Boa Decisão?



Draco abriu os olhos com muito sacrifício. Havia deixado as cortinas abertas e a claridade dos raios de Sol que vinha na direção de seu rosto o despertara. Olhou em volta. O quarto silencioso e vazio, como sempre, só lhe confirmava como era imensa sua solidão. Pôs o travesseiro sobre o rosto. Não queria levantar naquela amanhã. Queria ficar ali o dia inteiro e apenas pensar. Pensar na noite anterior e em como havia agido estupidamente. Arrependia-se completamente por ter tentado qualquer tipo de aproximação com Gina. Deveria saber que ela não aceitaria. Começava a deixar ser invadido por um sentimento de derrota. Pensou se não seria melhor desistir de tê-la ao seu lado de uma vez por todas já que nada parecia ser capaz de mudar aquela situação. Concluiu que a única coisa que lhe restava era finalmente por aquela história pro passado. Não seria possível voltar a viver os dias de adolescência de Hogwarts ao lado dela novamente. Tudo havia mudado. Suas vidas, as circunstâncias. Tudo, menos o que sentia. No entanto já não importava mais. A noite passada havia sido a última vez que tentara qualquer coisa. Naquele momento, deveria se preocupar só com uma coisa: sua filha. Não queria brigar com Gina, mas não permitiria que ela o impedisse novamente de ver a menina. O que precisasse ser feito, ele faria, não importando as conseqüências. Faria tudo para poder ter a filha por perto, para poder recuperar o tempo perdido.
Chegou na empresa mais tarde que o de costume, mas ninguém comentou nada. Ele era o dono e poderia fazer o que quisesse. Cumprimentou a todos formalmente e foi para seu andar. Gina não estava ali, mas suas coisas sim. Já havia chegado e provavelmente estava resolvendo algo. Achou melhor assim. Não queria encará-la. A evitaria de todas as formas. Era a única maneira de esquecê-la, ou pelo menos tentar. Ao entrar em sua sala, fechou a porta e se acomodou em sua cadeira. Pôs suas coisas em cima da mesa. Sentiu certo desânimo. Não podia negar que cada dia que passava trabalhar se tornava um tormento ainda maior. Não conseguia conviver tão próximo com a sua secretária, sendo ela Gina. Não sem poder tocá-la. Escutou batidas na porta. Já sabendo quem era, deu permissão que entrasse. A mulher na qual pensava apareceu aos poucos por detrás da porta. Parecia um pouco abatida. Não havia dormido bem, como Draco. Chegou perto da mesa do chefe. Trazia algumas pastas.
- Bom dia, senhor Malfoy. – Ela falou séria, fitando o que tinha em mão. Não conseguia encará-lo. Não depois da noite passada. Não sabia ao certo o motivo.
- Bom dia, senhorita Weasley. – Draco tentou disfarçar, mas também não podia agir naturalmente com a presença dela. Não conseguia disfarçar a vontade de observá-la.
- Trouxe algumas papeladas e contratos para o senhor revisar e aprovar. – Entregou-lhe uma pasta vermelha. –E esses aqui precisam de sua assinatura. Eu já li os dois e não encontrei erros, mas se quiser conferir...
- Não será necessário. Confio em sua revisão. – Tentou parecer o mais frio possível ao interrompê-la.
- Só isso então? – Esperava, no fundo, uma resposta negativa. Queria escutar sua voz dizendo algo mais, falando o que fosse, mantendo-a ali ao lado dele. Qualquer coisa era melhor do que aquela indiferença.
- Sim. – Queria dizer o que ela esperava escutar, mas não sabia o que falar naquele momento. Além do mais, achava melhor que eles passassem o menor tempo possível juntos, por mais que aquela idéia fosse difícil de aceitar.
Gina simplesmente abaixou a cabeça e deu meia volta. Já próxima da porta, pareceu se lembrar de algo. Girou nos calcanhares e voltou para perto do chefe. Draco estranhou. Esperou que ela começasse a falar para saber o que queria.
- Eu gostaria de agradecer-lhe novamente por ontem.
- Não foi nada.
