Reencontro
Gina estava sentada no seu lugar de sempre na recepção, esperando ansiosamente pelos amigos. Estava muito feliz e precisava compartilhar aquele momento com alguém. Ao vê-los se aproximar da entrada, correu até eles e os abraçou. Dany e Mary não entenderam. Encararam-a como se fitassem uma louca. A ruiva, com um sorriso imenso, pulava de um lado para o outro fazendo círculos em volta deles. Não conseguia dizer nada. Dany, ficando tonto ao vê-la naquela agitação, a segurou firme pelos ombros a obrigando a encará-lo.
- Agora diga-nos o que houve, sua maluca! – O homem disse tentando parecer sério, mas não continha o riso.
- Eu fui promovida! – Gina gritou emocionada. – Miller me colocou como secretária particular do presidente! EU ESTOU TÃO FELIZ!
Dany e Mary começaram a gritar junto com a ruiva, felicitando-a. Os três pulavam como malucos no meio do hall de entrada ignorando os olhares atravessados dos outros. Gina queria chorar de alegria. Com o novo salário poderia finalmente dar tudo para a filha, pagar suas dívidas e até mesmo comprar uma casa melhor. Enfim, poderia melhorar bastante sua situação. Não tinha como estar mais feliz.
- Esse homem misterioso não poderia ter chegado numa hora melhor!
Dany e Mary a abraçaram percebendo que ela começaria a chorar. Não era por menos. Há anos esperava uma chance daquelas e finalmente aparecera. Abraçavam a amiga, mas quando escutaram Miller chegar, dispersaram-se rapidamente.
- Aqui não é o clube da amizade... – O careca dizia ficando vermelho. Odiava quando os empregados faziam qualquer cena que chamasse demais a atenção. – Aqui é um ambiente de trabalho!
- Desculpe senhor. – Os três disseram ao mesmo tempo, e cada um foi para seu lugar.
Miller aproximou-se de Gina mais calmo. Abriu um pequeno sorriso.
- E você, senhorita Weasley, prepare-se e se arrume, que em breve conhecerá o seu novo chefe.
- Sim senhor. – Ela sorriu de volta tentando conter a vontade de pular.
Draco estacionou o carro em sua vaga exclusiva e apoiou a cabeça no banco, com os olhos fechados, lembrando-se da noite mal dormida e dos pensamentos que lhe causaram a insônia. Como entraria na empresa? E se desse de cara com Gina? Não. Não queria vê-la. Ou melhor, ela não poderia vê-lo. Mas, se o visse, o que diria? Qual desculpa dar afinal, ele estava morto para todos, inclusive para ela. Pensou em dar meia volta e sair dali, mas não podia fugir. Tinha responsabilidades, por mais que naquele momento não as quisesse. Respirando fundo, encheu-se de força, ou pelo menos tentou. Devia encarar a realidade. Saiu do carro conversível e fechou a porta, trancando-a. Apertava a alça da pasta mais do que o costume, talvez pelo nervosismo. Cumprimentou as pessoas que estavam nas escadas da entrada e passou pela porta de vidro. Olhando de relance para a recepção, viu que a ruiva estava de costas. Parou por alguns segundos e a fitou. Tinha certeza que era ela. Como não a reconhecera antes? Os cabelos brilhantes e sedosos e sua cor única. Só ela mesmo os tinha. Sentiu seu coração bater como há anos não batia. Uma onda de sentimentos antigos atravessou seu corpo. Poderia ficar ali durante horas, naquele devaneio cheio de recordações, mas percebeu a idiotice que estava fazendo. Correu para as escadas. Não poderia ficar ali esperando o elevador e correr o risco de que ela virasse a qualquer momento e o visse. Chegou em sua sala um pouco cansado e ofegante, mas valeu a pena. Não se arriscaria.
Trancou a porta da sala e foi até sua mesa, onde apoiou a maleta que trouxera e a abriu. Tirou de dentro a foto de Gina, ainda adolescente. Imaginou se ela estaria igual, os olhos tão amáveis ou os lábios tão doces como antes. Sentiu seu corpo arrepiar por completo ao se lembrar da noite que passaram juntos pela primeira e última vez. Daria tudo para poder reviver aquele momento.
