Até Quando?



Gina não tomava um café da manhã tão animado há muito tempo. A filha conversava empolgadacom Harry e ele parecia muito atento a cada palavra que escutava. Era atencioso e se davam muito bem. Gina via a cena com um sorriso. Não tinha dúvida alguma de que Harry seria um ótimo pai. Às vezes sentia vontade de rir do quanto o destino era irônico com ela. Passou a grande maioria de sua adolescência completamente apaixonada pelo moreno, e agora ali estava ela, desejando ter por ele qualquer vestígio de sentimento que não fosse de amizade por ele. No entanto, não conseguia. Amava apenas uma pessoa e nem mesmo toda a atenção e carinho de Harry poderiam mudar aquilo.
Ao terminarem de tomar café, desceram os três até a entrada do prédio, onde Rony já esperava dentro do carro. Gina tentou de todas as formas ignorar o olhar desconfiado e maldoso do irmão, que percebeu que Harry havia dormido lá. Contou logo como ficara tarde para Harry ir embora à noite e fez de tudo para deixar claro que ele havia dormido no sofá. Não permitiria que o irmão pensasse qualquer coisa equivocada naquela situação. Mesmo Rony acreditando, pois conhecia a irmã e sabia que ela não agiria de forma imprópria, não deixou de ficar satisfeito ao ver que os dois se entendiam.
Pararam o carro uma esquina antes da empresa, só para que Gina descesse e Rony levasse a pequena Diana para sua casa, já que ela não tinha aula e passaria a tarde brincando com o primo. A ruiva despediu-se de todos e deu um enorme beijo na filha.
Caminhava lentamente até a empresa quando se surpreendeu com a figura de Draco, logo na recepção. Os braços cruzados sobre o peito, a postura rígida, o olhar sério. Arrepiou-se desconcertada. Não podia negar o quanto ele parecia mais bonito a cada dia. Ia cumprimentá-lo com um “bom dia” quando ele se aproximou.
- Onde estão os relatórios? Preciso deles agora! – O loiro disse encarando-a da forma que prometera, frio.
Gina sentiu seu rosto queimar. Faltavam-lhe as palavras certas. Balbuciava letras sem sentido. Não sabia que desculpa dar e tinha consciência de que nunca soube mentir. A única solução seria dizer a verdade.
- Eh... bem... eu... – Suava. Passou as mãos úmidas nervosamente pelos cabelos.
- Senhorita Weasley, onde estão os relatórios? – perguntou num tom que deixava claro que seria a última vez que falaria calmamente.
- Eu não consegui terminar...
- Por quê?! – interrompeu ameaçadoramente. A impaciência já estava clara.
- Eu estava muito ocupada ontem porque... porque... ontem eu...
- Minha mãe tava ocupada ontem porque o tio Harry estava lá em casa. – Uma voz doce e suave surgida de repente anunciou.
Draco e Gina olharam para o lado e não viram ninguém. Estranharam. Olharam um pouco mais abaixo e viram Diana, com um sorriso gigantesco no rosto. Não tinham visto a menina antes, já que estavam muito entretidos na “conversa”. Gina sentiu seu sangue congelar. Viu que Draco encarava a menina com um sorriso. Ao perceber que ele ia abaixar para falar com ela, tratou logo de pegar a filha no colo. Ganhou um beijo da pequena menina.
- Querida, o que faz aqui? – perguntou sem conseguir tirar os olhos do loiro à sua frente. Não queria que ele nem ao menos olhasse para ela e aquela proximidade toda a fazia se sentir mal. Os três finalmente juntos. Sentiu medo sem saber ao certo por que.
- Você esqueceu de levar isso. – falou ao entregar uma presilha de cabelo vermelha para a mãe. Gina sorriu e lhe deu um beijo.
- Obrigada amorzinho. – disse e a pôs no chão. – Agora vá que seu tio a está esperando.
- Oi Draco. – Diana disse soltando-se do braço da mãe e se aproximando do homem. Gina tentou impedir, sem sucesso. – Você também trabalha aqui com minha mãe?
Draco, ainda sorrindo, abaixou-se. Sentiu uma felicidade repentina que surgiu ao ver a menina. Era tão linda, tão encantadora, como uma princesa. Sua princesa. Mais que sua princesa, sua filha. Filha. Palavra que jamais pensou fosse dizer. Tinha uma filha e se sentia muito bem com isso. Queria poder abraçá-la de verdade, se aproximar, mas sabia que Gina jamais permitiria.
- Sim. Como você está?
