Novos Rumos



Gina terminou de falar e mergulhou o rosto entre as mãos, tentando ao máximo conter o choro, que estava muito próximo de cair. Já não havia mais volta, e a única coisa que lhe restava era a esperança de que aquela decisão não fosse a pior de sua vida. Levantou o olhar lentamente e encarou Draco, que estava com a cabeça baixa e o rosto pálido de anseio, e só desejava fugir dali para bem longe. Depois, levou os olhos para Diana. A menina permanecia com aqueles enormes olhos azuis arregalados, encarando-a sem ao menos pestanejar, não parecendo acreditar no que tinha ouvido, inerte. Mal parecia respirar. Draco olhou para o lado e fitou a filha, esperando qualquer reação que fosse, qualquer grito seria melhor que aquele silêncio. O homem, que antes tentava se manter seguro de si, não sabia o que fazer. Viu que suas mãos, de tão trêmulas, pareciam ter vida própria. Jamais sentira aquela ansiedade antes. Abriu a boca ameaçando dizer algo, mas desistiu. Temia que qualquer palavra mal dita pudesse acabar com qualquer chance de que aquilo se resolvesse bem. Gina, sentada em sua cadeira sem poder fazer nada, já não agüentava mais aquele mortal silêncio. Aproximou-se da menina, pegou as mãos dela e acariciou seu rosto com carinho:
- Filha, temos que explicar muito a você. Sabemos que é difícil e...
- Vocês se conheceram antes? – A pequena perguntou, sem reagir com nenhuma parte do corpo e a cabeça baixa, parecendo encarar a própria barriga.
Draco sentiu seu coração querer subir por sua garganta. Tinha que fazer algo. Foi então que a conversa com Arthur Weasley e os conselhos que recebera naquele dia lhe vieram à mente. A segurança e a confiança que ganhara naquele dia foram aos poucos se apossando dele. Respirou fundo, procurando as melhores palavras:
- Princesa, eu e sua mãe estudamos juntos quando éramos jovens, e namoramos. Mas, infelizmente, a gente acabou se separando e cada um foi morar em um lugar.
- Mas então por que mamãe disse que você tava morto? – indagou com a voz mais elevada, erguendo a cabeça e encarando Draco com os olhos marejados e indecifráveis.
- Eu pensava que ele estava morto. – Gina se voltou a ela, com um olhar suplicante por compreensão, percebendo que nem tudo seria tão fácil.
- Eu não acredito! Você mentiu! – gritou, tornando a expressão ainda mais rígida. Draco se aproximou da pequena e envolveu seu braço em volta dela.
- Falaram para ela que eu estava morto e ela acreditou, assim como todos os outros.
- E por que você nunca esteve com a gente? Nunca me procurou? – Abaixou a cabeça novamente. Finas lágrimas caíram sobre seu vestido e cada uma delas parecia uma espada cravada no coração de Gina, que não suportava ver a filha chorar.
- Eu não sabia que você existia. Jamais soube que Gina estava grávida. Só descobri ao reencontrar sua mãe no trabalho. Quando ela me falou de você eu fiquei tão feliz. Não só por ter uma filha, mas por ser você.
- Esperamos o momento certo pra te contar, querida. – Gina acrescentou.
Diana permaneceu quieta, refletindo sobre tudo o que ouvira, querendo saber o que pensar, no que acreditar. Para Gina e Draco aquele foi um momento muito angustiante. Não sabiam o que se passava na mente da criança e nem o que ela achava. Gina abaixou ligeiramente a cabeça, recostando a fronte nas mãos com os dedos entrelaçados, pedindo a Merlin que tudo viesse a dar certo. Draco tentava disfarçar a aflição que consumia sua calma e parecia paralisar o tempo. De repente, quando ele já estava prestes a desistir de ter sua filha ao seu lado, a menina levantou a cabeça com os olhos molhados, encarou a mãe e depois Draco.
- Do que eu te chamo agora, então? – indagou, com um olhar meio triste, mas um pequeno sorriso na boca.
Gina, ao escutar a pergunta da filha, levantou a cabeça rapidamente, levando as mãos na boca, parecendo não acreditar. Lágrimas emocionadas começaram a cair. Draco não soube o que dizer. Com um sorriso e um brilho nos olhos úmidos disse:
- Do que você quiser, minha princesinha. Desde que você saiba que eu amo muito você. – falou também muito emocionado.
- Eu também amo muito você, Draco.
Ela sorriu e se jogou entre os braços do homem, que a abraçou com os olhos fechados, tentando se convencer de que aquilo, que parecia um sonho, era real. Apertou-a ainda mais. Seu sonho de ser pai de verdade finalmente era real.
