Apenas o Começo



Naquela manhã em especial sua sala parecia ainda mais fria e vazia. Draco logo concluiu que seria conseqüência dos acontecimentos do dia anterior. Suas olheiras não deixavam passar despercebida a noite mal dormida. Preferiu evitar ouvir qualquer comentário dos funcionários da empresa. Não queria empregados sabendo e comentando sobre sua vida. Fechou as persianas da janela para que nenhuma claridade pudesse entrar. Deitou-se no sofá e fechou os olhos. Precisava descansar. Não conseguiria manter-se em pé por muito tempo naquele estado.

Gina foi trabalhar a muito contragosto. Não queria nem pensar o quão perto estaria de Draco. Também não pôde dormir à noite. Seus pensamentos, tão intensos e confusos, não permitiam que qualquer rastro de sono pudesse se aproximar. Mas passar a noite acordada havia sido bom em um ponto: tomou uma decisão. Poderia não ser a decisão mais inteligente de sua vida, mas era a única que encontrou naquele momento. Tinha que pedir demissão. Não poderia trabalhar para o único homem que não queria ver. Pediria uma carta de recomendação e procuraria outro emprego. Não seria fácil, mas tinha que tentar. Seus amigos perguntaram o que havia acontecido no dia anterior. Ela disse apenas que teve urgência em buscar a filha. Confiava neles, mas não achava o momento mais oportuno para que soubessem daquelas coisas. Não queria remexer mais ainda naquele passado que lhe causava tanta dor.
Estava sentada em seu lugar na recepção quando Miller chegou. Imediatamente correu em sua direção.
- Senhor, preciso conversar sobre um assunto muito importante. – disse frente ao homem que a encarou com uma expressão séria.
- Venha até minha sala. – falou depois de pensar alguns segundos e foi andado sem verificar se a mulher o seguia.
Foram até um corredor mais isolado e entraram numa pequena sala que não era nem a terça parte da de Draco Malfoy. Miller se sentou e Gina fez o mesmo, à sua frente.
- E então... – O homem começou não disfarçando a pressa em tratar o assunto.
- Bem, eu queria pedir minha demissão. – A ruiva disse de cabeça baixa. No fundo não o queria, mas tinha de fazê-lo pelo seu próprio bem e de sua filha.
- COMO?! –Miller pareceu não acreditar. Tirou os óculos e a encarou. – Por que senhorita Weasley?
- Problemas pessoais, senhor. Sinto, mas prefiro não dizer.
- Tudo bem, mas tem certeza? Logo agora em que a senhorita está em um ótimo cargo?
- Sim, senhor. Não tenho outra escolha.
Miller a encarava enquanto refletia sobre algo que Gina não conseguiu imaginar. O homem colocou novamente os óculos e entrelaçou os dedos com ar muito misterioso.
- A decisão é sua. No entanto, terá de falar com o Senhor Malfoy. Ele é quem dá a última palavra.
Gina ia discutir, mas preferiu calar-se para não levantar suspeitas de que ele era a razão de sua saída da empresa. Ela concordou com a cabeça.
- Pode subir. Ainda é a secretária dele e a única com autorização a subir sem ser anunciada.