Flashback
Final do baile de inverno e pouquíssimas pessoas se mantinham fora de suas Torres. Somente os dois, Gina e Draco, estavam na parte mais isolada dos jardins, em meio a um campo de tulipas laranjas. Próximos da Floresta Proibida, ninguém poderia vê-los, a não ser eles mesmos. A chuva fina caíai sobre os dois, refrescando-os do calor que seus corpos exalavam quando estavam juntos. Draco, fitando a garota à sua frente, levou a mão até seu rosto e afastou os cabelos molhados de seus olhos. Abraçaram-se. Tinham medo de que aquela relação fosse um erro, mas era o erro mais perfeito de suas vidas e queriam cometê-lo. Gina apertou-se contra o peito dele, trêmula. Estava molhada e a brisa causava-lhe frio. Draco riu.
- É melhor entrarmos. Você pode ficar doente. – O loiro disse e ameaçou levantar-se, mas Gina o impediu abraçando-o mais forte.
- Não. Quero ficar aqui com você.
Apoiou sua testa na dele e o mirou sorrindo. Beijou-o. Não queria se afastar dele nunca. Assim como ele, desejava que aquele momento fosse eterno. Sentiu que o beijo lhe aquecia. Tirou a capa e a jogou para longe. Draco fez o mesmo. Aquele fogo que queimava ardentemente no fundo de cada um fez com que aos poucos fossem se deixando levar pelo momento e pela paixão. Quando deram por si já estavam abraçados, corpos colados, e nenhuma veste lhes cobria. Por um momento tentaram se afastar, mas precisavam ir a favor daquela sensação tão nova e inesperada de se amarem intensamente. Não eram mais os mesmos que antes. Seus corpos eram somente um, assim como seus corações. Estavam unidos da forma mais íntima possível e ali mesmo, depois de confessarem amor por toda a vida, adormeceram, sem pensar em nada, no momento mais feliz e completo de toda as suas vidas.
Fim do Flashback
Draco aproximou a foto do peito ao se lembrar perfeitamente da cena. A saudade poderia matar, isso ele sabia. Às vezes sentia que seu coração morria aos poucos. Maior era a dor por pensar que era somente sua culpa. Culpa de sua covardia. Ao escutar o telefone tocar, num sobressalto, guardou a foto e, procurando pelo local de onde vinha o som, pegou o fone.
- Sim Miller. E quem será? – indagou com temor e suspirou decepcionado ao escutar a resposta. – Sim, mas eu quero que ela suba sozinha. Não preciso de sua presença.
Desligou o telefone sem deixar chance de Miller contestar, e desabou em sua cadeira. Gina seria sua secretária. Era o seu maior temor naquele momento. O destino parecia gozar de sua cara. Não havia o que fazer a não ser dispensá-la. Mas será que seria capaz disso? Com certeza ela estaria comemorando a promoção. Não. Não o faria. E além do mais, estava na hora de enfrentar a verdade. Virou o pescoço para a direita, depois para a esquerda procurando relaxar seus músculos. Recostou a cabeça na cadeira. Numa volta de 180°, virou-se para a direção da janela. Encarou o céu. O sol brilhava intensamente e pouquíssimas nuvens habitavam aquele azul tão vivo. Escutou batidas na porta, que na verdade pareciam estar dentro de seu estômago. Sentiu que poderia vomitar de tão nervoso. Controlou-se. Permaneceu parado. Não soube o que fazer até que escutou novas batidas. Mais nervoso ainda, pediu que entrasse. Continuou ali, de costas para a porta e de frente para a janela. Não conseguia encará-la.
