se aproximou de Hermione, passando uma mão na testa da garota e deixando uma cesta cheia de pequenos frascos no criado-mudo junto à cama.
Hermione se mexeu vagarosamente e seus olhos se apertaram levemente. Fleur encostou dois dedos no pescoço dela e vasculhou a pequena cesta até achar um frasco com um líquido laranja.
Ron não conseguia mover suas pernas; as forças que haviam trazido-no até ali pareciam distantes e inalcançáveis. Toda sua atenção estava focada no rosto pálido de Hermione, sua testa tensa e seus olhos apertados. Ainda havia dor neles, Ron tinha certeza.
- Faça alguma coisa! – ele disse sem pensar, e sua voz soou estranha e fraca, com um tipo de terror latente que ele não sabia possuir. Fleur o olhou com o rosto confuso e só então Ron reparou que ela já o encarava antes mesmo que ele dissesse algo, com o frasco laranja em mãos.
- Eu estou te chamando! Segure ‘Ermione parra que eu possa darr o tônico.
Ron sentou na beirada da cama, tomado por um medo inexplicável que ele não enfrentou na Mansão Malfoy. Ao menos lá sabia o que fazer para ajudar Hermione: tinha claro em sua mente que precisava levá-la para longe. Quando segurou os braços frios da garota a mando de Fleur, sentiu-se invadido por uma nova forma de terror – a incerteza do que fazer e o medo de que não fosse o suficiente.
O pavor de imaginar, por alguns instantes em que a lembrança dos pais de Neville Longbottom apareceu vívida em sua mente, que ela talvez não acordasse. Que não fosse a mesma Hermione de antes.
Ron precisou se controlar para não passar mal enquanto via Fleur segurar o rosto de Hermione e entornar o conteúdo do frasco em sua boca. Passaram-se alguns longos e inquietos segundos até que a garota se remexesse na cama, erguendo o rosto e tossindo com força.
- Está tudo bem! – Fleur murmurou, passando uma mão pela testa suada de Hermione, mas ela continuou a se debater, respirando com dificuldade em meio a tosses doloridas.
O ruivo segurou seus braços para que ela não se mexesse demais e, quando viu novamente os olhos apertados dolorosamente, soube o que precisava fazer.
- Hermione, não se preocupe – sua voz era quase um murmúrio, mas pareceu abafar o barulho da tosse forte. – Vai ficar tudo bem - a respiração de Hermione diminuiu vagarosamente até adotar um ritmo normal e ela descansou o corpo na cama, ainda tremendo um pouco.
Ron soltou seus braços, mas uma de suas mãos desceu instintivamente até a palma fria e suada da garota. Ele apertou seus dedos, que tentaram retribuir fracamente.
- ‘Ermione – Fleur se aproximou do ouvido dela, falando numa voz suave. – Dói em mais algum lugarr?
Hermione se mexeu fracamente, ainda de olhos fechados, e gemeu de dor ao tentar mover o tórax. Ron sentiu suas próprias mãos suarem junto às dela.
- Ela reclamou quando eu encostei aqui antes – ele apontou para a altura das costelas do lado direito, e Fleur passou os dedos levemente sobre o lugar. Hermione se remexeu de dor.
- Pode estar quebrrada – a francesa tirou da cesta um outro vidro, maior, que Ron sabia conter Esquelesce. Ele imediatamente se ajoelhou na cama e, antes mesmo que Fleur pedisse, voltou a segurar os braços de Hermione.
A loira encheu uma colher do líquido e levou até os lábios de Hermione. No instante em que a poção desapareceu na boca da garota, ela pôs-se a se debater com ainda mais força, respirando com dificuldade e soltando murmúrios de dor que chegaram aos ouvidos de Ron como um resgate dos gritos apavorantes que ele fora obrigado a ouvir, impotente, no porão da Mansão Malfoy.
