Confiança



N/A: Juro solenemente utilizar os gêmeos Weasley em todos os momentos coerentemente possíveis.


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Capítulo 1 – Confiança


1. A primeira coisa que você precisa saber é: você é capaz. Acreditar que você não é um pedaço de bosta de dragão e tem a capacidade de conquistar qualquer garota é o primeiro passo para realmente deixar de ser um monte de excremento e conquistar o amor da sua vida.



Ron nocauteou duas cadeiras e uma pilha de livros a caminho da cama. Sua mãe sempre lhe dissera que a pressa era a inimiga da perfeição, mas Ron se encontrava extremamente inclinado a não dar ouvidos a sua mãe naquele exato momento. Fora por culpa dela, afinal, que ele havia trocado a manhã em que arrumaria seu quarto por horas de compras na loja mais pavorosa em que já havia entrado. Rendas, laços e a crescentemente irritante voz de Fleur Delacour haviam ocupado duas preciosas horas de seu dia, e agora ele teria apenas alguns minutos para reorganizar o caos pouco organzado que tomava conta de seu quarto.

A cama era o foco do problema, ele pensou. Alguém que não consegue arrumar a própria cama não tem a capacidade de arrumar sua vida, ele ouviu a mão dizer várias vezes enquanto crescia. E Ron definitivamente queria demonstrar que tinha a capacidade de organizar sua vida, ainda que ele não tivesse tanta certeza de que isso era verdade – ou não visse a lógica em arrumar todos os dias uma coisa que em algumas horas seria desarrumada novamente. Feitiços domésticos não eram sua especialidade – e ele não cogitou pedir a ajuda de sua mãe -, então foi só depois de alguns preciosos minutos que a colcha do Chudley Canons cobriu obliquamente sua cama.

Com um suspiro de alívio, ele se virou para analisar o resto do quarto. Seus livros de Hogwarts cobriam desordenadamente parte do chão, as duas cadeiras derrubadas se deitavam indefesas no assoalho e parte das suas roupas se espalhavam amassadas por todos os outros móveis do cômodo. Ron soltou um muxoxo de desânimo.

Dificilmente teria tempo para seguir a risca o conselho do livro que ganhara dos irmãos mais velhos, algumas semanas antes. Mulheres prezam a organização – elas precisam saber que há espaço na sua vida ou jamais farão parte dela. Nos últimos minutos de desespero, Ron decidiu rapidamente sua prioridade. Juntou todos os livros do chão e organizou-os com cuidado em cima da sua cômoda. Bem a tempo de erguer uma das cadeiras e esparramar-se nela.

Uma batida ecoou pela porta e Ron ouviu uma voz conhecida chamando por ele. Respirou uma última vez e tentou colocar na cabeça o que ele vinha repetindo para si mesmo há semanas.

É só a Hermione. Ela te conhece, já esteve em seu quarto quarenta mil vezes...

- Oi, Ron!

Entre o ato de se levantar para cumprimentá-la e ser envolvido pelos seus cabelos fofos, Ron mal teve tempo de encarar a amiga com calma. Seus pensamentos foram rapidamente substituídos por uma sensação quente que, apesar de vir do fundo de seu estômago, impedia-o de pensar em qualquer outra coisa que não fosse o aroma adocicado que invadiu suas narinas.

- Oi, Hermione. Deu tudo certo no caminho até aqui?

A garota o largou e sentou-se na beira da cama recém arrumada. Ron ergueu rapidamente a outra cadeira derrubada e afastou um pé de meia pendurado nela antes de se sentar com toda a dignidade que conseguiu reunir.

- Sim – ela sorriu e seus olhos passearam pelo quarto de Ron com a expressão despreocupada. – Tonks foi me buscar só para garantir que eu não aparatasse sozinha. Eu nem sabia que ela e Lupin haviam se casado!

- Sim, foi há alguns dias... – à lembrança da palavra casamento, ele sentiu o peso do desânimo mais uma vez – Foi rápido e indolor. Livre de sofrimento e rendas...

Hermione riu, com a expressão confusa. Ron se lembrou de quanto tempo fazia que ele não a via rir daquela maneira. Havia meses, no mínimo: eram memórias antigas, antes daquela tarde em que ela havia chorado em seus braços após o enterro de Dumbledore.

- Do que você está falando? – ela se levantou e andou até os livros arrumados na cômoda de Ron, pelo que o garoto agradeceu silenciosamente.