Na verdade, a mulher queria se desculpar pelo que dissera na noite anterior. Sabia que estava sendo dura, mas a frieza que Draco aparentava ter a respeito do assunto a fez se sentir desencorajada a tocar no assunto. Teve a impressão de que ele mal se importava com o que tinha acontecido. Não sabia que era justamente o que ele queria. Sem mais o que fazer, a mulher finalmente saiu da sala.
Draco, quando a viu sumir pela porta, respirou fundo, muito aliviado. Não queria agir daquela forma, mas não via outro caminho.
A ruiva sentou-se em sua cadeira e, jogando o corpo para trás, encarou a foto de Diana. Sorriu triste. Sabia que ela lhe dava forças para suportar tudo aquilo. Era a mãe e tinha que fazer o melhor pela sua filha. Não importando seus próprios sentimentos.

Quase uma semana se passou até que Draco finalmente decidiu falar com Gina. Depois de dias de distância e frieza um com o outro, ele decidira chamá-la até sua sala para conversarem. Havia pensado muito no que fazer e no que dizer, na forma certa de agir. A mulher, muito desconfiada, hesitou de início, mas tinha que ir. Não podia continuar fugindo dele e o evitando. Bateu na porta, entrou e sentou-se frente a ele, mas não o fitou. Enrolou os cabelos soltos e jogou para frente do ombro. Estalava os dedos, muito inquieta. Não disfarçava o nervosismo.
- Precisamos conversar, Ginevra. – Draco começou em tom muito sério. Diferentemente dos outros dias em que mal olhava para a mulher, encarou-a profundamente.
- Pode falar. – Começava a ficar ainda mais ansiosa. Não queria sentir-se assim, mas toda vez que estava perto dele sentia que seu coração batia diferente. Não conseguia controlar a própria respiração. Respirou fundo, tentando manter o controle.
- É sobre Diana...
A mulher o encarou por alguns segundos, não acreditando que ele realmente havia falado aquilo. Parecia estar decepcionada. Revirou os olhos e soltou um muxoxo irritado. Estava cansada daquele assunto.
- O que quer falar sobre minha filha?!
- Chega. – Draco disse duramente. Não estava mais disposto a ouvi-la falar daquela maneira. – Você vai ter que parar com isso. Não vou mais aceitar que você se refira à menina como se fosse unicamente sua filha. Não vou mais deixar você pensar no que vai fazer ou não, no que acha melhor ou não. Ela é minha filha e eu vou assumir isso, você querendo ou não.
- O que está querendo dizer? – Inclinou o corpo prá frente para se aproximar dele. Os olhos cerrados. Tentava conter a raiva. Não suportava a idéia de poder estar sendo ameaçada. – Ou melhor, o que acha que pode fazer? Contar à Diana que é pai dela? É essa sua grande estratégia?! – indagava irônica. O tom de voz se elevando.
- De fato não seria algo ruim. Mas creio que antes dela saber, é necessário que, primeiro, a justiça saiba.
Gina o fitou com ainda mais ódio. Não podia acreditar que estava ouvindo aquilo. Riu debochada, tentando encontrar uma maneira de reverter aquilo.
- Páre de ser idiota. O que você pretende fazer?
- Eu não queria fazer isso Gina, mas, se for necessário, eu vou provar que você me proíbe de ver minha filha. Eles vão obrigá-la a permitir que eu, no mínimo, a visite. E ela e sua família vão ficar sabendo da pior maneira possível que eu estou vivo. Você acha que Diana ficaria feliz em saber que a sua mãe lhe escondeu a verdade durante tanto tempo? Eu acho que não.
Gina engoliu a seco. Apenas o mirou durante segundos com um olhar indecifrável. Tomada de revolta, deu um soco na mesa. Não sabia o que fazer. Estava encurralada.
- Crápula! É isso que você é, um crápula miserável! – Levantou-se da cadeia e se pôs de pé, frente a ele. – Você acha isso certo? Você aparece do nada na minha vida após ter desaparecido durante anos. Me deixou completamente sozinha, sem se importar se eu estava bem ou não. E agora eu sou obrigada a te enfiar na minha família e na vida da minha filha, senão você vai por ela contra mim! É isso mesmo!? Realmente é muito justo... – terminou sarcástica. Embora seus olhos estivessem molhados, não choraria na frente dele. Não queria se mostrar tão fraca.