Gina se levantou e foi até o elevador. Infelizmente, a porta logo se abriu. Entrou e viu-a se fechar. Sozinha ali, apoiou-se em um espelho esperando que ficasse horas dentro daquele elevador para não ter de encarar Draco. Escutou um baixo apito e a porta se abriu de novo. Caminhou pelo hall lentamente até ficar frente à porta da sala de seu chefe. Bateu uma vez e não ouviu resposta. Bateu mais uma vez e nada. Lembrou-se do dia anterior com pesar. Só o que lhe faltava era ter outra surpresa agora. Encostou o ouvido na porta e não escutou nada. Indagou a si mesma se o homem estaria ali. Resolve entrar. Abriu a porta vagarosamente e olhou em volta. Nenhum sinal do loiro. Estranhou e entrou, fechando a porta em seguida. Foi até a mesa dele e viu somente sua maleta e diversas papeladas. Olhou para o lado e surpreendeu-se ao vê-lo deitado no sofá. Aproximou-se em silêncio e confirmou que ele estava dormindo. Fitou-o profundamente. Um de seus braços caía para fora do sofá, e o outro permanecia sobre seu abdômem. Parecia exausto. Gina não soube dizer quanto tempo permaneceu ali, apenas observando aquele homem. O jeito como seu peito subia e descia com a respiração lenta e pesada parecia hipnotizá-la. Imaginou o quanto seria bom voltar a abraçá-lo e apoiar a cabeça sobre aquele peito como faziam quando eram jovens. Não poderia. Não poderia sentí-lo novamente. Lembrou-se do assunto que a levara até ali. Afastou-se um pouco e tossiu algumas vezes até vê-lo se mexer. Quando viu que ele começava a despertar disse num tom de voz seco:
- Preciso conversar com você.
Draco, ao escutar a voz da mulher levantou-se assustado. Seu coração começou a bater rapidamente. Jamais esperou ver Gina ali em sua sala, naquele momento. Só a presença da mulher era suficiente para que todo seu corpo se agitasse. Ficando de pé, encarou-a muito surpreso e desconfiado.
- Preciso conversar com você. – repetiu muito séria tentando parecer o mais fria possível.
- Fale... – Não pôde esconder um fio de esperança que escapou de seu tom de voz.
- Quero lhe avisar que estou me demitindo.
- Como?! – Draco fitou-a como se não estivesse ouvindo bem. Aproximou-se dela. – Pode repetir?
- Estou me demitindo!! – disse sem paciência. – O que você não entendeu?
Draco simplesmente a olhou, balançou a cabeça negativamente e foi até sua mesa, sentando-se em sua cadeira. Estendeu a mão pedindo que Gina fizesse o mesmo. A ruiva o fez tentando se manter o mais distante possível.
- Eu só quero uma carta de recomenda...
- Você parece não pensar, não é garota?! – Ele a interrompeu, deixando o tom empresarial e cortês que aquela sala lhe dava de lado. – E você acha que está muito fácil conseguir emprego nesse mundo trouxa não é?
- Eu tenho que tentar...
- Você não tem que tentar nada! – Inclinou o corpo para frente. Parecia estar ligeiramente irritado. – Você está de infantilidade por que não quer ficar perto de mim, e não tente negar.
- Eu não vou negar. – Também tentava se manter firme, mas a maneira que ele a olhava causava-lhe arrepios. – É verdade o que disse. Não quero ficar perto de você.
- E você vai pagar suas contas com o quê? Vai se alimentar de quê? Ou melhor, vai alimentar nossa filha com o quê?! Com o seu orgulho, é isso?!
Gina o encarou com ódio. Sentiu que o ar saía com dificuldade de seus pulmões. Torcia os dedos desejando dar um soco naquela mesa ou na cara daquele homem.
- Em primeiro lugar: não existe NOSSA filha. Existe minha filha e somente minha! E em segundo: eu sei me virar. Me virei todos esses anos com ela, e não vai ser diferente agora.
- Eu já disse. Não está fácil arranjar um bom emprego. Por que sair daqui pra ganhar um salário que mal vai poder pagar as contas e a escola da menina? Seja um pouco mais coerente, Weasley. Deixe um pouco o passado para trás e pense no futuro. Você precisa de dinheiro para sustentá-la e sabe disso. Seria capaz de prejudicar a vida dela por causa de um capricho,um orgulho besta?
A ruiva abaixou a cabeça encarando os próprios sapatos. Jamais desejaria aquilo. Só queria dar o melhor para a filha, e somente o melhor. Se já não estava fácil, com um salário menor ainda seria muito pior. Seu ódio aumentou ainda mais ao ver que aquele homem estava conseguido convencê-la a ficar. Talvez tivesse que deixar tudo de lado e pensar só em sua filha. Seria difícil, mas era um sacrifício que teria que fazer. Faria qualquer coisa por ela. Levantou-o olhar cheio de lágrimas e o fitou.
