Diversão e Desabafo



Draco e Diana chegaram no hotel um pouco antes do início da peça, mas muitas pessoas já tomavam seus lugares no local. O auditório estava decorado em tons azul e rosa, com detalhes infantis, mas tudo muito bonito e iluminado. Diana ficou encantada logo ao entrar. Nunca havia estado num lugar tão bonito. As fitas penduradas pelo lugar traziam ainda mais luz e brilho. Parecia um sonho ou um conto de fadas. Draco percebeu a reação da menina e ficou muito feliz. Era tudo o que queria: encantar a filha. Foram se sentar. Suas cadeiras eram muito próximas do palco. Diana parecia ansiosa, mas não conseguia tirar o sorriso do rosto.
- Gosta da Rapunzel? – Draco indagou à menina.
- Sim! Eu adoro todas as princesas. – respondeu ao ficar de joelhos no banco e de frente pra ele. Não conseguia ficar quieta. Draco teve a impressão de que algumas vezes ela parecia pular na cadeira.
- É por que você é uma. – disse e a menina o abraçou com força. Draco sentiu-se, de certa forma, emocionado. Emocionado e feliz. Sabia que a filha já gostava dele. Tudo pelo que estava passando estava valendo a pena. Diana ia dizer algo quando as luzes se apagaram. Surpresa, ela se sentou e encarou o palco. – Vai começar... – Ele afirmou para ela que, com um imenso sorriso e os olhos cintilantes, viu as cortinas se abrirem.
Draco, por um momento, ficou preocupado se aquilo a divertiria. Temeu ter escolhido mal o programa, mas ao ver como ela vibrava a cada cena tirou aquela idéia da cabeça. Algumas vezes ela chegou a saltar da cadeira ou apertar o braço dele quando algo ruim acontecia. Parecia estar participando ativamente da história.
Quase uma hora depois as cortinas se fecharam e os atores fizeram seus agradecimentos com reverências ao público, que bradava em aplausos. Todos começaram a se levantar e se dirigir à saída. Draco se virou para a filha.
- E então, gostou?
- Eu adorei! A princesa é a mais linda de todas!
- Gostaria de conhecê-la?
- Eu sei que ela não é de verdade, Draco. –A menina disse séria com um ar de sabida que não seria enganada por ninguém, lembrando muito sua tia Hermione.
- Claro que é! Eu mesmo a conheço. É uma princesa de verdade.
A menina o encarou, muito desconfiada. Não parecia acreditar que aquilo fosse possível. Um sorriso se abriu aos poucos.
- Sério?
- Sim. Só que é um segredo. Nem todo mundo pode saber. E então, quer conhecê-la?
Continuou a fitá-lo muito desconfiada. Pensou por alguns segundos.
- Eu quero! – afirmou com um imenso sorriso animado.
- Então vamos. – Ele também disse muito empolgado.
Pegou a filha pela mão e a levou até os camarins. Havia falado com Susan, a atriz principal da peça. Era uma antiga conhecida sua, com quem teve um pequeno caso quando ainda morava nos Estados Unidos. Pediu para que ela falasse com Diana. Ela logo concordou. Jamais negaria um pedido de Draco, como ela mesmo disse, mas depois indagou-se quem seria a tal criança. Não tivera conhecimento de que Draco se casou ou tivesse tido filhos. Estranhou, mas não se importou muito. Fosse o que fosse, ela ficara muito animada em ver o homem novamente.
Ao chegarem num corredor branco, dirigiram-se à última sala e bateram na porta. Escutaram uma voz de mulher pedir que entrassem. Draco entrou com a filha na frente, tapando seus olhos.
- Está pronta? – perguntou sentindo as pequenas mãos dela sobre as suas.
- Estou, estou! – Não conseguia conter a animação.
Draco vagarosamente tirou as mãos dos olhos da menina e ela viu logo à sua frente a princesa da peça. Sorriu e correu até ela. Encarou-a como se a mulher não fosse real.
- Olá Diana. – Susan, ainda com as roupas que usou durante a apresentação, dizia com a voz suave. Mantinha-se no seu papel. Fitou a menina com certo espanto. Sem dúvidas era filha de Draco. Eram os mesmos olhos, os mesmos cabelos, a mesma pele. A menina era idêntica a ele.
