O Dia "D"



Já passava das quatro da tarde quando Draco e os representantes da empresa Seilansys resolveram os últimos detalhes da mais nova sociedade de sucesso, como eles mesmos entitularam. Finalmente tudo foi resolvido e Draco estava realmente entusiasmado com aquilo, como há muito não acontecia com nada em relação ao trabalho. Sabia que com a fusão de sua empresa com a Seilansys conseguiria dar um grande salto para abrir mais novas filiais pela Europa, onde realmente conseguiria obter lucros elevadíssimos. Seria um sucesso. Gina havia saído há pouco para buscar alguns documentos que deveria entregar aos executivos com os detalhes da transação. Enquanto isso, Draco estava saindo da sala de reuniões conversando com Robert Murray, o presidente da Seilansys, sobre um congresso que seria dali a um mês. E Draco, como presidente da mais nova incorporação, deveria estar lá. Para o loiro não seria nada demais, não fosse o fato de ter que ir para outro país e levar consigo sua querida secretária. Ficou hesitante em aceitar, mas sabia que o convite que recebeu era apenas por educação. Na verdade, era sua obrigação estar presente. Pensou na possibilidade de ir com Miller, mas a presença de Gina seria necessária e fundamental. Sem saída, Draco acabou por aceitar. Só se perguntava como Gina reagiria à notícia. Pouco tempo depois a mulher voltou com a documentação e entregou o portfolio a cada um deles. Assim que todos foram embora, ela e seu chefe voltaram para o último andar. Gina, sem dizer uma única palavra, apressou-se em se sentar logo em sua mesa ao sair do elevador. Draco respirou fundo e se aproximou.
- Finalmente o contrato foi fechado, não é? – Ele começou, como quem não queria nada.
- É... – respondeu sem ao menos olhá-lo, deixando claro que não estava interessada em nenhuma conversa. Draco percebeu sua indiferença. Resolveu, então, deixar os rodeios de lado e ir logo ao assunto.
- Mas tem um pequeno detalhe. Tenho que ir a Paris para um evento da Seilasys no mês que vem.
- E...? – Continuava a empilhar documentos quaisquer.
- E você terá que vir comigo. – afirmou com um pequeno sorriso. Agora sim ela o encararia.
- O QUÊ?! – Ela indagou com os olhos arregalados, deixando todos os papéis caírem no chão. Abaixou-se para pegá-los e Draco foi ajudá-la. – Como assim?
- Você é minha secretária, senhorita Weasley. – Pegou o último papel do chão e entregou a ela. Levantaram-se, um frente ao outro. – Preciso que vá.
- Por quanto tempo? – Poderia tentar discutir e dizer que não iria, mas tinha consciência de que era seu trabalho.
- Imagino que, no máximo, uns cinco dias.
- Mas e Diana? Não posso deixar minha filha sozinha.
- Até poderíamos levá-la. Pra mim seria maravilhoso ficar com minha filha durante esse tempo, mas é uma viagem de negócios. Seria extremamente chato para ela. Ficaremos o dia inteiro fora e ela teria que ficar no hotel com alguém, ou até mesmo sozinha.
- Não, isso não. – Apressou-se em falar. Jamais deixaria a filha sozinha ou com algum estranho.
- Você não pode deixá-la com seu irmão?
Ela pensou um pouco. Lógico que não haveria qualquer inconveniente em deixar a filha com Rony. O único problema era que, se concordasse naquele momento com aquilo, estaria anuindo com a viagem. A viagem que faria a sós com ele. Apertou os lábios um contra o outro. Não havia jeito.
- Eu falo com ele.
- Então está certo. – Não escondeu o sorriso com a resposta. – Organize-se.


Gina se levantou da cama assustada. Passou a mão pelos cabelos, que estavam muito úmidos. Pousou a mão sobre o próprio peito e sentiu seu coração bater em descompasso. Olhou para o lado. Diana dormia tranqüilamente. Tentou se lembrar do que havia perturbado seu sono, mas não conseguia. Aquilo a deixou muito incomodada. Odiava quando tinha sonhos ou pesadelos e não conseguia recordá-los. Preferiu ignorar e se deitou novamente, mas percebeu que a janela fechada já deixava a fina cortina com uma tonalidade diferente. Resolveu sair logo da cama. Enrolou-se no robe e foi caminhando até a sala, ainda com os olhos semi abertos. Realmente não faltava muito para a hora de acordar. Já que estava adiantada, decidiu tomar uma tranqüila ducha para poder começar bem o dia.
Ela e Diana já estavam tomando o café-da-manhã quando escutaram a campainha. A menina encarou a mãe, como se perguntasse quem era. Gina deu de ombros e a pequena saltou da cadeira, indo até a porta.