Ron não se controlou por muito mais tempo; ignorando Fleur e, provavelmente, esbarrando com descuido nela, adiantou-se até Hermione. Ainda segurando seus braços, que se debatiam dolorosamente, apoiou um joelho no chão e aproximou a boca do ouvido dela.
- Hermione, por favor… - só após piscar ele percebeu que as lágrimas que combatia na última hora o haviam vencido; seus olhos estavam embaçados quando ele murmurou, num tom baixo e assustado, os lábios roçando no rosto dela. – Por favor…
Aos poucos Hermione parou de se debater e o quarto caiu no silêncio, interrompido apenas por sua respiração ainda um pouco acelerada. Ron ergueu o rosto e moveu uma mão até a testa da garota, afagando o cabelo suado devagar, como se qualquer movimento ainda pudesse machucá-la.
- Ron – ela murmurou, após um instante, ainda de olhos fechados. Não era uma pergunta. Ron passou a mão novamente em sua cabeça.
- Não se preocupe. Eu não vou a lugar nenhum – ele murmurou na altura do ouvido dela, e pôde identificar o início de um sorriso fraco em seus lábios.
- Eu sei – ela disse, e Ron pôde suspirar com alívio. Como não fazia há meses.
Um estalo alto ecoou pela casa, vindo do quintal, e Fleur se ergueu abruptamente, murmurou algo para Ron tão depressa que pareceu ser francês, e deixou o quarto. Ele pôde ouvir o movimento no quintal dos fundos da casa, mas não teve coragem de olhar pela janela. Não sabia que notícias poderiam estar chegando, e ainda não estava preparado o suficiente para recebê-las. Precisava ao menos se certificar de que Hermione estava bem.
Ela havia aberto os olhos e tentava se apoiar na cama para se erguer. Ron passou as mãos em seus ombros.
- Ei… vai com calma – ele murmurou. Ela o encarou, os olhos cansados despertando lentamente.
- O que aconteceu? – ela disse, voltando a recostar a cabeça no travesseiro.
Ron encarou o rosto pálido da garota incerto de como seguir.
- Você não se lembra?
- A última coisa de que eu me lembro é… - Hermione piscou devagar, ainda sonolenta. – você.
Ron a observou em silêncio. Ela mirou o teto com os olhos semicerrados e a respiração lenta, mas inquieta. Quando Ron voltou a falar, após alguns instantes em que o que ela disse ecoou em seus ouvidos, sua voz estava estranhamente carregada.
- Me desculpa.
Os olhos de Hermione se abriram, ainda que sonolentos. Ela se virou para encarar o outro, as sobrancelhas ligeiramente franzidas.
- Por quê?
- Ter chegado tarde demais.
Ela fechou os olhos, como se evitando lembranças que insistiam em voltar. Respirou profundamente antes de voltar a falar.
- Ron, você estava lá.
- Não, eu… não consegui…
- Você estava lá. Eu me lembro – ela abriu os olhos e o encarou. Havia, ainda que ínfima, uma sombra de sorriso em seus lábios. – Eu me lembro porque a sua voz era a única coisa que eu precisava ouvir naquele momento.
Ron entreabriu os lábios, incerto. Sentiu algo crescer dentro de si, e tinha certeza que a razão era por a estar ouvindo, mas suas palavras o consternaram ao mesmo tempo em que o aqueceram. Uma parte de si ainda considerava imperdoável não ter estado lá; era seu dever impedir que ela sofresse.
Ele apoiou a mão direita na dela, que retribuiu com um aperto.
- Eu não deveria ter deixado, eu… me desculpe se eu não consegui cumprir o que prometi.
- Você conseguiu, Ron – seus olhos sonolentos estavam visivelmente lutando contra o cansaço. - Obrigada.
Ron se sentou no chão, em silêncio. Continuou a segurar a mão de Hermione e apenas observou seu rosto ser dominado pelo cansaço.