- Oi. Você é muito bonita... – falou encantada, sem ao menos piscar. – E não precisa se preocupar que eu não conto pra ninguém que você é princesa de verdade. – Diana disse inocentemente, comprometida a guardar o segredo. A atriz riu e encarou Draco, que estava perto da porta, também rindo.
- É legal ser princesa? – perguntou, muito interessada, ao se aproximar mais.
- Sim, mas você deve saber, não é? Afinal, seu pai me contou que você é uma princesa também. –Susan falou, abaixando-se na altura dela. Draco congelou. Não acreditou no que acabara de escutar. Como ela sabia daquilo?
- Meu pai? – A garota a encarou séria. O sorriso se desfez. Uma pequena tristeza invadiu seu semblante. – Meu pai já morreu...
- Mas Draco não é seu pai? – indagou ao apontar para o loiro, que fazia sinais exagerados de negação com as mãos. Ela estranhou. Diana olhou para trás. Ao ver que ela se referia a Draco, riu.
- Não. Ele é só meu amigo.
- Ah sim... – concordou, mas achou aquilo muito esquisito. Como ela não seria sua filha se era tão parecida? E por que Draco ficou tão nervoso? Preferiu ignorar. Depois esclareceria aquela história. – Bem, desculpe-me então. – Voltou à sua interpretação. Abriu um sorriso. – Mas, como eu disse, você também é uma princesa.
- Eu sou? – indagou com os olhos tão brilhantes quanto dois diamantes.
- É sim. E por isso tenho um presente pra você. Venha comigo. – falou ao pegar a mão da menina e levá-la até o espelho do camarim. Pegou uma caixa de veludo azul entregue por Draco quando se encontraram. Ele sorriu. – Isto é para você. – terminou e abriu.
Diana viu, hipnotizada, uma tiara como a usada pela princesa durante a peça. Não conseguia acreditar. Era como um sonho. Susan pegou-a e pôs sobre a cabeça da menina.
- Uma princesa tem que ter sua tiara. Veja como ficou. – disse e saiu da direção do espelho, onde Diana fitou, maravilhada, seu reflexo. Realmente parecia uma princesa. Colocou a mão nela. Não era igual à coroa de brinquedo que sua mãe comprara certa vez para ela brincar. Era uma tiara de verdade.
- Obrigada... – agradeceu sem tirar os olhos do espelho.
- De nada querida. Não quer ver meu guarda-roupa enquanto converso com seu pai por um instante? – perguntou ao mostrar para a menina um armário com o figurino usado nas apresentações, cheio de purpurina, pérolas e pedras brilhantes. A garota concordou.
Susan foi vagarosamente até Draco e o encarou muito séria. O olhar suspeito. Ele não gostou. Sabia que ela diria algo não muito bom.
- Draco, querido, me diga a verdade. Ela é sua filha, não é? – indagou com um sorriso de quem já sabia a resposta. O tom de voz normal, já sem interpretações.
- Sim, mas ela ainda não sabe. – falou um tanto contrariado. Não queria dizer a verdade, mas conhecia Susan há anos, e sabia que ela não era nem um pouco boba. Não adiantaria negar.
A mulher sorriu e parou pensativa durante um tempo. Espalmou suas mãos nas dele e encarou os dedos nos quais poderiam ter algum tipo de sinal de compromisso. Satisfeita, fitou-o.
- Mas, apesar da filha, você ainda está solteiro, não é?
Draco riu do tom malicioso que saía naturalmente da boca da mulher. Ela não mudara nada, continuava a mesma Susan maliciosa e astuta de sempre. Com a personalidade dela, achava extremamente irônico ela interpretar princesas de contos de fadas.
- O único compromisso que eu tenho é com minha filha.
- Bom saber... – Ia chegar mais perto para dizer algo quando Diana se aproximou deles.
- Seus vestidos são lindos. – afirmou ao parar encostada nas pernas de Draco, fazendo com que Susan se afastasse.
- Que bom que gostou. Quando crescer, eu posso te emprestar. – Voltou com a voz doce e inocente. Draco sentiu vontade de rir. De fato, ela era uma boa atriz.
- Bem, infelizmente temos que ir agora. – O homem pegou a menina no colo. – Vamos comer algo no coquetel e depois te levo para casa, princesa. Não queremos que sua mãe brigue com a gente por termos nos atrasado, não é? – Ela concordou de imediato. Realmente não queria que sua mãe brigasse com ela.