- Tio Rony! – Ela gritou e o abraçou pelas pernas. – Veio tomar café com a gente? – perguntou, puxando-o pela mão até a mesa.
- O que faz aqui a essa hora? – Gina indagou, estranhando. Era muito cedo para o irmão passar lá.
- Quero conversar com você. – Ele falou sério e Gina logo percebeu que algo estava errado.
- Diana, termine de tomar seu suco lá no quarto – Entregou o copo de plástico para a menina. – Calce o tênis e arrume sua mochila, porque você deixou todos os seus cadernos espalhados ontem.
- Está bem, mamãe. – Ela concordou e foi arrastando os pés até o quarto, chateada por nunca poder ficar durante as conversas dos adultos.
- O que houve, Rony? – Gina perguntou quando escutou o barulho da porta do quarto se fechando. Puxou a cadeira ao seu lado para que o irmão se sentasse.
- Hermione estava preocupada em saber porque a barriga estava tão grande. Então, ontem ela foi a um médico, amigo do Sr. Granger, e descobriu que está grávida de gêmeos. – Ele terminou com um enorme sorriso. Seus olhos estavam úmidos de tanta emoção.
- Rony! É maravilhoso! – Gina exclamava também muito feliz.
- Sim. Isso é maravilhoso. Mas tem uma coisa. – Ele fechou o sorriso, voltando à expressão séria de antes. – Ela não vai poder cuidar dos pequenos, e ainda do Josh, sozinha. E estávamos pensando... Achamos que você não precisa mais que nós estejamos sempre tão perto. Digo... – Ele balançou a cabeça, como se estivesse falando alguma besteira. A verdade era que não sabia como dizer o que queria. Mas não era preciso. Gina logo percebeu onde ele queria chegar. A ruiva se aproximou mais, arrastando a cadeira para a frente.
- Vocês querem voltar, não é? – Ela perguntou, com um leve sorriso no rosto. Ele assentiu com a cabeça.
- Se você acha que não pode ficar sozinha, tudo bem, a gente fica aqui...
- Rony! – Ela o interrompeu, sem tirar o sorriso doce do rosto. – Vocês me ajudaram demais por todos esses anos, e eu sempre serei grata por isso. Sempre vou precisar de vocês, mas não é necessário que se mantenham morando aqui perto por minha causa. Eu entendo perfeitamente, e realmente seria melhor se vocês voltassem e morassem perto da mamãe.
- É exatamente nisso que estávamos pensando.
- Obrigada por estar me contando isso. Mas pode ir tranqüilo, tudo vai ficar bem. Sei que jamais vou estar sozinha sendo uma Weasley.
Rony a encarou aliviado. Estava temeroso de pensar que Gina poderia se chatear com aquilo. Levantou-se da cadeira e a abraçou pelas costas, como fazia quando ela era muito pequena.
- Por que você não vem conosco? – Ele perguntou e se voltou para a frente dela.
- Não posso. Não ainda.
Escutou a resposta da irmã, a qual ele já sabia antes mesmo de perguntar, e se calou. Sabia que ela não o faria, então não valia a pena discutir. Só esperava que as decisões da irmã fossem as mais corretas a se tomarem nessas circunstâncias. Então, com o assunto dado por morto, chamaram Diana, pois já começavam a ficar atrasados.

Gina não pôde deixar de pensar no que o irmão lhe falara durante todo o dia. Não podia negar que a idéia de voltar a morar perto dos pais lhe era um tanto tentadora, mas não poderia fazer aquilo. Não até resolver sua situação com Draco. Não conseguiria ser fria o suficiente para simplesmente afastá-lo da filha. Foi então que se lembrou de Harry. Já estava há alguns dias sem vê-lo e mal havia se dado conta disso. Concluiu, desanimada, que ele jamais a deixaria. De fato, aquilo deveria ser algo que a alegrasse, mas já não conseguia nem ao menos fingir que estar com Harry a fazia feliz. Não conseguia amá-lo e nem sentir ao menos um carinho especial por ele. E o que mais a deixava desorientada era saber que ele, sendo como era, não ficaria satisfeito por muito tempo em ser apenas seu namorado. Ele era um homem que desejava se casar e ter uma família e, infelizmente, Gina jamais poderia ajudá-lo naquilo. Ela começava a se sentir pérfida e desleal em agir daquela forma com o homem que, com certeza, não o merecia. Em meio ao seu confuso devaneio, não percebeu que Draco saíra de sua sala e se aproximava dela.
- Está ocupada? – O loiro perguntou de repente, vendo que ela estava muito distraída. Desejava poder entrar em seus pensamentos e saber o que lhe povoava a mente. Ela o encarou sobressaltada, com o coração acelerado. – Desculpe-me. – Pediu, vendo que a havia assustado.
