Quando É Tarde



Gina não poderia dizer por quanto tempo permaneceu ali, ao chão, sentindo seu coração ser destruído e sua alma lhe abandonando. Jamais imaginou sentir tanta tristeza. Lágrimas corriam livremente pelo seu rosto e já não havia saída. Só lhe restava tentar ser forte por sua filha. Respirou fundo, passando as costas das mãos pelo rosto para secá-lo. Levantou-se com dificuldade. Seu corpo parecia pesar toneladas e suas pernas não lhe obedeciam. Soltou mais um longo suspiro, e foi até o quarto. Abriu a porta hesitante pois não queria contar para a filha. Sabia que ela não se agradaria nada da situação. Viu a menina lhe encarar com os olhos cheios de lágrimas, parecendo muito magoada. Gina sentou-se ao lado dela e passou a mão sobre o cabelo da menina que, com raiva, desviou-se e chegou para o lado, querendo se afastar da mãe.
- Você quer me afastar do Draco. – disse chorosa, torcendo a barra do próprio vestido.
- Diana, é o melhor para nós. Vamos ficar perto dos seus avós...
- Eu não quero! Não quero morar com tio Harry, eu quero ficar com meu pai! – Ela começou a gritar, de pé sobre a cama, chorando.
- Eu sou sua mãe e sei o que é melhor pra você e pra mim.
- Mas...
- Não, Diana! – gritou, interrompendo a filha. Não tinha mais paciência alguma para ouvir nada. Já estava sendo difícil demais enfrentar tudo aquilo para ainda ter que ouvir críticas ou qualquer que fosse a opinião contra o que ela havia decidido. – Não estou pedindo opiniões, estou comunicando a você. – Levantou-se mantendo a expressão séria. – Vamos nos mudar em breve, queira você ou não. – terminou e saiu do quarto. Ao chegar na sala, encostou-se sobre a porta, desabando de sua pose de mãe severa. Não queria agir assim com a filha, mas era o único jeito que via para não demonstrar que era tão contra aquilo quanto ela.

Draco mal sabia como havia chegado no seu quarto do hotel. A última coisa da qual se lembrava era das coisas que Gina havia dito e da discussão que haviam tido. E agora estava deitado em sua cama, escutando o distante ruído dos carros pela janela e os batimentos de seu coração. Mas as únicas imagens que tinha em sua mente era a de Diana entrando no quarto com os olhos em lágrimas e Gina gritando e chorando. O que havia acontecido com seu planos? Ele não conseguia parar de indagar a si mesmo e a resposta era bem simples. Todos eles haviam sido pisoteados por Gina. Haviam escoado de sua alma quando escutara aquelas palavras tão duras. Tentava entender o porquê dela agir daquela forma tão covarde e teimosa, quase cruel. Jamais havia se decepcionado tanto com alguém e não poderia imaginar que pudesse doer tanto. Sentir alguém destruir seu sonho em poucos minutos e magoá-lo tão duramente lhe causava uma dor inexplicável. Queria arrancar seu coração só para não senti-lo sangrar daquela forma. Como ela poderia, depois de passar momentos tão maravilhosos com ele em Paris, casar-se com Harry Potter? Como uma cena de terror em sua mente, imaginou uma casa onde ela moraria com Potter e, o que causava-lhe ainda mais horror, Diana. Era exatamente como em seu sonho, mas ao invés dele, Harry ocupava seu lugar. Cerrou furiosamente os olhos e os punhos, sentindo lágrimas incontroláveis brotarem em seus olhos. Não. Havia prometido a si mesmo que não choraria por ela e não poderia fazê-lo. Mas como suportar aquela idéia tão horrível? Não poderia imaginar outro homem ao lado de Gina criando Diana como se fosse seu pai. Ergueu-se num salto e foi até o banheiro procurar algum remédio que pudesse aliviar aquele peso em sua cabeça. Ia abrir o armário quando mirou seu reflexo no espelho. Seus cabelos estavam desalinhados e seus olhos marejados e vermelhos. A imagem de um Draco fraco e destruído causou-lhe um enorme ódio. Em um impulso, após encarar-se duramente, fechou a mão e socou o espelho, espalhando estilhaços por toda parte. Abaixou a cabeça, encarando a pia cheia de vidros e seu peito arfante. Sentiu sua mão arder. Levantou-a e viu gotejar sangue de seus dedos. Havia se cortado. Voltou para o quarto e parou, encostando-se na parede, precisando de um apoio para não cair. Viu a foto da filha em um porta-retrato ao lado da cama. Não poderia deixá-la. Gina havia feito sua escolha e ele não poderia mudar nada, mas faria de tudo para ter a filha ao seu lado. Mas seria mesmo capaz de separá-la de Gina? Furioso, socou a escrivaninha ao seu lado. Como poderia ainda pensar naquela mulher depois de tudo que ela havia feito com ele? Do que realmente precisava era um tempo longe de tudo aquilo. Desejava jamais ter voltado para aquele maldito país. Queria fugir novamente e, por mais que fosse difícil ter de se afastar de sua filha, precisava fazê-lo por um tempo. Se continuasse ali, não conseguiria manter sua sanidade por muito tempo, se é que ainda lhe restava alguma. Precisava pensar no que faria com sua vida e como agiria dali para frente. A única coisa que sabia era que não queria ver cabelos vermelhos na sua frente nunca mais, nem que para isso não fosse voltar mais para a empresa, já que sabia que não poderia despedir a mulher que sustentava a sua filha. E não seria capaz de pegar Diana para morar com ele sabendo o que isso causaria em Gina. Olhou em volta. Tinha que sair dali o quanto antes. Sentou-se na cadeira da escrivaninha e ia apoiar sua cabeça sobre a mesa quando viu o bilhete de Susan, com o horário do vôo para os EUA no dia seguinte. Olhando para aquele papel e lembrando de seu apartamento no país, certas idéias lhe surgiram na cabeça. Já não sentiu-se tão perdido, embora ainda confuso. Encarou sua mão que ainda sangrava. Tinha que dar um jeito naquilo. Procurou sua varinha nos armários, mas não a encontrou, sem lembrar de que ela estava na mala de viagem. Irritado, não estava disposto a ficar procurando por ela. Lembrou do estojo de primeiros socorros que havia no banheiro da suíte. Foi até lá, pegou o estojo e fez um rápido curativo sobre o corte, enfaixando a mão. Na hora da raiva não havia reparado que os cortes em sua mão haviam sido mais fundos do que achava, mas só depois cuidaria do machucado. O que precisava naquele momento era de uma dose dupla de uísque bem forte. Ajeitou rapidamente os cabelos, lavou o rosto e alinhou a camisa e a gravata. Iria para o bar aproveitar sua última noite no hotel.

