Capítulo 2
— Entre, por favor — ela convidou o ainda surpreso Potter, e conduziu-o até o pequeno e confortável sofá que havia na sala de estar. Os gêmeos pararam tão perplexos quanto ele, e Hermione passou os braços pelos ombros de ambos, numa atitude protetora, enquanto o olhava desafiante. — Penso que não nos apresentamos devidamente essa manhã, Sr. Harry. Sou Hermione Granger e esses são meus dois filhos, Kim e Andy — falou suavemente.
Considerando a surpresa de minutos atrás, Harry estava se recuperando muito bem, e seus olhos sorriam quando falou:
— Estou certo de que foi apenas um descuido de sua parte. E sinto muito, Sra. Granger, mas esqueci de lhe trazer a vassoura de volta — ele falou entregando-lhe as tulipas.
— Meus amigos me chamam de Hermione — ela respondeu do mesmo modo que ele fizera aquela manhã.
— Posso chamá-la assim?
— Por favor. — E sentiu-se aliviada por ele não estar decepcionado com a descoberta.
Harry Potter dirigiu-se aos gêmeos com uma voz agradavelmente interessada.
— Bem, Kim e Andy, noto que vocês são gêmeos. E também são tão espertos como sua mãe?
Andy riu gostosamente diante do comentário que ele fizera de sua mãe.
— Mamãe não é esperta. Ela é muito bonita.
Os olhos verdes passaram rapidamente pelo rosto corado de Hermione, e ele disse devagar:
— É verdade, Andy, ela é muito bonita.
— Vou colocar as flores na água. Enquanto isso, talvez as crianças desejem mostrar a você alguns brinquedos — Hermione falou, embaraçada e irritada consigo mesma por parecer tão desajeitada. Sem dúvida, Gina teria aceitado o cumprimento com mais naturalidade e logo começaria a jogar seu charme sobre o visitante.
Colocou as flores na água, verificou o jantar e voltou à sala. Parou, agradavelmente surpresa: em poucos minutos ele já havia cativado os gêmeos. Devia ter percebido que Harry Potter na certa seria um daqueles homens fascinados por brinquedos. Estava junto com Kim e Andy sentado no chão, não se importando com suas roupas, e parecia enfeitiçado pela casa de bonecas e pelo forte apache que os dois haviam recebido do pai quando fizeram cinco anos.
Potter levantou a cabeça, sentindo o olhar de Hermione sobre ele.
— Não consigo resistir a coisas como essas — disse, colocando um soldado no meio da batalha.
Hermione sorriu. Era bom saber que ele ainda tinha algo de criança dentro de si.
— Também tem filhos, Sr. Potter?
— Não, neste momento. E me chame de Harry, por favor — ele pediu, suavemente.
Gostaria de poder fazê-lo, mas não se sentia à vontade chamando-o assim. O que quisera dizer com "não, neste momento"? Seria como Draco, pai somente de vez em quando? Ou queria dizer apenas que tencionava ser pai algum dia? — Hermione estranhou a resposta.
— Harry já foi jornalista, mamãe — Kim falou ansiosa, obviamente considerando que alguém, ainda que remotamente parecido com o pai, devia ser muito especial.
— Sei disso, Kim — respondeu ela, espantada ao ver quanta coisa havia sido revelada aos poucos minutos que estivera ausente. — Crianças, podem guardar alguns desses brinquedos, enquanto sirvo o jantar? — pediu, dirigindo-se à mesa.
— Perdeu seu marido há muito tempo?
Hermione quase tropeçou com uma travessa que trazia nas mãos, surpresa com a pergunta, e, mais ainda, com a sensação de tê-lo tão próximo.
— Tenha cuidado. Os gêmeos foram lavar as mãos para jantar e pensei em vir ajudá-la. Não pretendia assustar ninguém — Harry tomou-lhe o prato das mãos.
— Você não me assustou.
— Então foi minha pergunta que assustou você? — ele falou astutamente, o olhar fixo nos olhos castanhos. — Isto quer dizer que deve ter sido recente. Sinto muito, eu...
— Não podemos dizer que quatro anos seja muito recente, Sr. Potter. E agora será que podemos nos sentar, antes que o jantar esfrie?