- Tudo bem... – disse e pegou rapidamente a agenda dele, tentando disfarçar o fato de que não estava fazendo nada, a não ser pensar.
- Eu queria perguntar se posso levar Diana para passear hoje. Trago-a antes do jantar.
- Lógico. – concordou com a voz muito serena. Agradava-lhe muito ver como Draco tentava se aproximar da menina, sempre falando com ela antes. Era uma grande demonstração de afeto, interesse e respeito.
- Tenho mais alguma coisa para hoje?
- Não. – Mal se preocupou em olhar a agenda. Já sabia todos os compromissos de cabeça. – Se quiser, pode ir agora. Eu ligo para Hermione e a aviso.
- Está bem. – Ele assentiu com a cabeça. Sentiu-se bem e ver como Gina o incentivava, mesmo que indiretamente, e já não lhe incomodava o fato dele se aproximar de Diana. Mesmo que não fosse a intenção dela, era uma maneira dele se sentir cada vez mais confiante em contar a verdade para a menina. Foi até a sala, pegou sua maleta e voltou. – Saia mais cedo hoje. Se quiser, posso levá-la até em casa e...
- Não posso. – respondeu chateada tendo que recusar aquela idéia que lhe parecia tão tentadora. Não pelo fato de ir com ele, mas por poder voltar cedo para casa e mergulhar sozinha na banheira, com todo o tempo do mundo só para si. – Ainda tenho que ver os balancetes passados e fechar os vencimentos. O responsável pelas folhas de pagamento não veio hoje e preciso disso o mais rápido possível.
- Está bem. Até a noite, então.
- Divirtam-se. – Ela sorriu e o viu entrar no elevador. Por que não podiam sempre se comportarem daquela forma tranqüila? Era tão mais fácil.


Draco, já sem o paletó e a gravata, que deixara no carro, jogou-se com toda vontade na fofa grama verde. Estava ofegante, suado e extremamente exausto. Não se importou com quem estivesse naquele parque o observando. Só queria descansar um pouco. Brincar com a filha não era nada simples. Ainda mais quando precisava correr. Definitivamente, já não era um adolescente que praticava mais de quatro horas seguidas de quadribol e mal transpirava. Fechou os olhos por alguns segundos, não agüentando os raios solares que penetravam em sua pupila. Ao abri-los novamente, deparou-se com uma Diana próxima ao seu rosto, fitando-o fixamente com um pequeno sorriso. Não poderia haver melhor vista.
- Já está cansado? – Ela indagava com um leve ar de deboche muito parecido com o dele. – Eu ganho de você muito fácil. – Provocou e, sentando-se, acariciou os cabelos lisos dele, que muito pareciam com os seus, sem deixar de encará-lo. Com seus dedinhos pousados no rosto dele, ela parecia analisá-lo, como se quisesse gravar o rosto dele em sua mente. Draco tentava adivinhar o que se passava na cabeça dela, mas seus olhos eram indecifráveis.
- Você tem namorada, Draco? – Ela perguntou. Ele arregalou os olhos, surpreso com a repentina indagação.
- Bem... – Pensou em negar, mas não queria mentir para a filha. – Sim. Eu tenho.
A menina fechou o sorriso na hora, tornando sua expressão séria e insatisfeita, e retirou as mãos do rosto dele. Afastando-se alguns centímetros, cruzou os braços sobre o peito. Draco se levantou e sentou-se de frente para ela.
- O que houve, princesa? Não gostou de saber que eu tenho uma namorada?
- Não! – Muito sincera, a menina não pensou duas vezes antes de responder. Sempre era muito espontânea. – Eu queria que você casasse com a mamãe.
Draco revirou os olhos, tentando pensar em algo em que dizer, mas não tinha idéia do que falar para a menina. Puxou-a para seu colo e a abraçou.
- Sua mãe já tem um namorado. – O loiro disse desanimado, por mais que tentasse demonstrar que aquilo não o afetava.
- Mas você é melhor. E ela nem gosta dele...
- Como assim? – Com um súbito interesse, virou a menina para encará-la nos olhos. – Por que você está falando isso?
- Os olhos dela não brilham quando eles estão juntos. E vovó falou que quando a pessoa ama tem estrelas nos olhos. Que nem o da tia Mione quando está com tio Rony. – De repente ela abriu um sorriso e colocou as mãos sobre os ombros dele, como se quisesse chamar mais a sua atenção. – Tio Rony contou que tia Mione vai ter gêmeos. É muito legal, né? – falou, mudando completamente de assunto.