Quando Gina voltou para o quarto, Diana já dormia. Foi cobri-la e ajeitar seu travesseiro e viu a menina abraçada a uma foto. Pegou-a com cuidado para não acordá-la e viu que era dela e de Draco, provavelmente em um de seus passeios. Os dois sorriam de maneira incrivelmente plena. Como eram felizes juntos... Diana amava o pai verdadeiramente, por isso não conseguia aceitar a idéia de que Gina se casasse com Harry e morassem todos juntos. A ruiva não podia esconder que a idéia era tão assustadora para ela quanto para filha. Ainda tentava se convencer de que ter aceitado o pedido de Harry havia sido a melhor decisão, mas desde que Draco havia saído daquele apartamento e sua filha ter reagido daquela forma explosiva, já não tinha tanta certeza. Balançou a cabeça, em uma tentativa de afastar aquela confusão de seus pensamentos. Resolveu ir dormir antes que enlouquecesse. Ficou deitada na cama por um tempo, revirando-se em seus pensamentos. Quando finalmente sentia suas pálpebras pesarem e seus olhos se fecharem, a imagem de um Draco furioso com os olhos chorosos aparecia frente a ela, o que a fazia despertar rapidamente. Não conseguiria dormir. O jeito era ir para a cobertura do prédio ver a lua, uma das poucas coisas que nos últimos tempos lhe trazia certa paz de espírito. Já podia imaginar as terríveis olheiras que habitariam em sua face no dia seguinte. E estava certa. Ao acordar naquela manhã e se olhar no espelho, viu com pesar sua aparência abatida de quem dormira muito pouco. Com mais pesar ainda viu que sua filha ainda estava chateada com ela, ao acordá-la e a menina simplesmente a ignorar e ir para o banheiro sem lhe dizer uma palavra ao menos. Aquela atitude a machucava, mas entendia a mágoa da menina.

Draco mal conseguiu abrir os olhos naquela manhã. Sentiu a claridade entrar no quarto. Desejou que o dia anterior não tivesse acontecido e que, quando acordasse e abrisse os olhos, ainda estaria com Gina ao seu lado em Paris. Mas infelizmente a dor que ele sentia não podia deixá-lo se iludir. Sentiu sua cabeça latejar, como se houvesse tambores em sua mente. Abriu os olhos com grande dificuldade. Não conseguia se lembrar de muita coisa da noite anterior, a não ser de alguns copos de uísque, vinho e vodca. Não acreditou que fora capaz de misturar tanta coisa. Levantou-se com sacrifício. Apesar da ressaca que estava sentindo, tinha muita coisa para fazer. Arrumou todas a suas malas com certa nostalgia. Havia passado bastante tempo morando naquele hotel e dormindo naquele quarto e ter de guardar todos os seus pertences deixando aquele quarto vazio lhe dava uma sensação incômoda. A sensação de que aquela etapa de sua vida estava terminada e voltaria a viver como há meses atrás, uma vida vazia. Mas ao guardar seus documentos e coisas que estavam na sua mesa de cabeceira e escrivaninha, encontrou a foto de Diana. Sorriu. Sua vida não seria a mesma. Mesmo que estivesse triste com Gina e que desejasse se afastar dela, sabia que não poderia fazê-lo por muito tempo porque aquilo significaria se afastar de Diana e ele não seria capaz daquilo. Mas tinha que ir por um tempo, mesmo que fosse difícil. Beijou a foto com carinho.
- É só por um tempo, querida. – Sentiu uma lágrima solitária cair, pensando com muita tristeza que não iria realizar o sonho de ver sua filha todos os dias, ao acordar, ao jantar, antes de dormir e em todos os momentos de sua vida.
Ao terminar de guardar tudo, separou as coisas de trabalho em uma maleta. Ainda teria de passar na empresa e acertar as coisas. Seu carro já estava indo para o endereço que ele indicara, então faria as coisas que tinha de fazer pegando um táxi mesmo. Chamou o funcionário do hotel para ir buscar sua bagagem e foi para a recepção acertar as contas, não antes de tomar um reforçado café da manhã que o ajudasse a curar aquela maldita ressaca que ainda latejava em sua cabeça.

