Apenas Semelhanças?



Olhou para a pequena janela ao seu lado, distraidamente. As nuvens sumiram por completo. Podia ver perfeitamente a cidade, suas ruas e avenidas. Não acreditou que estava justamente naquele lugar. Por ele jamais ficaria ali, jamais voltaria àquele país. No entanto, estava lá. Não tinha opção. “Malditos negócios!” pensou. Perdido em seus pensamentos não percebeu que o avião já havia pousado. Só se deu conta quando viu a movimentação das outras pessoas apressadas, que pegavam suas coisas. Sua irritação aumentou com o barulho desordenado. “Só poderiam ser trouxas mesmo!” queixava-se com raiva. Levantou-se da confortável poltrona da primeira classe e caminhou lentamente até o local de desembarque. Após pegar suas malas, observou em volta. Viu-se cercado de pessoas desconhecidas, do jeito que gostava. A única coisa que não queria era ser reconhecido depois de tantos anos. Só queria cumprir suas obrigações e voltar para sua vida secreta e solitária, contudo, no mais profundo de seu interior, desejava procurar naquele país sua antiga vida.
Em meio àquela multidão, com tantos tipos de pessoas estava um homem com uniforme de motorista olhando atentamente em volta à procura de alguém. O homem ostentava uma placa com um nome. Ele era o motorista que viera buscá-lo, não havia dúvidas. Seu nome não era nem um pouco comum. Aproximando-se, se apresentou. O motorista, muito simpático, o cumprimentou e pegou suas malas. Foram até a limousine exclusiva. Não esperou que o rapaz de uniforme abrisse a porta, ele mesmo o fez. Entrou rapidamente e, jogando-se no banco, recostou a cabeça para trás ansiando por descanso. Parecia exausto da viagem, e realmente estava.
- Para a empresa, senhor? – O motorista indagou ao se sentar no banco, fechar a porta e dar a partida no carro.
- Qual seu nome? – indagou ao levantar ligeiramente a cabeça e fitar em volta. Procurava algo.
- Dany, senhor.
- Pois bem, Dany, não vamos para a empresa hoje. Leve-me a algum hotel próximo à empresa.
- Às ordens, senhor.
Ainda procurava algo em volta e quando avistou um pequeno frigobar sorriu. “Agora sim.” afirmou a si mesmo, e ao abrir encontrou justamente o que procurava. Seu champanhe preferido e uma taça. “Parabéns Miller” disse ao encher razoavelmente a taça e deliciar-se com um gole de seu espumante preferido.
Via a cidade passar rapidamente pelo vidro da janela fechado. As ruas, as calçadas, as lojas, as pessoas. Apesar de ser um bairro trouxa, ainda era a boa e velha Inglaterra. O ar era muito diferente dos Estados Unidos, onde morava. Pensou na hipótese de ter que voltar a morar naquele país. Antes conseguia comandar muito bem a empresa de longe, mas agora surgira tantos problemas e ele tinha que resolvê-los pessoalmente. E se tivesse que acabar se instalando ali? Não. Não queria. Aquele país lhe trazia lembranças demais. Deu mais um gole e fechou os olhos. Pôde reviver os anos de sua infância, de sua adolescência em poucos segundos. Infelizmente, grande parte daquelas lembranças eram ruins. Quando abriu os olhos surpreendeu-se. Acabara de parar em frente ao hotel mais luxuoso da cidade. Guardou a taça e a porta do carro se abriu. Saiu e encarou a bela construção. O hotel era realmente muito bonito.
- Deseja que eu faça a...
- Não. – interrompeu o motorista rapidamente e o fitou. – Enquanto eu vejo em que quarto ficarei, pegue minhas malas e ligue para Miller. Você ficará o dia todo a minha disposição.
- Sim senhor. – Dany balançou a cabeça em sinal de afirmação e foi à parte de trás do automóvel do qual acabara de sair.
Enquanto o motorista pegava suas coisas, ele foi até a recepção. Deu mais uma olhada em volta à procura de algum rosto que não fosse estranho. Agradeceu mentalmente por não reconhecer ninguém. Estava indo muito bem até aquele momento. Suspirou fundo. Uma nova fase em sua vida começava. Uma fase que seria com certeza muito movimentada. Ainda havia tempo de fugir, mas jamais faria isso. Não podia deixar que aquele passado o impedisse de cumprir suas obrigações. Seu celular tocou. Atendeu com muita seriedade. Sorriu debilmente ao ver quem era.
- E então? – indagou ao aparelho celular e sorriu ao escutar a resposta. – Eu sabia. Era só o que eu precisava saber. – Não disse nada mais e guardou o aparelho depois de desligá-lo.
Depois daquele telefonema, sabia que ficaria mais que apenas alguns dias com certeza, mesmo que não fosse necessário. Tinha muita coisa a ser resolvida.
- Draco Malfoy, os dias serão turbulentos...
Afirmou a si mesmo e aproximou-se da recepcionista.