Gina abriu a porta lentamente e fitou a sala, com a boca entreaberta. Era gigante, parecia ocupar todo o andar. Tudo era lindo e extremamente organizado. Fechou a porta delicadamente e voltou-se para o meio da sala, sobre um tapete verde escuro e viu apenas uma grande mesa e uma cadeira virada para o outro lado. Pensou no quão mal educado seria aquele homem que não era capaz sequer de se virar para cumprimentá-la. Caminhou até a mesa e encarou sua própria roupa. Queria estar impecável. Tinha que causar uma boa impressão logo à primeira vista. O conjunto verde-escuro, cor dos uniformes da empresa, estava perfeito e seu cabelo preso num rabo-de-cavalo dava-lhe um ar mais sério e compenetrado. Parecia estar bem. Esperou alguns segundos, mas nada escutou. E nem escutaria, se dependesse de Draco. Ele estava encolhido na cadeira, como uma criança temerosa, ainda meio atônito e aflito. Não tinha idéia do que falaria e principalmente do que ela pensaria.
- Senhor, eu sou Ginevra Weasley, sua nova secretária. – A ruiva começou sentindo-se incomodada com o silêncio tão constrangedor.
Percebeu que a cadeira girou lentamente até que o tal homem misterioso ficasse de frente a ela. Primeiramente não pôde reconhecê-lo. A luz do sol que vinha da janela atrapalhava um pouco sua visão. Depois, a imagem começou a se formar lentamente. Um homem de pose imponente, as pernas cruzadas, os cotovelos apoiados nos braços da cadeira e seus dedos entrelaçados. Algumas mechas dos cabelos loiros caíam-lhe sobre seus olhos, que ostentava uma sobrancelha semi-levantada. Sem que percebesse, inclinou o corpo ligeiramente para frente para que pudesse analisar melhor aquela figura. Fitou-o, estática. Aquela aparência lhe era tão familiar, tão conhecida. Seria... Não! Definitivamente não! Jamais poderia ser quem imaginou. Riu consigo mesma, mas logo aquele meio sorriso confuso fechou-se. Levou a mão à boca, olhos arregalados e deu alguns passos para trás. Era tão parecido com o rapaz que amara há tantos anos e que, não poderia negar, ainda amava, mesmo depois de morto.
Draco não soube explicar quantos minutos passaram ali, apenas se encarando. Parecia uma imensa eternidade. Gina o encarava de tal modo que ele teve de deixar a pose altiva que tentava exibir. Não podia continuar. Não depois de contemplá-la. Estava mais linda do que nunca. Mesmo presos, dava para ver seus cabelos vermelhos caírem-lhe até a cintura. A roupa lhe dava um ar muito sério, mas seu olhar ainda era o de uma menina. Aqueles olhos castanhos que sempre amou ainda mantinham o brilho puro de inocência. Levantou-se da cadeira e parou, ainda fitando seu olhar.
- Gina... – Foi a única coisa que pôde dizer antes que ela caísse desacordada no chão.
Correu até a mulher e, abaixando-se, levantou sua cabeça. Ela realmente havia desmaiado. Desesperado, pegou-a nos braços e a levou até o pequeno sofá. Colocando uma almofada sob sua nuca, alisou sua fronte. O que deveria fazer? Olhou de um lado para o outro, esperando por uma resposta que não chegava.
- Acorde Gina... Por favor... – implorava enquanto alisava seu rosto. – Gina, acorde. Não faça isso comigo...
Quando sentia que o desespero tomaria conta de si, viu satisfeito e aliviado que ela abria os olhos lentamente. A ruiva olhou ao seu redor ainda tonta e ao ver a imagem de Draco levantou-se num pulo e encolheu-se no canto do sofá.
- Quem é você?! – Ela indagou com os olhos cheios de lágrimas. – Você é um fantasma?
- Não. Sou eu Gina, Draco...
- NÃO! – gritou ao ficar de pé e encará-lo duramente. –Draco morreu há muitos anos. Você não pode ser ele!
- Mas sou eu e estou vivo...
- NÃO! – interrompeu-o gritando novamente, desesperada. – Ele está morto! MORTO!
Gina quis correr para longe daquele homem, mas ele a segurou pelo braço e obrigou-a a se sentar.
- Não importa o que você pense. Precisamos conversar. – Encarou-a e não ouvindo resposta, continuou. – Eu não morri como você pensou. Eu estava vivo todo esse tempo. Tenho que te contar tudo o que aconteceu.