Gina, vendo a cena, caiu num pranto mais intenso, mas feliz. Sua filha tinha aceitado e tudo estava bem. Seus temores haviam sido em vão, e enfrentá-los valera a pena. Fitou Draco, que ao abrir os olhos a encarou e disse, sem emitir som: “Tudo deu certo”. Ela apenas concordou com a cabeça, passando as costas da mão no rosto para secar as lágrimas. Tudo tinha corrido absolutamente conforme o esperado. Achou melhor deixá-los a sós por um instante. Aquele era um momento especialmente deles e tinham esse direito. Levantou-se em silêncio e foi para o quarto. Antes de fechar a porta, deu mais uma olhada nos dois, ainda abraçados. As duas cabeças loiras juntas pareciam uma só, os dois pareciam um só. Por mais que já tivessem se abraçado antes, aquele carinho era totalmente diferente de todos. Agora sim sabiam o que realmente os ligava de forma tão intensa. Sorriu, sem que eles a vissem, e entrou, fechando a porta. Apoiando as costas na parede ao lado da cama, soltou um longo suspiro. De súbito, sentiu seu corpo enfraquecer e sua vista escurecer. Uma sensação estranha e muito forte começou a percorrer seu corpo. Não conseguindo se conter, desabou em um choro desesperado de uma angústia que vinha se acumulando há muito tempo. Foi caindo no chão, não mantendo controle sobre seu corpo. Debruçou-se sobre a cama, onde cruzou os braços e apoiou o rosto. Naquele momento em que se encontrara sozinha, pôde desaguar todas as emoções vividas até ali. Seus receios e medos, as alegrias, as dúvidas, tudo parecia lhe invadir em um único segundo. Sua filha, naquele momento, estava com o pai, na sala de seu apartamento. Um pai que, até meses atrás, estava morto e de repente aparecera vivo, mudando completamente o rumo de sua vida e de seus sentimentos. Os dois estavam juntos e felizes, e ela ali, no quarto, ao chão, sem entender o porquê daquela imensa tristeza surgir em seu coração. De repente, sentiu uma mão sobre seu ombro. Levantou o rosto, assustada, e encontrou o olhar confuso de Draco, que se sentou ao seu lado.
- O que houve? Por que está chorando tanto? – Ele perguntou muito inquieto, vendo os olhos vermelhos e inchados da mulher arfante, seu semblante triste.
Ela apenas o fitou, soluçando, e voltou a deitar a cabeça sobre os braços na cama, chorando ainda mais. Draco, muito preocupado, chegou mais perto e levantou o rosto dela, para que o fitasse.
- Fala pra mim. O que está acontecendo?
- Eu... eu não sei. – começou, mal conseguindo falar com o choro incessante, sem olhá-lo nos olhos. – Foi tudo tão rápido... Está tudo tão... eu não sei...
Terminou, baixando a cabeça. Draco a fitou tentando compreender o que estava acontecendo com ela, mas não conseguia. Pensava que ela estivesse feliz com aquilo. Sentindo-se inútil perante aquela angústia tão grande, não lhe restava nada a não ser abraçá-la e tentar reconfortá-la sem palavras. Assim o fez. Enlaçou-a nos braços com força, como a uma criança. Ela, ainda mais tocada com o gesto, correspondeu com o mesmo ardor ao abraço, com a cabeça mergulhada no peito dele. Calor, era tudo de que precisava. Draco, naquele instante, sentiu-se como na época de Hogwarts. Tinha Gina tão vulnerável em seus braços, parecendo a adolescente da escola. Podia sentir o peito dela arfar e os soluços o faziam tremer com ela. Acariciou seus cabelos. Jamais a havia sentido tão frágil.
- Tudo acabou bem, pequena. Tudo acabou bem. Não há motivos para ficar triste.
- Eu senti tanto medo. – falou, com a voz abafada, sem mostrar nenhuma intenção de querer soltá-lo.
- Mas não há mais motivos, não é? Diana foi preparar um sorvete especial para nós. Ela está feliz. – falou, tentando mostrar certa animação para poder animá-la também, mas não pareceu surtir efeito algum. Começou a ficar realmente agoniado, mesmo que a respiração dela começasse a parecer mais calma. – Ei, Gina. – Tentou erguê-la um pouco para poder ver seu rosto, mas não conseguiu, pois ela o segurava fortemente. – Quer que eu pegue uma água pra você? Qualquer coisa que...
- Não. – Rapidamente o interrompeu, com a voz mais clara, parecendo não estar chorando tanto quanto antes. – Eu só preciso ficar aqui por mais um minuto. Apenas um minuto. – Gina pediu, não se importando com nada mais. Sentia uma tranqüilidade começar a se apoderar dela. Uma calma que o corpo de Draco parecia exalar sobre ela. Só queria continuar ali e sentir aquela sensação por completo.
Ele sorriu para si mesmo, acomodou-a em seus braços e apoiou a cabeça sobre a dela.
- Claro. – concordou, de olhos fechados, ainda sorrindo. – O tempo que precisar, pequena...
Ficaram ali, sem falarem nem ao menos uma palavra, apenas aproveitando a oportunidade que tinham de poder esquecer o mundo e se refugiarem um no corpo do outro. Ali, eram somente os dois e nada mais. E permaneceram abraçados por um tempo que parecia infinito e ao mesmo tempo veloz, até sentirem a presença de alguém entrando no quarto. Olharam a porta e viram Diana, com um sorriso muito maroto, fitando os dois. Draco e Gina, surpresos, se afastaram e se ergueram do chão.
- Me desculpe... Eu só vim avisar que o sorvete tá pronto. – Com as mãos dadas por detrás do corpo, falava sorrindo, parecendo muito satisfeita com a cena. – Mas depois vocês vêm. Podem ficar à vontade. – Terminou saindo rapidamente, liberando um risinho alegre, e fechou a porta.
- Draco, – Gina começou, encarando-o. – perdoe-me, eu...eu...
- Tudo bem. – Sorriu e ela fez o mesmo, parecendo um pouco constrangida. – Mas eu fiquei preocupado.