- Eu te odeio... – gemeu derrotada, ao ver que tudo que havia planejado desabava.
- Continue me odiando então, mas eu não vou permitir que faça uma burrice por minha causa.
- Se eu ficar, só nos falaremos para resolver assuntos relacionados a trabalho, e apenas isso. Estou sendo suficientemente clara?
- Sim. – Riu debochado ao ver como ela tentava manter as coisas sob seu controle.
Ela se levantou da cadeira e já ia se dirigindo à porta quando se lembrou de algo. Voltou-se a ele.
- E outra coisa que quero repetir para não ter aborrecimentos mais tarde. Não volte a se aproximar da menina, jamais. E não existe nossa filha. Existe MINHA e somente MINHA filha.
Draco também se levantou da cadeira e foi até ela. Parou muito próximo. Rostos quase colados.
- E ela não tem pai? Nasceu sem a participação, sem a ajuda de nenhum homem? – indagou totalmente debochado e sarcástico. – Acho que isso é impossível.
- Mas ela teve um pai. Um pai que morreu há muitos anos e vai permanecer morto.
A ruiva afirmou com toda sua fúria e saiu deixando-o sozinho e ainda abalado com o que ouvira. Draco não podia negar que aquelas palavras o machucavam, e muito. Queria ser pai daquela menina tanto quanto queria ser o homem na vida daquela mulher. Só desejava fazer parte da vida delas. E escutar dos lábios de Gina que ele estava morto e assim permaneceria o deixava mal. Mal o suficiente para fazer com que ele desistisse de mais um dia de trabalho e voltasse para o hotel, onde poderia desfrutar de sua tristeza e solidão sem ninguém para atrapalhá-lo.

Logo na manhã seguinte, Gina chegou um pouco antes do horário a pedido de Miller. O homem queria lhe entregar algumas coisas e dar algumas orientações a respeito de Draco Malfoy, seu chefe. Entregou uma agenda com os horários e alguns compromissos marcados. Também havia os números telefônicos do empresário e endereços de outros grandes empresários e sócios. Disse que ela deveria estar sempre à disponibilidade dele e que agora teria que ficar em uma mesa na sala do chefe, fato que de nada agradou a ruiva.
- O Sr. Malfoy pediu que eu lhe entregasse isso.
Miller pegou uma caixa e entregou a ela. Gina estranhou e hesitou em abrir, mas deveria ser algo importante. Tirando a tampa encontrou um aparelho celular como dos trouxas que ela via. Seu queixo caiu literalmente.
- Isso é para que sempre que o Sr. Malfoy precisar de você, ele possa te encontrar. A conta é paga pela empresa a não ser que você passe do limite! – Ele alertou sempre com voz autoritária.
- Sim senhor. – disse ainda meio boba.
- Então é só. Pode ir. E fico feliz de ter ficado conosco. É uma excelente funcionária.
- Obrigada senhor.
Gina fechou sua caixa, pegou a agenda, a chave da sala e outras pastas, e foi até a recepção pegar suas coisas pessoais. Terminava de colocar tudo numa pequena caixa quando viu Dany e Mary. Foi até eles para contar as mudanças. Os amigos repararam que ela já não parecia tão animada com o novo cargo. Perguntaram se havia algo de errado, mas ela negava. Dizia apenas que estava com sono, que não estava dormindo direito naqueles últimos dias, o que de fato não era mentira. Eles percebiam que não era apenas aquilo, mas ignoraram. Respeitariam a vontade da amiga. Quando Gina percebeu que Miller estava saindo da sala, correu até o elevador. Por sorte a porta logo se abriu e ela entrou, evitando que o antigo chefe a visse e chamasse sua atenção por estar conversando.