Quando entraram no carro de Rony para sua habitual rotina matinal, o ruivo logo estranhou a seriedade de Gina e de Diana, tão contrastante com sua felicidade e satisfação pelos acontecimentos do dia anterior dos quais ele tinha conhecimento. Imaginou logo que a sobrinha não havia gostado da noticia do casamento. Resolveu dizer algo para quebrar o gelo.
- E então, Diana? Feliz por que vai morar perto do vovô e da vovó? – Ele perguntou olhando pelo retrovisor do carro para a menina com os braços cruzados que olhava a rua pela janela.
- Não. – Ela disse monossilábica, sem esboçar qualquer reação, muito emburrada.
- Mas você gosta do tio Harry...
- Não. – Ela logo o interrompeu. – Eu odeio ele.
Rony preferiu não tentar mais nenhuma conversa e encarou Gina com um sorriso pesaroso, vendo o quanto aquilo seria difícil. Realmente a vida de sua irmã não era nada fácil.
Gina não podia conter a tristeza diante da indiferença da filha. Torcia para que ela fosse se acostumando com o tempo, pois não poderia suportar aquela situação. Ao chegar na empresa, despediu-se do irmão e da filha, mas da pequena só teve como resposta o silêncio. Respirou resignada e caminhou lentamente até a recepção, mesmo que estivesse bastante atrasada. Ao passar pela entrada de vidro, notou uma movimentação diferente. Viu logo Mary e Dany cochichando um com o outro. Como havia tempo que não conversava direito com os amigos... Sentia falta deles. Aproximou-se dos dois.
- Bom dia. – disse sem muita animação ao chegar perto e parar ao lado de Mary.
- Bom dia! – Os dois responderam em uníssono, animados como quase sempre. Realmente o humor dos dois parecia inabalável.
- E como foi a viagem? – Dany perguntou logo, muito curioso.
- Boa... – respondeu a ruiva dando de ombros, evitando recordar de qualquer momento que fosse em Paris.
- Ih Gina, que desânimo é esse? – A mulher se aproximou e envolveu a amiga com um meio-abraço. – Não sei o que aconteceu com você nos últimos meses, mas seja o que for não está te fazendo bem.
- É verdade, Gina. Não tem conversado conosco, não anda tão animada. Vamos no bar aqui pertinho, a gente conversa, tentamos te ajudar, o que acha? – Dany falava com uma mão pousada sobre o ombro da ruiva. Seu olhar muito fraterno.
Ela encarou os dois que sorriam insentivadores. Sabia que podia contar com eles e realmente não era uma idéia ruim sair dali para conversar. Precisa contar pelo que estava passando para alguém que não fosse da sua família.
- Mas como vamos fazer isso? Estamos em horário de trabalho.
- Ah querida. Isso aqui está uma loucura hoje. Nem vão sentir nossa falta. Miller está como um louco, não quer nem minha ajuda e não vai sair da sala dele por pelo menos um dia inteiro. – Mary cochichava em tom de segredo com um sorriso, observando algumas pessoas correrem até o elevador e algumas outras subindo pela escada.
- Mas o que houve? – Gina perguntou confusa, não entendendo a estranha movimentação da empresa.
- Você não sabe? – Dany perguntou como se aquilo fosse impossível. – Achamos que você já sabia disso até mesmo antes de todos, já que é a secretária do senhor Malfoy.
- Não, eu não sei de nada. – Ficou ainda mais curiosa ao ouvir falar de Draco.
Os dois se aproximaram da ruiva e a puxaram para um canto mais reservado.
- Senhor Malfoy esteve aqui nessa manhã muito cedo e há pouco foi embora. Ele vai vender a empresa e deu um prazo para Miller encontrar um comprador. Já houve muitas ofertas, mas ele está procurando a que seja mais vantajosa, é lógico.
- Isso mesmo. Com o dinheiro ele pode viver muito bem até ele morrer e ainda deixar uma ótima herança para os futuros Malfoys. – Dany completou.
- O que parece mesmo é que ele quer se livrar da empresa. Mas como você não sabia disso? Ele não mencionou o que planejava pra você?
- Não... – Apenas sussurrou, não podendo acreditar no que havia escutado. Ele estava vendendo a empresa. Tinha certeza de que ele não havia planejado aquilo antes de conversarem pela última vez. Ele tinha decidido depois do que acontecera. – Como ele... – Não conseguiu terminar. Estava completamente chocada e mal conseguia falar.
- Vamos aproveitar que ninguém está olhando e vamos sair.
Os três saíram disfarçadamente para não serem vistos por ninguém que pudesse ter a mesma idéia que eles. Gina praticamente fora levada por eles até o bar já que ela não conseguia reagir depois do que ficara sabendo. Os dois estranharam a reação dela. Ao chegarem no bar, se acomodaram em uma mesa.
- Agora fale para nós o que está acontecendo com você. – Dany começou ao pedir uma cerveja, assim como Mary. Gina preferiu não pedir nada.
A ruiva encarou aos dois, pensativa. Depois de respirar longamente e fitar o céu azul, começou a falar. Contou que Draco era pai de Diana e como fora contar para a pequena que na verdade o pai não havia morrido. Disse como não conseguia esquecer que ele a havia abandonado anos atrás e que haviam ficado juntos na viajem, mas que ela havia decidido casar-se com Harry. Ela resumiu toda sua história, omitindo o detalhe de ser uma bruxa e o motivo de eles terem se separado. Os dois ouviram tudo boquiabertos e só quando a ruiva sacudiu os dois foi que eles conseguiram reagir.
