Intervenção a la Weasley
Durante o café-da-manhã daquele dia, Gina observava Diana de maneira particularmente especial. Os gestos doces e infantis da filha lhe traziam uma incrível paz. Diana era a razão de sua vida. Jamais permitiria que algo lhe fizesse mal ou a machucasse. Perguntou-se como deveria contar para ela sobre o pai sem provocar uma reação ruim. Não sabia ao certo. Chamou, então, a pequena loirinha e pediu que se sentasse em seu colo. Sem pensar duas vezes, a menina obedeceu.
- Querida, – começou, enquanto acariciava com carinho os cabelos dela. – você gostaria de ter um pai?
Diana a encarou desconfiada, com a testa franzida. Parou pensativa durante alguns segundos.
- Eu não quero que tio Harry seja meu pai... – disse num muxoxo a apoiou a cabeça sobre o peito da mãe.
- Não! Lógico que não. – Riu, vendo que ela concluíra algo equivocado. – Harry é e sempre será apenas seu tio. Mas você se lembra de que uma vez eu te prometi contar sobre o que aconteceu com seu pai?
- Sim. – Continuou de cabeça baixa, segurando uma das mãos de Gina. – Mas não quero que você fale disso.
- Por que, meu amor? – perguntou confusa ao levantar o rosto da filha pelo queixo e a fitar.
- Você sempre chora quando fala dele e eu não quero ver você chorar. Quando você chora, eu sinto uma coisa ruim bem aqui. – Ela explicou e pôs a mão sobre o próprio coração. Os olhos de Gina se encheram de lágrimas.
- Ah querida... Amo tanto você. – A mulher envolveu a criança entre seus braços e a abraçou forte. Não poderia ouvir algo mais sereno e que a emocionasse tanto. – Prometo não chorar mais. Antes eu ficava triste, mas agora é diferente.
- Que bom... – Sorriu de maneira um tanto tímida. – Se é assim, pode falar.
- E eu vou. – Levou a mão ao rosto, secando as lágrimas abaixo dos olhos. – Não hoje, mas em breve. Você é uma menina muito esperta e acho que já tem cabecinha para entender.
- Ok! – concordou, abrindo um sorriso, orgulhosa pelos elogios e entusiasmada com a idéia de saber tudo sobre seu pai e o que havia acontecido com ele.
Naquele momento, vendo os olhos esperançosos e o sorriso confiante da menina, Gina teve a certeza de que poderia contar sobre Draco. Deu um beijo no topo da cabeça dela e a pôs no chão.
- Agora vai se arrumar.
- Mas hoje é sábado, mamãe.
- Eu sei. Vamos à casa dos seus avós. – disse sorrindo.
A menina deu um pulo contente e correu para o quarto no intuito de se arrumar. Sempre era uma alegria ir à casa dos avós.
- Diana! Gina! – Molly gritou ao vê-las aparecer na sala repentinamente. Levantou-se da poltrona onde estava sentada ao lado de Arthur e correu até elas. Abraçou-as com força e as encheu de beijos carinhosos. – Eu estava com saudades.
- Eu também, mamãe. – Gina falou com um sorriso um tanto melancólico.
- Vovô! – Diana correu até ele e pulou em seu colo. – Vamos brincar de caçadores hoje?
- O que você quiser, anjinho. – concordou dando um cafuné na pequena. Quando foi que alguma vez conseguiu dizer não para a neta?
- Olá, papai. – Gina deu-lhe um beijo estalado na bochecha ao se aproximar. – Como o senhor está?
- Ótimo, ótimo... – Colocou a netinha no chão e se levantou devagar. – Só aquela dor nas costas que sempre volta. E você, Gina? Como está?
- Precisando conversar. – afirmou meio triste e abraçou o pai como se fosse uma criança procurando por amparo. – Eu estou...
- Veja quem está aqui! – Gui gritou ao descer as escadas e ver a sobrinha, que, logo que o viu, correu e saltou em seu colo. – A minha sobrinha preferida...
- Tio... – começou com os olhos arregalados, como se aquilo fosse errado. Balançou a cabeça negativamente como Gina fazia quando ela aprontava alguma arte. – E o Josh?
- Ele é meu sobrinho preferido. – falou e ela, satisfeita com a resposta, abriu um enorme sorriso e beijou o tio, que depois a pôs no chão.