- Você está pondo as coisas de maneira dramática demais...
- Eu não vou ouvir mais nada. Não sou obrigada a ouvir tamanha loucura!
Gina deu-lhe as costas e saiu, batendo a porta com toda a fúria que sentia. Draco, vendo-a sair, não se deixou sensibilizar com o que ouvira. Em sua cabeça, estava certo e nada lhe tiraria a razão. Decidira que, infelizmente, teria que fazer as coisas do seu próprio jeito.
Quando deu por si já estava no seu carro. Por sorte, Gina não o havia visto sair. Pensou se era realmente o certo a fazer. Não sabia, mas era o que queria fazer e o faria. Deu a partida e dirigiu-se a caminho da escola de Diana. Quando estacionou o carro em frente ao local, viu que algumas crianças já corriam em direção aos pais. Saiu do carro e procurou com o olhar uma menina loira. Viu-a se sentar em um banco na entrada, junto com um menino menor, muito ruivo. Imaginou que seria o primo de Diana. Resolveu se aproximar da garota lentamente, tentando não chamar a atenção de ninguém. Com os óculos escuros e as mãos no bolso da calça, foi andando até eles. A menina estava muito distraída e, assim que o avistou, abriu um imenso sorriso e ficou de pé no banco, preparando-se para pular em cima dele. Quando viu que ele estava perto o suficiente, saltou em seu colo. Draco percebeu o que ela planejava e a agarrou com segurança. A menina beijou-lhe o rosto e o olhou nos olhos, ainda sorrindo. Agia como se o conhecesse há muito tempo.
- Como está, princesinha? – perguntou, já com os óculos na cabeça e fitou-a. Impressionava-se com tamanha semelhança entre seus olhos e os dela. Como podiam ser tão idênticos? Só havia uma pequena coisa que os diferenciava: ela tinha um brilho diferente nos olhos, um brilho de inocência e alegria que os dele já não tinham mais.
- Bem. Olha o meu primo. – falou apontando para o menino que, sentado no banco, olhava muito desconfiado para o homem. Um olhar muito parecido com o de Rony. Parecia ter o mesmo gênio.
- Oi Josh. – disse alegre ao ver o garoto, mas deu de ombros ao ver que não obteve resposta. “Weasley...” pensou ele. – Vim te convidar para tomar um sorvete comigo. O que acha?
- Eu quero. Mas meu tio Rony tá vindo me pegar. Não posso ir. – Pareceu triste ao se lembrar do detalhe.
- Seu primo pode avisar que você foi tomar sorvete com um amigo.
A menina concordou e pediu para descer do colo. Draco a colocou no banco. Ela se aproximou do ouvido do primo, falou algo que Draco não pode entender e só viu o menino concordar com a cabeça.
- Vamos? – perguntou ao estender a mão para a menina. Ela olhou primeiro e a segurou com confiança.
- Eu quero de chocolate!
Draco nem abriu a porta do carro. Pegou-a novamente no colo e a colocou por cima, sentada no banco do carona. A garota parecia meio boba ao ver o automóvel. Quando Draco entrou e se sentou ao seu lado, ela disse:
- É que nem o carro do filme que eu e mamãe vimos. Nem parece de verdade.
Draco riu e foi para o parque. Quando a menina comentou sobre a mãe, Draco se lembrou dela. Imaginou como Gina reagiria ao descobrir que ele estava com a filha. Com certeza não muito bem, mas ele tinha que fazer aquilo. Precisava conquistar, antes de tudo, o carinho e a confiança da menina para poder contar que era seu pai.

Gina mal saiu do elevador quando escutou o telefone de sua mesa tocar. Correu para atender.
- DMG's Company, escritório do senhor Malfoy, pois não... Rony! Já disse que não posso ficar recebendo ligações pessoais. Senhor Miller vai brigar comigo.
- Mas é algo sério, Gina. – O homem dizia do outro lado da linha com a voz preocupada. – Peça para o seu chefe permissão para ir para casa. É urgente!
- O que aconteceu?! – Logo se apavorou.
