A seleção



- Grifinória!

O Chapéu Seletor havia gritado mal ele tocara em minha cabeça, como se a vida inteira estivesse esperando pelos meus cabelos ruivos para determinar meu destino. No mesmo momento em que levantava do banquinho de pernas altas e sorria, sem graça, para a mesa da minha Casa, que explodia em palmas e vivas, procurei o negro dos seus olhos, como que para me desculpar. Na verdade, desde o momento em que ouvi meu nome ser chamado pela professora McGonagall, não consegui encontrar você em meio à multidão de novatos com expressões tensas. Era como se você já soubesse, já previsse o que aconteceria. Eu via tantos rostos diante de mim e só conseguia sentir o meu próprio estômago em um protesto mudo e nervoso.

Nascidos trouxas não vão para a Sonserina. Você deveria ter me contado isso, foi bem pior que eu o descobrisse por meus próprios meios, que incluíram uma conversa na Sala Comunal da Grifinória e muitas lágrimas derramadas sobre o travesseiro da cama de dossel do meu dormitório.

Um dos rapazes do Expresso de Hogwarts, Sirius Black, já havia sido selecionado para a Grifinória quando me sentei à mesa. No entanto, eu não queria conversar. Tinha aceitado as boas vindas com um sorriso sem graça no rosto, mas era claro que minha ansiedade ainda não terminara. As letras do alfabeto desfilavam diante de meus olhos como soldados, uma a uma caindo na batalha entre as Casas. Qual delas arremataria para si os melhores estudantes? Qual delas te levaria?

- James Potter!

O outro garoto que debochou de você no vagão de trem caminhou com passos decididos na direção do banquinho onde se encontrava o Chapéu Seletor. Senti um solavanco no peito quando, mais uma vez, ele passou a mão pelos cabelos espetados e sorriu, como se a cerimônia de seleção fosse apenas uma formalidade qualquer para algo que já estava certo. O menino de óculos tinha tanta confiança em si mesmo que chegava a ser arrogante a forma como ele se portava. E, quando o Chapéu Seletor bradou: “Grifinória!”, ele desceu do banquinho e sorriu para Sirius Black, que estava sentado ao meu lado, vindo imediatamente se juntar a nós:

- Eu sabia! Black, Evans, cá estamos nós na casa dos bravos! – e ele brandiu a espada imaginária, fazendo-me pensar novamente no quanto ele era idiota.

Mas eu não tinha tempo para ouvir as piadinhas de Potter e Black. Meu coração ainda palpitava no peito enquanto Pattils, Longbottons e Shacklebolts sentavam e levantavam do banquinho, indo para a Corvinal, Lufa-Lufa e Grifinória. Foi quando a professora McGonagall passou novamente o dedo indicador pela lista e exclamou: “Severo Snape” que eu pude jurar que meu coração parou de bater.

Vi você se destacar da multidão e, de repente, meus olhos não enxergavam mais nada. Involuntariamente, ajoelhei-me no banco e apoiei os cotovelos na mesa, para observar melhor. Tudo o que havia ao redor tinha desaparecido: não existiam rostos ansiosos, uniformes coloridos, conversas paralelas, nem qualquer coisa que não fosse você, e o farfalhar suave da sua capa enquanto você caminhava, tímido demais, reservado demais sequer para erguer os olhos. E se você o tivesse feito, veria que eu estava ali te apoiando, suplicando para que o destino não brincasse conosco. Eu já estava na Grifinória, por que, afinal, você não poderia estar também? Aqueles que amam demais perdem tudo. Eu perdi você no exato momento em que o Chapéu escorregou por seus cabelos lisos e negros e gritou: “Sonserina!”

- Era óbvio, não é mesmo? Só poderia estar na Sonserina, o Ranhoso – disse o menino de óculos ao meu lado, e Black riu com ele. Se eu ainda tivesse ar e força suficiente, talvez tivesse batido em James Potter. Mas eu estava muito ocupada observando você caminhar para o lado oposto do salão, para a mesa da Sonserina, para longe da minha vida e de mim.

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