- Tchauzinho. – Diana acenou para a mulher.
- Tchau querida! – respondeu e lhe deu um beijo no topo de sua cabeça.
- Obrigado por tudo. – Draco disse à Susan que lhe correspondeu com uma piscadela.

Draco estacionou o carro em frente ao prédio de Gina e respirou fundo, com ar de satisfação. Passar aqueles momentos agradáveis com a filha o deixava muito bem. E, tinha certeza, havia conquistado a confiança e o carinho da menina. Em breve poderia contar para ela que era seu pai.
Diana, desde que entrara no carro, não parou nem sequer um minuto de comentar sobre a peça, sobre a princesa que lhe dera a corôa e sobre o coquetel no qual, ela mesmo afirmara, comera como nunca. Ainda estava elétrica com tudo.
- Vamos? – indagou ao abrir a porta do carro e virar-se para o banco de trás. Diana o encarava muito pensativa. Draco sorriu curioso.
- O que foi?
- Eu prefiro você Draco. – disse rindo ao abraçar o banco do motorista por trás, ficando próxima dele. Fitava-o nos olhos, como se estivesse analisando-o. Lembrava da, segundo ela, confusão que a “princesa” fizera ao achar que o homem a sua frente era seu pai.
- Como assim? – indagou ainda mais intrigado e confuso.
- Eu gosto do tio Harry, mas gosto mais de você. Seria legal se você fosse meu pai.
- Eu fico feliz em ouvir isso. – disse sorrindo. Não poderia ouvir algo melhor, mas continuou sem entender a razão de tal comentário. – Mas porque disse isso agora?
- Eu ia gostar mais que você namorasse com minha mãe, e não o tio Harry. Você é mais legal.
Draco fitou a menina, muito sério. Torceu para que tivesse escutado mal.
- Sua mãe está namorando com seu tio Harry? – perguntou tentando não parecer se importar com aquilo?
- É. Eles me contaram. Mas com você seria muito melhor.
- Eu concordo, meu amor. Comigo seria muito melhor.
Draco sentiu um misto de ódio, mágoa e ciúme lhe invadir e apagar toda a alegria que estava sentindo em ficar um pouco com a filha. Então os boatos que escutara na empresa eram verdadeiros. Gina estava com Harry Potter. Queria poder surrar aquele homem naquele momento mesmo e pensar o pior da ruiva, mas não poderia. Pelo menos o que tinha em mente em relação a ela. Sabia que se a mulher estava com Potter era por sua culpa. Ele praticamente a jogara nos braços dele. Não conseguia suportar a idéia de que estava perdendo completamente Gina. Viu a filha ainda o fitando. Ela parecia perceber que aquela notícia não o havia agradado. Uma indagação lhe veio na cabeça. E se Harry fosse morar com Gina? Não só assumiria lugar de marido como de padrasto de Diana. Não. Jamais permitiria aquilo.
- Vamos subir? – perguntou, tentando se recompor e colocar um sorriso no rosto.
Entraram no prédio e subiram em silêncio. A menina achou estranho o homem ficar tão sério de repente, mas não disse nada. A única coisa na qual pensava era chegar em casa e contar para a mãe que era uma princesa e como fora a peça.
Ao chegarem no andar, Diana correu até a porta do apartamento e tocou a campainha. Draco permaneceu ao seu lado. Segundos depois Gina abriu a porta. Deu um beijo na filha e encarou o loiro.
- Oi. – disse friamente. Ia fechar a porta logo atrás de Diana, mas a menina não deixou. Segurou a porta e puxou Draco pela mão.
- Vem Draco. – falou ao levá-lo para dentro e fechar a porta. Virou-se para a mãe. – Olha mãe. Sou uma princesa! – Apontou orgulhosa para a tiara que ostentava na cabeça.
- É linda, querida. – Gina comentou com um pequeno sorriso. Logo se voltou com o olhar sério para Draco. Segurou-se para não colocá-lo para fora. Não queria ele ali. Não naquela noite.
- Preciso conversar com você Gina. – Draco começou ao soltar a mão da menina e se aproximar da ruiva.
- Sobre o que Malfoy? Acho que não temos nada a tratar. – disse baixo, com o olhar duro. Não queria discutir com ele na frente da filha.