- O quê?... – Ela indagou com apenas um gemido, como se não estivesse acreditando no que ouvia. – Como assim vivo todo esse tempo? Não pode ser... – Calou-se e abaixou a cabeça. Apoiou o rosto sobre as mãos e depois o fitou novamente. Lágrimas solitárias já caíam. – É mesmo o Draco? Draco Malfoy?
- Sim Gina. – disse ao segurar as mãos doces da mulher e beijá-las, mas ela logo as puxou com repugnância.
- Você estava vivo todos esses anos? – perguntou e ele balançou a cabeça afirmativamente com o olhar cheio de alegria e esperança. – E jamais me procurou... E não se importou de me informar que estava vivo! Como pôde, Malfoy?
- Gina eu não... – Procurou algo para dizer, mas aquele olhar da mulher tão decepcionado e magoado fez com que qualquer palavra que estivesse prestes a dizer escoasse pelos seus lábios. – Eu tenho que te contar...
- Não. – Dessa vez não gritou. A dor em seu peito era tão forte que não era capaz de falar alto. Não tinha forças. –Eu não quero ouvir nada que venha de você. A partir de agora você está mais morto do que nunca prá mim.
Deu meia volta e saiu pela porta, batendo-a com força. Draco tentou ir atrás, mas ela desaparecera de repente pelo hall. Não poderia ter sido tão rápida. Com certeza havia aparatado para algum lugar. Voltou para a sala e jogou-se no sofá onde a ruiva estivera antes. As coisas não haviam sido como ele planejara ou desejara. Muito pelo contrário. Agora sim as coisas não poderiam piorar. Ou poderiam? De repente, lembrou-se da criança loira que conhecera no parque. Não entendeu o por quê, mas imaginou se ela não estaria de certa forma envolvida naquilo. Sem pensar duas vezes, levantou-se dali e, remexendo nos arquivos da empresa pelo seu computador, achou os endereços dos funcionários. Procurou na letra W. Ali estava: Weasley. Somente ela com aquele sobrenome obviamente. Com um sorriso, confirmou que havia achado o endereço da mulher. Ginevra Weasley. Memorizando os dados que ali estavam, pegou as chaves do carro e, sem nem ao menos pegar sua maleta, correu escadas abaixo até o estacionamento.
Poucos minutos depois ali estava, em frente ao prédio, muito antigo e, obviamente, muito humilde. O que faria? Esperaria ela aparecer ou iria atrás? Pensando no que aconteceria nas duas hipóteses, viu alguém saindo do prédio. Era a ruiva. “Sabia que tinha aparatado.” pensou com um meio sorriso. Viu que ela estava com os olhos vermelhos e andava meio atordoada. Ainda estava com o uniforme da empresa e carregava uma pequena mochila infantil. Disfarçadamente, seguiu-a com o carro até uma espécie de escola. Tentou imaginar o que ela estaria fazendo ali. Viu muitas crianças eufóricas correndo na direção de seus pais, carregando suas mochilas, na maioria das vezes maior do que elas mesmas. Em meio a todas viu a mais bonita e mais radiante, a menina do parque. Fitou-a atenciosamente e percebeu que a menina abriu um gigantesco sorriso ao ver Gina, e logo correu até seus braços. As duas se abraçaram com carinho e foram na direção contrária à que Gina vinha.
Draco balançou a cabeça algumas vezes tentando encaixar todas aquelas informações, como se fossem peças de um quebra-cabeças. O olhar daquela criança, seu sorriso, a forma como se encantara por ela, o colar, o abraço que dera em Gina. Todas aquelas cenas que havia vivido nos últimos dois dias surgiam em sua mente como flashes. Tudo parecia fazer sentido de repente. Aquela criança só poderia ser sua filha, não podia acreditar. Precisava confirmar, tinha que ter certeza. Percebendo que as duas sumiam numa esquina, acelerou com o carro e voltou a segui-las.
Gina caminhava com a filha em passos acelerados e parou em frente a uma casa pequena, mas muito bonita. Tocou a campainha. Um menino correu para fora e Hermione apareceu logo atrás.