- É com Diana. Venha logo para o colégio dela!
- Está bem!
Gina mal bateu o telefone. Pegou sua bolsa e saiu correndo para ir embora. Nem se importou em avisar Draco e a ninguém mais que precisava ir embora. Depois resolveria. O importante era saber o que tinha acontecido com a filha. Pegou um táxi e, em poucos minutos, chegou na escola. Foi até a diretoria e encontrou Rony, Hermione com Josh no colo, a diretora do colégio e um segurança ao seu lado. Não entendeu.
- Que bom que chegou, senhorita Weasley. – A diretora falou ao ver a mulher entrar. Ofereceu-lhe a cadeira ao lado de Rony para que ela se sentasse.
- Onde está Diana? O que está acontecendo? – perguntou confusa. Começava a ficar nervosa.
- Nós não sabemos. – Rony disse num lamento.
- O QUÊ?! Como assim não sabem?
- Senhorita Weasley. Houve um pequeno incidente, mas a polícia já está de sobreaviso e procuram a menina.
- Como assim?!!! Onde está minha filha?!
- Gina, – Rony começou a falar ao pegar a mão da irmã. – não sabemos. Alguém veio e pegou Diana.
- Mas... Como? Por quê? Como você permitiu?! – gritou para o segurança.
- Me desculpe senhora, mas eu sou novo aqui. A diretora só havia me informado que um homem vinha pegar a menina e o menino. Só desconfiei quando vi que ele havia levado apenas a menina.
Gina olhou em volta com o olhar perdido. Parecia estar associando tudo o que ouvia. Voltou-se para o segurança. Num impulso, pulou em sua direção. Rony e Mione agarraram-na pelo braço e a puxaram para trás bem a tempo, antes que ela pudesse machucar o homem.
- Como você pôde deixar minha filha ir com um estranho?! – para o funcionário da escola enquanto a cunhada e o irmão a seguravam.
- A culpa não foi minha, senhora. – O segurança, que aparentava ser um rapaz novo, disse acuado num canto da sala. – Me desculpe, mas a menina foi voluntariamente. Eu só sabia que um homem vinha pegá-la. Como ela foi de imediato com o homem, sem nem ao menos ele falar nada, achei que fosse o tio dela.
Gina parou e o fitou pensativa.
- Quer dizer que a menina foi por vontade própria com ele? –indagou e viu o rapaz fazer sinal de afirmativo com a cabeça. – Ela o conhece então, pois Diana jamais iria com estranhos dessa forma... – conclui levantando hipóteses para o que tinha acontecido. As coisas começavam a fazer sentido em sua mente. Aquilo não parecia mais tão estranho.
- Sim! – Josh, do colo da mãe, gritou animado. – Ele é amigo dela!
- Como assim Josh? Como você sabe? – Hermione perguntou ao pôr o filho de frente para ela.
- Diana foi tomar sorvete com um amigo dela. Ela me contou. Ele é amigo da Tia Gina. Ela disse que ele também é bruxo. – Josh disse inocentemente, lembrando do que a prima contara-lhe. A diretora e o segurança o fitaram com estranheza.
Rony tentou disfarçar com um sorriso amarelo, fingindo que não era nada demais. Hermione tapou a boca do menino rapidamente e sorriu sem jeito.
- Josh é tão imaginativo! – A mãe do menino disse tentando manter um sorriso para disfarçar o constrangimento.
- Sim. Josh é muito criativo. – A diretora Mandison disse sorrindo.
Hermione respirou fundo ao ver que os dois trouxas realmente acreditaram que o menino dissera apenas bobeiras. Olhou o marido que também ficara mais tranqüilo. Fora muita sorte. Poderiam se embolar num grande problema.
- Há algum conhecido da senhorita que poderia fazer tal coisa? – A diretora perguntou a Gina, voltando ao assunto.
A ruiva encarou a janela com o olhar perdido. Parecia não ter escutado a pergunta. Tentava descobrir alguma coisa, o que poderia ter acontecido. Ficou alguns segundos em silêncio, quando voltou a se referir ao segurança.