- Mamãe e Fleur estão cada vez mais obcecadas com essa história de casamento. Hoje eu passei a amanhã ajudando as duas a escolher rendas – Ron formou uma expressão incrédula que beirou o nojo – Eu nem sabia qual era a definição de uma renda.

Hermione soltou uma risada curta, enquanto abria um dos livros sobre a cômoda.

- É o casamento dela, você não pode culpá-la por querer que tudo saia perfeito.

- Quando eu tenho que aprender a diferença entre branco gelo e bege salmão, eu posso sim – Ron comentou com impaciência. – Você é a próxima vítima, por sinal. Mamãe vem reclamando há dias que eu não sou capaz de fazer um feitiço doméstico decente.

- E você acha que eu consigo, porque eu sou uma garota? – Hermione mirou Ron com uma das sobrancelhas erguida.

“Contanto que você não faça uma besteira muito grande…” Ron sentiu suas orelhas arderem e demorou alguns segundos para balbuciar rapidamente com toda a determinação que conseguiu reunir:

- Não… – ele se levantou, desconfortável, e sentou-se na cama mal arrumada. – Porque você é a melhor bruxa do nosso ano, é claro… quero dizer, você sabe todos os feitiços do mundo…

Ela sorriu novamente e, em meio ao alívio, Ron percebeu que ela vinha sorrindo com uma freqüência anormalmente alta. Ele imaginou se não havia algo de errado.

- Estou brincando… – ela fechou o livro de Poções que estava folheando e voltou a se sentar na cama, ao lado de Ron - Ficarei feliz em ajudar.

- O que me leva a outra recomendação – ele ficou satisfeito em poder mudar de assunto. – Prepare-se para um sermão e muita persuasão no melhor estilo Molly Weasley. O que significa que seria mais fácil para nós se derrubassem Veritaserum no encanamento.

- Eu imagino que ela não tenha recebido a notícia de que você vai deixar Hogwarts e acompanhar Harry com muita alegria - O sorriso de Hermione diminuiu e seu rosto formou uma expressão abatida. Ron imaginou se havia falado algo errado.

- Mais ou menos da mesma maneira que ela costuma receber as varinhas falsas de Fred e George – Ron continuou com naturalidade – O que seus pais disseram quando você contou?

O sorriso no rosto da garota desapareceu por completo, e Ron desejou não ter tocado no assunto de maneira tão brusca. Ele sentiu suas orelhas arderem novamente e, por um momento, teve saudade da loja de laços e rendas em que estivera algumas horas antes. Por mais atordoantes que fossem, todos aqueles tons de rosa nunca seriam capazes de despertar em Ron a vontade de bater a própria cabeça contra a parede por ser um idiota. Havia definitivamente algo de errado com Hermione e ele não tivera a capacidade de perceber a tempo. Como sempre.

- Ah, você sabe – ela se movimentou com desconforto, evitando o olhar do garoto - Ficaram preocupados, mas... estão bem.

- Hermione, está tudo...

A porta do quarto se abriu com tanta força que Ron se ergueu da cama com o susto. O rosto sardento de Ginny Weasley apareceu na porta, abrindo um sorriso.

- Hermione! – a garota atravessou o quarto e abraçou a amiga.

- Oi, Ginny – Hermione se levantou para cumprimentar a outra e Ron percebeu uma pontada de alívio passar pelo rosto da garota.

- Mamãe está te chamando – a ruiva avisou a amiga, que se virou para encarar Ron.

- Não disse? – o garoto falou, receoso.

- Ela não vai te coagir a nada – Ginny murmurou, olhando com impaciência para o irmão. – Ron só está com medo porque ele nunca conseguiu mentir para a mamãe e ela não perde uma oportunidade de tentar arrancar dele para onde vocês vão…

- Eu consigo mentir para ela! – Ron exclamou em protesto – Quem foi que te livrou a cara quando você enfeitiçou o gato daquele vizinho trouxa para soltar bolhas de sabão toda vez que o bicho miava?

- Você só não contou toda a verdade porque o Fred explodiu um balde de poção desinfetante bem na hora – Ginny rolou os olhos para o irmão, que replicou com um muxoxo – E se vocês não fizessem tanto segredo...