- Acho que estava com muita coisa acumulada na cabeça. Só precisava chorar um pouco.
- E você realmente o fez. – falou rindo, brincando. Ela riu e deu um leve tapa no braço dele, sem fitá-lo.
- Eu sei que eu sou chorona, você já me disse isso hoje. – Lembrou-se, rindo, de quando estavam no carro, antes de subirem para o apartamento. – De qualquer forma, muito obrigada. – Levantou o olhar novamente e o fitou veemente, mais séria. – Muito obrigada mesmo.
- Gina, você me deu uma filha maravilhosa e me deu a oportunidade do dia de hoje. Sou eu que te agradeço.
Ela o mirou e ia dizer algo, mas hesitou. Não poderia deixar que a emoção do momento a fizesse dizer coisas que viessem futuramente lhe trazer algum arrependimento, como admitir que, para ela, havia sido maravilhoso ficar ali com ele e que faria qualquer coisa para que o tempo voltasse e ela pudesse reviver aquilo.
- O que é? – Ele perguntou, curioso, ansioso em saber o que ela diria. – Pode falar.
- Não é nada demais. – afirmou, com um pequeno sorriso. – Vamos comer o sorvete?
Ele concordou com a cabeça e foram para a sala, onde Diana esperava sentada, já devorando seu doce. Quando a menina os viu, abriu um imenso sorriso e chegou para o canto do sofá, para que eles também se sentassem.
- Prova Draco. – A menina entregou a tacinha de plástico com a colher quando ele se sentou.
- Está bem. – Ele concordou, pegou e enfiou uma colherada na boca. Fez cara de que estava muito saboroso. Ao olhar para Gina, ao seu lado, viu que ela estranhara quando a menina falou afinal ela esperava que Diana fosse chamá-lo de pai. – Eu e Diana conversamos – Draco começou. – e decidimos que ainda sou só Draco. Quando ela estiver pronta poderá me chamar do que desejar. – Pai e filha se encararam felizes, quase cúmplices.
- É uma boa decisão.
Os três ficaram no sofá, conversando sobre a infância de Diana, enquanto beliscavam o sorvete da menina. Na verdade, Diana falava a maior parte do tempo sobre as suas maiores travessuras e aventuras. Draco a escutava com atenção e Gina se limitava a fazer mínimos comentários e observar os dois. Depois, pela curiosidade de Diana, que sonhava atravessar o oceano e conhecer os Estados Unidos, Draco contou como era o lugar onde havia morado antes. Ele e a ruiva tentavam disfarçar o certo incômodo em falar sobre aquilo, já que havia sido na época em que ele fugira e ela pensava que ele estava morto. E entre uma conversa e outra, já ficava muito tarde.
- Bem, acho que agora eu tenho que ir. – Ele falou desanimado após ver as horas.
- Está bem. – Gina concordou, assim como ele, sem realmente querer que ele fosse embora.
- Não! – Diana disse logo, estranhando o comentário. – Você mora aqui agora.
Draco e Gina se entreolharam. Aquilo sim seria um assunto complicado. A mulher pegou a filha no colo e encarou, muito séria.
- Querida, Draco é seu pai e nada pode mudar isso, ok? – continuou quando a menina concordou com um aceno de cabeça. – Mas ele não vai morar com a gente porque eu e ele não estamos juntos. Ele tem a via dele e eu tenho a minha. Ele pode vir quando quiser para te ver, mas é só.
- Mas eu vi vocês no quarto. – retrucou a garotinha, confusa.
- Aquilo foi um abraço de... – Draco começou a falar e parou, sem saber que palavra usar, já que nem ele mesmo sabia o que era aquilo que havia acontecido há pouco. – Um abraço de... de...
- Amigos. – Gina concluiu. – Foi um gesto de amizade.
- Mas amigos não têm filhos, só namorados. – desafiava, com uma das sobrancelhas erguida e os braços cruzados sobre o peito, deixando os pais sem alternativas para explicá-la a razão de não estarem juntos.
- Nós fomos namorados que tiveram uma filhinha e depois viraram amigos. – falou, dando a cartada final. Se Diana contestasse mais uma vez não saberia o que dizer. Poderia rir do que acabara de falar. Com certeza era a maior mentira do mundo. A última coisa que ela e Draco seriam é amigos.
- Está bem... – A loirinha aceitou, contrariada.
Levantaram-se do sofá, aliviados pela rápida aceitação da menina. Draco pegou a filha no colo e se abraçaram com um longo beijo no rosto.
- Tchau, minha filha. – falou com uma emoção que jamais sentira. Chamar Diana de filha era maravilhoso para ele.
- Tchau, Draco. – Ela acenou com a mão ao ser posta no chão. Não esperou ele ir embora e foi correndo para o banheiro.
- Deve estar apertada. – Gina disse rindo e se voltou para ele. – Até mais, Draco.
- Até mais, amiga. – Ele disse num tom carregado de ironia. Ela apenas sorriu meio sem jeito e abriu a porta para ele, que saiu após fitá-la intensamente, deixando quase absorta em seu olhar.

