Decisões Não Tão Fáceis

Decisões Não Tão Fáceis



Gina continuou a encarar Draco com os olhos semi-cerrados. A boca contorcida de raiva. Podia-se ver faíscas saindo de seus olhos. Draco não estava gostando nada daquilo. Precisava fazer algo. Tentando uma aproximação, deu uns passos lentos até ela.
- Gina, eu... – começou, mas foi de imediato interrompido.
- Seu cafajeste... – Gina gemeu e, de repente, pulou para cima dele, com as mãos direcionadas para o seu pescoço.
Os dois caíram no chão com força. Draco gemeu de dor. Batera com as costas diretamente no chão duro. Gina, por cima dele, mantinha as mãos agarradas no pescoço dele. Draco, com sacrifício, tentava segurá-la, empurrando-a pelo braço. Sentiu dificuldade em respirar. Mantinha a boca aberta e tentava dizer qualquer coisa que pudesse acalmá-la, mas não conseguia.
- Como você pôde fazer isso?! Tentar roubar minha filha!? Eu odeio você! Eu vou matar você! – Gina gritava muito enfurecida, mas deixou-se dominar pela emoção e seu pranto se intensificou fazendo com que ela perdesse um pouco as forças e o controle da situação. Fora a chance de Draco se defender. Ele levantou o corpo e se virou, se pondo por cima dela. Gina, mesmo com o peso do corpo dele por cima do seu, tentava bater nele. Embora conseguisse algumas vezes dar fortes tapas no rosto do homem, ele segurava seu braço, tentando impedí-la.
- Deixa eu te explicar. – dizia, tentando retê-la com mais força, mas Gina fora mais ágil e lhe deu outro soco, que pegara no ombro.
- Não quero ouvir nada! NADA! – O choro novamente se tornou mais forte e a precisão de seus socos menor. Draco, aproveitando-se do momento, agarrou seus pulsos com firmeza, imobilizando-a. A ruiva, sentindo seus braços presos ao chão pelas mãos de Draco, tentava reagir, mas não conseguia.
- Temos que conversar Ginevra. Isso não resolve nada. – Segurava-a com força, mas com cuidado para não machucá-la.
- Eu não quero ouvir. Eu odeio você... – gemeu em meio a um pranto angustiado.
Draco arqueou o corpo para trás, ainda a segurando, e a trouxe com ele, fazendo com que ela se sentasse, assim como ele. Abraçou-a com força, ainda não permitindo que ela se mexesse, o que de fato não fazia diferença já que Gina não tinha mais forças para lutar ou brigar.
- Fique calma... – disse com a voz mais tranqüila possível em seu ouvido. – Fique calma...
- Você não tem idéia de como eu fiquei. Você não podia ter feito isso...
- Eu não queria Gina. Você me obrigou. – Soltou-a e ficou de frente pra ela. – Conversamos e você...
- Você realmente não tem idéia – disse, primeiro olhando para ele e depois abaixou a cabeça, em meio a pausas em que o choro não permitia que ela continuasse. – de como uma mãe se sente, de como uma mãe fica, em pensar que não vai mais ver sua filha, não vai mais abraçá-la, beijá-la, tê-la ao seu lado...
- E você não sabe, – Draco começou e levantou o queixo dela delicadamente para que ele pudesse fitá-la nos olhos. – o que um pai sente, de como um pai fica, em pensar que jamais teve a filha ao seu lado e jamais vai ter. Em pensar que não pode sequer se aproximar.
Ela mergulhou o rosto nas mãos para poder chorar sem que ele a visse. Sabia que, no fundo, ela não era a única vítima da história e Draco não era o único que cometera erros. Ele apenas a abraçou. Gina permitiu-se corresponder ao abraço. Era de carne e osso e também precisava de carinho e consolo. Ainda mais quando vinha de Draco. Ficaram por muito tempo daquela forma. Não poderiam dizer o quanto ao certo, mas ficaram ali juntos. Foi só quando Draco começou a falar que se afastaram um do outro.
- Desculpe-me. Não farei isso de novo. Não queria deixá-la tão angustiada.
Gina fechou os olhos e ia sorrir para ele quando percebeu que estava amolecendo demais. Não poderia agir assim. Levantou-se do chão, seguida por Draco e começou.
- Vai embora Draco. Não quero mais te ver aqui na minha casa e nem na minha vida. Vai embora.