Havia marcas, e ele sabia que não se referia apenas ao corte vermelho ainda visível em seu pescoço. As olheiras profundas e a testa tensa de Hermione não deixavam Ron esquecer que ainda era cedo demais para achar que tudo ficaria bem.
Mas ao menos ela estava novamente perto dele. Era tudo o que ele precisava saber no momento.
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Hermione tropeçou, mas a mão de Ron foi rápida em segurar seu braço e impedir que ela perdesse o equilíbrio. Cada movimento seu trazia à tona a dor de algumas horas atrás, como se pequenos machucados estivessem espalhados por todos as partes de seu corpo. Ela sabia não ser verdade; quando vestiu a camisola comprida de Fleur, Hermione viu sua pele tão lisa como antes. Apenas um pequeno corte vermelho era visível em seu pescoço, o qual Hermione havia pedido a Fleur que não curasse magicamente.
Queria que aquela pequena cicatriz representasse uma recordação do que cada músculo de seu corpo ainda sentia naquele momento. Uma vez que a dor estivesse desaparecido, Hermione queria se lembrar, toda vez que olhasse seu reflexo no espelho, de pessoas como Bellatrix Lestrange. Para saber que era justamente para destruí-las que eles estavam lutando.
“Uma morte trouxa é o que merece uma sangue-ruim como você.”
As palavras da comensal ainda ecoavam em seus ouvidos, mas Hermione as recebia com determinação e coragem. Sangue-ruim, era o que era. E Hermione não esconderia que era muito feliz assim. Não conseguia nem desejava se imaginar de outra maneira, e o que diziam alguns bruxos jamais a faria mudar de idéia. Pelo contrário, fazia com que tivesse ainda mais orgulho de estar completamente oposta aos ensinamentos dos bruxos das trevas.
- Tudo bem? – Ron murmurou, ao seu lado, enquanto eles atravessavam a porta do quintal da casa. Hermione havia sentido seu corpo estremecer por um momento, mas a voz de Ron a resgatou de pensamentos indesejáveis.
- Sim – ela respondeu com a voz baixa.
Quando eles chegaram à sala de estar, Bill e Fleur já se haviam se acomodado em poltronas junto à lareira. Ron levou-a, determinado, até um dos sofás fofos, segurando seus ombros firmemente enquanto a ajudava a se sentar.
- Está melhorr, ‘Ermione? – perguntou a francesa quando a garota se sentou.
- Sim. Obrigada por tudo, Fleur – Hermione respondeu. Ela também sorriu para Bill, que respondeu com um aceno.
Uma luz prateada atravessou a porta da frente da casa e deslizou até Bill na forma de uma doninha. Hermione reconheceu o patrono do Sr. Weasley, que em alguns segundos falou na voz conhecida do pai de Ron.
- Todos estão sendo movidos para a casa de Muriel. Ficaremos bem, e estaremos prontos para receber os novos hóspedes assim que quiserem – a doninha se encolheu um pouco e diminuiu a voz. – Molly está mandando Ron voltar para casa imediatamente, mas avise a ele que eu cuido dela.
A doninha estufou o peito, como se tivesse cumprido sua missão, e desapareceu em uma nuvem de fumaça prateada. Bill encarou Ron com um quase sorriso, e o irmão mais novo rolou os olhos.
- Eu não me surpreenderia se ela aparatasse aqui, agora – disse o mais velho, com a voz quase divertida, e então retomou o tom sério. – Foi sorte Ginny estar de férias. Se ela estivesse em Hogwarts, eles poderiam tê-la levado antes que nós chegássemos até ela. Agora ela também está salva.
Harry apareceu na porta da sala. Suas vestes estavam sujas de terra e sangue, e Hermione evitou olhar para elas. A visão do pequeno monte de terra que abrigava o corpo do elfo-doméstico já a atormentava o suficiente.
Ela se perguntou quando o pesadelo acabaria. O rosto de Harry parecia expressar o mesmo.
