Daimonvardo*



Era uma espécie de porco do mato, mas assombrosamente maior. A criatura tinha presas enormes que podiam ser vistas saindo de seu focinho e os olhos avermelhados. Tinha uma pelagem curta marrom e grandes garras. E estava indiscutivelmente furiosa.
Imediatamente, Draco e Harry se colocaram à frente das garotas. Porém, quando eles se depararam com aqueles olhos vermelhos e raivosos, acharam melhor correr.
Saíram os quatro bruxos numa corrida desabalada pela floresta, para tentar despistar o bicho, mas este tinha grande velocidade e os alcançou facilmente.
O bicho estava bem atrás de Harry e, quando o moreno menos esperava, foi atacado pelas costas. A criatura cravou as garras nos ombros do rapaz, fazendo ele se ajoelhar e soltar um grito de dor.
Hermione deu um grito também, ao ver a situação do amigo e Gina empunhou sua varinha e apontou para a criatura. Porém, com medo de errar a pontaria e acertar Harry, ela hesitou.
Draco, porém, havia empunhado também sua varinha e apontou para o bicho. Com uma perfeita pontaria, o loiro exclamou:
- Estupefaça!
Uma luz vermelha saiu da varinha de Draco e atingiu a criatura em cheio, fazendo-a voar longe e bater em uma árvore, caindo inerte no chão um segundo depois.
- Vamos embora daqui antes que isto acorde! - o sonserino disse mais que depressa e todos concordaram, saindo correndo para perto do lago.
Quando lá chegaram, Harry jogou-se imediatamente ao chão, exausto. Hermione foi para seu lado, preocupadíssima.
- Harry, você está bem? - perguntou a morena, ajudando-o a tirar a capa e descobrir os ombros feridos.
- Eu estou bem... Quer dizer, mais ou menos.
- Oh, Merlin! - exclamou a bruxa quando viu as feridas do amigo. - Isso aqui tá feio!
Gina aproximou-se dos dois e confirmou o que ouvira de Mione. Realmente, aquele ferimento estava muito feio. Três marcas profundas de garras se encontravam em cada ombro do grifinório.
Draco também se aproximou do grupo. Ele fez uma cara enojada quando viu as feridas de Harry, mas logo recuperou sua costumeira expressão fria e arrogante.
- Deixe de frescura, Potter, são só umas marquinhas... Você já está acostumado com cicatrizes, afinal.
- Cala a boca, Malfoy! - disse Hermione. A bruxa estava angustiada pelo estado de Harry. As feridas haviam sido feias, sim, mas não a ponto dele se encontrar daquele jeito. O bruxo estava ficando muito pálido e mal falava, parecia muito fraco.
Draco resolveu não discutir com Hermione, pois não era uma boa hora. Até ele começava a estranhar o estado de Harry. "Como o Cicatriz é fraco.", pensou o loiro. Ele então apontou a varinha para os ferimentos e proferiu um feitiço curativo, mas nada aconteceu. As feridas continuavam abertas e profundas.
- Não entendo. Era pra ter funcionado. São só ferimentos. Profundas, mas apenas feridas.
- Oh, Merlin! - exclamou Gina e todos se viraram para ela.
- O que foi, Weasley? - perguntou Draco.
- Eu estava aqui pensando e já vi aquela criatura!
- Viu? Onde? O que é aquilo? - perguntou Mione, que já beirava as lágrimas.
- Eu vi uma figura parecida num livro. Se eu não em engano o nome é Daimonvardo*, uma espécie de javali...
- Ah, claro! - disse Hermione, batendo a palma da mão em sua testa - Eu também já li sobre eles. São criaturas selvagens e atacam quando se sentem ameaçadas ou quando invadem seus domínios. Podem se tornar extremamente raivosos e seu vene...
- Continua, Hermione... - pediu Harry.
- Seu... Seu veneno pode... - a garota engasgou-se, sem conseguir terminar a frase.
- Continua, Mione, por favor. - voltou a falar Harry, no limite de suas forças.
- Se alguém é mordido ou arranhado por eles, acaba sendo envenenado. - disse a bruxa, medindo as palavras - Isso acontece porque é uma defesa natural deles. Quando se sentem ameaçados, os Daimonvardos produzem um veneno, que pode ser... fatal.
A morena não conseguiu continuar, caiu no choro.
- Há um antídoto, Granger? - perguntou Draco.
- Sim, mas acho muito difícil nós acharmos. O antídoto é extraído de uma planta rara, chamada Camuflos*, que pode nascer em dois lugares, no alto de uma montanha ou no fundo de um lago.
- Bom, vamos ver no lago.
- Malfoy, é quase impossível reconhecê-la porque, como o próprio nome diz, ela se camufla ao lugar onde nasce. Se nascer perto de algas, vai parecer uma alga comum, se nascer ao lado de girassóis, vai ter a aparência deles, e assim por diante.