Draco ia começar a falar quando viu um homem sair da cozinha. Cerrou os punhos e tentou de todas as formas se controlar. Harry Potter.
- Gina, o jantar está pronto. Você vai... – De repente parou, pasmo, ao ver quem estava ao lado dela. – Draco Malfoy? O que faz aqui?
- Vocês se conhecem? – Diana indagou inocentemente animada, como se aquilo fosse algo bom.
- Sim. – Não tirou o olhar ameaçador de cima de Harry. – Estudamos juntos.
- Que legal! – disse sorrindo e voltou-se para a mãe, que estava extremamente tensa com a situação. – Mãe, não quero jantar. Tô muito cheia.
- Está bem querida. Vá tomar banho, escovar os dentes e depois se deite. Já já vou pro quarto e você me conta como foi o passeio, ok? – disse rapidamente para que a filha saísse da sala. Queria evitar que a menina visse qualquer briga, que não demoraria muito a começar, entre Draco e Harry.
- Tá. – Sorriu e foi até Draco. – Quando a gente se vê de novo?
- Quando eu tiver tempo peço para sua mãe e te pego na escola prá gente sair. – disse ao agachar na altura da menina
- Tá bom! – Concordou animada em pensar na próxima vez que fosse passear com seu “amigo”. Beijou-o no rosto com muito carinho e acariciou seu cabelo. – Não demora, tá?
- A minha princesa manda.
Ela riu e foi para o banheiro saltitando, esbanjando alegria que, Gina sabia, ninguém poderia causar a não ser Draco.
- Acho que você já pode ir, não é? – Harry indagou, se aproximando como um cão de guarda. A sugestão parecera muito mais uma ordem.
- Acho que este apartamento não é seu, não é? – Draco retrucou debochado, também chegando mais perto, encarando-o. Não permitiria ser acuado por ele.
- Malfoy... – Harry começou ao levantar o dedo para o loiro e apontá-lo na direção de seu rosto.
- Pense bem antes de falar comigo! – Draco deu um tapa violento na mão levantada de Harry e o encarou com os dentes cerrados. – Não vim falar com você. Vim falar com Ginevra.
- O que você for falar com ela pode falar comigo também. Sou namorado dela. – afirmou com ênfase e orgulho. – Não temos segredos um com o outro. Eu estou do lado dela sempre que ela precisar, coisa que você não fez...
Draco ia avançar furiosamente nele quando Gina se meteu na frente.
- É melhor você ir, Harry. – disse, virando-se para ele com os olhos suplicantes para que ele não provocasse uma briga ali.
- Mas Gina...
- Por favor, Harry.
- Está bem. – concordou contrariado. – Nos vemos amanhã.
Harry encarou Draco mais uma vez e o viu sorrir debochado, muito satisfeito. Não deixaria por menos. Para provocá-lo, agarrou Gina pela cintura e lascou-lhe um ardente beijo. Ela rapidamente se afastou.
- Até amanhã Gina. – disse olhando para o loiro, que sentiu que a qualquer segundo perderia o mínimo de controle que lhe restava.
- Até amanhã. – Levou uma mão à boca, roendo a unha do polegar. O olhar preso no chão e o constrangimento tomando conta dela. Não queria olhar nos olhos de Draco.
- Adeus comensal fugitivo. – falou provocativo e saiu porta a fora. Draco deu um passo para trás e socou a porta, um segundo depois dela ser fechada. Se tivesse uma varinha em mãos, correria atrás de Potter e lhe lançaria uma Maldição Imperdoável.
- O que você quer conversar, Draco? – Gina perguntou ao se sentar no sofá. Não parecia nada paciente. Sabia que seria algo relacionado a Harry.
- Você está com esse idiota? – indagou como se aquilo fosse repugnante demais para ser possível.
- O que você tem a ver com minha vida Draco Malfoy?
- Gina, – Parou frente a ela e a encarou profundamente. Sua respiração estava mais pesada. Estava nervoso. – você não vai colocar esse idiota no meu lugar. Não pode fazer isso! Não vou permitir que ele tome meu lugar de pai na vida de Diana.
- Mas Draco, – Ela se levantou impaciente e ficou frente a ele. – quem disse que eu vou fazer isso? Não seja idiota, eu jamais colocaria Harry no seu lugar. Diana gosta dele, mas para ela, ele sempre será um tio, um amigo. E eu não vou permitir que ela pense o contrário. Se assim não fosse, porque eu permitiria que você se aproximasse dela? Não faria sentido! Mas eu tenho que reconstruir minha vida. Perdi muitos anos inutilmente por alguém que não mereceu...