Ligeiramente envergonhada com o seu procedimento, ela notou o esforço de Harry para tornar o jantar agradável, assegurando que estava perfeitamente à vontade na companhia das crianças. Ele tinha captado seu sobressalto diante da pergunta sobre o ex-marido. Morando naquela cidade e sem amigos íntimos, não estava acostumada a comentar sua vida, ainda mais com estranhos. Mas o jornalista, após a brincadeira daquela manhã, sentia-se no direito de estar curioso.
Potter não tentou interferir no ritual noturno de colocar os gêmeos na cama, como os outros sempre faziam. E por não ter feito isso, Kim e Andy pediram para que subisse até o quarto e lhes dessem boa-noite.
— Você sempre se dá bem com crianças? — Hermione sorriu quando voltaram à sala.
Ele encolheu os ombros.
— Procuro fazer o melhor possível.
Aquela era a questão. Harry os tratava de igual para igual e as crianças o adoraram por isso.
— Café? — ela ofereceu.
— Sim, mas deixe que eu faço — ele a seguiu até a cozinha. — Agora sente-se e descanse, deve ter tido um dia bastante longo.
Hermione sentou-se enquanto ele preparava o café. Era agradável vê-lo trabalhar numa tarefa tão corriqueira quanto fazer café.
— Foi uma tolice o que acabei de dizer. Todos os dias devem ser longos para você.
— Começam às seis e meia — ela admitiu. — E terminam como você acaba de ver. Mas têm suas compensações.
Ele assentiu com um gesto de cabeça.
— Estou certo de que sim. Sinto muito sobre o que lhe perguntei há pouco — ele acrescentou gentilmente. — Não pretendia me intrometer.
— Você não se intrometeu. Creio que foi apenas curiosidade, coisa natural em sua profissão — ela deu de ombros, carregando a bandeja com café até a mesinha, em frente ao sofá, e acomodando-se.
— É, mas muitos não concordam. Gosto de conversar com as pessoas e analisá-las. Muitas vezes, fazendo isso, encontro personagens para os meus livros.
— Então você se inspira em personagens reais.
Ele sorriu, o brilho maroto retornando aos olhos profundos como esmeraldas.
— Às vezes faço isso inconscientemente — defendeu-se.
— Creio que muita gente considera uma honra se reconhecer entre um de seus personagens.
— Esse é outro problema. Muitas pessoas não vêem a si próprias nos personagens que crio, e outras já ameaçaram me processar por causa disso.
— Oh, Deus! Vamos esperar que o coronel não seja um deles! — ela riu.
— Então, já sabe por que estou aqui?
— Hum, hum, moramos numa comunidade pequena, e, além disso, sou secretária do coronel.
— Então você é HJG! — ele descobriu, divertido, referindo-se às iniciais que sempre apareciam no cabeçalho das cartas que recebia do coronel durante as negociações.
— Eu mesma, em pessoa. Já descobriu algo interessante?
— Andei dando umas voltas pela cidade esta tarde e conversei com algumas pessoas. O coronel tem muito prestígio por aqui.
— Estou certa que sim — ela respondeu com reserva, não desejando entrar em maiores detalhes sobre seu chefe.
— O que aconteceu com seu marido? — ele perguntou de repente, quebrando o silêncio que se instalara.
Hermione pestanejou, surpresa.
— Você é sempre assim sempre tão... direto?
— É o meu instinto de jornalista — ele se justificou.
— Claro! Esqueci disso por um instante... Nada aconteceu com meu marido.
— Você quer dizer que ele morreu de morte natural?
— Morreu? — ela repetiu, incrédula.
— Bem, obviamente, ele não está aqui agora, e o coronel me contou que você vive sozinha com as crianças.
— Ah! Agora eu entendo... Meu marido não está morto. Ao contrário, Draco está bem vivo.
— Draco? — Potter repetiu o nome devagar. — Está por acaso se referindo a Draco Malfoy? Ele é seu marido?
— Ex-marido. Estamos divorciados.
— Estranho. Nunca imaginei que fosse casado. Nunca soube que tinha filhos... - Ele parecia atônito.
— Esse é um assunto que Draco não faz questão de espalhar.
— E você devia ser muito jovem quando se casou.
Hermione suspirou.
— Idade pode ser justificativa para muitos enganos.
— Mas, certamente...
— Por favor, Harry — ela se esforçou para chamá-lo assim. — Não gosto de falar sobre o meu casamento. O passado é passado; a vida deve seguir em frente.