Gina pôs a filha para dormir, mas ainda não tinha nem um pouco de sono, por mais que já fosse tarde da noite. Decidiu ir para a cobertura do prédio ver o céu. Sua alma necessitava tanto de serenidade que somente uma vista da janela não seria suficiente. Subiu as escadas até a cobertura, onde havia apenas uma pequena casinha onde o zelador do prédio costumava guardar móveis e objetos velhos e inutilizáveis. Dali, podia ver toda a cidade e, naquela hora, ela parecia ser mais bela do que nunca. As luzes das construções e dos carros em movimento davam um belo visual caótico e harmonioso ao mesmo tempo, assim como seus pensamentos naquele instante. A lua brilhava em sua perfeição e as estrelas incandescentes completavam o clima bucólico daquele início de madrugada.

Foi até o beiral e se sentou, com as pernas penduradas para baixo. Sabia que era um tanto arriscado, mas não seria desatenta a ponto de cair. Ficou observando a estrada logo abaixo de si e depois fitou o horizonte mais ao longe. Soltou um longo suspiro. Ali em cima era realmente um ótimo lugar para pensar e ficar sozinha, e era justamente daquilo que precisava naquele momento. Abriu um sorriso ao se lembrar da feição da filha ao adormecer. A menina havia dormido numa felicidade que Gina jamais vira nos olhos da pequena. E não haveria nada que a satisfizesse mais do que a felicidade da filha. Também não poderia se esquecer do abraço dela com Draco e as lágrimas presas no olhar dele. Lágrimas quase acorrentadas que Gina daria tudo para vê-las livres. Aquela era uma cena que guardaria para sempre em sua memória.

Chegou-se um pouco mais para trás, o suficiente para pôr suas pernas para o alto, deitou-se, com as mãos sob a cabeça, e fechou os olhos. Respirou fundo e pôde sentir o aroma que as árvores do parque exalavam com a fina chuva que caía. Só então se deu conta das pequenas gotas que caíam sobre seu corpo, o que não seria suficiente para fazê-la sair daquele momento seu. Muito pelo contrário, apenas a refrescavam e acalmavam seu coração, que ainda permanecia um pouco acelerado. Fitando o céu, uma incrível sensação de liberdade a invadiu. A Lua parecia tão próxima que quase podia tocá-la. Sentia-se flutuar sobre uma aconchegante nuvem que a levava para o céu, muito próxima das estrelas. Mas não tão aconchegante quanto os braços de Draco foram naquele dia.

Em sua mente, reviveu cada segundo que passara com ele dentro do carro, antes de subirem para o apartamento, e muito mais quando estiveram no quarto, sozinhos, tão próximos. Como aquele abraço fora quente e lhe enchera de paz quando estava tão aflita. E como a palavra “pequena” saíra da boca dele tão naturalmente. Ele a havia chamado justamente da maneira que ela se sentia naquele momento. Pequena. Mas não somente isso. Ela era a pequena dele e somente dele. Observando o céu, recordava-se de que, desde que voltara a se encontrar com ele na empresa, nunca o tinha sentido tão perto. Um teimoso sorriso surgiu em seus lábios. Lábios que não desejavam apenas um sorriso, mas sim um beijo de quem amava. Por pensar tanto em sua filha, Gina acabara por tentar ignorar o anseio que tinha por poder beijar novamente os lábios que há anos não voltava a sentir. Porém, perguntava-se até quando reteria aqueles desejos somente para si, e, com um inconveniente e repentino pensamento, a idéia de que nada agora a impedia de ficar com Draco, afinal o seu maior medo sempre fora a reação de Diana, surgiu em sua mente. Mas junto com tal idéia, todo o passado com Draco, as brigas, sua família, Susan e Harry lhe invadiram o pensamento abruptamente, impedindo que qualquer vestígio de esperança ressurgisse. Todos pareciam gritar que ela jamais poderia voltar com Draco. No final, deu-se conta de que existiam muito mais coisas que a separavam dele. Mesmo que concluir aquilo lhe trouxesse uma grande tristeza, tinha que aceitar.

Não saberia dizer até que horas ficou envolta em seus pensamentos e na inebriante imagem da lua sobre seu olhar. Só sentiu vontade de voltar para o quarto quando suas pálpebras se tornaram pesadas e sentiu o sono a invadi-la. Depois de tanto refletir, conseguiu dormir tranqüilamente e sonhou com o céu que quase pudera tocar, assim como a sua utopia de ser feliz em família com Draco e para sempre ser sua pequena.


As semanas seguintes passaram num piscar de olhos. Quando Draco deu por si faltava muito pouco para a viagem à França. Também, pudera, aqueles dias haviam sido os mais maravilhosos de toda a sua vida. Havia saído quase todos os dias com Diana ou, como podia agora dizer sem se preocupar, com sua filha. Filha... Palavra que saía de sua boca impulsionada de orgulho e felicidade. No entanto, Diana ainda não se sentia segura e acostumada o suficiente para chamá-lo de pai, mas ele entendia e esperaria o tempo que fosse preciso para poder ouvir aquela palavra quase mágica que tanto sonhava em escutar.