Draco suspirou. E novamente se iludira pensando que poderia ter mudado de idéia a cabeça da mulher, mas pelo jeito não conseguira.
- Sabe qual é o problema Ginevra? Você quer se vingar de mim pelo que e fiz e usa a Diana.
- O que você quer dizer?
- Sabe que eu não sabia que você estava grávida. Se eu tivesse tido conhecimento, mas não! Eu não soube! Eu não abandonaria uma filha. Você quer se vingar de mim porque eu não voltei prá você e não porque eu não voltei prá Diana. Eu nem sabia que ela existia! Você quer se vingar de mim pelo que eu fiz somente a você e usa a menina. Tenta me afetar usando minha filha. – Draco falou duro tudo o que veio em mente. Não sabia se era exatamente aquelas palavras que queria usar, mas falara o que estava sentindo.
Gina escutou aquelas palavras com atenção, e quando ele terminou de falar, sentiu que seu coração estava sendo literalmente partido. Podia sentir a dor que aquilo causava. Uma única lágrima que ousou cair se formou em seu olhar. Ele jamais poderia ter dito algo que a fizesse se sentir tão mal. Apenas sacudiu a cabeça e foi até a porta, abrindo-a.
Draco entendeu o que ela queria e, sem discutir, foi embora. Gina fechou a porta logo atrás dele e encarou a sala. Pegou as coisas de Diana, que tinham caído no chão quando o derrubara e pôs tudo no sofá. Só queria se deitar em sua cama, mas todos estavam no quarto. Não poderia. Não queria falar com ninguém. Resolveu sair. Pegou sua bolsa e saiu imediatamente. Caminhou até a Praça do Lago, cujo nome era justamente por ter um pequeno lago em seu centro. Ali era ótimo para ficar sozinha e pensar um pouco. Já era noite e as luzes do chafariz estavam ligadas. Junto com a água que espirrava para cima, criava um efeito encantadoramente magnífico. Sentou-se em um banco e se lembrou do ocorrido em seu apartamento. Poderia repetir cada palavra que escutara dos lábios de Draco. Palavras que a fizeram pensar e refletir. Draco estava certo. Ela nunca havia percebido, mas realmente estava fazendo o que Draco dissera e aquilo era errado. Não podia continuar agindo daquela forma, apenas por mágoa. Só fazia aquilo por ela e não pela filha. Tinha que pensar no melhor jeito de agir, mas não proibiria sua filha de ter o pai. Contudo, o que mais a abalara fora o que concluiu. Draco nunca a amou de verdade. Pelo menos não o suficiente. Se ele tivesse tido conhecimento da filha ele voltaria, mas ele não tivera. Ela somente não fora o suficiente para ele voltar. Ele a havia abandonado e não parecia arrependido. Aquilo lhe trazia muita dor. Em pensar que havia se entregado a ele, havia entregado toda sua vida a ele e não havia se permitido conhecer nenhum outro homem por ele. Aqueles pensamentos a machucava ainda mais. Não valeria a pena tal sentimento por alguém que não merecia. Não entendia porque aquilo acontecia com ela. A vida cada vez mais parecia se complicar e causar-lhe sofrimento.

Draco jogou suas coisas por cima da mesa da suíte e foi até o banheiro. Encarou seu reflexo no espelho. Levantou um pouco o rosto e viu algumas marcas em seu pescoço. Marcas dos dedos de Gina. Não pôde deixar de rir. Ginevra Weasley o havia atacado mesmo. Era um tanto engraçado. “Marcas de amor” disse a si mesmo ainda rindo. Mesmo achando aquela situação engraçada, não podia negar que ver como ela estava magoada o deixava chateado. Não queria que a mulher sofresse de tal forma. Sabia que as coisas não estavam sendo fáceis para ela, mas para ele também não. Lembrou-se de quando a abraçou. A sentira por completo entre seus braços como há anos deseja sentir. Melhor se fosse em outras circunstâncias, mas havia sido bom. Podia recordar o aroma dos cabelos dela. Tão delicado. Sua fragilidade, suas lágrimas que caíram sobre suas roupas. A presença de Gina estava muito forte em seu próprio corpo. E era bom.