- Gui! Não sabia que você estava aqui. – Gina foi até ele e o abraçou. Havia muito tempo que não via o irmão. – E Fleur?
- Não pôde vir. Arnon não estava se sentindo bem e ela preferiu ficar em casa com ele. Eu só vim trazer uns ovos para mamãe e logo vou voltar. Não quero deixá-los sozinhos.
- Você está certo. – disse admirada em ver como o irmão assumiu uma incrível responsabilidade depois que o filho nasceu. Era, sem dúvidas, um impecável pai de família.
- Mas foi ótimo te encontrar aqui. Nós temos muito o que conversar, não acha? – falou ao dobrar os braços e fitá-la de maneira séria, uma sobrancelha erguida, deixando claro que já sabia de tudo.
- Nada que você não saiba. – Não escondeu o certo desconforto e aborrecimento, e lhe deu as costas. Conhecia o irmão e sabia que se tivesse aquela conversa com ele, não seria das mais agradáveis.
Gina foi até a filha, que estava próxima demais para que eles pudessem comentar qualquer coisa.
- Por que você não vai procurar um gnomo para brincar? – indagou ao se abaixar na altura dela. Sorria como se estivesse falando da brincadeira mais divertida do mundo. Diana a fitou com um sorriso debochado no rosto, deixando claro que ela não era boba para ser enganada. Gina pôde ver Draco na sua frente.
- Eles são muito mal-humorados.
- Você pode correr atrás deles e depois fazer cócegas! Aposto que eles vão perder a pose.
A menina ficou quieta por uns segundos refletindo sobre aquilo, depois deixou escapar um sorriso e, mal respondendo, correu para os jardins. Gina, rindo, voltou-se para onde os pais e o irmão estavam.
Arthur se sentou em uma poltrona e Molly em outra, ao seu lado. Já Gui preferiu se sentar no braço da poltrona onde a mãe estava. Gina se sentiu como em um tribunal, de frente a três juízes, onde seria interrogada e julgada. Sentou-se no sofá e respirou fundo, vendo os olhos indagadores deles sobre ela. Tinha que dizer logo.
- Decidi contar a verdade sobre Draco para Diana.
- O quê?! – Molly e Gui indagaram em uníssono, boquiabertos. Arthur permaneceu fitando a filha, não parecia estar surpreso com aquela notícia.
- Gina, você não pode fazer isso. Deixar esse homem se aproximar ainda mais é um absurdo! Já não basta você permitir que ele saia com ela? – Gui contestava furioso.
- Como você se sentiria se Arnon não soubesse que você é pai dele? Mesmo convivendo com ele, não desejaria que seu filho soubesse da verdade? – Arthur perguntou ao filho, ainda muito sério, com um jeito muito parecido com o de Dumbledore, como Gina mesmo pensou.
Gui preferiu não responder, mas, pelo seu silêncio, Arthur parecia ter conseguido o que queria.
- Gina, querida, se afaste dele. – Molly começou em tom de súplica. – Volte para cá, pro seu mundo! Você pode morar conosco, seu pai consegue um trabalho para você, mas fique longe dele!
- Mamãe, por mais que fosse maravilhoso, eu não posso fazer isso com Draco. Ele ama Diana, e ela sente o mesmo.
- Você não pode fazer isso com aquele safado do Malfoy? – O irmão indagou inconformado, ficando imediatamente de pé. – Como você pode pensar nele depois de tudo? Ele te abandonou!
- Cale a boca, Guilherme! – Arthur ordenou, sabendo que aquele comentário poderia magoar Gina e abrir velhas feridas. E, ao olhar para ela e ver a maneira com que ela abaixou o olhar, percebeu que estava acerto. – Não importa o que aconteceu com Gina e Draco Malfoy. O fato é que Diana precisa sim de um pai. Se ela pode tê-lo e ele está disposto a ficar perto, por que não? A menina é muito pequena e precisa da influência de uma figura paterna. Por mais que Rony e todos nós tenhamos ajudado durante estes anos, não é a mesma coisa.
- Mas e Harry? Ele é ótimo, e adora Diana. Se ao menos Gina se casasse...
- Não!! – Gina gritou, levantando-se, ao ver o rumo nada agradável que aquela conversa tomara. – Harry jamais vai tomar o lugar de pai na vida de Diana, jamais! Ele é meu namorado sim, mas é só. Eu não vou tirar a chance de minha filha ter um pai que ela ama. – Aproximou-se mais. – Poxa, eu vim atrás de apoio e a única coisas que vocês fazem é me confundir!?