Ao chegar na sala, surpreendeu-se ao encontrar a porta trancada. Pegou a chave, abriu e entrou. Percebeu imediatamente as mudanças. Ela parecia muito menor agora e estava completamente diferente. Havia uma mesa, com cadeira, armário, computador e tudo que havia numa sala de secretária. Tudo que ela precisaria para o trabalho estava ali. Mas onde Draco ficaria? Foi então que viu uma porta perto de sua mesa. Caminhou até ela e abriu. Surpreendeu-se ao ver a antiga sala dele. Tudo como estava antes. Era surpreendente. Sabia que ele havia feito tudo aquilo, pois não teria como fazer toda aquela transformação, em uma noite, por meio de trouxas. Com certeza era magia. E se era magia, somente o loiro poderia ter feito. Deu de ombros ao concluir que não havia mais volta e saiu da sala. Ao virar-se de costas depois de fechar a porta encontrou Draco parado logo à sua frente, encarando-a muito sério.
- Gostou da sala? – perguntou sem sequer mover um dedo.
- Tem tudo que necessito.
- Ótimo.
Draco entrou em sua sala sem mais uma palavra. Gina encarou a porta fechada e sentou-se em sua cadeira, um tanto desanimada. Não gostou do tom de voz dele. Havia sido tão frio. Reprovou-se. Assim deveria ser a relação dos dois, por mais que não gostasse da situação. Começou a tirar as coisas da caixa quando viu uma tulipa laranja, logo ao lado, com um pequeno envelope. Sorriu e pegou a belíssima flor. Pegou então o envelope e abriu. Leu o bilhete que estava dentro.

“Para que não comecemos de maneira ruim afinal passaremos muito tempo juntos a partir de agora. Tenha um bom dia.
D.M.”


A ruiva não conseguiu disfarçar o sorriso. Seria a última coisa que esperaria dele. Pegou a flor e a aproximou do peito. Só então lembrou-se de quando viu pela última vez aquela flor. Em Hogwarts. Na noite mais especial de toda a sua vida. Relembrando de cada segundo daquele momento uma fina lágrima escorreu pelo seu rosto. Aquelas lembranças a tomavam de maneira incontrolável, mas precisava ser mais forte.

A primeira coisa que Draco fez ao entrar em sua sala foi se jogar no sofá. Nunca tivera um sono bom, mas não era normal passar a noite toda acordado. Se continuasse daquela maneira poderia acabara num hospital. Mas não havia solução. Como dormir se a imagem de Gina não saía de sua mente? E pior ainda era se lembrar dela repetindo que ele estava morto. Sentia que levava um soco no estômago a cada palavra dura que saía de sua boca. Talvez não pudesse suportar por muito mais tempo se manter distante da filha e ainda ter que se comportar como se nada estivesse acontecendo entre ele e a ruiva. Não era tão forte quanto precisava ser. Respirou fundo para começar um dia de trabalho e já ia levantar quando escutou alguém entra na sala e bater violentamente a porta. Ergueu levemente a cabeça para ver o que estava acontecendo mas, ao ver Gina, levantou-se rapidamente.
- O que pretende Malfoy?! Me diga o que você está pretendendo! – Gina gritava sem conseguir controlar a irritação que lhe deixava vermelha. Suas orelhas queimavam.
- Do que você está falando? – indagou confuso, já de pé.
- Disso!! – A mulher gritou a jogar a flor e o bilhete que ganhara em cima dele. –Eu não quero nada que venha de você. Nem presentinhos, nem bilhetinhos, nem nada!
Deu as costas a ele e saiu, batendo novamente a porta.