Talvez, de todos aqueles dias, o único não muito agradável, e até um tanto constrangedor, foi quando apresentou Diana a Susan. A menina, que no dia do teatro idealizara a mulher como uma princesa, repudiou-a como a uma bruxa, evitando até mesmo cumprimentá-la ou dizer qualquer palavra para ela. Susan tentou disfarçar com sorrisos amarelos e um ”tudo bem”, mas Draco percebeu que a mulher não suportara a atitude da menina, mas não poderia culpá-la. Por outro lado, também entendia o ciúme da filha, que antes mesmo de saber que Draco era seu pai, já havia demonstrado insatisfação em saber que ele tinha uma namorada. Seria ainda mais difícil para ela, tendo Gina como mãe, aceitar uma mulher tão altiva e arrogante, características que ele conhecia muito bem, como Susan era fora de seu papel teatral. No entanto, ria ao se lembrar de quando tentou aproximá-las, levando as duas para jantar. Foi extremamente engraçado a maneira com que Diana se utilizava para irritar Susan, com atitudes, palavras e até mesmo uma taça de sorvete que escapara “acidentalmente” de suas mãos e fora parar no vestido caríssimo da mulher, que ficava ainda mais irritada ao ver que Draco ria das travessuras da, segundo ela, capetinha, apelido que Draco não aceitava que Susan desse à filha. Para desgosto da mulher, ele havia deixado bem claro que não deixaria que ninguém insultasse a menina daquela forma. Susan tivera que engolir sua raiva e aceitar. Contudo, haviam sido dias encantadores.

E se para Draco as semanas foram boas, para Gina elas não foram de todo ruins. Não havia sido fácil contar para a família que Diana já sabia de toda a verdade. Somente Arthur parecera satisfeito com a notícia, enquanto alguns de seus irmãos a reprovaram duramente, falando que ela havia cometido um grande erro. Ao escutá-los, por alguns segundos, pensava na possibilidade de eles terem razão, mas era só olhar para o imenso sorriso que Diana estava que aquela idéia saía de sua cabeça imediatamente. Difícil também fora conseguir fugir do sermão de Rony quando pediu para ele ficar com Diana durante uns dias. Não era nada demais até ela explicar o motivo de tal pedido. Teve que praticamente se esconder dos irmãos para não ouvi-los reclamar da viagem que ela faria com Draco. Sabia que não adiantaria tentar explicar que era uma viagem de negócios e que era sua obrigação ir. Eles eram muito teimosos e ela estava em minoria. Definitivamente era mais inteligente fugir. Também não havia sido tarefa muito agradável ter que ver os olhares tortos cada vez que a menina falava do pai, mas conseguira relevar e entender.
Ruim mesmo foi saber, uns dias depois, que Draco levara a menina para sair com Susan. Aquilo sim havia sido terrível para ela. A mulher não conseguia conter o ódio que surgia no seu coração ao saber que ele tentava aproximar as duas. Não aceitaria aquilo de maneira alguma. Sua filha não teria uma “madrasta” tendo uma mãe de verdade. “Ainda mais esse tipo de gente com a qual ele deve andar!” dizia a si mesma, imaginando como deveria ser a tal namorada de Draco. “Bonita, com certeza.” concluía com desânimo. No entanto, ficou mais tranqüila ao ouvir a filha contar as coisas que fez com a “namorada do papai” e mais ainda ao escutar que Draco a defendera e rira da situação. Por mais que a ruiva tentasse explicar à loirinha que aquelas traquinagens não estavam certas, não conseguia esconder a satisfação em imaginar a cena. Contudo, nenhum contentamento e frustração se comparavam à alegria que sentia ao ver o olhar tão feliz da filha a cada noite que Draco a trazia de volta para casa. Era um contentamento inexplicável que somente uma mãe poderia entender.


Na quarta-feira anterior à viagem, Draco e Diana foram a um lago. No começo, a intenção deles era pescar, mas aquilo seria trouxa demais para o loiro, que não conseguia entender a graça de tal atividade. No entanto, como Diana havia ficado realmente empolgada com a idéia de conhecer o lugar, resolveu levá-la apenas para ver a paisagem e brincar um pouco. Também queria fazer algo diferente naquele último passeio antes da longa viagem que faria a negócios, um longo tempo para os dois, que ainda queriam recuperar o tempo perdido. Além do mais, Draco havia marcado com mais alguém, com quem queria muito conversar há semanas.
Ao chegarem no bosque onde ficava o lago, Draco estacionou o carro perto de onde ficariam. A criança foi correndo na frente, segurando o chapéu - que ganhara da mãe justamente para aquele dia - na cabeça e parou já na borda do lago. Olhou em volta. O lugar era muito bonito e lembrava o vilarejo onde seus avós moravam. Draco, que trazia a bolsa da menina, veio logo atrás.
- E então, o que achou? – Ele indagou, ao colocar a bolsa sobre a finíssima grama, também fitando o local à sua volta. – Bonito, não?
- É lindo! – afirmou e foi até a bolsa. Pegou uma toalha e forrou no chão. Draco apenas a mirava, admirando sua independência. A menina tirou o chapéu e os sapatos e os colocou sobre a toalha. Voltou para a borda do lago e se sentou na beirada, mergulhando os pés na água agradável. Riu, sentindo um leve calafrio. – Vem também, é gostoso. – Chamou Draco com as mãos. Ele encarou-a e depois ao lago. Apenas aproximou-se e se sentou ao lado da menina, que o fitou insatisfeita. – Senão colocar o pé na água não tem graça. – terminou fazendo cara de manhosa. Draco a encarou sério, mas riu vendo como a menina tentava convencê-lo. Fitou o lago por mais uma vez. Não parecia uma idéia muito boa, mas como negar algo à filha? Deu um suspiro vencido e tirou cuidadosamente as meias e os sapatos. A menina riu, batendo palmas, feliz por ter conseguido convencê-lo. Com o suéter amarrado nas costas, dobrou a calça até a altura dos joelhos e fez o mesmo que ela, mergulhando os pés na água, só que com mais cuidado para não se molhar demais. Realmente era uma sensação agradável ficar ali, até que sentiu algo passar rapidamente pela sola do seu pé, fazendo com que ele recuasse as pernas. Diana riu. – São os peixinhos, seu bobo. – disse, ainda rindo, quando também sentiu um passar pelo seu pé, fazendo o mesmo que ele.