O quarto era fabuloso. A decoração, o conforto, o ambiente. Tudo era perfeito, como ele mesmo exigira. Sempre queria o melhor que o seu dinheiro podia pagar. Era como todos os milionário agiam, e ele não seria diferente. Tomou uma ducha quente e vestiu-se novamente. Olhou sua imagem no espelho. Arrumado, como sempre. Seus cabelos impecáveis, sua roupa formal e óculos escuros estratégicos. Ninguém poderia reconhecê-lo. Deu alguns telefonemas, desceu do 14º andar, onde seu quarto ficava, foi até a entrada do hotel, encontrando Dany, que o esperava.
- Mudança de planos. – disse observando o movimento de carros na avenida pelos óculos. – Preciso que você vá resolver algumas coisas para mim por enquanto. Remunerarei você pelo serviço.
- Pode falar, senhor. – respondeu um tanto confuso, não imaginando o que poderia ser. Pegou o papel que o homem lhe entregara.
- Vá pegar meu carro nesse local. Eles estão de sobreaviso. Diga que você foi a serviço do Sr. Malfoy. Traga-o com extremo cuidado, deixe-o no estacionamento do hotel e as chaves com a recepcionista, que eu o pegarei amanhã. Não haverá tempo para voltar à empresa, mas Miller também está avisado. Entendido?
- Sim, senhor.
- Pode ir.
Dany acenou com a cabeça e entrou na limousine. Assim que Draco o viu se afastar o suficiente para que não o pudesse enxergar, foi em direção ao outro lado do bairro. Depois do telefonema que recebera de Alonzo, confirmando que Gina morava naquele bairro, precisava caminhar por ali, ver as pessoas e quem sabe encontrá-la, ou a qualquer um de seus familiares. Não pretendia falar com ela e nem nada parecido. Só precisava vê-la. Vê-la mais uma vez depois de tantos anos.
Fitava cada casa, cada rosto à procura de um conhecido. Nada. Viu uma praça. Parecia um bom lugar para pensar. Estava vazia, a não ser por alguns pássaros e pouquíssimas crianças que pulavam de um lado para o outro no playground. Preferiu ficar mais distante destas, não queria barulho. Precisava escutar somente seus pensamentos e decidir o que faria. Viu um banco de madeira abaixo de uma árvore, pareceu-lhe o lugar ideal. Ali mesmo se sentou. Tirou os óculos escuros e fitou novamente o lugar ao redor. Viu uma menina ruiva correr até o balanço. Lembrou-se de Gina. A Gina que conhecera em Hogwarts. A garota pela qual se se apaixonara como um louco e prometera o céu e a terra, pensando que por ela poderia enfrentar todos. Tremendo engano. Pôde enfrentar seus pais, seus amigos e até os amigos dela, mas contra um ele não tivera forças suficientes: Voldemort. Nunca se esqueceria de que o bruxo o obrigara a se juntar aos Comensais; caso contrário Narcisa e Gina sofreriam as conseqüências. Como não aceitar? E aquela maldita guerra acabou com a vida de tantos. Lembrou-se da cena que o visitava durante o sono muitas vezes, quando hesitou em matar Arthur Weasley e Amico o atingira cruelmente. Respirou fundo com os olhos fechados. Pôde sentir a dor novamente. Apesar dos anos parecia tão recente e ao mesmo tempo tão distante, quase irreal. Mais difícil do que esses momentos foi fingir durante dois dias que estava morto. Primeiro ter de ficar lá, deitado em meio a outros corpos sem poder abrir os olhos, e depois ficar naquelas carroças com os outros mortos e o pânico contínuo de que a qualquer momento poderia ser descoberto. Nunca esteve tão próximo da morte quanto naqueles momentos. Era inacreditável que conseguiu sobreviver e, ainda mais, fugir dali.

