O início do fim
Antes de ir para Hogwarts, eu e Tuney estudávamos na mesma escola. Rodeada pelos colegas, minha irmã raramente falava comigo. Mas lá eu nunca precisei muito da atenção dela. Mesmo enquanto não sabia que era uma bruxa, eu já gostava bastante de estudar e me destacava, principalmente nas matérias que envolviam números. Acho que foi por isso que, ao chegar em Hogwarts, me apaixonei imediatamente pela arte precisa de Poções. Mais tarde, no terceiro ano, optei pelo estudo de Aritmancia, que também envolvia números, talvez para me aproximar um pouco da Matemática que havia deixado em meu passado.
Em ambas as aulas contava com você ao meu lado. Éramos os favoritos do professor Slughorn em Poções. Ele era claramente inconformado com o fato de eu ser uma bruxa excepcional, mas não ser puro-sangue. Mas você disse que isso não fazia diferença. E, para mim, sua opinião era suficiente.
Nas outras aulas eu não podia contar com a sua companhia, afinal, estávamos em mundos separados. O Chapéu Seletor havia te enviado para a Sonserina, e a mim para a Grifinória. James e Sirius diziam que apenas os partidários das artes das trevas eram enviados para a Sonserina. Quando, rapidamente, passei a entender o que eles queriam dizer com isso, tentei persuadi-los da idéia. Era a época de ascensão do Lorde das Trevas, na qual as famílias bruxas estavam decidindo que caminho seguir. Inocente, eu pensava que você jamais se envolveria com qualquer tipo de magia negra. Éramos amigos, e eu julgava te conhecer, embora eu ainda tentasse sem sucesso mergulhar nas profundezas de seus sentimentos, sempre escondidos no negro dos seus olhos.
- Severo, olhe para mim! – murmurei entre dentes, enquanto sentia os olhos de James pousados sobre mim. O professor Slughorn havia acabado de sugerir que formássemos duplas para trabalhar com a Solução Redutora, uma poção particularmente difícil para os alunos do terceiro ano. Nem bem o professor acabou de falar, vi James rolando os olhos para o meu lado e dando uma risada marota na direção de Sirius, que já se juntava a Remus, deixando Peter com um olhar indignado por ter sido claramente preterido em favor do outro. Desviei rapidamente o olhar e procurei por você. Tive a impressão de que você notou, mas virou o rosto, procurando a companhia daqueles que usavam as vestes verde e prata da Sonserina. Na minha inocência de menina, fui incapaz de me conter e te chamei. Era difícil aprender a controlar a minha mania de dizer tudo o que eu queria sem pensar direito nas conseqüências.
- O que foi, Evans?
Torci o nariz antes de responder:
- Não gosto quando você me chama de Evans! Meu nome é Lily! Amigos se chamam pelo primeiro nome, e nós somos amigos, Sev!
Numa fração de segundo, julguei ter visto um prenúncio de sorriso brincar em seus lábios. Logo em seguida, porém, você assumiu um olhar de indiferença que se tornaria quase uma marca registrada. Deu de ombros e foi se juntar a Avery numa mesa afastada da minha.
Fiquei atônita. Bufei, ao mesmo tempo em que ouvia a voz de James às minhas costas:
- Ei, Evans, olhe só! Sobramos eu e você... – disse ele, com um gesto de cabeça para indicar o restante da sala. Exasperada, corri os olhos pelo ambiente e vi que todos já tinham se arranjado e começavam a descascar e amassar os pinhões que usaríamos para a aula. O professor Slughorn passou ao nosso lado e disse: - Vamos, senhorita Evans e senhor Potter, só falta vocês dois. É uma pena que a menina mais talentosa da Grifinória tenha escolhido trabalhar com um ser desprezível como você, senhor Potter.
- Pelo menos eu lavo os meus cabelos, diferente do Ranhoso – James disse, com desdém, e ligeiramente alto, provocando deboches inconvenientes daqueles que nos rodeavam. Sirius balançou a cabeça em apoio a ele, sua risada de cachorro rouco ecoando pela sala. O professor, no entanto, não tinha ouvido a colocação de James e pediu silêncio. Isso me deu tempo para retrucar, enquanto acendia o fogo do caldeirão.
- Eu te odeio, Potter. E não fale assim do Severo, eu já te disse, ele é meu amigo! – eu sentia a ponta das minhas orelhas arderem, o que significava que provavelmente elas estavam vermelhas como meus cabelos.
James deu de ombros e lançou um olhar cúmplice para Sirius, que tinha se posicionado na bancada mais próxima com Remus, este último debruçado sobre o livro e brincando com uma mecha de cabelo castanho claro, parecendo ligeiramente entediado. James passou a mão pelos cabelos negros, espetando-os e me deixando ainda mais irritada, se é que isso era possível. Virei ligeiramente as costas para ele e passei a observar o seu trabalho. Avery era um idiota, eu sabia disso. Estava sentado à sua frente, brincando com a faquinha de cortar os ingredientes. Você estava concentrado, mordendo o lábio inferior da forma como costumava fazer quando estava diante de um desafio particularmente estimulante. Observei o contorno dos seus lábios e uma ligeira ruga que se formava em seu semblante. Percebi que você, com o canto dos olhos, verificou se estava tudo bem comigo enquanto fingia selecionar algumas raízes de margaridas. Você deve ter concluído que estava, embora não pudesse ouvir o que James continuava a falar enquanto separava algumas lagartas mortas e as passava para mim:
- Evans, não entendo você. Há tantos Grifinórios – e ele enfatizou a palavra, falando-a pausadamente como se eu não fosse capaz de compreendê-la de outra maneira – no mundo! Por que você quer justamente ser amiga do ranhoso do Snape? Ele é estranho, não tem nenhum talento especial e...
- Para a sua informação, Potter, ele tem muito mais talento que você. Afinal, acho que estamos aqui para aprender como fazer magia, e não como apanhar um pomo de ouro num campo de Quadribol – ele passou a mão pelos cabelos de novo, e eu tive que controlar a ânsia de azará-lo. Como eu me irritava fácil com James! – Agora, pare de falar do Severo e me deixe trabalhar em paz, já que eu sei que tudo o que você vai fazer é me passar os ingredientes que estão aí no livro.
- Ora, Evans – ele insistia – todo o mundo sabe que o Ranhoso é apaixonado por você, não é mesmo, Sirius? – James olhou em direção ao amigo, procurando apoio. Recebeu instantaneamente um olhar de aprovação, como se eles já tivessem discutido o assunto tantas outras vezes. Já para mim, foi como se o chão se abrisse sob meus pés.
- Ora, Potter! Não seja estúpido e vá pegar o sumo de sanguessugas no armário!
Ele se afastou, não sem antes dirigir uma risadinha a Sirius e Peter, que também tinha ficado na mesa próxima à nossa. Só Remus continuava entediado, parecendo pouco preocupado com minhas supostas relações amorosas. De fato, Remus parecia ligeiramente doente, mas não dei atenção a isso. Eu procurei novamente observar você e julguei que James estava completamente enganado. Enquanto se empenhava na dupla com Avery, você e o canto dos seus olhos continuavam me observando de quando em vez. E foi então que eu me dei conta, pela primeira vez, do quanto fazia diferença vestir verde e prata ou vermelho e dourado. Aquele era o início do fim.
(Eu realmente sento que estou perdendo meu melhor amigo)
“I can't believe this could be the end”
(Eu não acredito que isso possa ser o fim)
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!