- Bom, mas não há um jeito de reconhecer essa bendita planta?
- Você precisaria ser um especialista em herbologia ou estar sob o efeito de um feitiço ou poção anti-camuflagem.
- Hum... Você não conhece nenhum feitiço assim?
- Bom, até conheço mas nunca tentei usá-lo e não acho que seja boa idéia se...
- Ótimo, então vamos deixar o Potter morrer, se é assim que você...
- Está bem, Malfoy!
A bruxa pegou sua varinha e apontou-a para Draco. Depois de uns minutos de concentração, ela fez o feitiço sem pronunciá-lo e uma luz branca (quase transparente) saiu de sua varinha em direção aos olhos do sonserino. O loiro ficou momentaneamente cego, mas logo se recuperou e percebeu imediatamente que o feitiço tinha dado certo. Ele conseguia enxergar muitos insetos e bichos de porte pequeno por entre as árvores e folhagens.
Sem nada dizer, Draco foi em direção ao lago, tirou a capa, jogando-a no chão e mergulhou. O loiro começou a inspecionar tudo a sua volta, não vendo nada de diferente, a não ser os peixes que se camuflavam em plantas e algas.
Depois de algum tempo, mergulhou mais pro fundo e viu umas plantas verde-amareladas atrás de umas pedras. Foi até elas e percebeu que havia uma diferente. Sua cor era de um vermelho-sangue intenso e seu formato mais redondo que o das outras (que eram quase triangulares). "Deve ser esta", pensou o bruxo e, sem perda de tempo, pegou a planta e foi em direção à superfície, pois já estava com falta de ar.
Assim que emergiu, Draco deu de cara com Gina, que o havia seguido para o lago e o esperava, preocupada, pois já fazia tempo que ele havia mergulhado.
- E então, achou? - ela perguntou, aliviada ao ver que ele estava bem.
Ele levantou o braço, deixando a planta à vista da menina, que enxergou somente uma planta triangular verde-amarelada.
- Tem certeza que é esta? - ela duvidou.
- Claro que tenho, Weasley! - ele respondeu, ainda recuperando o ar - Não fique aqui falando besteiras, leve isso ao Potter de uma vez!
A ruiva pegou a planta da mão de Draco e foi correndo levá-la ao Harry e à Mione, enquanto o loiro apanhava sua capa e se secava com um feitiço.
Gina apareceu esbaforida com a planta na mão e Hermione tratou de pegá-la rapidamente. Com cuidado, a morena abriu a folha com a unha e confirmou que era ela mesmo, quando extraiu dela um líquido vermelho muito forte.
A grifinória aproximou a planta das feridas de Harry e deixou o líquido derramar-se sobre elas, o que causou uma careta de dor no moreno. Após derramar com cuidado o antídoto em todos os ferimentos do amigo, a bruxa pegou sua varinha e lançou-lhe um feitiço curativo. Isso fez com que o rapaz recuperasse a cor, além de cicatrizar as feridas com uma rapidez impressionante.
Vendo o amigo muito melhor, Mione abraçou-o fortemente. Gina sorriu aliviada e Draco, que havia acabado de chegar ali, balançou a cabeça com uma expressão que dizia "Você me deve uma, Potter".
Harry levantou-se e espreguiçou-se, sorrindo.
- Ah, me sinto bem melhor! - disse o bruxo.
- Que bom, Harry! - exclamou Hermione sorrindo.
- Obrigado, Mione! Você me salvou!
A bruxa corou.
- Pra isso servem os amigos, não?
O moreno sorriu e continuou:
- E, Malfoy, obrigado também. Se você não tivesse achado a planta...
- É, quem diria que o Potter ficaria me devendo uma... - limitou-se a dizer Draco.
Um profundo silêncio pairou sobre eles, até que foi Mione a quebrá-lo.
- Hum... Eu estou com fome.
De repente, a afirmação da moça os fez lembrar onde e em que situação eles estavam. O estômago de Harry roncou e Draco também viu que estava esfomeado. Apenas Gina continuava sem fome.
- Você não teria como arranjar mais algumas daquelas frutas deliciosas, Malfoy? - perguntou Harry.
- Eu apanhei todas que vi, Potter. E vocês acabaram com elas pela manhã.
- Nós?! Você também comeu!
- Mas eu não parecia um morto de fome como vocês. Vocês comeram tudo praticamente sozinhos.
Harry resolveu não levar adiante a discussão, precisava pensar em um jeito de conseguir comida.
- O jeito é procurar por aí alguma fruta ou até mesmo uma caça... - concluiu o rapaz.
- Deixa que eu vou. - interveio Draco - Você ainda não está completamente recuperado.
- Eu estou bem, Malfoy.
- Bom, se quiser vir comigo, o problema é seu.