Após um banho, deitou-se na cama. Fechou os olhos. Desejou que a mulher, em quem não conseguia deixar de pensar, estivesse ali ao lado dele, naquela cama tão grande e vazia. Tão fria. Imaginou como seria viver em uma casa com ela e a filha. Como uma família. Durante as refeições todos juntos numa mesa. Poder levar a filha ao parque e ao colégio sempre. Poder acordar e dormir todos os dias ao lado da mulher que amava. Jamais desejara uma família daquele jeito. Nunca havia sido o modo que planejara passar sua vida, mas naquele momento não havia nada que ele ambicionasse mais.

Ali estava ela. Em frente à porta da sala de Draco. Perguntou-se se realmente deveria fazer o que tinha em mente ou, mais do que aquilo, se conseguiria fazê-lo. Era muito difícil ter que tomar aquela decisão. Aquilo poderia mudar toda a sua vida. Viu em sua mesa a foto da filha. Ela parecia gostar tanto de Draco e ficaria muito feliz em descobrir que o pai estava vivo. Tinha que conseguir engolir seu orgulho e esquecer as mágoas. Tinha que finalmente agir pela filha. Bateu na porta e ouviu um “entre”. Respirou fundo. Era agora. Abriu a porta e entrou. Percebeu que Draco ficou ligeiramente surpreso. Parecia não esperar a presença dela ali. E realmente não esperava. A última pessoa que ele esperava em sua sala depois do dia anterior era Gina. Tentou imaginar o que ela pretendia. Seria mais uma briga? Se fosse não estaria disposto a ouvir. Não naquele dia. Pediu que ela se sentasse. Gina obedeceu.
- O que deseja, senhorita Weasley? – Tentou manter o ar formal e o olhar erguido.
- Draco, – começou com o coração batendo forte. Não queria continuar o jogo de formalidade e sobrenomes. Queria ser direta ao assunto. – quero resolver tudo de uma vez por todas.
- Fico satisfeito, porque desejo o mesmo. – Abriu um pequeno sorriso quase imperceptível.
- Você realmente quer assumir seu lugar de pai na vida de Diana?
- É o que eu mais desejo.
- Depois das coisas que você disse ontem eu percebi que não devo te afastar dela. Diana precisa de um pai. Se você está disposto a assumir seu papel, eu não vou mais impedir. Tudo o que você disse ontem era verdade. Sobre o que eu estava fazendo...
- Gina, não é assim... – Tentava de certa forma se desculpar, melhorar as coisas, mas foi logo interrompido.
- Não, Draco. Você tinha toda razão. Eu não tinha percebido, mas realmente não estava deixando você se aproximar de Diana pelo que você fez a mim. Você não a abandonou. Nesse momento, eu prefiro acreditar que realmente você voltaria se soubesse que eu estava grávida.
- É lógico que eu voltaria. Jamais deixaria você em tal situação sozinha. Gina, quantas vezes tenho que te dizer? Quantas vezes tenho que repetir? As coisas não foram fáceis. Foram complicadas. Eu não podia voltar...
- Eu não quero ouvir, Draco. Prá mim as coisas já estão suficientemente claras. O que passou, passou, e não há nada que a gente possa fazer pra mudar isso. A única coisa que eu desejo agora é esquecer o passado. Você vai ter o que você quer. Pode ver Diana, mas não quero que ela descubra a verdade agora. É muito cedo, ainda. Pode visitá-la quando quiser, levá-la para passear quando quiser contanto que me avise antes. No momento certo, quando eu sentir que ela já está preparada, nós dois contamos a ela. Até lá, você é apenas um amigo. É minha única condição
- Eu concordo plenamente. – falou ainda não acreditando que aquilo estava acontecendo. Pensou que tudo tinha piorado pelo que fizera ontem, mas não era assim. As coisas estavam melhorando. Estava muito feliz.
- Está bem então. – Gina terminou e se levantou. Draco fez o mesmo. Ela abaixou a cabeça vencida. Estava feito e não tinha como voltar atrás. Deu as costas para ele e já ia em direção à porta quando o sentiu segurando seu braço.
- Gina, muito obrigado por isso. Eu imagino o quanto deve ter sido difícil prá você, mas...
- Não. – interrompeu-o. – Você realmente não pode imaginar o quanto vem sendo difícil prá mim.
- Você ainda não me perdoou, não é?
- Eu não sei, Draco. Talvez eu tenha perdoado sim. Mas isso não faz diferença alguma.
- Faz sim, Ginevra. Quando você esquecer definitivamente tudo isso as coisas vão ser diferentes...