- Vou prá casa da minha tia brincar com o Josh. – Ela disse ao estender os braços sobre os ombros de Draco. Confuso, encarou Gina e viu que ela não parecia gostar nada da cena. Ele demorou a entender que a menina queria colo, mas logo que compreendeu, nem ao menos pensou duas vezes e a agarrou, levantando-a entre seus braços. Sentiu vontade de gritar de felicidade. O que mais queria naquele momento era poder segurar a filha daquela maneira.
- Quem é Josh? Um primo? – perguntou, tentando dar continuidade à conversa. Não interessava qual seria o assunto. Só queria escutar a voz da menina. Poder olhar nos olhos dela daquela forma e ver o quanto eram parecidos.
- É!! – A menina gritou empolgada e riu. – Adivinhou!
Gina ficou por algum tempo fitando os dois. De primeira, sentiu-se desesperada e até ameaçou pegar a garota dos braços dele, mas não conseguia. Era impossível não ver, por mais que quisesse fazê-lo, que ele gostava muito dela e vice-versa. A menina não ficava com um sorriso tão espontâneo e a risada tão animada nem mesmo com seus tios. Não podia negar o quanto se sentia emocionada em vê-los daquela forma tão ligada. Sentiu-se mal por querer esconder da menina a verdade e principalmente por tentar impedir que Draco se aproximasse dela. Não podia separá-los. No fundo não era o queria. Sorria ao ver como a menina alisava o rosto do homem às vezes, enquanto falava. Pareciam se conhecer a tanto tempo. Queria chorar, mas aquele não era o local. E também não era a hora. Respirou fundo e aproximou-se dos dois.
- Filha, você tem que ir. Tio Rony está te esperando no carro. – disse carinhosamente e pegou a menina do colo de Draco, deixando-o desapontado. – Vá rápido. À noite nos vemos. – Beijou-lhe o topo da cabeça.
- Está bem mamãe. – A menina concordou de cabeça baixa não escondendo o descontentamento. – Tchau, Draco. – continuou sem olhá-lo e se encaminhou para a saída.
- Tchau princesa. – Acenou e viu a menina passar pela porta automática de vidro. – Ela é tão linda, Gina, tão linda! – falou para a mulher ao seu lado esquecendo de todos os desentendimentos ocorridos entre eles.
- Eu sei. – concordou com um sorriso e virou-se para fitá-lo. –Desculpe-me. Eu vou fazer todos os relatórios agora mesmo e no prazo de duas a três horas lhe entrego.
Draco fechou os olhos por alguns segundos e seu ar sério voltou. Parecia transformar-se em outra pessoa. Encarou-a de forma dura, por mais que para ele fosse difícil fazê-lo.
- Estava muito ocupada, não é? Com seu namorado?!
O loiro só agora havia lembrado do que a menina disse ao chegar. Harry Potter esteve na casa dela. Então eles ainda se viam, ou pior, poderiam estar juntos. Um ódio cheio de ciúme lhe invadiu. Não queria imaginar Harry na mesma casa que Gina e sua filha, assumindo um lugar que poderia ser somente seu.
- Que namorado?!
- Diana mesmo disse que você estava ocupada ontem por causa de certas visitas. – terminou com desprezo na voz. –Finalmente conseguiu o que sempre quis? O todo maravilhoso Harry Potter...
Gina sentiu que se continuasse ali mais alguns minutos não aguentaria segurar a vontade de chorar. Como ele tinha coragem de dizer aquilo? Queria poder bater na cara dele, mas não podia esquecer que estava na empresa e havia pessoas em volta. Sem saber o que dizer, não ousou negar nada. Deixaria ele pensar o que ele quisesse.
- Se Harry é o não meu namorado você não tem nada a ver com isso, Malfoy. Você não tem nada a ver com minha vida!
- Sim, eu concordo. E não pense que eu estou interessado em sua vida pessoal, senhorita Weasley. Mas se isso começa a interferir em seu trabalho, me interessa. E somente por isso! – mentiu.
Gina, magoada com o desprezo dele, apenas deu-lhe as costas e foi para o elevador. Não queria escutar mais nada.