Deu as costas para eles e foi em direção à varanda, batendo a porta com força. Sentou-se no banquinho de madeira. Abraçou as pernas e apoiou a cabeça sobre os joelhos juntos. Sentiu que começaria a chorar. Naquele momento apenas precisava de alguém que a amparasse. Só precisava escutar que estava tomando a decisão certa para que aquele terrível receio a deixasse em paz. De repente, sentiu uma mão acariciar levemente seus cabelos. Sabia quem era. O homem que sempre a entenderia e a apoiaria. Levantou o rosto e encontrou o sorriso animador e o olhar acolhedor do pai, que se sentou ao seu lado. Como uma criança, modo que sempre se sentia ao ficar com o pai, deitou com a cabeça apoiada sobre as pernas dele.
- Lembra-se de nossa última conversa aqui? – Ele perguntou ao ver Diana passar por ali, correndo atrás de um gnomo, que fugia muito aborrecido da menina que só desejava brincar. – Acontecia uma cena muito parecida com esta.
- Sim. – Riu ao também ver a filha. – Não imaginávamos que tudo isso pudesse acontecer, não é?
- Com certeza. – Fez com que a ruiva se levantasse e o encarasse. – Mas aconteceu e não há nada que possa ser feito. O que lhe resta agora é ser muito sábia e forte. Afinal, a felicidade e o futuro de sua filha estão em jogo.
- Eu sei, papai, mas não está sendo fácil.
- Gina, eu já vivi muito e conheço você. Se fosse apenas decidir o melhor para sua filha seria mais fácil. Você apenas agiria com a razão, como sempre fez até agora. Mas o problema é que você ainda ama esse rapaz.
A ruiva pensou em negar, inventar qualquer desculpa que pudesse desmentir aquela afirmação, mas Arthur não permitiu que ela dissesse nada.
- Quer mentir para mim? Sabe que não consegue. – Sorriu, deixando claro que ela sempre poderia ser sincera com ele, e ela sabia disso.
- Amo. Infelizmente ainda amo. – confessou, de cabeça baixa, envergonhada de tal sentimento, a voz desanimada. O pai segurou sua mão.
- Por que está com Harry então?
- Eu não sei ao certo. Queria esquecer Draco, mas não consigo. Além do mais, Harry gosta de mim
- E Draco Malfoy, não?
Gina o encarou, aturdida, sem saber o que dizer perante aquela pergunta inesperada. Nem ela sabia aquilo ao certo.
- Ele está com outra mulher. – disse a única coisa que lhe veio em mente. Assumir aquilo lhe fazia embrulhar o estômago.
- Isso não responde à minha pergunta. Você está com Harry e gosta de outro.
Ela não pôde negar: o pai estava certo. E se o mesmo que acontecia com Gina acontecesse com Draco? Repreendeu-se de imediato. Não queria se iludir. No fundo, sabia que os dois jamais ficariam juntos.
Viram Diana novamente passar por ali correndo entre risos, só que agora fugindo do gnomo que, pelo seu sorriso, parecia ter aceitado brincar.
- Não sabemos como falar para ela. – Gina recomeçou séria, após rir ao ver a conquista da filha. – Tenho medo de como ela pode reagir. E se ficar com raiva de mim ou dele?
- Diana é uma criança maravilhosa. Doce como você, esperta como o pai e compreensiva como o avô. – afirmou, com um sorriso orgulhoso em saber que a neta tinha traço seus. A ruiva sorriu. – Tudo vai dar certo.
Após uma longa conversa com o pai, Gina se sentiu mais reconfortada e confiante em sua decisão. Somente ele parecia ter sabedoria o suficiente para não deixar que o passado interferisse nas decisões do futuro. Somente ele para abraçá-la tão reconfortantemente e dizer que não importava o caminho que ela seguisse, ele estaria ao seu lado e a ajudaria em tudo.
A noite começava a se aproximar quando eles entraram. Molly e Gui, que estavam na sala, a encararam ligeiramente envergonhados. Sabiam que haviam sido muito duros com ela. A ruiva percebeu o constrangimento deles e sorriu como se dissessem que tudo estava bem. Sentou-se ao lado da mãe, como Gui estava antes.