- Esquecer?! Quem disse que eu vou esquecer? Draco, não confunda as coisas. Eu posso até te perdoar, mas jamais vou esquecer. – Seus olhos se encheram de lágrimas. – A mágoa e a dor que você me causou, ninguém jamais vai poder tirar de mim.
Soltou-se dele com raiva e saiu rapidamente da sala. Bateu a porta com força. Queria pegar sua bolsa e ir para casa chorar em paz, mas não podia. Tinha que trabalhar.
O tempo foi passando extremamente devagar. Arrastando-se, assim como Gina pelos corredores da empresa. Não vira e nem falara com Draco, a não ser para lhe passar uma ligação, durante todo o dia. Foi melhor assim. Estava sentada em sua mesa fazendo algumas revisões quando o telefone da empresa tocou. Pela linha, só poderia ser algum funcionário.
Draco estava saindo de sua sala para falar com Gina quando ouviu o telefone tocar. Parou perto da porta sem que ela o visse.
- Pronto. – atendeu. Abaixou o tom de voz ao ver quem era. – Mary, se o senhor Miller te pegar você está frita!... Como assim?... Que amigo bonitão? Fale sério... Harry?! O que ele faz aqui?! — indagou muito surpresa. Mal imaginava que Draco estava logo atrás dela com uma cara de quem não estava gostando nada da conversa. – Está bem, está bem. Fale para ele me esperar aí na recepção que vou almoçar com ele.
Gina desligou o telefone e Draco entrou em sua sala novamente. Viu a mulher pegar sua bolsa e entrar no elevador, por uma pequena fresta na porta. Não pensou duas vezes antes de ir atrás dela. Viu o elevador parar no andar de baixo. Provavelmente demoraria. Se fosse esperar ele subir novamente não conseguiria alcançá-la. Correu escada abaixo até o térreo. Parou perto da saída para que ninguém o visse. Poucos segundos depois viu Gina sair do elevador. Olhou um pouco mais para frente e viu Harry. Cerrou os dentes com ódio. Harry Potter. Exatamente igual a seus tempos de Hogwarts. A mesma cara de panaca e o mesmo jeito estúpido. Não poderia ser pior.
Gina viu a imagem do amigo e sorriu. Num impulso, correu até ele e o abraçou. Harry correspondeu ao abraço com intensidade, de maneira protetora.
- Rony me contou tudo. Resolvi ver como você estava.
- Mal. – Afastou-se com os olhos marejados. O que mais precisava naquele momento era um amigo com o qual pudesse se consolar. Não havia momento melhor de Harry aparecer. – Preciso tanto conversar.
- Vamos comer algo e você me conta o que está acontecendo.
Draco, bufando, teve de se segurar para não correr atrás deles e matar Harry. Viu ele envolver um braço em volta de sua cintura, acompanhando-a até a entrada, enquanto ela segurava sua bolsa. Fechou o punho e socou a parede tentando descontar seu ódio e ciúme. Como Harry atrevia-se a tocá-la de tal forma? Não sabia o que mais o incomodava. Se a intimidade que os dois tinham ou a inveja por desejar ser Potter naquele momento. Respirou fundo e foi em direção ao elevador para voltar para sua sala. De nada adiantaria ficar ali. Ia apertar o botão quando escutou uma funcionária, Mary, comentar com Dany algo que era muito de seu interesse.
- Gina é muito boba. Não sei porque ela não dá chance prá ele. O cara é louco por ela há tempos e ela simplesmente o ignora.
Draco disfarçou o sorriso. Até agora gostava do que ouvia.
- Mas Gina está muito estranha de uns tempos prá cá. Chateada, preocupada, desanimada com tudo. Deve estar com problemas sérios.
- E Harry parece estar disposto a ser um apoio.
- Exatamente o que eu ia dizer. Agora sim ele vai conseguir. Muito esperto da parte dele.
- Com certeza. Não há mulher que resista a um consolo desses em tempos difíceis. Principalmente quando ele é lindo e tem aqueles olhos verdes.
- Sossega Mary. Vai trabalhar vai! – Dany disse e os dois riram.
Draco, estático, encarou os dois que entraram por um corredor. Chamou o elevador. O sorriso havia morrido. Eles estavam certos. Gina estava com problemas e todos se referiam a ele. Ele era o maior problema na vida dela. Sempre fora. E naquele momento, Harry estava sendo seu consolo, seu ombro amigo. Ela resistiria muito tempo? Não, não queria pensar naquilo, mas era impossível. Só de imaginar Harry tocando-a, beijando-a, tomando o lugar que pertencia a ele na vida dela, ficava cheio de ódio. Não podia aceitar aquilo.