- São ordens de Dumbledore, você sabe – Hermione disse num tom apologético, mas Ron já conhecia a história. Ginny vinha tentando convencê-lo a contar tudo a ela desde que eles haviam voltado de Hogwarts - entre discursos convincentes de que a verdade era o mínimo que Harry e ele deviam a ela, e acessos de raiva que Ron tinha quase certeza serem seguidos por lágrimas escondidas. Mesmo assim o garoto conseguiu criar maneiras variadas de fugir do assunto, amaldiçoando Harry sob a respiração toda vez que via os olhos inchados da irmã.

- E se nós contarmos a alguém, seremos enforcados durante a noite por uma barba fantasma.

- Ron! – as duas garotas exclamaram em desaprovação e o garoto rolou os olhos.

- Vem, ela fez chá – Ginny falou uma última vez para Hermione antes de sair do quarto.

- Não beba nada que você não saiba da onde veio e mantenha sempre vigilância constante – ele recomendou, num tom alarmado.

Hermione sorriu antes de seguir o caminho de Ginny, e Ron pôde perceber que seus olhos estavam quase tão inchados quanto os da irmã.

Ele voltou a se sentar na cama e soltou um suspiro longo e profundo. Frustrante não era ser tão afetado pela possibilidade de Hermione estar sofrendo; essa sensação já era velha conhecida de Ron. Era saber que, mesmo tentando, ele não conseguia ajudá-la.

Dez minutos tentando resolver as coisas com uma garota e ele já havia conseguido fazê-la chorar. Deveria ser algum recorde – ele poderia mandar uma coruja aos escritores de Doze maneiras seguras de encantar bruxas e comunicar o fracasso mais rápido da história.

Ron se deixou cair na cama e proclamou uma série de palavrões com uma dose extraordinária de determinação.

- Eu vejo que ele já leu o capítulo sete.

- Rima e poesia: deixe as palavras saírem do seu coração diretamente para o dela.

Ron não abriu os olhos num primeiro momento. Sentia que não precisava de mais duas vozes explicando como ele era um fiasco.

- Vão embora – ele declamou, junto a mais alguns palavrões.

- Quase rimou – disse Fred, batendo na perna do irmão mais novo. Ron sentiu o peso de alguém afundar na cama ao seu lado.

- Mas deixemos a poesia para depois, isso é conhecimento avançado – continuou George. – Diabos, Ron, você podia ter pelo menos arrumado o quarto.

Ron abriu os olhos e sentou-se na cama tão rapidamente que sentiu a cabeça girar.

- Eu tentei – ele falou entre dentes - Não é culpa minha que rendas brancas no tom gelo claro estejam em falta nessa região da Inglaterra.

- Não culpe os outros pelos seus erros. – disse George solenemente – De que livro é esse mesmo?

- Contos Infantis do Beedle the Bard? – Fred prosseguiu – Eu pensei que ele já teria aprendido…

- Vocês não deviam estar cuidando da loja ou fazendo alguma missão para a Ordem? – Ron voltou a se deitar na cama e tampar o rosto com as mãos. – Perigosa, de preferência?

- Papai queria ajuda com aquela motocicleta velha – George falou num muxoxo.

- Eu acho que ele está tendo uma crise de meia idade atrasada – Fred acrescentou.

- E nós também resolvemos vir checar o nosso pupilo mais importante.

- Já que o boato entre os membros da Ordem era que alguém muito especial chegaria hoje... – Fred terminou a frase num tom infantil que fez Ron se conter para não bater no irmão.

- Alguém especial já chegou e eu já fui capaz de estragar tudo – ele anunciou. Fred e George soltaram muxoxos idênticos, que terminaram na mesma exclamação de impaciência.

- Ron, apesar da sua capacidade excepcional e todos os seus poderes extraordinários no que diz respeito a fazer besteira…

- Você simplesmente não pode ter estragado tudo em menos de meia hora.

- A não ser que você tenha resolvido mostrar toda a coleção de revistas trouxas que você guarda embaixo da cama, o que eu duvido ter acontecido…

- Por Merlin, eu pensei que você tivesse lido pelo menos o primeiro capítulo – Fred conseguiu dar um tapa na nuca de Ron nos poucos momentos em que ele ergueu a cabeça.

- Agora anda logo e vai conversar com ela – George chutou a perna de Ron da cadeira onde estava sentado. O mais novo se sentou com rapidez e irritação.

- Pelo amor de Merlin, vocês querem me deixar em paz? Tá bom, eu vou.

- Bom garoto – Fred abriu um sorriso satisfeito.

- Eu não disse que ele ia demorar? – Ron ainda pôde ouvir George dizer, enquanto andava até a cozinha – E olha que o livro é ilustrado.

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