- Sabe que pode contar conosco, não é? – O irmão começou, ao segurar a mão dela e dar um leve beijinho de desculpas.
- Vocês são minha família. Entendo que se preocupem, mas não há razão pra isso. Sei o que estou fazendo e sei o que é melhor para minha filha. – terminou e olhou para o pai, que lhe sorriu de forma incentivadora.
Gina acordou naquela manhã de segunda-feira muito revigorada, após descansar tranqüilamente durante todo o fim de semana que passara na casa dos pais. Aqueles dois dias haviam sido maravilhosos. Encontrara quase todos os irmãos no domingo, com exceção de Percy que estava viajando à trabalho. Só achou estranho quando seu pai saiu pela manhã e voltou um tanto misterioso, sem dizer o que tinha ido pegar no ministério. Mas ninguém se interessou em perguntar. Imaginaram ser algo do trabalho.
Como toda manhã, Rony a deixou na empresa e foi para a escola das crianças. Ela cumprimentou todos que estavam ali perto da recepção, incluindo Dany e Mary, e foi pegar o elevador. Percebeu que o amigos estavam um tanto distantes, mas ela havia começado aquilo. Logo conversaria com eles, mas não agora. Ainda não era o momento. Tinha muita coisa na cabeça. Quando chegou ao último andar e a porta do elevador se abriu, viu que Draco já havia chegado, pois a porta estava aberta e escutou a voz dele vindo de dentro de sua sala. Ele dizia algo que ela não conseguiu entender. Então, aproximou-se mais da porta e colocou a cabeça entre a fresta, ainda com o corpo para fora da sala. Viu o homem em pé, ao lado de sua mesa, virado para a janela. Ele falava ao telefone celular.
- Não sei se hoje eu posso... Eu tenho muito a fazer, Susan... Te aviso se eu resolver alguma coisa... De qualquer forma podemos jantar hoje se quiser... Está bem... Te ligo então. – Ele desligou e jogou o aparelho sobre a mesa. Continuou a fitar a paisagem pela janela. Gina voltou para sua mesa. Se havia acordado com algum tipo de ânimo especial, aquele sentimento havia escoado pela sala naquele mesmo momento. Sentou e levou despropositadamente o olhar à foto da filha. Suspirou e pegou a agenda de Draco. Ia abri-la quando sentiu a presença dele. Levantou a cabeça rapidamente e o viu sair da sala e caminhar lentamente até sua mesa.
- Bom dia. – Ela falou ao voltar o olhar para a agenda.
- Bom dia. – respondeu após uma leve tossida para que a voz saísse melhor. Colocou as mãos no bolso. – Você pode ver se eu tenho algo para a tarde?
Gina, a muito contra gosto, abriu a agenda naquele dia e, para seu desespero emocional, viu que não havia compromisso algum. Sentiu vontade de inventar qualquer reunião, mas não seria capaz de mentir tão descaradamente na frente dele.
- Não, senhor. – Sua voz não passou de um sussurro.
- Ótimo, e para antes?
- Nada em especial. Só tem que dar uma olhada nos novos contratos e marcar a reunião com a Seilansys.
- É verdade, havia me esquecido... – Levou a mão à cabeça. Esteve pensando tanto em outras coisas que acabara se esquecendo da reunião que deveria ser marcada para que pudesse resolver logo a questão da sociedade. – Marque a reunião para qualquer dia e traga os papéis até minha sala, ok?
- Lógico... – concordou, como se não houvesse outra escolha. Não conseguia disfarçar o desânimo.
Levantou-se, pegou tudo e o seguiu até a sala. Indo atrás dele, pôde sentir o cheiro de seu perfume que ficava pelo ar. Sorriu, sem que ele visse, ao reconhecer aquele mesmo perfume da época de Hogwarts, o mesmo que sentira ao dançar com ele no baile.