Enquanto a menina falava sobre a novidade, Draco apenas sorria e mal conseguia prestar atenção no que ouvia. Não conseguia tirar da cabeça o comentário da filha. Seria mesmo verdade que Gina não amava Harry? Por mais que tentasse se convencer de que aquilo era apenas um observação imaginativa de criança, aquela pequena dúvida teimava em reacender a chama de esperança que jamais se apagara dentro dele.
Era início da noite quando Draco levou Diana para casa. Mal tocaram a campainha e Gina abriu a porta. A mulher deu um beijo na filha e ia chamar Draco para entrar quando a menina o puxou para dentro e o fez se sentar no sofá. Os dois riram.
- Eu já volto! – A pequena falou e correu para o quarto. Gina fitou Draco, confusa.
- Ela quer me mostrar um desenho. – explicou e, com um sorriso um tanto tímido, viu um silêncio incômodo se formar. Ia fazer um comentário quando a menina voltou.
Gina, vendo os dois, preferiu deixá-los a sós. Não conseguia deixar de reparar na felicidade que a menina esbanjava quando estava perto dele. E ver sua filha tão feliz a enchia de satisfação. Estava indo para a cozinha e olhou distraidamente para trás. Viu os dois sentados no sofá, conversando animadamente. Não resistiu a ficar ali mesmo e observá-los. Os dois já estavam tão íntimos. A menina parecia muito mais à vontade com ele do que com qualquer um de seus tios. Foi então que se lembrou de Rony e da conversava que tiveram naquela manhã. Pensou em como seria bom se pudesse contar com Draco depois que ele fosse embora. De repente, parou o olhar sobre eles, refletindo no que acabara de pensar. Era lógico que poderia contar com ele. Draco era o pai dele e se houvesse alguém perfeito para aquilo seria ele. Foi para a cozinha. Apoiada na bancada da pia, cruzou os braços sobre o corpo e abaixou a cabeça, que parecia pesar uma tonelada. Apertou os olhos e cerrou a mão, tentando brigar com seus pensamentos. No entanto, já não havia escapatória: ela tinha certeza de que o momento certo para falar com a filha havia chegado.


Estava sentada em sua mesa organizando os últimos cheques e currículos que haviam acabado de chegar, e que o próprio Draco fazia questão de analisar um por um, quando Gina escutou o barulho da porta da sala dele e passos em sua direção.
- Eu já vou almoçar. Se quiser, pode ir também. – O homem falou e logo lhe deu as costas, indo até o elevador.
Gina o viu entrar no elevador, sem tirar os olhos dele. Quis matá-lo por ele usar o mesmo perfume que a encantava e que parecia penetrar em cada objeto daquele andar. Como amava aquele cheiro. Não saberia descrevê-lo. Era um perfume de homem, sedutor e misterioso. Era o perfume de Draco Malfoy. Dando-se conta de suas imaginações, repreendeu-se e tentou voltar ao trabalho, mas já não conseguia mais. Recordou-se da noite anterior. Como foi difícil ignorar sua presença tão marcante em sua sala, mesmo depois dele ir embora. Como foi difícil dormir naquela noite em que não conseguia parar de observar a filha dormir e imaginar as milhares de possíveis reações que a menina poderia ter ao saber que Draco era seu pai. Tentava esquecer as piores, mas estas eram as que mais povoavam sua mente. Mas não importava. Após muito relutar e refletir sobre aquilo, decidiu que já estava na hora de sua filha saber a verdade. Conversaria com Draco ali mesmo. Estava esperando ele chegar quando seu estômago começou a lhe avisar que era hora do almoço, já que havia comido muito mal no café da manhã.
Pelo menos durante o almoço com os companheiros de trabalho conseguiu esquecer um pouco seus problemas. Mas foi somente entrar no elevador e apertar o botão para o último andar que novamente o peso das decisões lhe caíram sobre os ombros. Colocou a sua bolsa sobre a mesa e bateu na porta da sala de Draco. Não queria adiar nem mais um minuto. Entrou ao escutá-lo pedir para entrar. Ela abriu a porta, pedindo licença, e caminhou lentamente até a mesa dele. Enrolou os cabelos, jogou-os pelos ombros e se sentou de frente prá ele.
- Sim?... – Draco começou, ao deixar a caneta de lado e voltar sua atenção para a ruiva, o que não era muito difícil para ele. Mesmo disfarçando, adorava fitá-la.
- Amanhã Diana não terá aula.
- E...? – continuou, deixando claro que não estava entendendo o motivo do comentário.
- Ela vai ficar em casa o dia todo sem fazer nada. – Abriu um pequeno sorriso e Draco continuou com a expressão de que queria que ela chegasse logo ao ponto. Gina, irritada pela lentidão mental do loiro, chegou a cadeira pra frente e debruçou levemente sobre a mesa. – Você quer ou não contar pra ela que é seu pai? Conseguiu entender agora ou prefere que eu faça um desenho para explicar melhor?