- Como assim? – interrompeu perturbado. – Gina não comece...
- Draco, sejamos francos. Você deixou bem claro pra mim que jamais me amou. Você me abandonou. Eu pensei que estivesse morto e não permiti que nenhum homem se aproximasse. –Começava a se exaltar, mas não elevava o tom de voz para que a filha não ouvisse nada. Seus olhos marejavam. – Tudo porque, mesmo pensando que você estava morto, eu não conseguia te esquecer. E descobri que nada valeu a pena! Eu jamais fui importante pra você. Se eu tivesse sido importante você teria voltado, sabendo ou não que eu estava grávida. Pois me cansei! Harry me ama e esteve sempre ao meu lado. Dei uma chance a ele sim e você não tem nada a ver com isso.
Draco a fitou perplexo. Queria ter palavras para discutir, mas não as tinha. Como poderia culpá-la de tudo aquilo? Tudo que ela dizia estava certo. Ela tinha toda a razão de estar magoada e tinha o direito de reconstruir sua vida. Somente com uma coisa ele não poderia concordar.
- Você está certa, mas como pode pensar que eu nunca te amei? – indagou em tom magoado. Permaneceu fitando-a diretamente nos olhos. – Ninguém é capaz de te amar como eu te amei.
Gina somente abaixou o olhar. Não queria ouvir aquilo naquele momento. Não queria ouvir coisas que a deixariam ainda mais confusa.
- Eu te amei loucamente. Enfrentei todos os meus medos e preconceitos prá ficar com você. E nunca usei a palavra amor com ninguém exceto com você.
- Então porque não voltou?! – indagou com lágrimas caindo. Não conteve mais a emoção.
- As coisas não são tão simples. Eu me acovardei sim. Admito. Mas como poderia ser diferente? Como olhariam pra mim? Como me chamariam? Pois eu te digo como. Comensal fugitivo! Como o Potter mesmo disse. Me chamariam de traidor, de tudo! Ainda correria perigo de ser pego por algum comensal e ser morto pelo que eu fiz. Mas quer saber? Eu seria capaz de aguentar isso tudo. Mas e você, Ginevra? Seria capaz de suportar? Eles te julgariam tanto ou até mais do que a mim. Seus pais, seus irmãos, seus amigos. Todos tentariam impedir que ficássemos juntos. Porque eu voltaria? Pra sofrer tais humilhações? Ou pior, fazer você passar por tais humilhações?
- Não seria assim, Draco. Eles tentariam entender. Meu pai ajudaria. Ele passou a te admirar...
- Ele admira o garoto que morreu! – gritou sem se importar se alguém escutaria. Por sorte, de dentro do banheiro, Diana não poderia ouvir nada. – Ele admira um Draco que foi morto por ter hesitado em matá-lo numa atitude muito heróica, ao estilo de Potter. Ele adorou! Mas esse garoto não existe! Será que ele continuaria pensando igual se descobrisse que eu fingi que estava morto para não ir pra Azkaban?! E se fosse assim... que fosse! Todos sempre me julgariam porque eu fui um comensal sim! Eu lutei ao lado de Voldemort sim! Eu não fui um grifinório cheio de virtudes. Se contei onde Voldemort estava, foi em troca da minha vida, da minha liberdade. Eu não podia ir prá Azkaban. Imaginei como você ficaria me vendo lá. Eu não podia aguentar. A partir do momento que outro comensal me atingiu, quando hesitei em matar seu pai, tudo mudou. Fiz um acordo. Não podia descumprir, não podia voltar. Se aquilo não tivesse acontecido poderia ter sido tudo diferente. Eu poderia ter fugido ou até mesmo lutado ao lado de Potter e dos outros bons samaritanos pra somente ver tudo aquilo acabar e voltar prá você. Mas, infelizmente, tudo foi diferente! Eu não sou perfeito. Fiquei com medo, sei que fui covarde. As coisas seguiram um rumo e eu apenas acompanhei. E depois de tantos anos eu não queria voltar. Não queria ter que reviver tudo isso de novo e remexer em feridas que ainda não tinham se fechado. Mas os negócios me trouxeram novamente prá cá e a primeira coisa que investiguei foi seu paradeiro. Porque, se você não me esqueceu, eu posso dizer o mesmo. Eu jamais te esqueci. Quando vi que você estava tão perto, eu... eu pensei que tudo poderia mudar na minha vida. Que a gente poderia ficar juntos de novo. E surgiu Diana que foi a coisa mais incrível que me aconteceu. Mas suas mágoas não permitiram que a gente reconstruisse tudo. Eu, pelo menos, reconheço que errei e te pedi perdão. Eu sempre te peço perdão! E se você não teve ninguém em sua vida, eu também não tive. Tive noites sim porque sou homem e sou fraco. Errei em tentar encontrar você em outras mulheres. Mas paguei por isso porque jamais nenhuma me tirou você da cabeça. Se hoje não estamos juntos e você está com o Potter, pode ser por milhares de motivos. Pelo destino, pelo seu orgulho, pelo meu medo, pelos meus erros, pelas suas mágoas, por tudo! Menos porque eu não te amei. Porque eu te amei loucamente. Te amei mais do que a mim mesmo. E, apesar de tudo, ainda te amo.