- Como esse homem era? – indagou. O rapaz abaixou a cabeça e pôs as mãos sobre a testa. Tentava se lembrar.
- Ele estava muito arrumado. Usava um terno, óculos escuros. Era branco e loiro.
Fora o suficiente para que Gina levantasse furiosa da cadeira e saísse da sala correndo. Rony e a esposa, com o filho no colo, correram atrás dela. Só a alcançaram na rua.
- Gina, espere! – Rony gritou ao agarrar seu braço, impedindo-a de continuar a andar. – Você sabe quem fez isso não é? O que está escondendo de nós?
- Há muito tempo você está estranha Gina. Converse com a gente. Sabe que sempre estivemos ao seu lado. – Hermione falou ao pôr o filho no chão.
A ruiva fitou-os séria. Realmente tinha quase certeza de quem havia feito aquilo, e sabia também que o irmão e a cunhada a apoiariam em qualquer momento. Precisava mesmo dividir aquilo com alguém. Era melhor dizer a verdade.
- Vamos para casa e eu conto a vocês.
Entraram no carro e foram para o prédio. Mantiveram-se calados até chegarem. Subiram as escadas. Gina abriu a porta do apartamento e pediu que eles entrassem. Jogou sua bolsa na mesa.
- Querido, o vídeo-game de Diana está ligado na televisão do quarto. Vá lá brincar um pouco. – Gina disse ao sobrinho.
- Eba! – O menino gritou animado e foi correndo para o quarto, fechando a porta logo em seguida.
Os três sentaram-se à mesa. Gina pensou um pouco mais se realmente deveria contar aquilo. Sim. Podia confiar. Não só podia confiar, mas também precisava. Precisava dividir aquilo com alguém. Conviver com aquele segredo estava lhe fazendo mal. Procurou as palavras certas para começar. O melhor era ser o mais direta possível. Não podia enrolar. Tomo ar e começou.
- Eu tenho quase certeza que sei quem pegou Diana, mas antes vocês precisam saber de algo. – Parou novamente. – O pai de Diana não está morto... Ele está vivo e mais próximo do que nunca...
- O QUÊ?! – Hermione e Rony indagaram numa única voz e se entreolharam com o queixo caído, estáticos.
Gina começou a contar tudo que acontecera nas últimas semanas. Desde que descobrira que Draco Malfoy estava vivo e era o dono da empresa onde ela trabalhava até a discussão que tivera com ele horas antes dali. Só preferiu omitir sobre o dia em que ele tentara beijá-la e, depois de ter sido atropelada, ele a levara para casa. Achou melhor assim. Não só por se sentir envergonhada em falar sobre tal acontecimento como, com toda a certeza, Rony não iria gostar nada de ouvir aquilo.
Hermione e o marido pareciam não acreditar no que ouviam. Não conseguiam crer que Draco Malfoy estava vivo e que aparecera rico depois de tantos anos e de tudo o que acontecera. Rony, muito inquieto, levantou-se da cadeira e começou a caminhar pela sala de um lado para o outro, à procura de uma saída. Hermione apenas segurou a mão da cunhada e lançou-lhe um sorriso carinhoso. Sabia o quanto deveria ser difícil para a amiga suportar tudo aquilo.
- Mas como ele sobreviveu? Papai o viu morto. – Rony começou, ao voltar até elas. – O Ministério o deu como morto. Não é possível! Como?!
- Isso é o que menos importa agora Rony! – Hermione falou. – O importante é saber se foi ele quem levou Diana.
- Com certeza foi. – Gina, deixando se abalar pela preocupação que começava a dominá-la, disse, já alterada. – Ele me ameaçou. Disse que se eu não permitisse que ele se aproximasse de Diana, ia procurar à justiça e faria as coisas do jeito dele. Ele roubou a minha filha! – Abaixou a cabeça e começou a chorar. Não conseguia aguentar, tendo em mente a idéia de que poderia não ver sua filha novamente. Sua filha. A pessoa quem mais amava no mundo inteiro e pela qual faria tudo. Não. Não poderia aceitar.