Draco a encarou com um sorriso debochado, mas a expressão séria foi se desvanecendo e se tornando hesitante. Sentiu um leve temor o invadir, mas não desistiria. Havia começado aquilo e tinha que terminar. Era agora ou nunca. Lembrou-se da conversa com Arthur e de tudo que ele lhe dissera. A mesma confiança que ganhava naquele dia foi tomando conta dele.
- E como faremos? – Ele perguntou, com a postura reta, tentando parecer senhor de si.
- Eu não sei... – Ela abaixou o olhar, muito confusa, totalmente diferente da postura dele. Se Draco estava com medo, ela só desejava sumir. – Acho que isso deve ser feito em casa. Para ela se sentir, não sei, mais à vontade.
- Então eu posso passar lá à tarde, talvez...
Gina parou pensativa, com a mão à boca. Fitava-o como se em sua mente formulasse planos. E realmente o era.
- Já sei. – Ela recomeçou, ao novamente se aproximar. – Eu vou avisar a ela que amanhã você jantará conosco e depois vamos conversar. Não vou dizer sobre o que, mas quero deixá-la de sobreaviso.
- Está perfeito. – concordou satisfeito. Parecia um bom começo. Podia ver nos olhos de Gina o mesmo brilho que ele sabia que estava nos seus próprios olhos. Um brilho de anseio e ligeiro temor.
Recordou da vez em que Gina estivera ali, aceitando o desejo dele de poder ter a filha mais perto. Da outra vez ela parecia mais insegura. Desta, apesar de seu nítido medo, ela parecia mais forte, ou ao menos tentava parecer. Sentiu-se orgulhoso dela. – Então amanhã vamos direto do trabalho para a sua casa.
Ela apenas assentiu com a cabeça e se levantou, pedindo licença saiu. Quando fechou a porta da sala dele, arrastou o corpo até sua mesa e se sentou. Afundando-se na cadeira, encarou a foto da filha. Tinha que dar tudo certo. Fechando os olhos, desejou que seu pai estivesse ali para confortá-la.


Ao parar o carro em frente ao edifício, os dois respiraram juntos. Um único suspiro saindo de dois corpos. No entanto, cada um enfrentava internamente seus próprios medos. Draco desligou o automóvel, retirou as chaves e abriu a porta. Já ia fechá-la quando viu Gina, no banco do carona, completamente inerte. Ela encarava o vidro à sua frente sem ao menos piscar. Draco sabia que ela estava com medo e não podia culpá-la. Fitou-a por alguns momentos. Não podia simplesmente apressá-la, pois tinha que entender o que se passava em sua mente. Pensou em se virar, com as costas apoiadas no automóvel, e esperar que ela colocasse seus pensamentos em ordem, mas não poderia ignorar a tristeza dela, não poderia ficar indiferente a ela. Aquele era um momento muito importante e precisavam estar juntos, acima de tudo, esquecendo os problemas pessoais. Entrou no carro novamente e se aproximou de Gina. Pegou a mão dela, que estava repousada sobre sua própria perna, e a segurou entre suas mãos com carinho. Ela, ao perceber o toque, se virou para ele, surpresa. Draco apenas sorriu e Gina continuou séria, imóvel.
- Vai dar tudo certo. – Ele apenas falou. Foi o suficiente para que ela franzisse a testa e abaixasse o rosto, permitindo que as lágrimas caíssem. A ruiva não conseguia mais ser, ou tentar parecer forte estando ali, prestes a mudar toda a sua vida.
- Não quero que ela fique triste, ou pior, que fique com raiva de nós. Não quero.
Draco apertou ainda mais a mão de Gina e sorriu para si mesmo, vendo que a preocupação da mulher não era somente com a reação de Diana em relação a ela, mas em relação à ele também. Puxou-a para mais perto e a envolveu entre seus braços. Pôde sentir o doce aroma do cabelo dela.
- Você criou Diana como nenhuma mulher seria capaz de fazer. – dizia, sentindo as lágrimas dela sobre seu ombro, e seus soluços e a respiração pesada estremecer seu corpo. – Ela é incrivelmente madura e vai entender. Nada vai dar errado, fique tranqüila. Diana não pode te ver assim.
Gina levantou os olhos molhados e o fitou. Não poderia ter escutado melhores palavras. Talvez nem mesmo Arthur poderia tê-la abraçado daquela forma tão quente. Se pudesse, permaneceria entre aqueles braços por toda sua vida. Secou o rosto e sorriu para Draco. Ele pegou novamente a mão dela e deu um leve beijo.