Draco, ainda estático, olhou para o chão e fitou a tulipa e o bilhete amassado aos seus pés. Não sabia o que pensar. Era apenas um presente. Não havia tido interesse algum com aquilo. Recolheu a flor e o papel que estavam no chão e, ao sentar, colocou-os sobre as pernas. Será que qualquer coisa que fizesse seria má interpretada? Será que não poderia mais tentar ser gentil? No entanto tinha que respeitar a vontade dela. Seria tudo do jeito que ela quisesse. Enchendo-se de amor próprio e orgulho, levantou-se, jogou as coisas na lata de lixo, ajeitou seu paletó e foi até a mesa de Gina. Parou em frente à ruiva esperando que ela dissesse algo. Deveria saber que a mulher também era orgulhosa e tentaria ignorá-lo o máximo possível. Deu um passo para frente e colocou um das mãos sobre os papéis que ela fingia ler. Gina tentou se controlar, mas não conseguia. Tinha o sangue quente do irmão Rony. Levantou o olhar na direção do homem e se surpreendeu com a proximidade de seu rosto.
- É assim mesmo que você quer Weasley? – ele perguntou decidido, com o olhos fixos nos dela.
- Se estiver falando de finalmente me deixar em paz... sim. – Também tentava parecer decidida, mas não obtinha sucesso. Sua voz falhava, sua respiração pesada e sua mão trêmula deixavam explícito o que aquele par de olhos azuis era capaz de fazer.
- Pois bem, senhorita Weasley. Sua vontade será respeitada. – disse jogando o corpo para trás no intuito de afastar-se.
- Obrigada, senhor Malfoy. – disse com um sorriso superior, mas o homem mal ouviu o que ela disse. Foi até sua sala e voltou com alguns papéis em uma mão e sua mala em outra. Jogou a papelada sobre sua mesa.
- Leia estes contratos, faça um balanço de acordo com a situação atual da empresa e me entregue um relatório de no máximo 20 linhas até amanhã. Desmarque todos os meu compromissos para hoje, culpando uma indisposição. – disse muito sério sem olhá-la nos olhos e deu-lhe as costas, mas voltou ao se lembrar de algo. – E não se esqueça, você deve estar aqui às oito horas da manhã. Não volte a chegar atrasada como hoje. Tenha um bom dia, senhorita Weasley. – terminou com um pequeno sorriso irônico e foi embora.
Gina ficou por alguns segundos tentando entender que mudança repentina era aquela. Uma mudança que ela mesmo pedira, mas que no fundo não queria. Apoiou a cabeça sobre as mãos e se pôs a chorar. Não conseguia segurar. Estava sufocada. Mal havia começado a convivência com ele e já estava exausta daquelas brigas e discussões. Foi até a sala dele, que felizmente não estava trancada. Na lixeira perto da mesa, procurou pela flor e pelo bilhete. Ali estavam. Ele havia jogado fora. Pegou a tulipa que começava a murchar e o papel amassado. Arrependeu-se de ter agido daquela forma. Sentiu-se extremamente culpada pelo que tinha acontecido. Começou a chorar novamente. Não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo com ela. Sentada ao chão e debruçada sobre a cadeira chorando permaneceu por muito tempo até que se deu conta de que tinha obrigações a fazer. Tentando recuperar o pouco de força e ânimo que lhe restavam, limpou o rosto molhado e foi até sua mesa, onde pegou a agenda e desmarcou todos os compromissos do chefe.
Tentava ler os contratos, mas toda hora seu pensamento a levava para longe dali. Não conseguia se concentrar. Ora imaginava como seriam as coisas se desse uma chance a ele, ora imaginava se naquele momento ele aproveitava para roubar sua filha. Distraída, assustou-se quando o telefone tocou.
- DMG's Company, escritório do senhor Malfoy, pois não... Ah sim senhor Miller... Como?! Já?!... Sim, já estou descendo, obrigada por avisar, senhor.
Gina desligou o telefone e pegou rapidamente sua bolsa e as papeladas. Já era noite e todos os funcionários estavam indo. Não havia percebido como a tarde passou rápido. E o pior, não havia feito nada. Desesperou-se ao pensar como Draco ficaria quando soubesse. Teria que trabalhar até tarde. Ao sair, trancou a porta e chamou pelo elevador. Lá embaixo, Miller a esperava muito irritado.