Flashback
Aparatou no Ministério da Magia depois de passar pela Mansão e pegar todo o dinheiro que encontrara. Inocentemente, esqueceu-se de que estava ao lado de Voldemort e que seria condenado. Então se lembrou do pai e de seus ensinamentos, que foram muito úteis naquele momento. Por uma pequena quantia em dinheiro e algumas informações sobre o paradeiro de Voldemort e seus pontos fracos, todas as acusações contra o rapaz foram apagadas. Mas havia uma condição: Draco pediu que o Ministro o desse como morto. Lógico que para ele seria muito conveniente, e logo aceitou. Para Draco, seria o ideal. Não poderia se arriscar a ser pego por qualquer Comensal, que lhe mataria por traição, e também não teria coragem de encarar aquelas pessoas, que sempre o tratariam como um Comensal traidor. Principalmente Gina. Não poderia imaginar o que se passaria na cabeça da garota abandonada por ele. Então, deu logo um jeito de vender a Mansão e refez sua vida em outro país. Com a herança da família pôde recomeçar do zero. Com a ajuda de algumas pessoas, muita astúcia e esforço conseguiu se superar a cada dia. No entanto, jamais passaria por sua cabeça que cresceria a tal ponto de se tornar um grande milionário. Talvez fosse apenas sorte que a vida permitira. Todo aquele trabalho era apenas uma maneira de não se lembrar de Gina, de não se lembrar do passado, mas acabou por se tornar toda a sua vida. Não tinha mais nada a não ser suas empresas espalhadas pelo mundo e suas amargas recordações.
Fim do Flashback


Era difícil se lembrar de tudo aquilo. Queria esquecer aqueles fatos, mas não podia tirar da cabeça a única mulher que amou em toda a sua vida. Seria exigir demais de um homem que errou tanto e só queria reconstruir sua vida.


Rony saiu do Ministério, onde trabalhava, e foi pegar o filho e a sobrinha na escola. Sempre ajudava a irmã com a filha. Sabia que ela não daria conta sozinha, era seu dever como irmão. As duas crianças, uma ruiva e a outra loira, entraram animadas no carro com suas enormes mochilas e lancheiras. Passaram no trabalho de Hermione para buscá-la e, em seguida, foram para o parque. Tomariam um sorvete e se distrairiam um pouco, como sempre faziam. Por isso Diana amava tanto os tios. Passava grande parte de seu tempo com eles. Hermione e Rony foram se sentar não muito afastados, enquanto as crianças se divertiam com uma bola colorida. Em meio a uma pequena e diária discussão, Hermione e Rony se distraíram das crianças. Não viram que Josh jogou a bola com muita força numa parte mais fechada do parque, com muitas árvores e arbustos. Diana o encarou e o menino, mais novo, apenas a ignorou e foi para o escorrega. Diana suspirou como sempre via sua mãe fazer quando estava cansada e foi em busca da pequena bola. Caminhou até que a viu, embaixo de um banco, onde havia um homem sentado. Viu que não conseguiria pegar.
- Moço, posso pegar minha bola aqui embaixo? – Ela pediu, envergonhada, para o homem que ainda não a vira.
Draco escutou a voz e olhou em volta. Encarou aquela criança ao seu lado que apareceu de repente com um certo estranhamento.
- O que disse?
- Minha bola! Tá aí embaixo. – Ela riu e apontou para debaixo do banco.
Draco se levantou, pegou a bola e a entregou para a criança. Abaixou-se um pouco mais para ficar na altura dos olhos da pequena loirinha. Sentiu algo que nunca havia sentido. Jamais gostou de crianças, mas aquela menina lhe trazia uma sensação estranha,uma sensação boa,. parecia conhecê-la. Diana reparou que ele a olhava de um jeito esquisito também, e deu um passo para trás. Não que estivesse com medo, mas se lembrou das recomendações da mãe, de não falar com estranhos.
- Olá. – Draco falou com um sorriso acanhado, ainda agachado. Não tinha o habito de sorrir e tinha a impressão de que quando o fazia, parecia um pouco desajeitado.
- Não posso falar com estranhos. – A doce menina disse, abraçada à bola, tentando parecer séria.
- Você está certa. Meu nome é Draco. – Estendeu a mão para que ela apertasse. – Agora não somos mais estranhos.
Aquela explicação pareceu ser suficiente para a pequena criança, que correspondeu ao aperto de mão com intensidade e simpatia.
- Eu sou Diana! – Abriu um enorme sorriso. Draco a fitou profundamente. Aqueles olhos azuis não lhe eram estranhos, e muito menos aquele sorriso. A menina também o fitou. Aproximou seu rostinho do dele, quase colando os narizes. –Seus olhos são iguais aos meus.
Draco entreabriu a boca e arregalou os olhos. Lógico que aqueles olhos não lhe eram estranhos. Eram iguais aos dele próprio. Aquele azul-acinzentado que só ele e sua família tinham. Achou ainda mais estranho.
- Eu queria ser seu amigo. – Ele falou sem saber ao certo por quê.
- Eu venho aqui amanhã. Vem também. Eu te mostro meus tios.
- Eu adoraria...
A menina apenas sorriu. Deu-lhe as costas e voltou para onde estava antes. Deixou Draco ali sozinho, ainda um tanto pasmo. Não entendeu o que acontecera. Por que aquela menina tinha os olhos tão parecidos com os seus, aquele sorriso tão familiar e, principalmente, por que ela lhe trazia uma sensação tão diferente?