— Ainda que pareça muito triste vindo de alguém tão jovem e linda como você — ele falou suavemente.
Harry não estava flertando, e Hermione sabia disso. Apenas estava desconcertado por saber que ela, pouco mais que uma criança, já havia passado por tudo aquilo.
— Estou parecendo muito amarga? — ela perguntou baixinho.
— Não.
— Mas você ficou bastante surpreso, não?
— Um pouco. Conheci Draco, vagamente, há alguns anos, e temos nos encontrados em várias ocasiões, mas nunca chegamos a ser amigos. Em nossa profissão estamos constantemente arrumando as malas e não dá tempo para fazer amizades, mas ainda assim muitos falam sobre suas esposas e seus filhos.
— Draco é totalmente dedicado à profissão — ela admitiu sem emoção.
— Eu também era, mas...
— O que o levou a deixar o jornalismo para escrever novelas? — Hermione interrompeu-o.
Ele a olhou fixamente durante alguns segundos.
— Você quer mudar de assunto?
— Acho que é uma boa idéia — ela respondeu sem rancor. Sabia que todo aquele interesse era causado pela surpresa de saber quem era seu ex-marido. Não lhe ocorrera que ambos pudessem se conhecer, embora soubesse que o mundo do jornalismo era consideravelmente fechado.
— É um mundo muito pequeno, não? — ele parecia ter lido seus pensamentos — Você o tem visto ultimamente?
— Draco costuma ver os gêmeos.
Harry sacudiu a cabeça e se desculpou.
— Aqui estou eu fazendo perguntas outra vez e acabei esquecendo o que me perguntou.
Ela sorriu com simpatia diante de seu embaraço.
— Por que deixou o jornalismo para ser escritor?
— Creio que é uma seqüência natural. Resolvi deixar o tipo de reportagem que fazia para pessoas mais jovens. Sempre desejei me dedicar a um trabalho onde pudesse criar raízes. Um dia, há cinco anos, achei que era hora de parar.
— Quem ouve você falar, pensa que é um ancião.
— Tenho trinta e sete anos, e preferi uma escrivaninha e uma máquina de escrever, a aviões e imprevistos. Acho que escolhi o caminho certo.
Hermione o julgara mais novo; mais novo do que Draco, quando na realidade era três anos mais velho.
— Eu também acho.
— Arrisquei e tive sorte, poderia ter desaparecido na obscuridade como milhares de outros escritores. Nunca deixo de agradecer por ter sido um dos poucos bem-sucedidos.
— Certamente, o seu sucesso é devido a muito mais do que apenas sorte.
— Pode ser que esteja certa, Hermione. Muitas vezes um escritor agrada o público, porque o seu estilo está na moda, mas os gostos mudam constantemente.
— Suponho que sim, e, por não ter lido nenhum de seus livros, não tenho idéia se você possui apenas sorte, ou talento também — ela caçoou, sentindo que ele devia ser extremamente talentoso. Sabia que aquele homem, tão seguro de si e ao mesmo tempo tão tranqüilo, teria sucesso em qualquer profissão que escolhesse.
— Que vergonha! Mas eu a desculpo. Minha mãe também leu apenas um ou dois deles. Ela só se interessa por jardinagem — ele brincou.
— Creio que também se interessa pelo filho dela.
— Às vezes até demais — ele respondeu pesaroso.
— Você tem mais parentes?
— Um pai e um irmão mais velho. Também sou o caçula da família — os olhos cintilaram divertidos.
Harry era uma pessoa realmente segura de si e de sua capacidade. Nem precisava do charme que emanava por todos os seus poros, embora pudesse usá-lo com grande vantagem, quando necessário. Os gêmeos ficaram fascinados por ele e o fizeram prometer que os levaria para nadar. Kim e Andy adoravam ir nadar na mansão dos Wesley, mas o convite para usar a piscina estava fora de cogitação com Gina por perto. Se quisessem nadar, teriam de usar a piscina pública. Hermione desconfiava, porém, que o que realmente queriam era a companhia de Harry Potter, não importando qual o programa que fizessem. E ela sabia que isso não era bom para eles. Com a falta dos pais, a tendência dos gêmeos era substituí-lo, e Potter podia se ver, de repente, eleito como pai substituto.
— O que faz seu pai?
— Atualmente nada. É jornalista aposentado.