Gina e Harry chegaram no restaurante e sentaram-se numa mesa próxima à janela. O lugar era novo e muito agradável. Ele escolhera muito bem. Fizeram os pedidos.
- Rony me contou que aquele traidor do Malfoy está vivo e é seu chefe. Eu jamais imaginaria que isso pudesse acontecer.
- Nem eu. Mas aconteceu e não a nada a ser feito. – Parecia conformada, mas seu olhar se mantinha triste. – Agora o que me resta é preparar Diana para contar que o pai está vivo...
- COMO?! – Harry indagou imóvel. – Gina, você não pode deixar ele se aproximar de Diana. Esse canalha tem que se afastar de vocês duas.
- Eu também pensava assim, mas refleti bem e Diana merece um pai. Ela gosta tanto de Draco e ele dela. Ele não sabia que eu estava grávida. Descobriu há pouco tempo a filha. Ele tem o direito de recuperar o tempo perdido
Harry parou pensativo. Não achava certo e não escondeu.
- A decisão é sua e eu te apoio no que você decidir. – Sorriu e segurou sua mão. Gina correspondeu o sorriso. Era tudo que precisava ouvir naquele momento. – Gina, me desculpe se pareço muito intrometido, mas, você pretende dar mais uma chance a ele? Eu digo, deixar que ele se aproxime não só de Diana, mas de você também?
- Não! – afirmou como se aquilo fosse um absurdo. – Jamais. Eu descobri que no fundo ele jamais me amou de verdade. Se tivesse me amado não teria me abandonado. – Olhou para o lado sentido seus olhos se encherem de lágrima. Tentou se segurar, mas não conseguia. Uma lágrima caiu, mas ela logo a secou. Não choraria novamente por ele. – Ele não me amou Harry, não me amou...
- Ele é um idiota, Gina. Esqueça isso
- Eu tento Harry, mas não é fácil. Ele foi o único homem que eu tive em toda a minha vida. E ele nunca mereceu.
- Ainda bem que você tem consciência de que ele não te merece. Assim não cometerá o mesmo erro.
Harry ia continuar quando o garçom chegou com a comida.
- Bom apetite! – Ela disse sorrindo antes de espetar o garfo em uma batatinha.
- Bom apetite. – Harry também riu e começaram a comer.
Ao terminarem o almoço, foram caminhando lentamente até a empresa. Ao chegarem, Gina olhou para o relógio. Ainda faltava para terminar seu intervalo. Sentou-se nas escadas e silêncio e Harry fez o mesmo. Ele encarou a mulher ao seu lado, que permanecia de cabeça baixa. Parecia triste. Ele então a abraçou.
- Não fique assim, Gina. Agora você tem que reconstruir sua vida. – Ele afastou-se do abraço e segurou as mãos finas da mulher com carinho. Fitou-a nos olhos. – Gina, você ficou muito tempo sozinha. Está na hora de encontrar alguém, viver um pouco. Existem tantos homens que procuram alguém como você. Uma mulher decidida, encantadora e belíssima... – Gina riu sem jeito. – E, não vou negar, eu sou um deles...
Gina encarou-o surpresa. Não esperava escutar tal coisa de Harry. Não tão diretamente. Voltou suas mãos, que estavam entre as dele, para si. Engoliu a seco. Não soube o que dizer. Sabia o quanto ele era especial e lhe dava valor, mas não conseguia vê-lo de outra forma senão como amigo. Será que conseguiria mudar sua forma de vê-lo? Será que com ele esqueceria Draco?
- Harry, eu...
- Escute. – interrompeu-a. – O que tivemos na adolescência foi algo tão imaturo, tão infantil. Tínhamos tantas coisas em mente. Agora é diferente. Você já é uma mulher e eu sou um homem que adoraria estar ao seu lado nesses tempos difíceis. Eu adoro Diana, adoro você. Não estou te pedindo em casamento. Só te peço uma chance de estar ao seu lado para tentar te fazer feliz e te proteger.
A ruiva sabia que se existia alguém que merecesse esta chance, alguém em quem podia confiar, esse alguém era Harry. Ele sempre estivera ao seu lado. Tão carinhoso, meigo. Talvez devesse pelo menos tentar.