- Você é a mulher mais forte e mais chorona que eu já vi, sabia? – indagou querendo descontrair um pouco. Ela riu. – Vamos?
- Vamos.
Subir aquelas escadas foi o caminho mais longo de todas as suas vidas. Não conseguiriam dizer quantas horas pareciam ter sido necessárias para chegarem até o hall do apartamento. Tocaram a campainha e Hermione apareceu. Entraram.
- Onde está Rony? – Gina, vendo que não havia ninguém ali, indagou à cunhada, que acabara de se sentar na cadeira com muita dificuldade e com a mão segurando a barriga, que a cada dia parecia maior.
- Ele preferiu não vir. – Ela olhou para Draco, evidenciando o motivo. O loiro revirou os olhos, pouco se importando, e voltou o olhar para um pequeno porta-retrato sobre a mesa ao lado, onde Gina estava muito pequena com os pais no jardim de uma casa onde Draco imaginou ser a tão famosa Toca dos Weasley.
- Diana está lá dentro terminando de se vestir. Ela está muito ansiosa.
- Nós também. – falou, com um sorriso nervoso, e escutou um barulho vindo do quarto. A porta se abriu e Diana apareceu, com um vestido azul e os cabelos divididos em duas tranças.
A menina correu ao ver o homem ao lado da mãe.
- Draco! – gritou ao pular no colo dele e abraçá-lo pelo pescoço.
- Minha princesa. – Ele também a abraçou forte, emocionado em pensar que logo não escutaria mais seu nome saindo da boca da menina, mas sim a palavra pai, a palavra que mais sonhava em ouvir. – Eu estava com saudades de você.
- Eu também. – falou rindo e foi se aninhar no colo da mãe, após beijá-la no rosto. – O que querem falar comigo?
- Antes vamos jantar. – Gina disse, e colocou a filha no chão. Levantou-se e se postou ao lado de Hermione. – Fique pra jantarmos juntos. – O convite soou mais como um pedido. Na verdade a ruiva sentia que precisava da presença da, mais que cunhada, amiga, para apoiá-la.
- Eu adoraria, mas Rony já deve estar me esperando lá embaixo e, além do mais, eu estou sobrando. – Deu um beijo na bochecha de Gina e outro no topo da cabeça da loirinha, que abraçava e acariciava a barriga da tia com muito carinho. – Amanhã conversamos. – Piscou para Gina e se encaminhou para porta.
- Até mais, Malfoy.
- Até, senhora Weasley. – Sorriu com um deboche quase imperceptível. Somente quem estudara com eles seria capaz de entender tal provocação tão sutil.
Assim que Hermione fechou a porta, Draco e Gina se viram numa situação muito desconfortável e estranha. Os três, sozinhos na casa, prestes a terem a conversa que mudaria o destino de suas vidas. A ruiva se apressou em dizer:
- Vou para a cozinha preparar algo. Quando estiver pronto chamo vocês. – Sorriu. A sensação de que estava falando aquilo para sua família lhe enchia de um sentimento inexplicavelmente bom. Saiu da sala.

Draco encarou a filha ao seu lado. Ela balançava as pernas nervosamente, num gesto muito parecido com o dele quando ficava nervoso. Encarou a própria perna. Riu a perceber que estava igual à dela. Diana mantinha os dedos na boca, roendo as unhas, sem esconder seu anseio. Ele ia dizer algo quando a menina se virou repentinamente na sua direção.
- Quer ver fotos? – Ela perguntou, e, ao vê-lo concordar com a cabeça, saltou do sofá e correu para o quarto. Alguns segundos depois apareceu na porta, somente com a cabeça para fora. – Vem cá. – Acenava em tom mandão, enquanto ria. Draco, obediente, levantou-se e a seguiu. Olhou para o quarto em volta, ao entrar. Estava igual ao dia em que Gina fora atropelada. Mas, naquele dia, não pôde reparar os detalhes. Encarou a penteadeira, e onde deveria ter coisas de cabelo e cosméticos, havia somente fotos em porta-retratos e trabalhos artesanais, que ele logo identificou como sendo feitos por Diana. Ele se aproximou, analisando cada objeto; em primeiro lugar as fotos. A maioria delas tinha os Weasley. Outras, também tinham Harry Potter e Hermione Granger, ou melhor, Hermione Weasley. Reconheceu outros rostos numa foto de Hogwarts. Uma garota loira e o menino que sempre andava com uma câmera fotográfica junto da ruiva, que parecia ter pouco mais de 15 anos. Não conseguia recordar seus nomes. Em algumas fotografias, Gina estava sozinha, em outras, Diana. Em geral todas passavam um ar muito familiar. Depois observou um porta-lápis vazio, um boneco feito de isopor com um grande chapéu e outras caixinhas pintadas a dedo. Todos ostentavam o nome de Diana Weasley.