- Vamos achá-la, Gina. Nós vamos achá-la. – Rony disse ao abraçar a irmã. Lembrou-se de quando a caçula era apenas uma garota e o enfrentava com unhas e dentes quando brigavam por motivos bobos, motivos de irmãos. Não acreditava que a irmã, sempre tão forte, pudesse se abalar tanto.

Draco deu o dinheiro ao vendedor e pegou o urso que acabara de comprar. O bichinho de pelúcia branco tinha nas mãos um coração vermelho. Ela deveria gostar. Levou-o até o playground, onde a menina brincava. Assim que ela viu o homem e o que ele tinha na mão, parou o balanço e saltou em direção a ele.
- Gostou? – Draco indagou à menina com um sorriso quando ela se aproximou.
- Sim. É muito bonito!
- É prá você. – falou e o entregou para a menina que, com um enorme sorriso e os olhos cintilando de alegria, encarou o urso em mãos e o abraçou com carinho.
- Obrigada, Draco. – disse ainda com os olhos fechados, agarrada ao brinquedo.
- De nada, princesa – Sorriu. Encantava-se em ver como a garotinha era doce e meiga. Seu jeito era muito parecido com o de Gina quando adolescente. Sempre carinhosa e cheia de ternura. Perguntou-se porque ela não era ainda assim. Se o fosse, as coisas poderiam estar sendo bem mais fáceis. – Que tal mais um sorvete para eu levá-la para casa?
- Está bem! Outro de chocolate! – A criança saiu correndo na frente até a barraca de sorvete.
Draco pegou a mochila e a lancheira da menina que estavam em um banco e foi atrás dela. Não imaginou que pudesse se divertir tanto com uma criança como naquele dia. Estava cansado, exausto. Havia corrido e brincado como um moleque. Jamais se imaginara um homem assim. E não o seria se não fosse por sua filha. Sorriu ao vê-la falar com o sorveteiro. Mesmo muito nova, era bastante independente, com iniciativa. Muito autêntica. Sentia que cada vez mais se apaixonava pela menina. Não conseguia entender como gostava dela mais e mais de forma tão rápida. Não seria exagero se dissesse que já amava muito. E havia sentido pouquíssimas vezes tal sentimento, se não somente uma vez, com Gina. Mas o que sentia naquele momento era diferente de tudo que já sentira em toda a sua vida. Não saberia como descrevê-lo. Queria estar sempre com ela, protegê-la de tudo e todos que lhe pudessem fazer mal. Ajudá-la quando precisasse, ensinar-lhe coisas importantes. participar da vida dela. Poder consolá-la quando ela estivesse triste, dar-lhe ânimo quando ela estivesse por baixo. Queria ser seu pai. Um pai muito diferente do que Lúcio Malfoy fora para ele, disso tinha certeza. Só não podia entender como aquilo acontecera de maneira tão instantânea. E, se ele sentia aquilo tudo e não poderia fazê-lo por não estar sempre com ela, porque Lúcio jamais agira daquela forma com ele? Preferiu ignorar aquele pensamento. Não lhe importava mais. Não sabia o que tinha acontecido com os pais e não se importava mais. Pagou o sorvete e foi com a menina até o carro. Jogou as coisas dela, junto com o urso e uma enorme bola, que também dera a ela, no banco de trás. Esperou que ela terminasse de comer para limpar suas mãos e sua boca, que estavam completamente meladas. Colocou-a no banco do carona e entrou em seguida. No caminho, não pôde deixar de pensar novamente no que Gina faria com ele. Provavelmente já havia dado falta da menina. Ficou um tanto que receoso. Ela poderia matá-lo ou estrangulá-lo. Engoliu a seco com a mão no pescoço. Olhou para o lado. A menina observava a paisagem. Sorriu. Valeria a pena. Só pela tarde maravilhosa que passou com a filha, valeria a pena morrer nas mãos de Gina, ou mesmo ter que escutar qualquer sermão e enfrentar qualquer discussão.
Estacionou em frente ao prédio antigo. Pegou todas as coisas da menina e foi com ela até a entrada.
- Tio Rony está aqui. Ali o carro dele. – A garota afirmou ao apontar para um carro do outro lado da rua e entrar pelo portão do prédio.