- Ah, você também, viu? – Riu e encarou a água meio turva. Pensou no que estava fazendo. Draco Malfoy sentado à beira de um lago com os pés mergulhados na água. Só mesmo pela filha seria capaz de fazer aquilo. – Ali, olha! – disse, ao apontar para alguns peixes que nadavam juntos, um maior e outros bem menores, que pareciam ser os filhotes.
- Deve ser a mãe e os filhinhos. – Ela concluiu sorrindo e parou pensativa. Depois se virou para Draco muito centrada. – De onde vêm os bebês?
O loiro a encarou estarrecido, com os olhos arregalados.
- O que foi? – perguntou novamente, querendo confirmar se o que havia escutado fosse sério.
- De onde vêm os bebês, Draco?
- Eh, bem... bem... é complicado... – balbuciava, sem saber o que dizer. Como responderia àquela pergunta tão imprevista? Já ouvira pessoas comentando sobre esse tipo de pergunta inconveniente que as crianças pequenas fazem, mas jamais imaginara passar por situação parecida. – Na verdade a coruja é quem traz e...
- Draco! – repreendeu-o, muito séria, com os braços cruzados sobre o peito. – Eu não sou boba, não acredito mais na história da coruja.
- O que você sabe sobre isso? – Tentava ganhar tempo e pensar melhor numa boa resposta. Onde estava Gina quando mais precisava dela?
- Que o homem coloca uma... – Fez cara de pensativa, tentando recordar as palavras certas que escutara certa vez. – Uma célula especial, parecida com uma sementinha, na mulher e que essa sementinha vai pra barriga dela. E depois isso vira um bebê, que vai crescendo durante nove meses.
- Nossa... muito bem! – Draco sorriu orgulhoso ao constatar a esperteza e a inteligência da menina, e também satisfeito ao ver que não seria preciso dizer mais nada. – Onde você aprendeu isso?
- Com a professora da escolinha. – falou distraidamente.
- Legal. – Pensou em como realmente as mulheres sabiam lidar melhor com esse tipo de situação e sendo ela professora deveria estar sempre preparada pra ouvir esse tipo de questão.
- É, mas não pensa que eu sou boba. Eu não acreditei.
- Princesa... – Riu e se aproximou mais da menina. – Isso que você aprendeu é verdade. Quando duas pessoas se amam, elas se juntam para ter essa sementinha que vai crescer e se tornar uma linda criança, como você.
Ela escutou com atenção e refletiu mais um pouco, voltando a falar logo em seguida:
- Se é assim, por que você e mamãe não estão juntos? Vovô falou que todo mundo que se ama tem que ficar juntos. Se vocês me tiveram, é porque se amam. – Ela terminou apoiando a cabeça no ombro dele, batendo o pé na água enquanto espantava os peixes que nadavam por ali.
Draco parou. O raciocínio da menina estava corretíssimo, mas como poderia explicar a ela? Não poderia dizer que, na verdade, amava a mãe dela, mas havia muito no passado que os impedia de ficarem juntos. Eram coisas demais para que uma criança daquela idade pudesse entender. Ainda mais sendo algo que nem ele conseguia entender por completo.
- Diana, é que...
- Não precisa falar, Draco. – A menina o interrompeu, encarando-o com um sorriso doce e compreensível. – Não importa. Eu sei que você e mamãe ainda vão ficar juntos.
- E por que a senhorita pensa assim? – indagou, pensando se ela poderia saber de algo na vida de Gina que ele não soubesse ou se ela havia escutado algo em casa que a mãe dissera.
- Ah, porque... – Ia começar a falar quando olhou distraidamente para o lado e viu um homem que prendeu seu olhar. – Vovô! – gritou ao abrir um imenso sorriso e se levantar rapidamente, correndo até ele.
Draco olhou para a direção por onde a filha corria e viu Arthur Weasley, que apareceu caminhando lentamente. Também se levantou, ajeitou sua calça e foi até o homem, que já estava com a neta no colo, enchendo-a de beijos.
- Bom dia, senhor Weasley. – Ele o cumprimento com um aperto de mão, em tom bastante formal.
- Bom dia. – O ruivo respondeu, colocando a pequena no chão com sacrifício, devido à suas costas. Encarou Draco, parecendo estar intrigado com o convite que o loiro havia feito a ele, e o motivo que o levara a isso. Olhou para o chão. – E onde estão seus sapatos? – perguntou. Draco encarou o próprio pé descalço e riu. Ia começar a falar quando foi logo interrompido. – Sei que é difícil se manter alinhado com essa menina. Mas então, gostaria de falar comigo, rapaz?
- Sim. – disse, indicando o lugar onde a toalha de Diana estava estendida, para se sentarem. Draco achava um tanto engraçada a maneira que o pai de Gina o chamava. Ele parecia vê-lo ainda como um adolescente. – Na verdade, queria ter feito isso antes, mas hoje foi o único dia que pude. E imaginei que Diana gostaria de vê-lo também.