- Eu estava tirando todos da Toca – explicou Bill, assim que viu Harry. – Movi-os para a casa da tia Muriel. Os comensais sabem agora que Ron está com você, eles com certeza vão mirar na família.
O rosto de Harry foi tomado de uma expressão de susto, a qual Hermione reconhecia de vezes em que eram mencionados Sirius ou Dumbledore. Bill também percebeu, e adicionou rapidamente:
- Não se desculpe. Sempre foi uma questão de tempo, papai tem dito isso há meses. Nós somos a maior família traidora de sangue que existe.
Hermione moveu os olhos de Harry para Ron, que se sentava imóvel ao seu lado. Seus olhos azuis estavam tomados por uma espécie de torpor raivoso que a perturbou. Ela alcançou a mão dele, apoiada no sofá, e passou alguns dedos por entre ela. Ron retribuiu o gesto, mas continuou a mirar o chão a sua frente.
- Como eles estão protegidos? – Harry perguntou.
- Feitiço Fidelius. Papai é fiel do segredo. E nós fizemos nesse chalé também, eu sou o fiel do segredo aqui. Nenhum de nós pode sair para trabalhar, mas isso é o menos importante agora. Quando Ollivander e Griphook estiverem bem o suficiente, nós vamos movê-los para a casa de Muriel também. Aqui não há tanto espaço, mas lá tem bastante. As pernas de Griphook estão quase boas, a Fleur lhe deu Esquelesce: nós provavelmente podemos levá-los em uma hora ou…
- Não – Harry interrompeu, confiante. Hermione viu em Bill uma expressão surpresa que ela própria sentia estar usando. Fazia algum tempo que não via Harry tão determinado. - Eu preciso dos dois aqui. Preciso falar com eles, é importante. Eu vou me lavar. Então eu preciso vê-los o mais rápido possível.
Harry entrou na cozinha e Bill e Fleur se entreolharam, curiosos, voltando-se então para Ron e Hermione.
- Não me pergunte – disse Ron, num tom cansado. Hermione também ergueu os ombros, e Fleur finalmente se levantou, indiferente.
- Eu vou verr se o duende já está melhorr – ela disse, retirando-se na direção da escada. Bill a seguiu, um pouco impaciente, dando a Hermione a impressão de que eles queriam conversar a sós exatamente sobre os três jovens.
- Bill está irritado porque eu não quis contar o que aconteceu hoje – Ron falou, uma vez que a sala esvaziou.
- Ele está preocupado.
- Eu sei. Eu também estou, com Harry. Você sabe o que ele quer com eles?
- Não – Hermione suspirou, sentindo uma pontada particularmente aguda em sua costela. - Não sei se ele deveria resolver alguma coisa ainda hoje. Foi uma noite longa.
- Está tudo bem? – Ron perguntou, alarmado.
Hermione riu, fracamente, e o amigo a encarou atônito.
- O que foi? – ele disse.
- Eu estou bem, Ron – quando ele continuou a encará-la confuso, Hermione completou com um sorriso. – Não se preocupe comigo, eu já estou bem melhor.
Ron havia sido extremamente cuidadoso com ela durante toda a noite. Dos momentos em que ainda estava sonolenta ela conseguia lembrar perfeitamente da voz do garoto acalmando-a, e desde que a vira andar até o final do quintal da casa para o enterro de Dobby, ele não havia a deixado dar um passo sem ampará-la.
- Ah – Ron murmurou algo, mas não substituiu a expressão séria. – Todo cuidado é pouco.
- Eu acho que devemos ver como Harry está – ela se preparou para se levantar do sofá, e Ron foi rápido em segurar seu braço e ajudá-la a se erguer.
Ela andou alguns passos, acompanhada de perto por um Ron compenetrado, até que eles pararam no batente da porta do hall, e Hermione voltou a rir fracamente.