- Josh, volte aqui. – Ela pedia enquanto o menino correu até Diana e a abraçou. – Gina! – Abraçou-a carinhosamente. Logo percebeu o abatimento na feição da amiga. – O que houve?
- Eu posso deixar Diana com vocês hoje? Preciso muito ficar sozinha.
- Lógico Gina. Quando você não pode contar conosco? – Sorriu docemente não imaginando o que poderia ter acontecido. – Se quiser conversar...
- E eu quero! – interrompeu-a logo. – Mas não agora. Eu só preciso pensar.
- Está bem. – concordou com seu sorriso compreensível. –Amanhã eu ia levar as crianças para passear mesmo. Quando chegarmos, deixo Diana em casa.
- Obrigada Mione. – Sorriu de volta e entregou a mochila que trazia para a cunhada. – Aqui estão algumas roupas que trouxe pra Diana. Cuide bem dela, por favor.
- Como sempre.
As duas se abraçaram carinhosamente e logo depois Josh correu até a tia e lhe beijou o rosto. Gina retribuiu o beijo e um cafuné que o menino adorava. Depois encarou a filha e a abraçou forte. Beijando-lhe a testa disse para que se comportasse bem, e que se viriam amanhã. A menina não pareceu se importar. Queria somente se divertir e brincar como toda criança. Beijou a mãe e correu para dentro com o primo. Gina, suspirando fundo, despediu-se e rumou para casa. Caminhando lentamente, tentava segurar a vontade de chorar. Lembrava-se do que passara no trabalho há pouco, ainda não podia acreditar. Não sabia o que era maior: a incredulidade de que tudo aquilo havia acontecido realmente ou a sensação de tristeza por saber que Draco estava vivo todo aquele tempo e não a havia procurado. Ambos formavam um misto de decepção e confusão que fazia com que todo seu ânimo desabasse. Por que ele havia feito aquilo? E tudo que seu pai contara? E tudo que vivera com ele? Ele parecia amá-la sinceramente. Por que fazer aquilo? Por que fingir estar morto? Não sabia e também não queria pensar mais naquilo. Precisava esquecer aquelas perguntas que fazia a si mesma assim como precisava esquecê-lo. Como mesmo dissera para Draco: agora ele estava mais morto do que nunca. Chegando no prédio, cumprimentou o porteiro e subiu. Não desconfiava que alguém a havia seguido por todo o seu trajeto.
Entrando no apartamento, fechou a porta e por alguns segundos se apoiou nela. Sua mente estava exausta, assim como seu coração. Correu até o quarto para trocar de roupa. Vestiu qualquer coisa confortável e voltou para a sala. Sentou-se no sofá com o olhar perdido. Desabou em um choro angustiado, preso em seu coração há anos. Queria gritar, acabar com aquela dor e não podia. Pegou uma almofada e a apertou contra o próprio peito. Tentava controlar a angústia que tomava seu coração ao se lembrar de Draco naquela sala, naquela mesa. Tão vivo. Não encontrava motivos coerentes para tê-la abandonado daquela forma. Escutou a campainha tocar. Levantou-se num sobressaltou e abriu a porta. Tremeu ao ver a Draco apoiado na parede, encarando-a. Tentou fechar a porta rapidamente, mas ele percebeu o que ela faria e não deixou. Empurrou a porta no sentido contrário, impedindo que se fechasse. Gina tentou com todas as suas forças não permitir que o homem entrasse, mas não conseguiu. Draco era obviamente mais forte que ela. Não se controlou e soltou a porta, caindo num choro sem força. O homem abriu a porta e entrou no apartamento sem dizer nada. Viu Gina apoiada na parede escondendo o rosto com as mãos.
- Você pode me escutar? – Ele pediu, parado em sua frente.
- Não! Eu quero que você saia daqui senão eu chamo a polícia. – A ruiva disse sem encará-lo. Sentou-se no sofá.
- Eu não vou embora enquanto você não me ouvir...