- É por isso que ele quer vender a empresa. Por sua culpa! – Dany falou distraidamente, com o copo na mão, refletindo sobre a história inacreditável.
- Muito obrigada, Daniel. – Gina falou muito séria e bebericou a bebida do amigo. – A verdade é que eu o amo, mas não consigo esquecer o que aconteceu.
- Mas lá em Paris você esqueceu, não é, Gininha? – Mary disse com um sorriso malicioso e Dany riu.
- Mary! – Gina a reprovou. – Eu acabei cedendo, mas me arrependo. As coisas seriam mais fáceis se não tivesse acontecido nada lá. Mas Diana não vai aceitar isso.
- Gina, enquanto você não esquecer o que aconteceu, você só vai estar fazendo mal a você mesma, se corroendo com algo que é passado. Vocês eram adolescentes, o cara mudou agora. Achou que você deveria dar uma chance pra sua felicidade.
- Mas e Harry, Dany? – Mary continuou. – Coitado dele. Ele não merece levar um chute depois de Gina ter aceito seu pedido de casamento.
- Isso é verdade...
- Não importa mais. Eu vou me casar com Harry e se Draco quiser vender a empresa, – Bebeu mais um pouco do copo de Dany. – que venda. Não me importo.
- Você mente muito mal, Gininha. – Mary disse e lhe entregou seu copo de cerveja. – Mas você vai superar.
- Agora entendo porque você estava tão estranha.
Gina concordou com a cabeça, bebeu todo o conteúdo do copo de Mary. Realmente era mentira que não se importava. Imaginava o quanto ele estaria chateado para chegar ao ponto de fazer aquilo. Vender algo que ele batalhou tanto para conseguir sozinho não era certo, mas o que ela poderia fazer? Achava que a melhor coisa era não procurá-lo naquele momento. O melhor mesmo era que se afastassem de uma vez por todas.

Draco foi para uma rua mais deserta, próxima ao aeroporto, onde ninguém pudesse vê-lo. Havia uma coisa a mais que ele deveria fazer antes de seguir com seus planos. Deixou suas coisas escondidas com um feitiço e deu mais uma olhada em volta para se certificar de que não havia ninguém ali antes de aparatar em frente a cada dos Weasley. Ao chegar, olhou a enorme e, ele poderia jurar, torta casa. Torceu mentalmente para que não encontrasse nenhum dos irmãos de Gina. A última coisa que queria encarar era um ruivo furioso. Caminhou hesitante até a porta de entrada na varanda tão aconchegante e bateu na porta. Deu um passo para trás esperando que alguém atendesse. Ao ver a maçaneta se mexer, preparou-se para receber um feitiço mortal em seu peito de qualquer ruivo extremamente nervoso, mas deparou-se com os olhos confusos de uma mulher baixa.
- Senhora Weasley? – Ele perguntou para ter certeza de que era a mãe de Gina, já que havia muitos anos que não a via.
- Sim – Ela respondeu um tanto hesitante, mas ao olhar nos olhos do homem e se recordar da neta, arregalou os olhos, muito surpresa. Não havia como não notar a semelhança dos dois. – Draco Malfoy?
- Isso mesmo. – concordou com um sorriso sem jeito. Tentou disfarçar o incomodo de ter a mulher o encarando como se encarasse a um fantasma. – O senhor Weasley está? – Apressou-se em fazer o que queria logo, querendo fugir daqueles olhos sobre ele.
- Si-sim... entre. – Ela gaguejava e deu passagem para que ele entrasse.
- Algum de seus filhos está? – Ele perguntou ao esticar o pescoço para se garantir de que a sala estava vazia.
- Não. Só estamos eu e meu marido.
- Ah sim... – Aliviado, ele entrou, tirou a capa e sentou-se na poltrona que Molly indicara, muito acanhado. Não queria estar ali. Era uma situação muito estranha.
- Vou chamá-lo. – A mulher falou e foi para a cozinha, deixando-o sozinho.
Draco olhou a grande sala, diferente de tudo o que ele havia visto. Ver tantos objetos bruxos juntos fez com que ele se sentisse saudoso de sua época de colégio e ver como era bom ser um bruxo. Sentiu que já estava esquecendo de algumas coisas que havia naquele mundo, do seu mundo que ele em breve abandonaria novamente. Levantou-se e foi até a lareira, onde havia alguns porta-retratos, curioso em ver aquela família na qual sua filha havia crescido. A primeira foto que lhe chamou a atenção foi uma onde Arthur brincava com Diana, que parecia ser bastante recente. Nas outras, viu os irmãos de Gina, alguns dos quais ele se recordava. Na maioria das fotos onde a familia se reunia, Harry também estava. Draco cerrou o punho e mordeu o lábio, sentindo uma certa tristeza e inveja lhe invadir, imaginando que as fotos futuras seriam da mesma forma. Em outras fotografias havia crianças, provavelmente primos de Diana, ou seus tios quando eram crianças. Em algumas outras Gina também aparecia, com um sorriso. Mas a que mais lhe chamou a atenção foi uma onde estava toda a família junta. Diana, ao colo de Gina, ainda era muito nova, por volta de dois anos. Havia mais de quinze pessoas na foto, entre adultos e crianças e todos riam muito felizes. Draco riu, lembrando de que todas as suas fotos antigas de família tinham apenas três pessoas.
- Por isso somos tão diferentes, Gina. – Ele disse para si mesmo, sorrindo melancólico.