Depois que a ruiva saiu de sua sala, Draco deu um longo suspiro aliviado. Era cada vez mais difícil se manter longe dela. Como ela conseguia ficar ainda mais linda a cada dia? Sabia que Susan, que tentava fazer de tudo para conquistá-lo de verdade, jamais chegaria aos pés de Gina, nem na beleza e nem na doçura. Os olhos jamais seriam tão meigos e o sorriso tão puro. Ela jamais teria a garra de mulher e jeito de menina que somente a ruiva tinha. No entanto, não adiantava pensar naquilo agora. Estava com Susan e a situação não mudaria se dependesse de Gina. Ela não o queria e aquilo era um fato. Pelo menos era o que pensava. Só se perguntava por quanto tempo conseguiria ficar com Susan, tendo Gina na cabeça. Começou a ler os contratos, mas sempre ao chegar na segunda linha, voltava para a primeira, sem saber o que havia acabado de ler. Repreendeu-se. Tinha que se concentrar mais no trabalho. Deu uma longa respirada, virou a cabeça para um lado e depois para o outro, estalando o pescoço. Aquilo sempre o ajudava. Esticou a coluna e ajeitou a postura na cadeira. Recomeçou a ler. De repente, escutou um estranho barulho vindo do canto da sala, perto do sofá. Ergueu a cabeça assustado e viu uma sombra envolta a uma estranha fumaça. Levantou-se da cadeira rapidamente e foi se aproximando muito receoso. Ao chegar mais perto, arregalou os olhos. Não acreditou. Piscou algumas vezes para confirmar se o que estava passando em sua mente era verdade. Só quando escutou a voz do homem à sua frente se deu conta de que aquilo não era fruto da sua imaginação e cansaço mental.
- Vejo que mudou muito, rapaz. – Arthur disse, encarando-o com um sorriso quase imperceptível no rosto e dando um passo em sua direção.
Draco permaneceu alguns segundos sem dizer nada. Apenas mirava o homem. Como um filme em sua mente, toda a guerra e suas cenas pavorosas passaram por sua cabeça, como por exemplo, a última batalha que enfrentou, quando abaixou a varinha antes apontada para Arthur Weasley e logo foi acertado por um feitiço pelas costas. Contorceu o rosto, podendo sentir a mesma dor daquele dia. Podia se lembrar perfeitamente dos olhos e da maneira que Arthur o encarava em meio ao campo de batalha. Um misto de raiva e piedade que ele não conseguia entender. Talvez por já ter conhecimento do caso que ele tivera com Gina. Saindo de seu devaneio, chegou mais perto dele.
- Arthur Weasley... – falou apenas deixando escapar um pensamento. Não conseguia acreditar ainda. – É você mesmo?
- Eu acho que sim. – Riu, percebendo que o loiro permanecia pasmo. – Não me olhe assim, não sou um fantasma. Eu estou bem vivo e você?
- Eu acho que sim... Mas o que faz aqui?
- Precisava conversar com você.
Na hora que Draco ia dizer algo, escutaram-se batidas na porta.
- Posso entrar? – Gina perguntou do outro lado.
O loiro ia dizer que sim quando Arthur, exasperado, levou a mão à boca, pedindo para que ele não falasse. Ele entendeu logo que o homem não queria que Gina soubesse que ele estava ali. Achou muito estranho, mas não perguntaria o motivo ali.
- Só um momento! – Draco gritou e voltou-se para Arthur. – Não podemos conversar aqui, então. Podemos ir para um outro lugar, não sei...
- Pode ser, pode ser... – Interrompeu-o, nervoso. – Mas Gina não pode me ver.
- Fique aqui. – Draco o levou para um canto na sala, longe da porta, e foi até lá. Abriu-a sem deixar espaço para Gina passar. Ela o encarou, estranhando a atitude dele. – Pois não.
- Trouxe este fax urgente, que acabou de chegar, para o senhor ver. O contador ligou e disse que houve problema no fechamento de uma das filiais. Ele pediu para que o senhor revisassse os extratos do mês anterior e entrasse em contato o mais depressa possível.
- Está bem. – Ele arrancou os papéis da mão dela e ia fechar a porta, mas percebeu que não poderia se comportar daquela forma tão estranha se seu objetivo fosse justamente o de disfarçar. Teve uma idéia, então. – Já não está na hora do seu almoço? – perguntou a mulher.
- Ainda falta uma hora. – A ruiva arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços, com o ar muito desconfiado.
- Pode ir mais cedo. – Abriu um sorriso amarelo e Gina, que não estava gostando nada daquilo, fechou a cara.
- Um compromisso, não é? – falou, lembrando-se do telefonema que escutara pela manhã.
- Não, na verdade tenho! Não um compromisso... – balbuciava sem encontrar a palavra certa. – Um imprevisto! Isso, um imprevisto. Tenho que ficar e resolver algumas coisas aqui.