- OUVIR O QUÊ?! –Levantou-se, ficando cara-a-cara com ele. – O QUÃO COVARDE E CANALHA VOCÊ FOI SUMINDO SEM DEIXAR NOTÍCIAS? É ISSO? POIS SURPRESA! EU JÁ SEI! – gritava encarando-o duramente enquanto as lágrimas corriam livres pelo seu rosto.
- As coisas não são assim. Tem muito mais que você não sabe...
- E nem quero saber. – Interrompeu-o passando as costas da mão sobre sua face para secá-la.
- Mas você tem que saber! – Começava a perder a paciência. Agarrou a mulher pelos ombros e a obrigou a se sentar no sofá, como havia feito em sua sala horas antes. Sentou-se ao lado dela. – Você vai ficar aqui e escutar o que eu tenho pra falar. Se você quiser acreditar ou entender, aí é problema seu. Mas você tem que me ouvir.
- Você parece não ter idéia do quanto é difícil pra mim estar aqui, não é? Eu pensei que você estava morto. Todos pensavam. E onde você esteve todo esse tempo?
- É isso que eu estou tentando dizer! Depois da guerra eu fugi. Não tinha como eu continuar vivendo aqui.
- Mas meu pai viu seu corpo. Você estava morto. Meu pai não mentiu pra mim...
- Lógico que não. Seu pai me viu, eu me lembro, mas eu estava fingindo. Era a única forma de sair dali, ou acabaria em Azkaban.
Gina não disse nada. Abaixou a cabeça e continuou a chorar, tentando entender porque tudo aquilo estava acontecendo logo no momento em que começava a superar suas dificuldades. Draco não sabia o que dizer. Aproximou-se e pegou delicadamente sua mão. Ela levantou o olhar e o fitou. Ele a encarava com um pequeno sorriso que implorava por perdão. Gina fechou os olhos e se lembrou de cada momento em que esteve com ele em Hogwarts. Daria tudo prá revivê-los. Sentindo o toque da mão dele, estremeceu. Os pêlos de seu corpo eriçaram e seu coração bateu com maior intensidade. Não podia negar, seu corpo a entregava, ainda o amava e desejava. Draco sentiu que ela começava a se render e aproximou-se mais. Seus lábios estavam a centímetros de distância dos dela. Podia sentir sua respiração pesada. Também pôde recordar os encontros com a ruiva no colégio. Jamais viveu uma época tão feliz quanto aquela. Não podendo resistir mais, levou seu braço em volta da cintura dela numa tentativa de aproximá-la de si. Gina tentava afastar-se mas não podia. Não tinha forças ou controle de si mesma ao estar tão próxima dele. Percebendo que ele ia beijá-la fechou os olhos, pronta a se entregar, mas a imagem de sua filha veio em sua mente como um raio. Fora o suficiente para empurrá-lo para longe. Draco, surpreso, a encarou confuso.
- Eu não posso... – ela disse pesarosa. – Não depois de tudo que você me fez...
- Mas Gina...
- NÃO! Eu não quero me iludir novamente com você. – Levantou-se do sofá e caminhou até a porta. – Eu quero que você vá embora. Não quero te ver nunca mais. Você vai continuar morto pra mim.
Draco balançou a cabeça encarando as próprias mãos. Queria dizer qualquer coisa mas sabia que ela não estava errada. Ele havia errado. Principalmente em pensar que as coisas poderiam terminar bem. Levantou-se e foi até ela. Abriu a porta para ir embora, mas virou-se novamente em sua direção.
- Me diz só uma coisa. – O loiro começou. – Aquela menina é minha filha, não é?
Gina o encarou, paralisada. Por alguns segundos não acreditou no que ouvira. Perguntou-se como ele sabia da menina, se ele a havia visto. Não podia acreditar que ele sabia de Diana, mas não deixaria as coisas saírem ainda mais de seu controle.
- Não. Ela não é sua filha.
- E de quem é então? – Aproximou-se dela e a encarou com raiva. – É do maldito Potter? Finalmente se entendeu com ele?
Gina sentiu vontade de dar um soco em sua cara ali mesmo, mas somente o encarou com um sorriso cheio de ódio.
- Sim. É do Harry.