— Pensei que jornalistas nunca chegavam a se aposentar, nem ficassem velhos... — a voz de Hermione era cortante.
— Hermione, ouça... — ele a interrompeu, parecendo preocupado ao ouvir a voz de Kim chamando-a do quarto.
— Não se preocupe — ela avisou, levantando-se. — Isso faz parte do ritual noturno. Levarei dois copos de água para cima, e evitarei uma segunda viagem — acrescentou, deixando a sala.
— Não se incomode comigo. Estou bem confortável — ele avisou calmamente, afundando no sofá.
Hermione estava certa disso, e já começava a pensar se ele pretendia passar a noite ali. Na verdade, achava que ele devia ir embora, pois, a medida que o tempo passava, ela ia se abrindo mais e mais... Harry havia conseguido arrancar dela coisas que normalmente não dizia a ninguém. O que mais ainda conseguiria?
Os gêmeos estavam particularmente adoráveis em suas caminhas contíguas. Como seria quando crescessem e precisassem de quartos separados?
Ela entregou a cada um o copo d'água e ficou aguardando. O costume de tomar água logo após ir para a cama havia começado há cerca de seis meses, e, embora ela gostasse de encorajar essa tática de chamar atenção, ela ficava na companhia delas sabendo que estariam num sono profundo cinco minutos depois. Talvez não estivessem com sede; o que realmente gostavam era do costumeiro bate-papo até que os copos se esvaziassem. Qualquer que fosse a razão, Hermione amava esses poucos minutos; os únicos passados tranqüilamente com sua família ao final de um longo dia.
— Harry ainda está lá embaixo? — o mais peralta dos dois perguntou.
Hermione sorriu-lhe, tolerante.
— Sim, Andy, ele ainda está.
— Gostei dele, mamãe — Kim falou timidamente, os longos cabelos caindo pelos ombros.
— Todos nós gostamos — ela concordou com reserva. — O que os dois querem fazer no próximo fim de semana? — ela perguntou, tentando desviar a atenção do novo vizinho.
— Poderíamos ir nadar todos juntos, com Harry — Kim sugeriu.
Hermione percebeu seu erro ao mencionar o fim de semana. Não desejava passar mais tempo do que havia passado com Harry Potter. Serem vizinhos era perfeitamente normal, algo mais do que isso não devia nem lhe passar pela cabeça. Ele era um homem atraente, não podia negar, mas ela já tinha problemas suficientes com Gina Wesley, mesmo sem lhe causar ciúme. Por falar na ruiva, devia estar furiosa por ele ter preferido jantar com ela e as crianças no chalé. Hermione sabia o que teria de agüentar disso.
— Penso que não, Kim. O Sr. Potter está aqui a trabalho e não para nos levar a passear.
— Mas ele disse...
— Ele não disse. Você pediu a ele e o pobre homem não teve como recusar.
Andy a encarou e Hermione viu no filho a obstinação do ex-marido. A teimosia de Andy muitas vezes a preocupava; esta temia que ele pudesse vir a se tornar tão indócil e injusto quanto o pai. Draco nunca se mostrara arrependido por tê-la abandonado; e mesmo que o fizesse, nem pelos filhos ela voltaria àquela vida de servidão. Também não pretendia se casar outra vez só para dar um pai aos gêmeos.
— Harry disse que gostaria de ir nadar — Andy insistia.
— O nome dele é Sr. Potter — Hermione acrescentou, admirando a facilidade com que chamavam o escritor pelo primeiro nome, enquanto ela própria sentia dificuldade em fazê-lo. — Além disso, gostar de nadar e nos levar juntos com ele são coisas bem diferentes.
— Mas ele disse...
— Estava apenas sendo gentil, Andy. Podemos fazer um piquenique à beira do rio. Que acham?
Andy mal conseguia controlar seu desapontamento, embora aderisse imediatamente quando ela e Kim começaram a planejar o fim de semana. Pobre Andy, havia começado outro caso de veneração.
— Hermione...
Hermione se voltou depressa ao ouvir aquela voz sensual, surpresa por Harry Potter ter subido as escadas, enquanto ela ria e brincava com as crianças. Certamente ele não seria do tipo que se aborrecia com a anfitriã por tê-lo deixado sozinho durante dez minutos. Ou seria?
— Telefone para você — ele avisou.