- Seria apenas uma tentativa não é? Porque, entenda, eu ainda estou...
- Não precisa se explicar. Entendo que seus sentimentos estejam confusos e até mesmo voltados para o Malfoy. Mas é justamente por isso que quero ficar com você. Te ajudar a esquecê-lo. Eu jamais aceitaria ou permitiria que ele te magoasse novamente.
Ele levantou-se e ela fez o mesmo. Frente a frente, encararam-se. Ela abaixou a cabeça, sentindo-se constrangida. Ele levou a mão ao seu rosto e o levantou carinhosamente para que ela o fitasse. Aproximou-se mais. Gina hesitou ao perceber o que ele pretendia, mas não tentou se afastar. Não tinha nada a perder.
- Pense bem e depois nos falamos, ok?
- Ok... – concordou com a voz trêmula.
Viu Harry se aproximar ainda mais. Permitiu e fechou os olhos. Sentiu os lábios dele nos dela. Tão quentes. Em meio ao doce beijo, pensou se aqueles lábios poderiam mudar seus sentimentos. Abriu os olhos de relance e, ao invés de ver Harry, viu a imagem de Draco. Afastou-se assustada. Voltou a ver Harry. Balançou a cabeça com os olhos fechados. O que estava acontecendo com ela?
- É melhor você ir Harry. Nos vemos depois.
- Está bem. – concordou e desceu as escadas em direção à estrada. Olhou para trás e acenou para ela, que correspondeu com um sorriso.
Gina respirou aliviada ao vê-lo se afastar e entrou. Ao passar pela porta de vidro, viu Mary e Dany com sorrisinhos insinuantes se aproximando.
- Vocês viram tudo, não foi? – perguntou fazendo olhar de brava, mas com um sorriso envergonhado.
- Tudo e mais um pouco. – Dany terminou rindo e apoiou-se na parede.
- Eu sabia que agora vocês se acertariam. Finalmente você e o bonitão vão ficar juntos. – Mary dizia super animada.
- Finalmente Gina vai ficar com alguém você quer dizer, não é? Porque...
Mary encarou-o com olhar reprovador e deu uma cotovelada nele. Gina olhou-o sério.
- Você sabe muito bem que minha vida não é nada fácil, Daniel. Ao contrário de você, eu não só tenho que sustentar a mim, mas também uma filha.
- Mas de qualquer forma as coisas mudaram agora. – Ele afirmou sorrindo para ela. Um sorriso de incentivo.
Gina encarou-os com um olhar reflexivo.
- É, talvez...

Naquela mesma noite Harry fora no apartamento dela e a pediu em namoro. Ela resolveu aceitar. Na noite seguinte, fizeram um jantar para contarem para Diana, Hermione e Rony. O casal ficou contentíssimo. Pulavam de felicidade e cumprimentava-os com muito gosto. Não poderiam receber notícia melhor. Diana também aceitou tudo muito bem, mas não parecia tão animada com aquilo. Eles perceberam. Gina achou melhor conversar com a filha a sós. Foram as duas para o quarto. Gina sentou-se na cama e pôs a filha no colo.
- O que houve meu amor? Não gostou da notícia? – perguntou preocupada. Jamais teria uma relação que Diana não “aprovasse”.
- Não é isso. Eu só pensei que você ia namorar o Draco. – Ela falou meio chateada enquanto mexia carinhosamente nos cabelos da mãe.
- Mas isso não vai acontecer minha filha. – Não acreditou no que ouvia. – Ele é meu chefe e seu amigo.
- Eu sei. – Levantou-se e pegou sua camisola no guarda roupa. – Mas ainda prefiro ele. – Terminou e foi para o banheiro. Gina não estava acreditando. Sua filha queria que ela ficasse com Draco, logo com Draco. Não poderia ser. Ela realmente gostava muito dele.
Quando a menina voltou disse que iria dormir. Gina a pôs na cama e a cobriu. Desejou-lhe boa noite com um beijo e voltou para a sala. Todos encararam-na, querendo saber o que tinha acontecido.
- Está tudo bem. – Ela falou tentando acabar com o clima ruim que ficara. Nada era tão fácil.

