Reconhecimento



Capítulo 2 – Reconhecimento

2. A segunda coisa que você precisa saber é: ela também não é um monte de bosta de dragão - então nunca aja como se ela o fosse. E acredite, você faz isso com mais freqüência do que imagina. Do contrário, ela já estaria nos seus braços e você não estaria segurando uma cópia de Doze maneiras seguras de encantar bruxas, e sim do Kama Sutra Magical. (Gwendolen Silvermoon, 5ª Edição, 358 pag.)

Ron desceu as escadas com tanto entusiasmo quanto um elfo doméstico a caminho da liberdade - e não era em Dobby que ele pensava. Chegou até a sala de estar vazia e considerou por um longo momento ir até a garagem ver se seu pai precisava de ajuda com a moto de Sirius. A voz dos irmãos mais velhos, no entanto, ecoou agudamente em sua cabeça e Ron caminhou em direção à grande e aconchegante cozinha da Toca.

Ele ouviu vozes e estava prestes a fazer um barulho anormalmente alto com o tênis, para anunciar sua chegada, quando algo o fez prender a respiração.

Hermione soluçou alto e a voz da Sra. Weasley, num tom afetuoso, consolador e pouco inquisidor, murmurou algo baixo. Ron se adiantou até a porta entreaberta e, pela fresta, pôde ver sua mãe entregar uma xícara fumegante à garota, que agradeceu e começou a falar, ainda soluçando em alguns momentos:

- Eu vi os dois indo embora ontem. – sua voz era baixa e interrompida por soluços. – Eu pus um feitiço no meu quarto para que eles não me achassem depois que eu alterei a memória deles.

- Ah, querida… - Molly Weasley afagou os cabelos da garota. – Você tem certeza que sair nessa missão descuidada é a melhor coisa a fazer?

- Sra. Weasley, com todo o respeito – a voz de Hermione soou tremida mas não fraquejou – Nós precisamos fazer isso e ninguém vai nos fazer mudar de idéia.

Ron viu o rosto de sua mãe se contorcer numa expressão dúbia. Ela obviamente queria começar seu sermão irritado, mas achou que essa não era a melhor opção frente às lágrimas da garota. Ron imaginou porque ele nunca havia tentado chorarantes.

- Está bem, querida – a voz dela havia se tornado um pouco mais seca, mas ela continuou a passar a mão nos cabelos castanhos da outra. – Você obviamente pensou o suficiente nisso.

- Sim – Hermione tomou um gole demorado de chá. - Eu não tive outra escolha, eles poderiam ir atrás dos meus pais. E os dois sempre disseram que achavam a Inglaterra muito fria, mesmo...

A Sra. Weasley sorriu e pareceu dar o braço a torcer. Suspirou uma vez e serviu-se também de uma xícara de chá.

- E é magia extremamente complicada modificar completamente a memória de alguém – ela se levantou e colocou a chaleira de volta no fogão – Por mais adversas que sejam as circunstâncias, você merece os parabéns.

- Obrigada – a voz de Hermione soou um pouco mais animada e ela voltou a se ocupar com seu chá.

Um barulho de motor explodiu do quintal, audível em toda a casa. Molly Weasley abriu a porta dos fundos e olhou para fora com a expressão indignada.

- Arthur! – com um último olhar simpático na direção de Hermione, ela saiu pelo quintal a passos firmes.

Ron sentiu pena do pai, prestes a receber toda a frustração acumulada de Molly Weasley. Não era Ron que poderia ajudar, no entanto, e ele abriu a porta e entrou com determinação na cozinha.

Hermione havia se levantado e virou-se em direção à saída. Seus passos morreram no momento em que ela encarou Ron.

- Ron… Oi – seus olhos estavam vermelhos e Ron podia ver que suas bochechas ainda estavam molhadas.

- Hemione, o que aconteceu? – ele falou, sem pensar muito. A garota soltou um muxoxo e desviou o olhar para o quintal visível pela porta aberta.