Hermione imediatamente se arrependeu de suas suspeitas. As risadas certamente tinham abafado o som do telefone.
— Posso ficar aqui, enquanto você atende? — ele chegou até a porta do quarto quando ela ia saindo.
— Não precisa, as crianças estão bem e vão dormir agora.
— Mesmo assim, gostaria de deixar você a sós para conversar em particular.
Algo no modo dele dizer "particular" fez com que ela sentisse o rosto arder, identificando quem estava ao telefone: Draco! Só podia ser Draco! Compreendeu a relutância de ele revelar, diante das crianças, quem era a pessoa que estava ao telefone. Era a primeira vez que o ex-marido telefonava depois de várias semanas, e tinha que ser justamente quando Harry Potter estava ali. Pelo horário que ligou, era óbvio que Draco não pretendia falar com os gêmeos. Sabia que àquela hora estariam dormindo.
— Será rápido — ela afirmou, sabendo por experiência que as chamadas de Draco nunca eram longas.
Ele apenas assentiu com a cabeça e tomou o lugar que ela deixara desocupado na cama de Kim. Enquanto descia as escadas, Hermione ouviu a risada das crianças divertindo-se com a mudança na rotina. O que Draco queria àquela hora da noite? Não costumava telefonar, e muito menos para falar com ela pessoalmente, embora trocassem algumas poucas palavras, após ele ter conversado com os gêmeos.
— Alô? — ela falou pegando o telefone.
— Quem era o homem, Hermione? — Draco perguntou sem preâmbulos.
— Não creio que seja de sua conta — respondeu ela incapaz de ser gentil. Draco estava querendo intrometer-se em sua vida, quando ficara bem claro, há quatro anos, que não se importava com nada do que fizesse.
— Claro que é da minha conta! Gostaria de saber que espécie de homem está convivendo com meus filhos.
— Que quer insinuar?
— Eles nunca mencionaram que havia um "tio", mas estive esperando por isso há longo tempo, e, além disso, você nunca me pareceu tão fria como agora.
Ela corou diante da verdade. Quando se casara com Draco era totalmente inexperiente, mas ele provara ser um bom professor. Nos primeiros meses de casamento, mostrara para ela todas as delícias do relacionamento entre um homem e uma mulher. Mas, quando Hermione engravidou, passou do prazer à aversão. Depois que os gêmeos nasceram, foi Hermione quem o evitou, embora soubesse perfeitamente que ele buscava prazer na companhia de outras mulheres. E, durante o tempo que vivera sozinha, não podia dizer que estivera desesperada à procura de alguma companhia masculina.
— O homem que atendeu o telefone é apenas um amigo.
— Quem é ele?
— Draco, sei que você não telefonou para saber quem são meus eventuais amigos — disse ela, impaciente, não querendo falar sobre Harry Potter, envolvendo-o em algo que não lhe dizia respeito.
— Esse "eventual" é que esta me preocupando — Draco parecia contrariado. Hermione soltou um longo suspiro.
— É um hóspede de seu tio e está usando o chalé ao lado.
Ele pareceu aliviado. Um hóspede do coronel não lhe pareceu ser interessante.
— Como vai o velho?
— Muito bem.
— E Gina?
— Ela também está bem. As crianças já estão na cama — Hermione falou com voz preocupada, perguntando-se qual seria a verdadeira razão de Draco ter telefonado. Certamente não seria para perguntar sobre o tio ou sobre Gina.!
— Sei disso — ele falou bruscamente. — Telefonei há essa hora, justamente por saber que estariam dormindo...
— Eles gostariam de falar com você...
— Não os quero por perto, quando você começar a dificultar as coisas — Draco continuou como se ela não o tivesse interrompido.
— Dificultar o quê? — perguntou ela perplexa.
— Nestes últimos quatros anos você tem educado as crianças de maneira como acha que deve, e Deus sabe que nunca interferi, mesmo quando ainda estávamos juntos.
— Isso porque nunca se interessou por elas.
— Pode ser. Mas não sou o único a agir assim. Muitos pais não se interessam pelos filhos quando ainda são bebês, mas Kim e Andy estão crescidos agora, e...
— Finalmente você percebeu isso!
— Não seja amarga, Hermione.
— Não estou sendo amarga — ela suspirou, acalmando-se ao perceber que estava sendo muito hostil. — Só estou tentando adivinhar em que você quer que eu não dificulte. — Hermione não gostava do rumo que a conversa ia tomando.