- Está bem. – Não parecia ter acreditado naquilo, mas não contestou. Em sua mente aquilo estava relacionado a Susan, e ele parecia não querer dizer. – Até mais tarde, então.
O homem a fitou com um pequeno sorriso e fechou a porta logo após vê-la pegar a bolsa e entrar no elevador.
- Ela percebeu que tem algo errado. – Draco falou ao se aproxima de Arthur.
- Não importa, desde que ela não saiba que estou aqui. Vamos aparatar para onde?
- Aparatar? – Draco indagou com os olhos arregalados. Balançou a cabeça negativamente. – Não, não... Eu não conheço muitos lugares desertos aqui para onde podemos aparatar. Não seria muito bom aparecermos do nada no meio da rua. Além do mais, tem muito tempo que não faço magia. Pode acontecer algum acidente e eu preciso de todos os meus membros e minha cabeça juntos do corpo.
Arthur o encarou com um pequeno sorriso irônico, quase debochado.
- Será que você ainda é um bruxo? – perguntou, provocando-o.
- É lógico que sou! – afirmou sentido-se indignado, quase ultrajado. – Um puro sangue, caso o senhor não se lembre.
- Um puro sangue Malfoy, dono de uma empresa trouxa, se locomovendo como trouxa, usando roupas trouxas, vivendo como trouxa. Tem certeza que ainda é um Malfoy?
- Vamos conversar ou não? – Tratou de mudar logo de assunto, sabendo que Arthur já tinha a resposta. Não podia discordar, ele estava completamente certo. Havia mudado completamente seu estilo de vida e deixado qualquer tradição que seu nome trazia para trás. Fato que, de qualquer forma, não o incomodava.
- Vamos como então?
- Pelo elevador...
- Elevador? Ah... esperava algo diferente... – Arthur começou num muxoxo e Draco revirou os olhos. Era só o que lhe faltava: um Weasley com cara de pidão. Sabia da paixão que o homem tinha pelo mundo trouxa. Então teve uma idéia.
O dono da empresa não conseguiu conter o riso ao ver como Arthur parecia empolgado e animado ao entrar no elevador panorâmico. Também pudera, o bruxo jamais havia estado em algo parecido. Ainda no último andar do edifício, pediu para que Draco parasse o elevador. Ele não entendeu, mas obedeceu. Vendo então a cara com quem Arthur encarava a paisagem, entendeu. Realmente ele deveria estar encantado. Dali podia-se ver grande parte da cidade, com suas praças e construções. Mas, o que mais chamava a atenção do bruxo ruivo era o aeroporto mais ao longe. Naquele momento dois aviões levantavam vôo.
- É perfeito! Como os trouxas conseguem? – Arthur exclamava com o rosto encostado no vidro esverdeado. Somente quando Draco alertou a ele de que não poderiam demorar, foi que Arthur desviou o olhar do cenário e desceram. Quando chegaram no estacionamento, Draco olhou rapidamente em volta e, para seu desconforto, viu que havia muitas pessoas ali. Agarrou Arthur pelo braço e o puxou apressado para o carro. Em menos de um minuto já estavam fora do prédio, na estrada principal. Não queria encarar os olhares indagadores e questionadores das pessoas que viam o bruxo ruivo.
- Poderia ter colocado uma roupa mais discreta, não acha? – O loiro reclamava aborrecido e Arthur fingiu não escutar. – Vamos para onde?
- Qualquer lugar onde possamos conversar sossegados.
Draco o olhou de esguelha, mantendo a direção do carro, muito suspeito. Perguntava-se o que o pai de Gina poderia querer com ele. Com certeza não seria uma coisa boa.
- Já sei onde. – falou, depois de pensar por alguns segundos, lembrando-se do lugar ideal, que naquela hora com certeza estaria praticamente vazio.
Parou o carro perto do parque do bairro e estacionou. Acompanhou o Sr. Weasley até o banco mais isolado, onde vira Diana pela primeira vez. Jamais se esqueceria daquele momento. Sentaram-se.
- E então... – Draco logo começou, a fim de resolver aquilo de uma vez. Também não agüentava de curiosidade. Queria saber o que levara Arthur Weasley até ali.
- Gina nos contou que vão falar a verdade para Diana.