Semanas se passaram e eles apenas se falavam quando era necessário. Sempre distantes, tratavam um ao outro com respeito e nada mais. Draco mantinha-se exigente e Gina sempre eficiente, cumprindo suas obrigações. Mas só eles mesmos sabiam o quanto estava sendo difícil continuar assim. Para Draco, o mais difícil era entrar naquela sala, sentir o cheiro dela e ter de resistir. Encarar a fotografia de Diana, que ficava num porta-retrato em cima da mesa de Gina, também não era fácil. Sentia saudades da menina. Gina tentava evitar encará-lo ao máximo. Sabia o quanto aqueles olhos a fascinavam. Ter que ficar tão perto dele era quase uma tortura. Mas, sem dúvida alguma, o mais difícil era ter de atender os telefonemas das várias mulheres que ligavam para ele e não poder dizer nada. Tentava controlar o ciúme e se convencer que não era nada mais dele, mas era impossível. Cada vez que ele saía na hora do almoço sozinho, ou no fim da tarde, imaginava com quem ele se encontraria. Não sabia que ele não conseguiria ficar com nenhuma outra mulher que não fosse ela.
Era tarde de sexta-feira. Todos os funcionários tinham ido embora, até mesmo Miller. Apenas Draco e Gina estavam ali, naquela enorme empresa. Terminavam de fechar alguns balancetes necessários na próxima reunião para irem embora.
- Mas o juros no mês passado estavam baixos. Nesse mês eles já cresceram 0,5 por cento. É um valor considerável. E esse quadro não deve reverter tão cedo...
- Então ficará dessa forma mesmo. – Draco disse ao fechar os olhos e jogar a cabeça para trás. Parecia exausto, e realmente estava.
- É melhor pararmos por aqui. O senhor está cansado. Se precisar, continuamos amanhã...
- Não, tudo bem. – interrompeu-a sem abrir os olhos. Continuou com a cabeça apoiada na cadeira. – Acho que já está resolvido.
- Tudo bem... – Gina concordou e recolheu a papelada.
Foi até sua mesa arrumar as coisas para ir embora. Precisava ir para casa descansar. Passar o dia inteiro trabalhando com Draco não era fácil. Precisava de um banho frio. Arrumou sua bolsa e sua pasta e foi até a sala do chefe. Da porta mesmo disse:
- Até amanhã, senhor. – Não ouvindo resposta, estranhou. Ele nunca a ignorava. Aproximou-se e viu que ele dormira ali mesmo. Riu. – Senhor Malfoy, senhor... – chamava enquanto balançava seu ombro delicadamente, mas nenhum sinal dele despertar. – Draco, acorde. Acorde!
Aos poucos ele foi abrindo os olhos. Levantou a cabeça e encarou o rosto da ruiva, muito próximo do seu. Sorriu. Gostou da sensação que não sentia há anos. A respiração dela, o aroma de seus cabelos e de sua pele. Sentiu-se um pouco fora de controle. Talvez fosse o sono ou o efeito do vinho que tomara na hora do almoço. Não tinha idéia do que era ao certo, só sabia que não aguentava mais a vontade de ter aquela mulher perto de si. Levou a mão ao rosto dela e a acariciou. A pele quente dela lhe trouxe lembranças. Lembranças de Hogwarts. Lembranças que jamais poderiam ser esquecidas. Desceu a mão do rosto para o pescoço dela. Gina, estática, não sabia o que fazer. Não estava entendendo o que ele estava fazendo ou, pelo menos, tentando fazer.
- Senhor Malfoy, é melhor irmos. – disse querendo afastar-se, mas não tinha forças. Sentia que seu corpo era atraído pelo dele. Buscava dentro de si qualquer rastro de sensatez que a desvencilhasse dele. Não tinha.
- Chega de senhor... Não aguento mais isso. – disse e puxou o rosto da mulher até o seu. Mal pôde encostar seus lábios nos dela e Gina se afastou.
Ela o encarou imóvel, querendo entender o que seu coração sentia. Enquanto o que mais desejava era poder beijá-lo de verdade sentia ódio dele por ele ter feito aquilo. Confusa, correu até sua mesa, pegou suas coisas e desceu as escadas desesperadamente. Só queria sair dali. Não estava acreditando no que havia acontecido. Quase havia fraquejado. Ao chegar no térreo, parou perto da recepção para respirar, mas logo que ouviu os gritos de Draco vindos da escada continuou a correr para fora da empresa. Não queria que ele chegasse tão perto novamente. E em meio aos flashes que vinham em sua memória do que havia acontecido minutos antes, e o ritmo de seu coração extremamente acelerado, tudo aconteceu muito rápido. Gina só pôde escutar a voz de Draco gritar e a freada de um carro. Quando se deu conta do que havia acontecido, estava do outro lado da calçada jogada ao chão, suas costas doendo, os cotovelos ardendo e com o corpo de Draco sobre o seu. O loiro, com a respiração pesada, a fitava assustada enquanto, passando a mão pelo seu corpo. Verificava se ela estava bem. Ainda desnorteada e tonta olhou para o lado e viu um carro batido no poste, muito próximo deles, e um motorista furioso vindo em sua direção.