Draco foi arrastado para a empresa naquela manhã. Dormiu muito mal à noite. Não conseguiu parar de pensar nos boatos e nas frases cortadas que escutava sempre quando Gina estava perto pelos corredores da empresa. Muitos comentavam sobre uma funcionária com o namorado na escada da entrada há dois dias. Ele desconfiava de quem poderia ser o tal casal afinal foi naquele dia que Harry Potter esteve na empresa, mas não queria tirar conclusões precipitadas. Comentários e brincadeiras de Mary e Dany com Gina quando se encontravam e o constrangimento dela quando ele estava perto também eram estranhos. Tudo o estava deixando muito desconfiado, e nada o dava certeza. Aquilo não saía de sua cabeça. A última coisa que desejava fazer era trabalhar, mesmo sabendo que aquilo não era certo. Todos aqueles problemas estavam acabando com sua responsabilidade profissional. Se ele era um problema na vida de Gina, ela também era na dele. Foi para a sala e, para seu alívio, ela não havia chegado. Foi melhor assim. Acomodou-se em sua mesa e, poucos minutos depois, escutou batidas na porta. Sua paz solitária havia acabado. Mal havia tido tempo para pensar. Pediu que entrasse. Gina apareceu pela porta e aproximou-se dele.
- Bom dia senhor. – disse tentando não olhar em seus olhos.
- Bom dia. – respondeu seco.
- Aqui estão seus compromissos de hoje. – Entregou a ele a agenda aberta naquele dia. – E preciso que o senhor confirme a reunião de amanhã às 17:30.
- Com os representantes da Seilansys, não é?
- Sim. Eles querem fazer uma espécie de sociedade, mas devem discutir muitas coisas ainda.
- Ligue para lá e peça para que a reunião seja remarcada para antes ou depois. Nesse horário eu não posso. – Devolveu a agenda a ela e abriu umas pastas.
- Mas senhor, essa reunião está marcada há muito tempo. Só precisava mesmo de uma confirmação.
- E eu não lhe dou essa confirmação – falou ao assinar algumas coisas.
- Mas senhor, não sei se...
- Senhorita Weasley, – Ele falou ao colocar a caneta de lado, levantar os olhos e encará-la muito sério. – marque para outro dia. Qual a parte de minha ordem não entendeu?
- Irei remarcar, senhor. – Encarou-o também muito séria e voltou para sua mesa. Era muito estranho receber ordens dele.
Draco estava guardando suas coisas quando Gina entrou na sala após três batidas na porta.
- Já estou indo senhor. Precisa de mais alguma coisa? – perguntou ao vê-lo vestir o paletó e depois passar a mão pelos cabelos. Por que ele tinha que ser tão bonito?
- Não, não. Pode ir. – Ela já ia sair quando escutou a voz dele novamente. – Aliás, gostaria de pedir-lhe uma coisa.
- Pode dizer. – Ela falou estranhando, o olhar desconfiado.
- Eu queria levar Diana amanhã até o hotel onde eu moro. Haverá uma apresentação de uma peça teatral, ou um balé, não sei muito bem. Algo para crianças mesmo. Trago ela de volta antes das nove da noite.
- Que horas passaria para pegá-la? – Impressionou-se. Não esperava aquilo.
- Provavelmente às quatro e meia. O início é às cinco.
- Por isso não pode ir à reunião? – perguntou com um sorriso. Não podia negar que gostara de sua atitude. Desmarcara um compromisso de trabalho pela filha. Agira como um bom pai.
- Sim. Já reservei os lugares.
- Mas tem que pegá-la na casa do meu irmão. A essa hora ela vai estar lá. Sabe onde é?
- Sim. – afirmou distraidamente ao fechar sua maleta.
- Como você sabe onde Rony mora? – Ela perguntou desconfiada e cruzou os braços esperando por uma resposta.
Ele encarou-a com os olhos arregalados. Arrependeu-se logo do que disse. Como fora estúpido. Lógico que ela não poderia saber que ele já a havia seguido. Com certeza ela se irritaria muito. Tinha que inventar uma desculpa, mas não conseguia pensar em nenhuma boa que pudesse convencê-la.
- É...que... Diana já me mostrou onde é. – Acabou dizendo a primeira coisa que veio em mente. Péssima desculpa.
- Hum... – Gina, incrivelmente, pareceu não desconfiar de nada. Ele ficou aliviado. – Está bem então. Eu aviso Hermione. Só te peço uma coisa. Não brigue com meu irmão, por favor. Se ele te vir, vai tentar te provocar de todas as formas, mas tente ignorar. Por Diana.
- Lógico. Não discutiria com ele na frente dela.