- Draco, vem cá! – Ela exclamou ao chamar sua atenção e bater no colchão ao seu lado. O loiro se sentou ao ver um enorme álbum nas mãos dela, onde, na capa, também tinha o nome da criança. – Esse é o meu álbum que mamãe montou com todos os momentos mais importantes.
Logo na primeira foto, Draco arregalou os olhos, encantado. Era Gina com uma gigantesca barriga. Ela apenas acariciava a barriga, encarando-a, enquanto o vento balançava seus cabelos, que ali estavam na altura dos ombros. Ela estava belíssima no vestido branco, como uma ninfa. Diana virou novamente a página, onde estava a primeira foto dela, ainda recém-nascida com os olhos fechados. Diana riu, achando engraçada sua imagem de bebê. A cada foto que via, Draco sentia uma fagulha de emoção preencher sua alma. Ali viu todos os momentos em que deveria ter estado com a filha, mas não estivera. O primeiro dentinho, o primeiro passo, a primeira palavra, o primeiro dia da escola, as festas, suas apresentações. Até mesmo quando descobriu também ser uma bruxa ao pegar a varinha da mãe e pintar a casa de rosa. Ver aquelas fotos lhe trazia uma breve sensação de conhecimento e participação daqueles momentos, mas ao mesmo tempo que aquele vazio de curiosidade estava sendo preenchido, um enorme sentimento de remorso e angústia o invadia. Não havia estado lá. Jamais estivera em nenhum momento importante da vida de Diana. Sentiu seus olhos lacrimejarem, mas passou a mão rapidamente por eles. Não poderia chorar na frente da menina.
- Você me dá uma foto sua? – Ele pediu. – Pra quando estivermos longe e eu sentir saudades. – A menina riu e pegou um outro álbum pequeno, este com fotos suas mais recentes. Folheou, folheou e folheou até que viu a foto que procurava. Pegou-a e a entregou para Draco.
- É minha foto mais bonita. – dizia orgulhosa. – Vovô tirou nas últimas férias.
Draco encarou a fotografia. Diana parecia estar num jardim, com muitas árvores ao fundo. Ela sorria e fazia diversas poses, como uma modelo, depois parecia rir de si mesma.
- Obrigado. – agradeceu, e pôs a foto no bolso interno do paletó. – Você é muito especial, princesa. Não há nenhuma criança como você.
Ela parecia não saber o que dizer, sorrindo ligeiramente envergonhada. Apenas agarrou Draco com força em um abraço apertado. O loiro apoiou a cabeça sobre a dela e correspondeu ao abraço.
- Eu amo muito você, Draco.
Quando os dois se afastaram do abraço, se depararam com Gina na porta, observando a cena com os olhos vermelhos. Ela se recompôs da emoção e se aproximou.
- Vamos jantar? – perguntou e sorriu para Draco. Tudo estava dando certo até aquele momento.
Se não fosse por Diana, que contava sobre todas as suas “aventuras” no colégio, o jantar teria sido tão silencioso quanto um velório. Enquanto a menina tagarelava sobre qualquer coisa, Draco e Gina se mantinham tão rígidos quanto duas pedras. Estavam tão tensos. Às vezes seus olhares se cruzavam, mas logo um ou outro se apressava em desviar. Gina apenas se manifestou quando se levantou e foi pegar a sobremesa.
- Oba! Mousse de chocolate com amêndoas! – Diana exclamou, batendo palmas, quando a mãe pôs a bandeja sobre a mesa e se sentou. Virou-se para Draco. – Minha mãe cozinha muito bem. Ela faz cada coisa gostosa... Nos domingos, quando vamos pra casa da vovó, ela faz uma abóbora recheada com ros... ros... O que é mesmo, mamãe?
- Rosbife. – A ruiva respondeu rindo, enquanto servia Draco.
- Isso! Rosbife! Na última vez tio Rony comeu tanto que ficou passando mal. – Ela ria, lembrando-se da cara do tio. – Você tinha que ir um dia com a gente pra experimentar. Você vai gostar muito.
- Eu adoraria... – Ele concordou com um sorriso maroto, sem tirar os olhos sobre Gina, que sentiu seu rosto queimar.
- É. Mas agora vamos parar de falar e comer, não é? – Gina falou para a filha.
Quando terminaram de comer, Draco não deixou de elogiar o jantar. Gina agradeceu sem nem ao menos olhá-lo. Já estava constrangida o suficiente com toda aquela situação.
- Vocês não vão falar logo o que querem falar comigo, não? – Diana se apressou em falar, ficando impaciente.