- Não são tão diferentes assim, rapaz. – Uma conhecida voz firme, mas terna, encheu a sala e Draco virou-se surpreendido e encontrou a figura de Arthur, com aquele sorriso amigável no rosto, caminhando lentamente até ele. Ele parou ao lado do loiro e fitou a foto que ele via antes. – Ah, esse foi um bom dia. Meu aniversário. E não poderia ter um presente melhor do que ver todos os meus filhos e netos juntos, ao meu lado. Não há como explicar o que se sente. Entre todas as dificuldades e problemas, eles estavam ali, meus filhos todos criados, adultos. Foi a primeira vez que senti que minha maior função estava cumprida. Todos eles se tornaram pessoas de bem. E agora o meu dever é apenas ajudá-los e mimar os meus netos. – Ele terminou com um sorriso, sem desviar os olhos da foto.
- É verdade... – Draco concordou admirado com as coisas que ele falava. Admirava cada vez mais aquele homem tão sábio, que sempre sabia o momento certo de dizer as coisas certas. Desejava ser um pai como ele, mas infelizmente sabia que não teria oportunidade.
- Mas e então? – Arthur virou-se para fitá-lo e o chamou para se sentar. – O que o trouxe até aqui?
- Bem, eu queria contar algo e também pedir uma coisa. – falou, estalando os dedos nervoso, encarando o chão.
- Já disse que pode contar comigo.
- Eu sei. – Sorriu meio triste. Realmente sabia que podia contar com aquele homem e a sensação de ter um amigo era muito boa. – A verdade é que não é fácil. Imagino que o senhor já saiba o que aconteceu.
- Em relação a...?
- A sua filha e se futuro genro, Potter. – falou quase cuspindo a última palavra, fazendo com que Arthur disfarçasse uma risada diante do notável desprezo de Draco.
- Sim, eu já sei. E como você está?
Draco o encarou, preparando-se para se esconder na sua pose altiva e dizer que estava muito bem, mas a única coisa que fez foi respirar fundo.
- Eu vou embora.
- Como assim? – Levou o corpo mais para frente para ouvi-lo melhor. Pensou ter ouvido errado.
- Eu tenho que ir embora. Não posso vê-la casada com aquele idiota, e minha filha... não quero ver minha filha ao lado dele. – dizia rápido, sentindo que tudo que sentia transbordava por sua boca e que se não falasse logo, fosse explodir. – Vou para os Estados Unidos. Tenho um apartamento lá, pensei em vender uma casa que também tenho lá. Vou vender a empresa também. Eu não quero ficar com nada que possa lembrar sua filha. Já aconteceu coisa demais e acho que o melhor agora é eu me afastar por um tempo. É melhor para Gina e para mim também. – terminou ao abaixar a cabeça.
- E para Diana?
- Eu acho melhor não falar com ela antes da viagem, eu não vou conseguir. Mas não vou me manter muito tempo longe. Só preciso pensar um pouco, mas volto logo para vê-la. Por isso vim. Queria pedir para que cuidasse da minha filha e explicasse a ela que tive que viajar com urgência. É a única pessoa pra qual posso pedir isso.
- E eu farei, rapaz. Mas tem certeza de que essa é a melhor solução?
- Eu não tenho certeza de nada. – falou com um sorriso nervoso, balançando a cabeça, pensando em como seria sua vida a partir dali. – A única coisa que eu sei é que preciso me afastar de sua filha o quanto antes.
- Entendo, mas deixe-me dizer algo, rapaz. Vê aquela foto? – Ele apontou para a mesma foto que eles haviam visto sobre a lareira, onde encontrava-se toda a família. Draco concordou com a cabeça. – Se eu tivesse desistido diante dos problemas, jamais teria aquela foto, jamais veria todos eles juntos. As vezes é difícil, mas temos que tentar mais uma vez. O bom de cair é que você se levanta mais preparado. – Arthur dizia, tentando convencê-lo a ficar. Não só por sua neta, mas também porque desejava que ele ficasse com sua filha, mesmo não podendo mostrar essa sua vontade para ninguém mais.
- Mas eu não quero mais cair, senhor Weasley. Eu não aguento mais. Eu tinha certeza de que quando voltássemos da viagem ficaríamos juntos, como uma familia... Eu fiz planos.
- Vocês ficaram juntos em Paris, não foi?
- Sim. – falou um tanto envergonhado afinal estava falando com o pai de Gina e dizer que havia dormido com ela não era algo muito normal.
- Eu imaginei. Talvez Gina tenha tomado uma decisão precipitada e reconsidere futuramente. Ela está confusa...
- Mas eu não. E não posso esperar para que ela mude de decisão, pois essa espera pode levar muito tempo, talvez toda a vida. Eu não posso mais.
- Se essa é sua decisão, eu compreendo. – falou sinceramente. Imaginou o quanto deveria ter sido difícil para o homem saber que Gina se casaria com Harry. – Eu só queria pedir uma coisa a você.
- Nesse momento o senhor pode pedir o que quiser a mim. Eu devo muito ao senhor.
- Me diga por que não voltou quando a guerra acabou. Você não lutou ao lado deles por muito tempo e não me parecia crer mesmo em seus ideais. Me diga a verdade, rapaz.
Draco virou o rosto, fechando os olhos, lembrando de toda a guerra e aquelas cenas apavorantes vindo em sua mente. Como aquilo ainda doía-lhe o peito. Não importava quanto tempo passasse. Sempre sentiria seu peito doer ao lembrar daqueles dias.
- No começou eu achava que Voldemort era o maior bruxo do mundo e que ele estava certo. Mas quando conheci Gina, aos poucos vi que ele estava errado. Mas a guerra chegou rápida demais e eu tive que me juntar a eles.