- Eu… alterei a memória dos meus pais antes de vir para cá – ela começou com a voz fraca. Ron pôde ver que lágrimas voltavam a se formar no canto de seus olhos, mas ele manteve o olhar fixo na garota. – Quando os comensais souberem que nós estamos ajudando o Harry, podem vir atrás da nossa família.

- Eu sei. – ele murmurou – Eu enfeiticei o morcego do sótão para fingir que sou eu.

A garota franziu a testa e olhou para Ron com surpresa, mas ele continuou:

- Por que você não me contou?

Ela desviou o olhar novamente e sacudiu a cabeça.

- Eu não sei… Eu acho que eu ainda estava precisando me acostumar com a idéia.

- Oh – Ron murmurou, hesitante – Para onde eles foram?

- Para a Austrália – ela respondeu com a voz novamente fraca.

- Wow – Ron não pôde se conter – Inteligente.

- Obrigada – ela ainda falou, antes de levar uma mão tremida ao rosto e tampar os olhos.

Ron entreabriu a boca, mas não conseguiu pensar em nada correto a dizer - não havia nada em livro algum sobre como se comportar na frente de uma garota em prantos. Mas ele não precisou pensar muito mais para agir em seguida: passou os braços em volta da amiga, afagando seus cabelos cheios num movimento leve.

Hermione manteve o corpo rígido por alguns segundos, até que seus ombros relaxaram e sua mão descansou no peito de Ron. O rosto da garota balançou um pouco e ele pôde sentir uma gota morna de lágrima cair em seu pescoço.

- Hermione, vai ficar tudo bem… - ele falou com a voz baixa, perto do ouvido da garota. O cheiro adocicado emanado dos cabelos fofos fez com que Ron fechasse os olhos por um momento.

- Eu sei… - ela murmurou, em meio a um soluço – Eu não queria ficar assim tão…

- Você pode ficar como quiser – Ron falou num tom determinado que ele mesmo não esperava. – Só lembre que pode vir falar comigo. Sempre.

Ela respirou profundamente e a intensidade de seus soluços diminuiu.

- Obrigada, Ron. – ele pôde ouvi-la murmurar, o rosto afundado no peito do garoto.

Ele não soube por quanto tempo permaneceram assim. Ron fechou os olhos e ignorou qualquer pensamento que envolvesse algo além da garota que ele abraçava. Quando finalmente os abriu e olhou através da porta da cozinha, pôde distinguir duas figuras idênticas sorrindo largamente em sua direção.

George fazia sinais de positivo com as mãos. Fred havia virado de costas e, abraçando o próprio corpo, começava uma mímica inconfundível de um beijo apaixonado e apertado. Ron rolou os olhos e sinalizou para que os dois fossem embora, um pouco mais brutamente do que pretendia.

- O que foi? – Hermione ergueu o rosto e encarou o outro.

- Ah… uma mosca – Ron segurou a nuca da garota para que ela voltasse a encostar o rosto em seu ombro, mas o barulho habitual da casa pareceu voltar à tona e Hermione se afastou, limpando as bochechas com a mão.

A voz de sua mãe ecoando broncas pelo jardim se tornou cada vez mais próxima e logo a Sra. Weasley adentrou a cozinha, bufando palavras indecifráveis.

- E vocês dois, por que não vão ajudar Ginny a alimentar as galinhas? – ela demandou quando os avistou.

- Ah, claro, Sra. Weasley – Hermione conjurou a voz mais educada que pôde e Ron soltou um muxoxo cansado antes de seguir a amiga até o quintal.

Numa última olhada para a sala, ele ainda pôde ver a expressão de desapontamento nos rostos idênticos dos irmãos mais velhos. Ele respondeu com um gesto pouco educado, e desviou das faíscas laranjas que o alcançaram nos degraus da porta dos fundos da Toca.


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N/A: Sim, esse capítulo está uma indecência de tão pequeno... Mas eu prometo que o próximo vai ter um tamanho normal. E que eu não vou demorar muito para postar. Obrigada pelos comentários, novamente.

Cenas do próximo capítulo: Casamento, dança e a tia Muriel.

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