- Ron… - ela o encarou, sorrindo. – Obrigada por tudo, mas eu já consigo me levantar e andar sozinha.
- Eu preciso ter certeza de que você vai ficar bem – ele disse com a voz fraca e um tom quase urgente.
Hermione parou abruptamente. Segurou as mãos de Ron e forçou-o a encará-la. Aos poucos a expressão no rosto dele fez seu sorriso desaparecer.
- Ron…
Não era apenas preocupação. Além das rugas tensas em sua testa e os olhos azuis cansados, Hermione pôde distinguir um tipo de medo assustado cuja dor ela própria sentiu. Nunca havia visto Ron daquela maneira. E ainda assim, ela era capaz de adivinhar exatamente como ele se sentia.
O que apenas intensificou a sensação de que ela se encontrava em um longo e constante pesadelo. Ver aquele terror nos olhos de Ron parecia deixar a dor em seu corpo ainda mais real.
- Ron – ela tentou usar um tom determinado, mas havia um tipo de medo também em sua voz, que ela própria não conseguia controlar. – Você sabe que não foi culpa sua, né?
Ele piscou e desviou os olhos para a escuridão do hall. Tentou murmurar algo, mas nenhuma palavra saiu de sua boca.
- Ron – desta vez sua voz soou certa e firme. Hermione apertou as mãos de Ron e se aproximou do rosto dele. Ela pôde sentir que suas mãos tremiam. – Você não fez nada de errado.
- Eu deixei que eles te levassem - ele murmurou, balançando o rosto, ainda sem encará-la. - Eu devia ter…
- Você fez tudo o que poderia ter feito.
- Era para eu ter feito mais – sua voz trazia uma certeza tão determinada, que Hermione apertou suas mãos com força, trazendo-o para ainda mais perto. Seus rostos ficaram a centímetros de distância, e ela o forçou a encará-la.
- Ron, me escuta. Você fez tudo o que alguém poderia ter feito. Se não fosse por você, eu teria…
Hermione parou de falar, sem fôlego. Ron a olhou com o rosto surpreso e só então a proximidade de seus orbes azuis se tornou clara para a garota. Ela podia sentir a respiração quente dele chegar até seu próprio rosto.
- Eu preciso de vocês dois, também!
A voz de Harry despertou Hermione repentinamente, e ela soltou as mãos de Ron, um pouco desconcertada. O garoto ainda permaneceu por alguns instantes parado onde estava, então caminhou junto a ela até o hall em que Harry estava. Hermione suspirou, e não pôde deixar de conter um certo alívio por não continuar completamente sozinha com Ron.
- Como você está? – Harry perguntou a ela. – Você foi incrível… pensar naquela história enquanto ela te machucava daquele jeito…
Hermione sorriu, fracamente, e sentiu Ron passar a mão por suas costas, apertando seu braço. Quando seus dedos acariciaram levemente seu ombro, Hermione pensou poder sentir novamente a respiração quente de Ron perto de si.
Estranhamente, ouvir a voz de Harry agora não lhe trouxe o mesmo alívio de antes.
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N/A: Desculpe a demora, de novo. Mas é que o final do semestre está chegando e junto vários trabalhos e resenhas e seminários para ocupar meu precioso tempo... além do mais eu me engajei em challenges e tenho mais duas fics em andamento (essa é prioridade, mas eu quero muito tentar terminá-las a tempo). Infelizmente eu não posso prometer apressar o próximo... mas vou fazer tudo o que posso!
MUITO MUITO MUITO MUITO (MESMO) OBRIGADA pelos comentários. Vocês não sabem o bem que me fazem (Sim, eu tenho problemas de auto-estima. Mas é culpa do meu professor de Redação II).
Ah, e para quem perguntou: a fic terá, sim, 12 capítulos. :]
Cenas do próximo capítulo: Hogwarts, uma idéia e uma câmara secreta.
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