- É sim... – Revirou os olhos imaginando que começaria a escutar um sermão, mas não se surpreendeu. Não poderia ser nada muito diferente daquilo. – E, por favor, não diga que veio me ameaçar para me afastar delas porque, se for isso, eu sinto muito, mas...
- Jamais faria isso.
Draco se calou ao escutá-lo. Lançou-lhe um olhar desconfiado e confuso. Maneou a cabeça, mostrando que não estava entendendo o sentido daquilo então.
- Creio que você não sabia o que fazer.
- É... – confessou, sem coragem de olhá-lo nos olhos. Sentiu-se como um adolescente inseguro confessando seu medo. Poderia ter dito qualquer coisa e até mesmo ter sido ignorante com o avô de sua filha, mas não conseguiu. Uma sensação estranha que ele não saberia explicar o impediu.
- Eu imaginei que você não tivesse com quem conversar sobre isso. Não quero me intrometer, mas Diana é minha neta e quero ajudar.
- E quem disse que eu preciso de ajuda? – O orgulho saltou-lhe da boca, rispidamente.
- Ninguém. Eu apenas pensei nisso, mas, vendo você agora, confirmei o que eu suspeitava.
Draco encarou-o enraivecido, mas depois sua expressão foi se abrandando.
- Eu nunca fui pai. Só não sei o que dizer, não é um crime. – Com a postura rígida, tentava ao máximo mostra-se seguro de si.
- Eu sei. – Arthur afirmou e, durante alguns segundos, calou-se, pensando no que dizer para mostrar ao rapaz que estava ali para ajudar. Tinha que encontrar uma forma de derrubar aquela barreira de altivez que Draco teimava em impor. – Mas sabe de uma coisa? Diana adora você. – Draco voltou os olhos, que antes se perdiam em meio às árvores, para o homem ao seu lado, ao escutar o que ele acabara de dizer. – Nesse fim de semana ela não parou de falar de você e dos passeios que vocês dão. Ela fica tão alegre. Pode ter certeza de que a menina vai ficar muito feliz ao saber de você. Tem certas coisas que não precisam ser explicadas agora, ela ainda é muito pequena e a única coisa que conseguiriam seria confundir a cabeça dela.
Draco apenas o fitava, escutando tudo que aquele homem falava, com uma incrível atenção. A cada palavra, cada conselho, ele concordava e entendia. No começo, sentiu-se ligeiramente incomodado por ter alguém se intrometendo na sua vida, mas, no final não podia negar, o homem estava certo em tudo que dissera. E aqueles conselhos o haviam ajudado muito. Não sabia o que dizer e o que o tinha levado a aceitar tudo aquilo. Havia acabado de ter uma conversa que deveria ser comum somente entre pais e filhos. Achou extremamente estranha aquela imagem. Queria agradecer, mas não sabia como fazê-lo.
- Por que o senhor está falando isso para mim e não para Gina, que é sua filha? – Seu tom de voz estava muito mais brando do que no começo da conversa.
- Achei que você precisava mais. E também entendo melhor do que é ser pai do que ser mãe.
Os dois riram. Draco o olhou de uma maneira diferente de todas. Um olhar respeitoso e admirado. Viu naquele homem uma figura que jamais havia visto em toda a sua vida: a de um pai conselheiro e companheiro, e não dominador e arrogante.
- Não sei como dizer isso, – começou com as palavras soltas, gesticulando com as mãos nervosamente, pois realmente não sabia como fazer aquilo – mas agradeço. Muito mesmo. Só não consigo entender por que se preocupa comigo depois de tudo que eu fiz.
- Eu não sou ninguém para julgar você, rapaz. Você não me matou naquele maldito dia, mesmo sendo seu dever, e sei as conseqüências dessa escolha. Agora eu lhe pergunto, por que não me matou?
- Eu não sei... só não consegui. – Manteve a cabeça baixa, permitindo se perder nas más lembranças naquele dia. – O senhor nunca tinha feito nada pra mim e, mais do que isso, era pai de Gina. Não poderia matar o pai da mulher que amo.
- Matar o pai da mulher que ama... – repetiu, como se estivesse refletindo sobre aquela frase. Um pequeno sorriso se formou em seus lábios. Um sorriso incrivelmente satisfeito e aliviado.
Draco, distraído e absorto, não percebeu que sua desatenção havia feito com que da sua boca saísse palavras sinceras demais para aquele momento.