- Você é maluca?! –O homem gritava ao se aproximar da ruiva. – Não olha para os lados?! E agora, como fica meu carro?
Draco levantou-se rapidamente e foi até o homem ao perceber que Gina parecia não estar entendendo o que acontecia.
- Eu arco com as despesas do conserto. O loiro disse ao olhar de relance para Gina, que permanecia sentada no chão.
Só então a mulher entendeu o que acabara de acontecer. Quase havia sido atropelada, mas Draco a salvara. Olhou para ele. Viu-o abrindo a carteira, contrariado, e entregar algumas notas para o homem que, incrivelmente num segundo, mudou o semblante de irritado para satisfeito. Ao guardar o dinheiro que ganhara, pegou seu carro destruído na frente e seguiu pela estrada a toda velocidade. Não parecia nada um motorista prudente. Draco, voltando para onde Gina estava, resmungava enquanto guardava a carteira novamente no bolso.
- Aquela lata velha não vale nem metade do que eu dei... – dizia a si mesmo. Abaixou-se perto da ruiva e a fitou com o olhar preocupado. – Como você está? – perguntou ao passar a mão por seus cabelos bagunçados.
- Bem... – disse sem muita convicção. Ficou de pé com o apoio de Draco e tentou andar, mas não conseguiu. Gritou de dor. Seu joelho doía muito. – Nem tanto.
- Eu te levo para casa...
- Não! – interrompeu-o logo. Não queria aceitar nada dele. – Não precisa. Eu pego um ônibus ou ligo para Rony vir me pegar.
- Ginevra, já é quase de madrugada. Ele já deve estar dormindo. Eu a levo. Não se preocupe.
Gina o encarou desconfiada. Sabia que no fundo podia confiar nele, mas imaginou se aquilo não poderia ser entendido como uma esperança para os dois. Tentou dar mais um passo, mas viu que era impossível. Sua única opção era aceitar a ajuda dele.
- Tudo bem, então. –concordou a contra-gosto.
Draco sorriu satisfeito e a pegou no colo, deixando Gina surpresa. Foi até o estacionamento da empresa levando-a com facilidade. A mulher, com um braço nas costas dele para que pudesse se apoiar, estava se sentindo completamente sem jeito naquela situação. Como se não bastasse o que havia acontecido a pouco na sala dele, agora aquela situação constrangedora. Draco colocou-a no chão com todo o cuidado para abrir o carro e a ajudou a se sentar no banco do carona. Entrou logo depois e deu a partida sem ao menos dizer uma palavra. E assim foi, durante todo o caminho. Os dois aparentavam o desconforto com a situação. Gina desejava chegar logo em casa e Draco só queria voltar no tempo para consertar o que havia feito. Não acreditava que havia tentado beijá-la e quase conseguira. Era cedo demais para fazer aquilo. Cedo ou tarde demais.
Gina apontou para o prédio onde deveriam parar. Ao sair do carro sentiu que já podia andar, mas com o apoio de alguém. Draco pegou o braço dela, o pôs em torno de seu pescoço e a segurou pela cintura. Subiram as escadas com cuidado até seu andar. As luzes do hall se acenderam automaticamente. Por sorte não havia ninguém ali. Gina abriu a porta do apartamento e viu tudo escuro e silencioso. Estranhou. Não escutou nem ao menos o som da televisão ligada, como Diana deixava sempre. Draco a colocou no sofá e acendeu a luz.
- Diana! Querida, onde você está? – Gina gritou da sala em direção ao quarto e não ouviu nada. Ameaçou se levantar, mas Draco a impediu.
- Onde você pensa que vai? Não pode ficar andando!
- Tenho que ver onde minha filha está!
- Não precisa... Eu vou...
- Não! – Gina o interrompeu depressa. – Não quero que ela te veja aqui.
Draco a olhou profundamente decepcionado. Como, depois de tudo que havia acontecido, ela tinha coragem de agir assim? Parecia que a única coisa com a qual ela realmente se importava era esconder a verdade da menina. Balançou a cabeça negativamente. Não queria fazer e nem dizer nada naquele momento. Não começaria uma discussão novamente. Puxou-a com cuidado pelo braço e a levou até o cômodo que parecia ser o quarto. Entraram. Draco acendeu as luzes e ajudou Gina a se sentar na cama. Viu um bilhete na mesa de cabeceira e o entregou à ruiva.
- Diana foi dormir na casa de Rony. – disse aliviada. Menos uma situação constrangedora.