Draco ficou ainda mais temeroso. Teria de enfrentar dois Weasleys furiosos e temperamentais. Não seria nada fácil. Bem lembrava de como Gina, ainda menina em Hogwarts, ficava quando estava irritada. Junto com o irmão que ficava ainda pior, nem queria imaginar. Mesmo assim tinha que ir até lá e os enfrentar. Já estava na hora de todos saberem que ele estava vivo e faria o que fosse preciso para poder ficar com a filha.
Assim que chegaram no andar certo, Diana correu até a frente do seu apartamento e tocou a campainha. Draco preferiu esperar um pouco mais afastado. Não queria ficar tão à vista.

Rony estava no quarto conversando com o filho sobre o que ele dissera na escola. Falava que não poderia contar e nem comentar na frente de ninguém sobre o mundo bruxo, porque era perigoso e proibido. O menino se desculpou e prometeu não fazer aquilo de novo. Apesar de pequeno, parecia entender muito bem as ordens do pai.
Hermione estava sentada com Gina no sofá, tentando tranqüilizá-la. Poderia entender o que ela estava sentindo afinal também era mãe. A ruiva, deitada, apoiou a cabeça sobre as pernas da amiga. Escutaram a campainha tocar. Gina pareceu não se importar. Ignorou o som. Hermione levantou-se e correu para abrir a porta. Surpreendeu-se ao ver a sobrinha.
- Diana! – gritou e pegou a menina no colo. Abraçou-a. – Estávamos preocupados querida...
- Cadê a mamãe?
Assim que Gina ouviu a voz da filha, virou-se e a viu. Não acreditou. Sem se controlar, começou a chorar. Quase caiu ao se levantar rapidamente do sofá e correu até ela. Pegou-a do colo de Hermione e a abraçou muito forte.
- Minha filha! Filha, meu amor... – dizia em meio a beijos que dava em todo o rosto da menina. – Eu te amo tanto querida! – Apertava ainda mais a menina contra o próprio peito enquanto o choro se intensificava. Não podia acreditar que estava com a menina novamente em seus braços. Não queria soltá-la nunca mais. Estava muito feliz.
Hermione, que também chorava emocionada ao ver a cunhada com a filha, ia fechar a porta quando viu a sombra de Draco caminhando até ela. Paralisada, não conseguiu dizer nada. Realmente ele estava vivo e Gina estava certa, ele estava com Diana.
- Olá Granger. Quantos anos não? – Draco falou com um sorriso irônico e superior, típico.
- Malfoy... – fora a única coisa que ela conseguira dizer.
Ele, sem dizer nada, entrou e parou perto da porta, encostado na parede. Viu Gina abraçada à filha. Percebeu que a mulher chorava. Sentiu-se um pouco mal. Imaginou como ela deveria estar preocupada com a menina.
- Eu tava passeado mamãe. – A menina disse quando a mãe a pôs no chão.
- Com quem filha? Com quem? – indagou ao secar as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.
- Com o Draco – Apontou em direção da porta.
Gina olhou para onde a filha indicava e viu a figura do homem a encarando, um tanto receoso. Respirou fundo. Sabia que ele havia feito aquilo. Segurou-se para não começar a gritar com ele na frente da menina pois poderia assustá-la. Mas estava com muito ódio, não podia negar. Por mais que ainda o amasse como homem, sua filha vinha acima de tudo. E o que ele fizera não tinha perdão.
Hermione, ao ver o olhar da amiga brilhando em fúria, percebeu que começaria uma grande briga ali. Correu para puxar Diana em direção ao quarto.
- Venha prá você me contar como foi seu dia.
- Está bem. – concordou dando de ombros. Foi até Draco para despedir-se. – Tchau Draco. – Beijou-lhe o rosto quando ele abaixou.
- Tchau princesa. – Ele disse ao acariciar os cabelos da menina, sem tirar os olhos de Gina, que ainda o fitava duramente.
A menina correu até a tia. As duas entraram no quarto e fecharam a porta. Gina não conseguia desviar o olhar do loiro. Os punhos cerrados. Draco ficou com medo. Nunca havia visto a mulher com tanta cólera nos olhos. Com certeza, não seria nada fácil acalmá-la. Isso, se o conseguisse.

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