Draco continuou a fitá-la, imaginando se aquilo seria verdade, mas ao lembrar da menina sorriu. Impossível ela ser filha de Harry Potter. Não deixaria Gina enganá-lo.
- Não minta pra mim. Diana tem os olhos azuis e é loira. Por Merlin, ninguém na sua família nem da dele têm essas características! E o colar. Eu vi o colar!
Gina ia tentar contestar e inventar qualquer desculpa, mas parou ao refletir sobre as palavras dele.
- Diana? Como você sabe o nome dela? E onde você viu o colar? Você esteve com ela? ESTEVE COM ELA?
- Eu a encontrei no parque acidentalmente. Não sabia que ela era sua filha.
- Você falou com ela?
- Sim. –Draco desfez a expressão séria e abriu um leve sorriso. – Ela é tão linda, tão doce. Parece tanto com você. Mas me diga a verdade e eu não te incomodarei nunca mais. Ela é minha filha?
- O que você acha? – indagou ainda séria.
- Que sim.
- Por quê? Porque ela é loira de olhos azuis? Só isso? – Tentava confundi-lo. Não queria que ele soubesse que Diana era sua filha. A menina seria uma forma dele aproximar-se ainda mais dela quando a única coisa que ela queria era vê-lo longe.
- Não. Foi porque eu senti isso quando eu a encontrei desde a primeira vez. Ela mexeu comigo de uma maneira diferente. Eu me vejo nela e vejo você. Ela é tão especial.
Gina tentaria negar se aquelas palavras dele não tivessem parecido tão sinceras e tão bonitas. Queria, mas não conseguia negar.
- Sim, Malfoy. Ela é sua filha. Ou era, até antes de você morrer...
- Peraí Gina! Você não pode fazer isso. Eu posso ter morrido prá você, mas não prá ela.
Gina riu. Fechou a porta violentamente e o encarou. Deixou ser controlada pela raiva que sentia ao pensar que ele poderia entrar na sua vida assim, sem pedir permissão. Ainda mais depois de tantos anos que passara sozinha. Não aguentava. Precisava dizer tudo em que pensou e guardou para si todo aquele tempo.
- Você nunca esteve vivo prá ela! É muito tarde pra querer fazer seu papelzinho de pai. Quando ela realmente precisou, você não estava aqui. Você não viu quando ela começou a andar. Não viu quando ela disse a primeira palavra! Não viu quando ela mostrou que também era bruxa! Não viu seu primeiro dentinho nascer. VOCÊ NÃO VIU NADA! VOCÊ NÃO FEZ NADA! Tudo porque você é um covarde. Agora é tarde de mais. Ela tem a mim e a minha família. Prá ela é o suficiente.
- Você realmente acha que é o suficiente? Eu tenho certeza que não. Gina, pare de ser orgulhosa. Sei que você precisa de ajuda.
- NÃO! EU NÃO PRECISO DE NADA QUE VENHA DE VOCÊ AGORA! Quando a gente passou necessidade de verdade eu não pude contar com você por que prá mim você estava morto! E não vai ser agora que você me aparece assim, como se nada tivesse acontecido, que eu vou precisar de você.
- Deixa eu ficar com minha filha Gina. Deixa eu ficar com vocês...
- Vai embora! Vai embora AGORA!
Draco tentou contestar, mas viu que era melhor ir. Não era o momento de continuar aquela discussão. Precisava pensar e Gina, que estava muito alterada, também. Abriu a porta e a olhou mais uma vez. Ela permanecia encostada numa parede a chorar. Queria poder abraçá-la e consolá-la, mas sabia que a ruiva não permitiria. Não podia continuar ali. Deu as costas e se foi deixando a mulher sozinha com suas lágrimas e a dor que lhe consumia.
Correu para o carro sem olhar para os lados. Só queria voltar para o hotel e ficar sozinho. Refletir sobre o que faria dali em diante. Suas esperanças, que nunca foram muitas, haviam acabado. Pensou que havia sido absurdamente idiota em pensar que as coisas poderiam ficar bem e que até poderia recuperar o amor daquela mulher. Idiota era a única coisa que poderia descrevê-lo.
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