Draco simplesmente a ignorou. Pediu que ela deitasse na cama. Ela, sem saber o por quê, somente obedeceu. Ele tentou mexer sua perna, mas ela gritou de dor involuntariamente. Draco afirmou que era apenas um deslocamento. Pegou sua outra perna e levantou sua calça até a altura do joelho. Havia apenas um hematoma. Apertou, mas parou ao ouvir Gina gemer novamente.
- Dói? – indagou. Ela apenas afirmou com a cabeça. – Posso ir à cozinha preparar algo?
Gina apenas concordou. Ele se retirou do quarto e voltou uns quinze minutos depois. A ruiva estava deitada e, ao vê-lo, se levantou rapidamente. Draco, que trazia um copo na mão, sentou-se ao lado dela. Deu-lhe o copo para que ela bebesse.
- Isso é horrível!! – reclamou ao bebericar um pouco do líquido verde.
- Mas vai te ajudar. Beba logo!
Gina, contrariada, bebeu todo o copo. Teve de se segurar para não cuspir tudo. Pôs uma das mãos sobre o estômago tentando controlar o enjôo. Jogou o corpo mais para trás e apoiou a cabeça na cabeceira da cama.
- Amanhã você já estará bem. Os arranhados irão sumir. Apenas descanse.
Disse e se levantou. Foi em direção da porta, dando-lhe as costas.
- Onde você vai? – perguntou ao levantar levemente a cabeça. Já não sentia mais tantas dores pelo corpo.
- Embora. Não é o que você quer desde o momento que eu entrei aqui? – terminou e, lhe dando as costas novamente, saiu pela porta, deixando Gina sem reação.
- Draco, volta aqui! – A ruiva gritou ao tentar se levantar, mas sentou-se novamente. Viu que sua perna não estava tão boa assim para tentar andar.
Esperou alguns segundos até que o viu entrar no quarto de cabeça baixa.
- Não é verdade o que disse. Agradeço-lhe por ter me ajudado e te peço desculpas se por acaso acabei demonstrando algo diferente.
- Por que não permite que eu me aproxime de Diana? – disse ao chegar mais perto da cama. Fitou a mulher diretamente nos olhos. – Ela é minha filha também e você não pode negar.
- Não quero discutir sobre isso com você de novo... – Desviou o olhar do dele e encarou a janela aberta. A janela na qual passara muitas noites em claro, pensando no homem que naquele momento estava ali, na sua frente. Não conseguia entender porque aquilo, que era pra ser um sonho, tornava-se um pesadelo.
- Até quando?! Pra você é muito fácil falar! Eu descobri agora que tenho uma filha e a única coisa que desejo é me aproximar dela! Se há alguma coisa de errado nisso, não me importo porque pra mim é o correto e eu não vou desistir! –Draco disse rápido quase que tropeçando nas palavras. Não continha a raiva e a frustração que sentia. Começava a ficar cansado da teimosia da mulher.
Gina o encarou confusa. Não sabia o que fazer. Por um lado, não podia culpá-lo e sabia que ele estava certo. Mas por outro lado, a mágoa do passado não permitia que ela agisse racionalmente. Sabia que ainda o amava e só o queria ver junto dela novamente, mas como deixar o orgulho e o passado para trás? Era difícil.
- Eu tenho que pensar nisso... – Foi a única coisa que conseguiu dizer.
Draco, tomado de revolta, deu-lhe as costas novamente, caminhou até a sala e saiu, batendo a porta furiosamente. A ruiva, sem saber o que fazer, com todo seu esforço, foi até a janela e segundos depois o viu saindo do prédio e se aproximar do carro. Ele se apoiou de costas na porta e parou assim por alguns minutos. Parecia estar pensativo. Gina, arrependida da maneira como agira, sentiu que começaria a chorar. Apoiou-se na janela e cobrindo o rosto com as mãos deixou que as lágrimas caíssem pelo seu rosto. Não sabia quanto tempo poderia suportar aquela situação.
Draco abriu a porta do carro e, antes de entrar, olhou mais uma vez para a janela de Gina. Percebeu que ela estava chorando. Queria ir até lá para consolá-la, mas não iria. Tinha certeza absoluta de que ela não o queria por perto. Disse a si mesmo que não se meteria na vida dela novamente, mas não iria permitir que ela lhe tirasse o direito de pai. Iria atrás de sua filha e do direito de poder tê-la perto de todos os jeitos possíveis. Mesmo que para isso precisasse travar uma batalha contra a mulher que amava e contra si mesmo.

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