- Eu gostei! – A menina gritou, antes de correr até o lago.
Draco pegou sua varinha no porta-luvas do carro e conjurou uma pequena mesa com duas cadeiras, para que pudessem conversar mais confortáveis. Com certeza não sentaria ele, um Malfoy, com Arthur Weasley numa toalhinha infantil na grama à beira do lago. Aquela situação já era estranha demais. Sentaram-se nas cadeiras, observando Diana, que acabara de pegar uma bola no carro e corria pela margem do lago chutando-a.
- E então? – Arthur desejava que ele dissesse logo. Tentava imaginar o que seria tão importante para que Draco fizesse tudo aquilo e se comportasse de maneira tão educada.
- Bem, – O loiro parecia não estar muito à vontade. Talvez porque, para ele, fosse difícil admitir aquilo, ainda mais para quem iria fazê-lo. – na verdade, eu gostaria mesmo de agradecer pelos conselhos que me dera naquele dia. Foram realmente muito úteis. Talvez, se não tivéssemos conversado, eu não conseguiria ter contado tudo para Diana. Então, – deu um longo suspiro. Não disfarçou o incômodo. – muito obrigado.
Arthur fitou-o durante um momento, muito desconfiado, não acreditando que aquele homem à sua frente era Draco Malfoy.
- Eu fiz o que achei melhor, e minha maior recompensa foi ver a felicidade de minha neta. Ela está muito satisfeita, e isso é importante para mim. Sei que você a ama e vai ser um ótimo pai. Na verdade, já está sendo.
- Eu espero que sim. – disse, encarando a menina, que já largara a bola e agora corria entre algumas árvores atrás de um pequeno esquilo. Realmente esperava ser um bom pai e não cometer tantos erros. Desejava ser o pai que jamais tivera. – E não é fácil... – terminou, comentando distraidamente.
- Lógico que não. Não há uma escola para aprender ser pai. A gente erra muitas vezes, tentando acertar. O importante é que, sempre que erramos, temos a chance de remediar a situação.
- Nem sempre. – falou, lembrando de Lúcio e as decisões que o homem o induziu a tomar durante toda a sua vida. Sabia que se o pai tivesse sido um pouco diferente, toda a sua vida também o seria. Mas não queria pensar nele agora. Jamais poderia tomá-lo como exemplo que o pudesse ajudar a criar sua filha e fazer as coisas certas, e, além do mais, ele já estava morto e fazia parte de uma passado que ele só desejava esquecer. No entanto, não poderia negar que ter uma figura paterna com a qual pudesse contar seria bom naquela época de sua vida na qual estava passando por coisas tão diferentes.
- Sei o que passa na sua cabeça. – Arthur falou, vendo pela feição de Draco, que este lembrava de coisas que não o fazia bem. – E quer saber? Esqueça isso. Você tem muitas características de Lúcio, mas muitas delas te ajudaram a vencer na vida e ser uma pessoa melhor. Mesmo sendo parecidos em alguns pontos, você conseguiu ser alguém muito diferente dele. Você se apaixonou por uma Weasley, poupou a vida do pai dela, buscou o amor da sua filha com carinho, até me agradeceu hoje! – disse rindo, e Draco também o fez. De fato, era uma situação muito diferente da qual ele pudesse imaginar ser real anos atrás. – E é por isso que estou aqui hoje. Para que você saiba que poderá contar comigo quando precisar, porque eu faço tudo pela felicidade de minha família e sei que você, indiretamente, faz cada vez mais parte dela.
Draco o encarou quase incrédulo. Como o homem poderia se comportar daquela forma? Como ele conseguia ser tão complacente e humano? Como conseguia se importar com ele, tendo tantos motivos para odiá-lo? Não conseguia compreender aquele homem e sua maneira de agir.
- Por que o senhor me apóia? – Não resistiu em perguntar. – Eu não consigo entender...
- Porque, no fim das contas, eu me sinto um pouco culpado por tudo. Naquele fatídico dia da guerra, quando nos encontramos, eu fiquei com tanta raiva de você que só pensava em te matar. Entenda, você tinha engravidado minha filhinha, minha menininha. Não é fácil para um pai, e talvez você consiga entender.
- Sim. Eu acho que consigo entender, mesmo Diana sendo nova. Ficaria furioso se algo parecido lhe acontecesse um dia. Com certeza eu só pensaria em matar o infeliz.
- Mas, apesar disso, eu queria que você soubesse que ela estava grávida. Você tinha o direito. Mas quando eu ia te contar você foi atingido, de certa forma por minha culpa. Fiquei imaginando que se eu tivesse falado logo, as coisas poderiam ter sido diferentes. – Arthur terminou, pensando que Draco o encararia enfurecido, culpando-o de todos os problemas de sua vida, mas tudo o que o rapaz fez foi lhe dar um sorriso meio triste.
- E seriam. Nós dois seríamos mortos ao sermos pegos conversando, e o desgosto de Gina seria ainda maior. O senhor não tem motivo para se sentir culpado. Já passou e não adianta pensar no que poderia ter sido diferente, porque as coisas poderiam ter sido muito piores. – terminou, fitando o bosque distraidamente.