Terminou com o corpo trêmulo por dentro. Um turbilhão de sentimentos o invadiu. Ao falar tudo aquilo voltou a reviver tudo o que tinha passado há anos. Sentiu como se saísse de uma batalha. Passou a mão nervosamente pelos cabelos úmidos, a fronte do rosto suada. Não acreditou que havia dito tudo aquilo para ela. Por um momento se arrependeu, ao ver Gina mirando-o estática, com os olhos arregalados e marejados, mas acabou se convencendo de que tinha sido melhor. Ela tinha que saber a verdade e ele tinha que desabafar. Quis se aproximar dela e pedir que ela dissesse algo, mas não conseguia. A única coisa que desejava naquele momento era sair dali.
- Eu vou embora... – Sacudiu a cabeça e, dando-lhe as costas, saiu pela porta.

Gina não pôde dormir depois de tudo que tinha acontecido e ouvido. As palavras de Draco ecoavam em sua mente insistentemente, como assustadores fantasmas que a perturbavam e tiravam sua paz. Estava muito confusa. Só queria saber se ele realmente a amava ou não e se tudo aquilo que ele disse era verdade. Uma parte sua dizia que ele a amava, que ela deveria acreditar nele e se dar uma chance de ser feliz. Mas outra parte dizia que não deveria acreditar em nada e, mesmo se fosse verdade, nada poderia mudar porque sua vida havia mudado e agora ela estava com Harry.
- Por que isso tudo tem que acontecer comigo?... – indagava a si mesma deixando as lágrimas caírem livremente.
Não sabia qual época de sua vida era pior. Se quando pensava que Draco estava morto ou naquele momento em que passava por tanta confusão. Queria chorar, gritar. Qualquer coisa que pudesse fazer com que ela jogasse aqueles sentimentos para fora.
Foi até o quarto e viu que Diana já dormia. Lamentou por não ter ouvido da filha como fora seu passeio. Sabia que para ela havia sido emocionante, mas aquela noite não havia saido do jeito que ela planejara. Voltou-se para o espelho do quarto. Viu seu reflexo abatido. Aos poucos aquela Gina triste do espelho foi se transformando na Gina de Hogwarts. A que se apaixonara por Draco e era feliz ao lado dele. E, principalmente, a Gina forte e alegre que lutara para ficar ao lado de quem amava. Será que aquela garota ainda existia? Aquela Weasley que se guiava pelo coração. Abaixou a cabeça com o olhar banhado em lágrimas. Não. A única Gina que agora existia era a Gina que tinha como prioridade cuidar da filha, assumir responsabilidades, fazer o mais sensato. Uma Gina cheia de mágoas e rancor que a iam consumindo dia a dia. Ia deitar-se para descansar um pouco o corpo, mas ao olhar o relógio esqueceu a idéia. Já era quase de manhã. Foi até o banheiro e abriu a torneira da banheira. Precisava relaxar, após a madrugada em claro. Um longo período mergulhada na água, com óleos para banho, poderia ajudar a, pelo menos, suportar mais um dia de trabalho. Depois do banho, vestiu-se e foi acordar a filha e continuar com sua rotina matinal. Tudo igual. Menos sua cabeça lotada de pensamentos confusos.

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