Draco ficou em silêncio por um momento.
— Queria trazê-los para passar o fim de semana comigo em Londres — ele finalmente confessou.
Sua franqueza emudeceu Hermione. Esperava qualquer coisa, menos isso! Então, ele finalmente resolvera se aproximar das crianças? Ela nunca lhe negaria isso, mas... Draco nunca dera a entender que gostaria de ter os gêmeos consigo em Londres, nas raras vezes que viera visitá-los.
— Quando? — para seu desespero, sua voz tremeu, revelando-o que estava desconcertada.
— Quando for conveniente para você, e, claro, para os gêmeos — o alívio de Draco diante de sua reação podia ser claramente notado.
Hermione sentia-se angustiada só de pensar nos gêmeos saindo para esse encontro, mas se consolava pensando no quanto Kim e Andy ficariam felizes de ir para Londres com o pai. No entanto, por mais que tentasse, ela não conseguia descobrir a amargura que sentia por ele reclamar a presença dos gêmeos, após ignorá-los durante todos aqueles anos.
— Quanto tempo ficarão com você?
— Dois dias. Chegarei no sábado à tarde.
Ela suspirou longamente. Ficar sem os gêmeos ainda que por pouco tempo era algo devastador. As crianças eram sua total responsabilidade desde o momento de que nasceram, e sem eles a sua vida ficaria vazia, ainda que fosse apenas dois dias. Mas tinha que ser justa com Draco. Se ele estava disposto a fazer o papel de pai, como impedi-lo? Além disso, o que poderia acontecer de errado em dois dias?
— Esse fim de semana está fora de questão — disse ela. — Já fizemos nossos planos. Mas, se o próximo estiver bem para você, estou certa de que os gêmeos irão adorar — precisava de algum tempo para ajustar os gêmeos àquela súbita mudança.
— Ainda que você não fique muito satisfeita — Draco presumiu secamente.
— Admito que achei esse súbito interesse um pouco... estranho.
— Sabia que acharia.
Hermione não podia culpar Draco por aquele ressentimento. Ambos ainda estavam bastante magoados pelo o que acontecera, e por isso era difícil conversar sobre assuntos pessoais, sem que terminassem discutindo; mas procurando disfarçar a tensão para que os gêmeos não percebessem.
— Gostaria de jantar conosco na sexta-feira? As crianças não o vêem há algum tempo e o jantar servirá para quebrar o gelo — ela sugeriu educadamente.
— Aceito o convite, Hermione, embora não acredite que preciso quebrar o gelo com meus filhos.
Draco parecia irritado e, se ela não pusesse logo um fim à conversa, sabia, por experiências anteriores, que acabariam achando impossível sentar juntos numa mesa para jantar. Era sempre assim, e essa noite não seria uma exceção.
— De qualquer maneira, acho que o jantar é uma boa idéia; as crianças irão gostar — insistiu.
— Está certo — ele concordou. — Mas não posso dizer que horas chegarei.
— Estaremos aguardando.
— Então até sexta-feira. Preciso desligar agora — ele falou percebendo sua falta de entusiasmo.
— Claro — respondeu ela, despedindo-se.
Os gêmeos ficariam radiantes com a perspectiva de passar dois dias inteiros em Londres com o pai. Hermione chegava a duvidar se conseguiria acalmá-los, quando soubessem da novidade. Mas fora puro egoísmo pensar em contestar o direito de Draco de querer se tornar um pai real para Kim e Andy. Realmente, gostaria de saber o porquê daquela súbita mudança, e só conseguia pensar de modo negativo. Ele poderia estar sendo sincero: então, porque sentia aquele frio no estômago, e também aquela sensação de que havia algo de errado?
— Problemas?
Ela se virou rapidamente ao som da voz quente e sensual e encontrou Harry Potter encostado casualmente contra o corrimão, no último degrau da escada. Esquecera-se completamente de seu convidado, enquanto conversava com Draco!
Oi! Tenho uma ótima noticia pra dar... entao, eu já tenho todos os capitulos preparados e a partir de hoje atualizarei de dois em dois dias... a leitura é bastante fácil e agradável, e assim ainda estão a par da história, sem esquecer partes anteriores... espero que fiquem felizes!!! entao, comentem e eu agradeço.
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