- Bem, eu só vou tirar a mesa e vamos para a sala. – Gina falou, começando pegar os pratos. – Diana, me ajude que vamos mais rápido.
- Ah mamãe... pede para o Draco. Eu já volto. – Ela falou e deu as costas, indo em direção ao quarto.
- Diana! Volte aqui! – Gina ordenou séria, mas a menina já havia entrado no quarto. – Se eu pego essa menina... – disse ao insinuar ir atrás dela, mas Draco a impediu:
- Deixe-a. É só uma criança.
- Só fez isso porque você está aqui. – afirmou e voltou a recolher a louça. – Pode esperar no sofá que eu já vou.
- Eu te ajudo. – Ele falou e antes que Gina pudesse contestar ele começou a pegar os copos. – É rápido. Não se preocupe, não vou quebrar nada. – terminou rindo.
Gina também riu e foi para a cozinha, seguida por ele. Com a varinha, limpou e arrumou tudo rapidamente. O único problema foi ter que esbarrar tantas vezes nele, enquanto fechava as portas dos armários, já que a cozinha era pequena demais para que eles ficassem afastados. Ao terminarem, foram para a sala e viram Diana, sentada no sofá. Gina pediu que Draco se sentasse no sofá, ao lado da filha, e puxou uma cadeira e se sentou na frente dela. Respirou fundo e encarou Draco. Os dois permaneceram a se encarar por alguns segundos. Um buscando no outro as palavras certas para começar.
- Diana, – Gina começou ao se aproximar mais da filha e fitá-la profundamente nos olhos. – há muita coisa que você precisa saber sobre seu pai. Coisas que eu havia prometido contar no momento certo. – Suspirou novamente, como se dizer aquelas palavras exigisse um imenso esforço. Diana permaneceu encarando a mãe e depois, procurando algum esclarecimento, virou-se para Draco, mas este, com um olhar, pediu que ela prestasse atenção. Obediente, a menina voltou o olhar para a mulher à sua frente. – Há pouco tempo eu descobri que seu pai não morreu. Tudo não passou de um engano. Ele está vivo. – Ela terminou fungando, sentindo seus olhos lacrimejarem.
A criança arregalou os olhos após parar pensativa, jogando o corpo para trás, recostando-se no assento do sofá. Um enorme sorriso esperançoso se abriu em seu rosto. Draco, que mal conseguia se conter sentado ao lado dela, estalava os dedos das mãos e balançava as pernas nervosamente.
- Como você sabe, mamãe? Onde ele está? O que aconteceu com ele? – Perguntou a menina, que ainda achava aquilo meio inacreditável. Não viu os olhos de Draco gritando que ele estava ali, ao seu lado, e dali jamais sairia.
- Ele estava morando muito longe e veio para cá. Acabamos nos encontrando e eu contei para ele que nós tínhamos uma princesa linda. E ele ficou muito feliz. – Por mais que ela tentasse sorrir, as lágrimas teimavam em cair pelo seu rosto. Mal acreditava que estava conseguindo contar tudo aquilo.
- Quem é ele, mamãe?! Eu quero saber onde ele tá! Cadê ele?! Eu quero conhecer meu pai! – Alterando-se um pouco mais, a menina ficou de pé e apoiou as mãos sobre os joelhos de Gina. Sua expressão foi se tornando leve e seus olhos úmidos. – Eu quero conhecer meu pai, mamãe. – terminou num muxoxo, quase uma súplica. Gina fez com que ela se sentasse novamente.
- Você já o conhece, meu amor.
Olhando para Draco, a garotinha abriu um pequeno sorriso, mas logo em seguida sacudiu a cabeça, como se o que estava pensando fosse absurdamente inacreditável. Não poderia imaginar o pânico que aquele olhar desconfiado causara no homem. Gina se aproximou ainda mais da menina e a encarou profundamente, com um leve sorriso e olhar animador, apesar das lágrimas, percebendo que a filha já desconfiava do que estava acontecendo. Fez que sim com a cabeça e a menina novamente encarou Draco, agora com a expressão séria, incrédula. Olhou novamente para a mãe, querendo que ela falasse mais diretamente a verdade. O homem abaixou a cabeça e cruzou as mãos, implorando mentalmente para que tudo desse certo. Sentia-se como se estivesse na beira de um precipício, prestes a cair, e nada poderia segurá-lo. Tinha medo de abrir os olhos e encarar a filha.
- Meu amor, – Gina começou, passando a mão pelos olhos molhados, a voz sendo sufocada pela ânsia de chorar. – Draco Malfoy é o seu pai. – terminou, levando a mão à boca, sem controlar o choro. Agora sim tudo estava feito.

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