Arthur fitou-o, muito satisfeito e até mesmo se sentindo orgulhoso. Draco provava ainda mais que era um homem amadurecido e completamente diferente do adolescente que fora um dia. Era realmente uma outra pessoa. Draco também se sentia orgulhoso, mas de si mesmo. Orgulhoso por ter conseguido enfrentar qualquer preconceito que tivera no passado contra Arthur Weasley e por ter conseguido enfrentar sua própria arrogância. Havia valido a pena. Agora sentia que tinha alguém com quem contar e, involuntariamente, a idéia de que parecia ter naquele homem alguém que poderia ajudá-lo a conquistar Gina lhe veio à mente, mesmo que não quisesse.
Terminada a conversa, os homens foram brincar com Diana, que insistia em jogar bola com eles. A menina não conseguia medir a alegria que sentia em poder brincar com o pai e o avô juntos. Somente quando o céu começou a escurecer Arthur foi embora e Draco foi levar Diana para casa.


Gina acabou de pôr Diana na cama e foi guardar o cordão que a filha devolvera a ela para que o levasse na viagem. Vendo-se sozinha, resolveu tomar uma reconfortante ducha quente. O dia de trabalho havia sido duro, tendo em vista que estava sozinha e teve que resolver quase tudo. Mas não se importou, afinal Draco estava com a filha. Terminava de pôr o robe para ir se deitar quando escutou a campainha tocar. Estranhou, pois não estava esperando ninguém. Surpreendeu-se ao ver quem era.
- Harry, o que faz aqui? – indagou, dando espaço para que ele passasse.
- Estava com saudades. Há muito tempo que não venho te ver. Só nos vemos rapidamente, mal conversamos. – afirmou, ao dar um leve beijo mal correspondido e entrar. – Onde está Diana?
- Dormindo, coisa que eu ia fazer. – Sentou-se no sofá, junto com ele. Não escondeu a insatisfação pela visitinha surpresa, coisa que Harry mal percebeu.
- E como estão as coisas? – Ele a abraçou carinhosamente. Gina recostou a cabeça sobre seu peito, procurando mostrar algum afeto. Perguntava-se por que, mesmo ele sendo daquela maneira tão carinhosa, não conseguia gostar dele.
- Amanhã é a viagem. – Comentou receosa, preparando-se para o pior. Sabia que ele não gostaria da notícia. Haviam discutido muito quando ela contou para ele que teria que viajar, mas, no final das contas, entendia o que ele sentia.
- O quê?! – Ele indagou nervoso. – Mas já? Você vai mesmo?
- Harry, já conversamos sobre isso. – dizia, fitando-o com meiguice, fazendo de tudo para não discutir novamente. – É preciso.
- É realmente preciso ou você quer ir por causa do Malfoy? – falou, retirando os braços envoltos dela e olhando para o outro lado, aborrecido.
- Não quero discutir com você sobre isso de novo. – disse séria, não se importando com a chantagem emocional que ele começava a fazer. – Não tenho escolha. Se quiser entender, ótimo, se não quiser, não posso fazer nada.
- Claro, minha opinião não importa, nunca importou. Até porque você não teve a coragem de me contar que Diana já sabe que o Malfoy é pai dela.
- Como você soube disso? – Perguntou. Realmente não havia dito, mas simplesmente porque achara desnecessário e não haviam tido oportunidade de conversarem antes.
- Rony me contou. Eu só sei as coisas que se passam na sua vida pelo seu irmão, sendo que eu sou seu namorado. Como pode isso?
- Harry, não quero brigar. – Com a voz firme e determinada, tentava controlar a irritação, vendo que ela tentava cercá-la de todos os lados.
- Está bem. – Ele voltou o olhar para ela, depois de respirar fundo. – Depois falamos sobre isso, não pense que eu vou esquecer. – Também não parecia querer brigar naquele momento. Aproximou-se de novo e acariciou o rosto dela. Ela sorriu aliviada e ia abraçá-lo quando ele se apressou em beijá-la ansiosamente. Surpreendida, não viu outra saída a não ser corresponder, como sempre se sentia quando ele a beijava. Em meio ao beijo, aos poucos Harry foi se inclinando sobre o corpo dela, descendo as mãos por suas pernas. Gina percebeu a excitação dele e achou melhor intervir. Empurrou-o delicadamente.
- Harry, não. Não posso.
- Não pode ou não quer? – Não escondeu a irritação por ter sido interrompido.
- Eu não estou preparada.
- E quando vai estar?! – Elevava o tom de voz.
- Harry! O que há com você hoje? – Levantou-se com as mãos na cintura, indignada pela atitude dele. Não estava disposta a ser de tal forma pressionada.
- Sabe, Gina, – Ele levantou-se também, muito sério, e a encarou. – eu pensei que seria fácil, mas não dá. Você não está disposta a fazer com que isso dê certo. A única coisa que te importa é ficar com o maldito do Malfoy.
- Harry, isso não é verdade. Por que você...
- É! – Ele a interrompeu, com os olhos arregalados, encarando-a duramente. Pegou o casaco que havia posto sobre o sofá logo quando chegara e o vestiu. – Você sabe que é verdade.
Fitou-a profundamente após um longo suspiro, e saiu porta afora, deixando Gina aborrecida. Ela não queria brigar, mas não podia negar que ele estava certo. Tinha consciência de que ela não tentava fazer aquele relacionamento dar certo. Mas também, como poderia fazê-lo se Draco não saia de sua cabeça por nenhum minuto e no dia posterior viajaria com ele?

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