- Senhorita Weasley, não tem relógio? Já passa das 20 horas! Só estava esperando a senhorita para fechar a empresa.
- Desculpe-me senhor, estava trabalhando e perdi a hora.
- Bem, um motivo justo. – Sorriu satisfeito ao ver que havia feito a coisa certa ao escolher a mulher para ser a secretária de Draco Malfoy. Mal sabia ele as conseqüências daquela escolha.

Quando Gina chegou, Diana já dormia. Suspirou e foi até a cozinha. Gritou ao ver um homem caminhando em sua direção, mas tranqüilizou-se ao reconhecê-lo.
- Harry, o que faz aqui? – perguntou surpresa ao um cumprimentá-lo com um beijo.
- Fiquei preocupado em deixar Diana sozinha. Não custava nada tomar conta dela enquanto você não chegava. – disse com um sorriso simpático. Sentou-se no sofá.
- Obrigada. – disse fingindo não perceber que aquela era a desculpa mas esfarrapada que Harry já havia dado para vê-la. Afinal de contas, depois de um dia estressante como aquele, era bom ter a companhia de alguém que lhe trazia tanta paz. – Quer um café?
Ficaram conversando durante horas. Harry contando sobre os problemas do Ministério e Gina sobre sua promoção, até que Harry olhou para o relógio distraidamente e viu que já eram quase duas da manhã. Levantou-se rapidamente dizendo que tinha que ir embora, pois já estava tarde. Gina encarou o relógio surpresa, querendo confirmar. Realmente a hora havia passado rapidamente.
- Mas já está tarde para você ir Harry.
- Eu aparato ou uso Pó de...
- Não Harry! Sabe que não podemos usar magia aqui. Por que você não fica? O sofá não é muito confortável, mas dá para passar uma noite tranqüilamente.
- Sério? – Harry parecia não acreditar. Era como uma esperança de que Gina pudesse lhe dar uma chance.
- Sim. – disse rindo. – Já volto. – Foi até o quarto, pegou algumas cobertas e travesseiros e entregou a Harry. – Tome! Amanhã terei que acordar cedo mas se quiser ficar dormindo aqui não tem problema.
- Não... Eu também tenho que acordar cedo. Vou com Rony para o Ministério.
- Então está ótimo. Pode pegar o que quiser na cozinha, já sabe onde é o banheiro, fique à vontade.
- Ok. Boa noite.
- Boa noite.
Gina estava cansada demais. A única coisa que queria era um banho. Pegou sua camisola e foi para o banheiro. Após uma ducha sentiu-se muito melhor. Vestiu-se. Terminava de secar os cabelos quando se lembrou de Draco. Respirou fundo. Não queria lembrar dele. Tinha certeza de que ele a trataria friamente a partir daquele dia. Foi então que, num estalo, lembrou-se dos contratos. Havia esquecido completamente dos relatórios que deveria fazer. Com certeza Draco a mataria. Pensou em começar a fazê-los naquele instante, mas não conseguiria. Decidiu resolver tudo amanhã. Precisava dormir, acima de tudo. Jogou-se na cama. Cobria-se quando escutou a voz da filha ao seu lado.
- Tio Harry está na sala? – A menina perguntou muito sonolenta, com os olhos fechados.
- Sim querida, mas o que faz acordada a essa hora? – Abraçou-a de forma protetora.
- Acordei agora. Tive um sonho estranho. Sonhei que papai voltava...
Gina a fitou com os olhos arregalados. Era inacreditável que a filha tivesse aquele sonho logo naquele momento. Imaginou como seria se a filha descobrisse que seu pai estava vivo. Com certeza iria querer conhecê-lo. Não. Não poderia permitir que aquilo acontecesse. Gina pegou a menina e a abraçou mais forte.
-Foi só um sonho, querida, só um sonho...
Fechou os olhos tentando ignorar as lágrimas que caíam pelo seu rosto. Imaginou se aquela dor passaria.

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