- Mas você poderia ter escolhido ficar ao nosso lado. Protegeríamos você.
- Mas não protegeriam as pessoas que eram importantes pra mim. – Draco parou por um momento, pensando se realmente deveria contar aquelas coisas que até aquele momento somente ele sabia. Encarou Arthur e respirou fundo. – Voldemort disse que se eu não me juntasse a ele, mataria Gina e minha mãe. Vocês poderiam proteger Gina, mas e minha mãe? Ela estava ao lado dele e não teria tempo de eu fazer nada. Tive que concordar, mas eu não queria. A solução que encontrei depois foi fugir e entreguei aquele maldito pro Ministério.
- Como assim? – Arthur indagou muito surpreso. – Ninguém nunca soube disso.
- Foi nosso acordo. Minhas acusações foram retiradas e o Ministro me deu como morto, era o melhor pra mim e para ele. Eu tinha medo de que algum comensal tentasse me matar por vingança e, além do mais, o Ministro jamais diria que eu contei tudo. Ele com certeza falaria que ele próprio conseguira arrancar as informações de mim. Aquele maldito se achava um grande herói. – Riu debochado. – E eu não suportaria que Gina e todos vocês me olhassem como um ex-comensal, cheios de desprezo. Ninguém acreditaria em mim se eu dissesse que tinha sido obrigado a lutar com eles e que tinha entregado Voldemort. Seria minha palavra contra a do Ministro. Na verdade, nem sei se o senhor está acreditando em mim.
- Eu acredito, rapaz. Você tem sinceridade nos olhos e eu posso ver isso.
- Bom, o senhor pediu, eu contei a verdade. Mas não quero mais falar sobre isso. Eu quero esquecer essas coisas que fazem parte de um passado morto pra mim. – Arthur concordou prontamente. – Ah, já ia esquecer-me de algo. – Ele falou ao enfiar a mão no bolso de seu blazer. – Por favor, entregue a Gina por mim. – terminou ao entregar ao homem uma rosa quase murcha e um colar. – Não quero levar isso comigo.
- E não quer deixar nenhum recado pra ela? – perguntou ao colocar as coisas sobre a mesa ao seu lado.
- Não. Tudo o que eu tinha pra dizer eu já disse a ela. Agora eu tenho que ir. – Levantou-se, seguido por Arthur. – O meu vôo é daqui a pouco.
- Está bem. Obrigado por ter estado aqui e ter me dito tudo isso. E saiba que ainda pode contar comigo pro que precisar. – Estendeu a mão para um aperto.
- Obrigado. – Draco se aproximou e apertou-lhe a mão, mas, movido por um impulso ao se lembrar de tudo o que aquele homem já havia lhe dito, abraçou-o. Arthur, muito surpreendido, no primeiro momento ficou sem reação, mas correspondeu ao abraço com carinho. Não escondia de ninguém que gostava do pai de sua neta. – O senhor foi muito mais pai em meses do que meu pai foi em toda a minha juventude. Obrigado por tudo. – Afastou-se meio sem jeito, com um pequeno sorriso.
- De nada, meu filho. – falou ao segurar-lhe pelo ombro. – Venha que eu o acompanho até a porta.
Os dois foram caminhando lentamente até a varanda.
- Não esqueça de dizer a Diana que eu a amo mais que qualquer coisa nessa vida e que cada dia longe dela vai ser... – Não conseguiu terminar, tentando controlar a vontade de chorar ao pensar que se afastaria da filha por um tempo que para ele seria uma eternidade.
- Eu digo, rapaz. – Deu dois tapas no braço de Draco, querendo lhe passar força. – Mande-me notícias.
- Sim, senhor. – Deu um sorriso conformado e pegou sua varinha no bolso.
- Voltando a ser um bruxo, hein? – Arthur falou brincando.
- Sim, mas não por muito tempo. – disse com um meio-sorriso e desapareceu perante os olhos de Arthur, que resignado, voltou para a sala, lamentando a partida do homem.
Molly aproximou-se do marido, já sentado em sua poltrona, que encarava a lareira muito pensativo. Sentou-se ao seu lado, segurando sua mão carinhosamente.
- Ele é um ótimo rapaz, querida. Gina está cometendo um erro. – disse Arthur sem encarar a mulher, que apenas concordou com a cabeça.

Quando aparatou de volta para a rua onde havia deixado suas coisas, Draco olhou o relógio e viu que faltava pouco para a decolagem. Resolveu apressar-se. Pegou sua bagagem e correu até o aeroporto. Próximo ao portão de embarque, encontrou Susan sentada em uma cadeira, lendo uma revista qualquer, com as pernas cruzadas, elegante como sempre. Draco respirou fundo. Já havia decidido e não iria voltar atrás. Aproximou-se dela em silêncio. Susan, ao vê-lo, abriu um gigante sorriso e levantou-se, ficando de frente para ele. Encarou-o com um sorriso triunfante.
- Eu estava certa, então... – Ela falou ao passar o dedo indicador pelo peito dele sobre a camisa verde.
- Sim, você estava certa. – Sorrindo, reclinou um pouco a cabeça e a fitou conformado. – Vamos?
- Mas é lógico! – concordou ao dar um rápido beijo nele e puxá-lo para embarcarem.