- Tenho que ir embora. – Arthur se levantou do banco e parou em frente ao loiro, que levantou a cabeça para fitá-lo. – Sabe o que Diana me revelou nesse fim de semana? – Draco balançou a cabeça negativamente. Como poderia sabê-lo? – Que antes seu maior sonho era saber o que havia acontecido com seu pai, mas isso mudou. Agora, o maior sonho dela é que você se casasse com Gina.
Draco, estarrecido, deixou fluir dos lábios um sorriso sonhador. Não sabia nem o que pensar. Não poderia escutar algo melhor. Sentiu seu coração ser envolvido por uma emoção muito feliz.
- Garoto, corra atrás do que você quer. – Arthur recomeçou. – Não desista tão facilmente das coisas. Na minha vida eu já vi o orgulho destruir muitas pessoas, mas, pior do que destruir uma vida, o orgulho destrói o amor. E isso é muito triste.
O loiro escutou e virou o rosto para que Arthur não visse sua feição desorientada. Parecia tão fácil ao ouvir, mas ele sabia muito bem que não seria. Levantou-se para falar com o homem quando o viu lhe lançar um sorriso e desaparecer perante seus olhos.
- Aparatou... – concluiu ao suspirar aborrecido e se sentar novamente. Desejava continuar aquela conversa. Talvez assim conseguisse ganhar algum tipo de encorajamento para tentar novamente uma aproximação com Gina. Mas aquilo não aconteceria.
Pegou seu carro e pensou em ir para o hotel, a fim de ficar somente com seus pensamentos, mas não seria possível. Tinha muita coisa a ser resolvida na empresa ainda e não podia mais deixar tanto seu trabalho de lado, arriscando-se a perder tudo o que levou anos para construir, mesmo que, no fundo, tudo aquilo não importasse muito. No caminho, já próximo à empresa, viu um homem caminhando alegremente pela rua com quem parecia ser sua esposa e seu filho. Pelas roupas que usavam, não pareciam ser ricos, mas aparentavam ser tão felizes. Draco sentiu a inveja corroê-lo. Pode se ver com Gina e Diana, vivendo a mesma cena. Era a única coisa que desejava. Sentir-se-ia a pessoa mais completa do mundo. Mas a certeza de que aquilo era somente um sonho o fez se encher de desânimo.
Quando o elevador parou e a porta se abriu, Draco colocou somente a cabeça para fora e viu Gina sentada em sua mesa. Enfiou a mão nos bolsos, pôs uma postura reta e uma expressão segura. Em passos firmes, foi até ela.
- Então, marcou a reunião? – perguntou, ao passar a mão rapidamente pela nuca e colocá-la novamente no bolso.
- Sim. – Mal levantou a cabeça para olhá-lo, e continuou a escrever. – E o senhor conseguiu resolver o imprevisto pelo qual tinha que ficar aqui? – perguntou num tom quase venenoso, trancando os dentes, sabendo que Draco não estava vendo.
Ele abriu a boca para perguntar de qual imprevisto ela estava falando quando se lembrou do que havia dito para ela antes de sair com Arthur Weasley. Xingou-se, movendo apenas os lábios, pensando no que dizer. Havia dito que tinha que ficar e acabara de aparecer ali, vindo do elevador. Não tinha como tirar a imagem de mentiroso. Só lhe restava fingir que ignorava aquilo.
- Sim, e pra quando é a reunião? – Tratou logo em mudar de assunto.
- Amanhã, às onze da manhã. Eles virão aqui. – Levantou a cabeça, encarando-o muito séria. Enlaçou os dedos das mãos, apoiando os braços sobre a mesa. – Espero que o senhor não tenha nenhum imprevisto amanhã. – terminou com a voz carregada de sarcasmo. Draco sentiu vontade de rir. Ver Gina brava era, antes de tudo, muito divertido. Ainda mais quando ela agia de forma tão parecida com a dele.
- Acho que você está convivendo muito comigo. Está até sendo sarcástica. – disse, com um sorriso provocador e uma das sobrancelhas arqueadas. Ao vê-la abrir a boca para responder, virou-se e se encaminhou para sua sala.
Gina deu um soco na mesa quando o viu fechar a porta. Começou a enforcar um Draco imaginário, furiosa com ele. Mas, no final das contas, ela era a culpada por não conseguir controlar o ciúme que sentia.
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