O loiro disse isso e preparou sua varinha, em seguida se adentrando na floresta. Harry deu um longo suspiro e foi atrás dele.
Hermione sentou-se e Gina pôs-se a pegar gravetos e folhas secas do chão para produzir, mais tarde, uma fogueira. A ruiva queria se ocupar de algum jeito para poupar-se dos pensamentos sombrios que a assolavam quando pensava em seu irmão.
Cerca de quarenta minutos depois, os rapazes voltaram com algumas frutas e um peixe razoavelmente grande nas mãos.
As meninas se encontravam deitadas no chão gramado a olhar para o céu em silêncio, cada uma perdida em seus pensamentos.
Harry colocou as frutas que carregava no chão, oferecendo-as às amigas. Hermione aceitou de bom grado, mas Gina recusou-se a comer.
Draco a olhou sem nada dizer e colocou o peixe ao lado das frutas.
- Alguém aqui sabe cozinhar? - perguntou o loiro.
- Eu sei. - respondeu Gina de imediato - Quando se convive com Molly Weasley é impossível não saber...
- Ótimo. Cozinhe o peixe pra nós.
- Mas que folga, hein, Malfoy!
- Ora, além de eu ter ido arranjar a comida!
- Nós, Malfoy. - intrometeu-se Harry.
- Que seja, Potter. Além de nós termos ido buscar a comida pra vocês... Vocês deveriam ajudar de algum jeito, não acha, Weasley?
- Não vou discutir, Malfoy. Vou preparar o peixe apenas porque adoro cozinhar e porque estou precisando me distrair um pouco.
A ruiva pegou o peixe e começou a prepará-lo para ser assado com a ajuda de Mione. Enquanto isso, os rapazes sentaram para descansar um pouco.
Draco sentou-se em uma pedra com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto nas mãos. Ele pensava no desconforto que era ter que ficar naquela floresta, ainda mais junto de pessoas que ele abominava. O loiro pôs-se a observar Gina preparando o peixe. "Ela realmente leva jeito pra coisa. Claro, nunca deve ter tido uma empregada pra cozinhar pra ela." Institivamente e quase sem perceber, o sonserino abriu um sorriso divertido.
Já Harry estava tão absorvido em seus pensamentos que nem enxergava as coisas a sua volta. O moreno pensava em tudo que havia passado esses anos todos em Hogwarts. Alguns momentos em particular tinham-se passado por sua cabeça. Esses momentos eram justamente os que tinha vivido ao lado de Mione. Ao pensar que não poderia ficar com a menina enquanto Lord Voldemort estivesse por perto, o rapaz sentia uma raiva apossar seu ser. E isso o impulsionava a pensar num jeito de destruir seu inimigo.
- O jantar está pronto. - Gina fez com que os rapazes saíssem de seus devaneios.
Alguns minutos depois, estavam os quatro bruxos em volta de uma fogueira pequena saboreando o peixe assado. Harry comia quase desesperadamente, enquanto Hermione ria do jeito do amigo. Draco, apesar de esfomeado, não se deixava perder a classe e a etiqueta, portanto comia com uma certa sobriedade, contendo o apetite. Gina estava novamente comendo pouco, devagar e com um enorme esforço.
A ruiva não conseguia parar de pensar em Rony. "Onde está você, maninho?" A garota pensava na reação da mãe ao sabê-lo desaparecido. "Ela iria ter um treco!" O que não saía nunca dos pensamentos da menina eram os gritos desesperados que ouvira de seu irmão. E novamente lágrimas involuntárias escorriam em seu rosto.
- Gente. - disse a ruiva com voz trêmula, tentando conter o choro - Eu vou lá no lago um pouco, já volto.
- Pode ser perigoso, Gina. - disse Harry preocupado.
- Eu me cuido. E volto logo.
A moça dirigiu-se ao lago lentamente, deixando as lágrimas caírem livremente agora. Ela sentou-se à beira do lago e deitou a cabeça no joelho esquerdo, passando os dedos da mão direita pela água. O entardecer escurecia cada vez mais e ela podia ver muitas estrelas refletidas no lago.
Lembrando-se das palavras de um poeta bruxo famoso*, a ruiva começou a dizer com uma voz embargada:
- Quão solitário é andar nestas noites frias de inverno, quando o uivar dos lobos é confundido com suas lamúrias tristes. Quisera eu ter tido a chance de morrer em teu favor. Quantos gritos incessantes terei ainda que ouvir?...**
- Quanto pranto ainda terei que carregar até encontrar-te novamente?** - disse uma voz suavemente às costas da menina.
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*personagens originais, não encontrados na obra de J.K. Rowling
**poema original, não encontrado na obra de J.K. Rowling

Obrigada pelo comentário Edilma! Tá aí a atualização!! Bjs!!....

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