Gina, após ser dispensada por Miller durante aquele dia, resolveu ir buscar Diana na escola e depois ir para a Toca. Precisava conversar com seu pai. Ele era o único que poderia entendê-la completamente e lhe dar os melhores conselhos. Além do mais, pensou que seria bom para a filha se distrair e quem sabe esquecer o que havia acontecido no dia anterior. Ao chegar na escola de Diana, foi dar um beijo na filha, mas novamente deparou-se com a indiferença dela, o que não a surpreendeu. Ao chegarem, pela lareira, a pequena correu até o colo do avô, que estava sentado em uma poltrona lendo um livro.
- Minha princesinha. – Ele falou beijando-lhe o topo da cabeça e a abraçando forte.
- Vovó tá aonde? – Ela perguntou ao pegar o chapéu dele e colocar em sua cabeça, rindo.
- Ela está na cozinha preparando um bolo. Vá ajudá-la. – Colocou-a no chão e a pequena correu até a cozinha. Gina aproximou-se de Arthur, pegando a mochila da filha que estava no chão e colocando-a sobre o sofá.
- Papai... – falou sorrindo e abaixou-se para abraçar o pai. Um abraço reconfortante depois de tudo o que estava acontecendo.
- Como está, Gina? – perguntou ao colocar os óculos de lado, junto com o livro, e fitá-la. Poderia ver nos olhos dela a resposta.
- Mal. – Sorriu triste, com os olhos marejados. – Diana não fala comigo, mas vai passar. – afirmou tentando convencer a si mesma, tentando manter esperança de que aquilo fosse verdade.
- Querida... – Molly irrompeu pela sala com seu avental vermelho e com as mãos sujas de farinha. Abraçou a filha com cuidado para não sujá-la. – Estamos cheios de visitas ilustres hoje, não? – disse sorrindo, mas ao ver o olhar reprovador de Arthur disfarçou e voltou para a cozinha. Gina a encarou e depois ao pai, desconfiada.
- Quem esteve aqui hoje? – perguntou curiosa.
- Draco Malfoy. – Ele disse ao se levantar. – Conversamos um pouco.
- Como assim ele veio aqui? Por que?!
- Para conversarmos filha, só isso. – falou ao caminhar até a varanda, tentando fugir da filha. Não queria falar detalhes da conversa.
- Desde quando são amigos? – perguntava inconformada em saber daquilo, sem conseguir imaginar o pai e Draco conversando como amigos íntimos.
- Nos encontramos algumas vezes para falar de Diana...
- E de mim, aposto. – interrompeu-o com raiva. Não podia acreditar que jamais havia ficado sabendo disso antes. Lembrou-se do que Draco falara quando haviam conversado em Paris. Ele mencionara que conversara com Arthur. Mas de qualquer forma não estava gostando nada daquela história. – O que ele falou?
- Nada demais, Gina. Conte-me como foi seu dia. – disfarçava.
- Horrível. Draco vai vender a empresa, mas o senhor como é um grande amigo dele já deve saber disso, não é? – Não escondia a irritação de imaginar seu pai e Draco conversando sobre coisas que ela desconhecia.
- Sim, ele me contou. – falava olhando algumas plantas por ali perto e mexendo em suas folhagens, evitando dar continuidade a conversa com a filha.
- Mas o que ele contou, pai? Me fala. – pediu. Precisava saber o que estava acontecendo com o homem.
Arthur parou pensativo e depois encarou a filha, muito sério.
- Me contou muitas coisas, Gina. Você quer realmente saber?
- É lógico. – respondeu em tom choroso. Sentou-se no banco no qual conversara tantas vezes com o pai. – Eu preciso saber.
- Por que? – Sentou ao lado dela e segurou suas mãos.
- Porque eu me importo com ele e o senhor sabe disso. – Apertava a mão dele com força.
- Por que aceitou o pedido de Harry, Gina?
- Eu não tive escolha. O senhor viu. Ele comprou uma casa, e aqueles olhos sobre mim, não pude suportar.
- Pensei ter criado uma mulher mais forte. – falou ao encará-la nos olhos. Ela abaixou a cabeça, envergonhada.
- Eu pensei que eu fosse mais forte.
- Gina, não sei se faço bem, mas vou falar. Não tenho nada a perder. Draco foi forçado a lutar ao lado de Voldemort, em troca dele não matar você e Narcisa Malfoy. Mas foi ele quem deu o paradeiro de Voldemort para o Ministério e depois fugiu, sim, com medo de ninguém acreditar nele. E, infelizmente, sei que realmente ninguém acreditaria, nem eu mesmo. Vinha me tornando amigo dele porque tenho pena dele. Draco é um homem sozinho e você tem consciência disso. E mais. Ele é um homem sozinho que ama você. Ele vai vender a empresa e mais do que isso, ele vai embora daqui.
- Como assim? – Já tinha os olhos marejados por tudo que escutava. Não podia acreditar que aquilo era verdade.
- Ele vai para os Estados Unidos.
Gina arregalou os olhos, lágrimas caíram pelo seu rosto. Sentiu seu peito doer. Ele estava indo embora, para longe dela e pior, por culpa dela.
- Mas... – balbuciava sem conseguir falar uma única palavra.
- Ginevra, esqueça o passado. Tudo o que aconteceu foram forças das circunstâncias. E se alguém errou, quem não erra? Ele errou e você também errou. O único erro dele foi ter medo, e você o condena de forma exagerada. Não tem motivos pra ter mágoas dele. Esqueça tudo isso e recomece. Vocês tem uma filha linda que só deseja ter os pais juntos. Ele a ama muito e você sente o mesmo. Não vejo o que mais pode impedir vocês de ficarem juntos. Esqueça Harry, ele pode superar. Esqueça seus irmãos, a vida é sua. Pense na sua felicidade, no que você sente. Sabe que jamais vai ser feliz ao lado de Harry sabendo que poderia estar com o homem que você ama de verdade.