- Ok, então. –Ela falou e deu-lhe as costas. Não viu o sorriso de felicidade que nasceu no rosto do loiro.

No dia seguinte, Draco e Gina se trataram normalmente. Distantes, mas educados. Falavam-se somente quando o assunto era relacionado ao trabalho. Nada pessoal. Não queriam manter aproximações. Draco ainda mantinha-se muito desconfiado pelos boatos e comentários que andava escutando na empresa, e não conseguia controlar os ciúmes de Gina. Já a mulher não queria dar qualquer tipo de falsa esperança para ele. Não queria que ele pensasse que só porque ela o autorizoua ver a filha, ela permitiria que ele voltasse a entrar em sua vida.
No final da tarde, antes de Draco sair, deixou alguns relatórios e balanços para Gina examinar. Ele tinha compromisso e ela sabia muito bem qual era. Logo que ele entrou no elevador, a mulher pegou o telefone e ligou para Hermione.
- Ele acabou de sair. Arrume Diana, está bem? E, por favor, não discutam.
- Sim Gina. – A mulher falava pelo telefone, mas sua voz era um tanto abafada por gritos de crianças. Josh e Diana pareciam estar correndo pela casa. – Não vou perder meu tempo com esse imbecil. Você é a mãe dela e sabe o melhor prá ela.
- Obrigada. – Sentia-se muito feliz por ter Hermione como cunhada. Ela sempre a apoiava e se mostrava uma grande amiga. Tinha sorte de ter uma família como a sua.

Draco ajeitou mais uma vez a roupa e os cabelos. Queria estar sempre com a aparência impecável. Bateu na porta e minutos depois Hermione apareceu. Ela encarou-o séria, como se fosse começar um terrível interrogatório. Ele sentiu uma vontade enorme de começar as provocações ali mesmo, como nos tempos de Hogwarts, mas não poderia. Tinha que se compor.
- Boa tarde. – Ele disse mantendo um ar muito formal e distinto. Ela apenas acenou com a cabeça e continuou a encará-lo. – Vim buscar Diana. – Queria sair logo dali.
- Isso é meio óbvio, não é?! – respondeu com um sorriso debochado. Virou-se para dentro com a mão repousada sobre a barriga. – Diana! Está na hora! Desça!
- Estou indo, titia. – A menininha gritou de dentro da casa. Parecia estar longe.
Draco cruzou as mãos e fitou as árvores em frente à casa. Eram bonitas e balançavam com o vento. O tempo estava esfriando. O inverno se aproximava. Uma estação que o trazia muitas lembranças. Virou-se para a mulher que estava na porta. Ela encarava a barriga enquanto a acariciava, com um pequeno sorriso nos lábios. Imaginou como Gina deveria ter ficado durante a gravidez. Com certeza belíssima. Pensou em como seria se estivesse ao lado dela. Seria maravilhoso. Não pode deixar de pensar também no quanto Rony Weasley era sortudo. Poderia dizer que tinha inveja dele. Ele estava presente em todos os momentos importantes do filho e agora sua esposa estava grávida pela segunda vez. O que Draco não havia vivido, Rony viveria pela segunda vez. Era injusto.
- Prá quando é o bebê? – perguntou tentando parecer desinteressado, mas queria acabar com aquele clima ruim.
- Quatro meses. – Ela respondeu ainda acariciando a barriga. Olhou-o desconfiada. Uma pergunta sem ofensas e segundos interesses era muito estranha quando vinda de Malfoy. Ia dizer algo quando a pequena menina loira irrompeu pela sala.
- Draco!! – gritou animada e correu até ele, que a pegou nos braços e beijou-lhe o rosto. – Estava com saudades.
- Eu também, princesa... Muitas saudades... – disse fitando-a nos olhos. As frontes encostadas uma na outra. Abraçou-a novamente com muito carinho.
- Tchau tia! – Diana disse acenando com a mão e Hermione correspondeu sorrindo.
- Cuide bem dela, Malfoy. – falou num tom claro de ordem. Ele preferiu ignorar a presunção da mulher. Ia dar as costas para ir para o carro, mas voltou a ela.
- Parabéns pelo bebê. Mande meus parabéns para o Weasley também. Vocês têm muita sorte. – terminou com um pequeno sorriso e foi para o carro, com a filha no colo, deixando Hermione ainda mais surpresa. Ele estava sendo gentil? Não acreditou.

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