Gina caiu aos prantos sobre o colo do pai. Ele tinha razão. Jamais seria feliz ao lado de Harry. Magoaria terminar o namoro com ele, mas seria muito pior viver ao lado dele pensando em outro. Lembrou-se do que havia sentido quando estava entre os braços de Draco e de como se sentira protegida e segura. Se sentia-se daquela forma com o homem, por que tinha medo? Jamais deixaria de amar Draco e sabia que ele a amava de verdade. Sentiu seu pai levantá-la.
- Pense bem. Será que realmente ainda não o perdoou ou apenas tem medo de ser feliz, finalmente? Vá agora, antes que seja tarde. – Arthur disse com um sorriso incentivador e Gina, enchendo-se de esperança, secou o rosto, correu até a sala, pegou sua varinha e sem pensar duas vezes aparatou no aeroporto, sem se importar se alguém poderia vê-la. Por sorte havia aparatado em um lugar mais reservado onde não havia muitas pessoas e ninguém a havia visto. Correu para perguntar se o vôo para os EUA já havia saído para uma mulher que trabalhava ali.
- Sim, já saiu faz uns 15 minutos. – Ela respondeu sem lhe dar muita atenção e logo começou a atender outra pessoa.
Gina afastou-se com o olhar perdido e sentou-se no primeiro assento que encontrou. Não conseguia acreditar que ele já havia ido. Havia perdido-o definitivamente em meio a sua última esperança. Mergulhou o rosto entre as mãos e permitiu-se chorar profundamente, sem se importar com quem passava em volta, olhando-a. Nada mais importava. Draco havia ido para longe e ela jamais voltaria nem ao menos a vê-lo. Sentiu fisgadas em seu peito e por um momento sentiu uma tontura que a fez ficar com as vistas turvas, mas logo passou. Fechou os olhos e jogou a cabeça para trás, apoiando-a na cadeira. Sabia agora que, no fundo, não tinha mágoas dele. A única coisa que tinha era medo de tentar novamente, mas valeria a pena enfrentar aquele medo para tentar ser feliz. Sentiu ódio de si mesma por ser tão estúpida. Havia tido tantas oportunidades, mas só resolvera escutar seu coração na última. E já não havia mais tempo. De repente, sentiu uma mão sobre seus cabelos, acariciar-lhe com carinho. Abriu os olhos rapidamente, sentindo seu coração ser envolvido por uma alegria incontrolável, mas decepcionou-se ao encontrar os olhos de Hermione.
- Seu pai pediu para que eu ficasse com você. – A morena disse ao se sentar ao lado da ruiva e fazê-la apoiar a cabeça sobre seus ombros. Gina a abraçou.
- Ele se foi. Eu o perdi definitivamente e a culpa foi minha, Hermione. – falava entre soluços, com o choro tornando-se cada vez mais intenso. – Eu o perdi para sempre. – Apertou forte a amiga, sentindo que seu mundo desabava aos seus pés.
- Calma, Gina. Tudo vai se resolver. – Ela acariciava os cabelos da ruiva, sentindo seus olhos também marejarem com a dor tão forte da cunhada. Não podia imaginar o que ela estava sentindo, mas podia ver que ela estava sofrendo mais do que qualquer pessoa que já havia visto. – Vamos para casa. – Ajudou-a se levantar e a acompanhou até a saída do aeroporto, onde Rony as esperava. Ele apenas a ajudou entrar no quarto e não disse nada. Não gostava de Draco, mas vendo a irmã daquela forma percebeu que ele era o único que podia fazê-la feliz de verdade. Lamentou profundamente por tudo ter acabado daquela forma. – Vamos para a Toca. Diana está lá...
- Não. – interrompeu sem conseguir tirar os olhos do maldito anel em seu dedo. Como desejava queimá-lo junto com sua dor. – Eu quero ir pra minha casa. Preciso ficar sozinha.
- Está bem. – Acharam melhor concordar. Ela não estava no melhor momento para ser contrariada. Além do mais ela precisava ficar um pouco com seus pensamentos realmente.
Rony deixou-a na frente de seu prédio e perguntou se ela queria que ele a acompanhasse até o apartamento, mas tendo somente seu silêncio como resposta, achou melhor deixá-la sozinha.
Gina, ao abrir a porta de seu apartamento e encarar a sala, deixou o corpo cair ao chão, apoiando-se na parede e novamente voltou a chorar angustiosamente. A dor que sentia era demais para suportar. A idéia de não tê-lo era terrível, mas não poder ao menos vê-lo era desesperador. Precisava daqueles olhos azuis, nem que fosse somente para fitá-los e escutar aquela voz brigar com ela. Levantou-se com muita dificuldade e foi quase que se arrastando para o banheiro. Tirou o suéter quente que vestia, ficando apenas com uma camiseta e sentou-se no box, abrindo o chuveiro e sentindo a água morna cair-lhe pelo corpo, desejando que aquela água levasse com ela toda a tristeza que tinha no coração. Sentiu novamente suas vistas ficarem turvas e tudo em sua volta rodar. Apoiou na parede e fechando os olhos até que voltasse ao normal. Tentou levantar-se, mas não conseguiu e caiu novamente ao chão. Sentiu seu corpo pesado, sem forças para se levantar e sua cabeça rodar.

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