Ao voltar para o hotel, recebeu as chaves do carro novo deixado por Dany com a recepcionista e foi para seu quarto. Comeu algo qualquer que pedira e preparava-se para ir prá cama quando se lembrou da cena no parque. Sorriu sozinho, sem ao menos perceber. Deitou-se na cama e se cobriu, fechando os olhos. Recordava-se da menina que parecia tão calma e simpática, e como ela o conquistou, afinal, ele jamais gostara de crianças. Abriu os olhos de repente,.olhou para os lados, fitou a mesinha, onde havia guardado algumas coisas pessoais trancadas a chave. Levantou-se num pulo, pegou a chave e abriu a gaveta. Tirou de dentro uma pasta onde se encontravam algumas fotos velhas com a família, os amigos de Hogwarts e com Gina. Havia também muitas cartas e bilhetes que ele mesmo escrevera e não tivera coragem de enviar. No entanto, o mais especial, era uma foto um tanto amassada e amarelada pelo tempo. Era Gina. A ruiva sorria docemente com os cabelos vermelhos caindo sobre os olhos. Draco fixou o olhar na foto, naquele sorriso da menina que amava. Aquele sorriso... Levantou o olhar e se lembrou novamente da menina do parque, a pequena loirinha. Os sorrisos eram idênticos. Soltou a foto sobre a cama violentamente, um tanto assustado. Não pôde compreender. Levou a mão à boca. Idéias loucas lhe passaram pela cabeça. Guardou rapidamente a foto na pasta, e esta por sua vez na gaveta, que foi trancada novamente. Deitou-se e fechou os olhos tentando fugir daqueles pensamentos sem coerência. A imagem dele com Gina em Hogwarts, um pouco antes da guerra, lhe veio em mente, quando ela finalmente se entregou a ele por completo. Não pôde deixar de sorrir ao lembrar. Foi a noite mais mágica e fascinante de sua vida. “E se ela tivesse ficado grávida naquela noite?” imaginou sério, mas em seguida riu da idéia, segundo ele, estúpida demais. Pensou que fosse coisa de sua cabeça, afinal. Talvez fosse o lugar e as lembranças que o faziam ver coisas onde não existiam.


Gina chegou em casa muito tarde naquela noite. Com a chegada do dono da empresa ao país, o trabalho parecia ter aumentado ainda mais, como se antes já não fosse o bastante. Estava exausta. Entrou no quarto e viu Diana já dormindo. Rony tinha uma cópia da chave justamente para esses casos. Hermione entrava, colocava a menina para dormir e ia para sua casa. Gina não poderia querer uma família melhor. Podia contar com eles de forma incondicional e aquilo era um grande apoio para seguir em frente. Estava cansada demais para trocar até mesmo de roupa. Tirou apenas os sapatos e jogou-se na cama, ao lado da filha. Em poucos minutos adormeceu.
Acordou na manhã seguinte com o despertador a gritar histérico. Abriu os olhos bem devagar. A filha dormia docemente. Não tinha uma imagem melhor para ver do que aquela, logo pela manhã. Era como um fortificante. Levantou-se e foi tomar banho e se vestir para o trabalho. Penteava os cabelos quando foi chamar Diana. A menina demorou um pouco mais do que o costume para despertar. Estava cansada do dia anterior, quando brincou tanto com Josh.
- Princesa, você tem que se arrumar. Vai se atrasar para a escola.
A garotinha abriu os olhos com dificuldade e se levantou da cama, ainda meio tonta. Gina, rindo, pegou-a no colo e a levou para o banheiro.
Meia hora depois estavam prontas na frente do prédio esperando Rony chegar.

Gina, já na recepção, em mais um dia de trabalho longo e cansativo, conversava com Mary sobre como seria o tal homem misterioso. Não havia outro assunto na empresa.
- Eu acho que ele deve ser alto, bonito, moreno, um pouco mais velho que nós. – Mary imaginava o homem perfeito de seus sonhos. A moça vivia à procura de um amor que nunca encontrava, apesar de ser uma ótima pessoa.
- Eu não o imagino assim, mas um velho, barrigudo, careca e com bigode. – Riram com a imitação de Gina do tal homem que imaginava.
- Só você mesmo, amiga. – Mary disse rindo e se recompôs. – Agora vou pra minha sala. Você vai vê-lo antes de mim. Depois me conte como ele é.
Gina concordou com um sorriso e se sentou na sua cadeira, enquanto Mary seguiu seu caminho. Ajeitou algumas coisas e começou a atender os telefonemas, quando ouviu uma grande movimentação do lado de fora. Uma multidão parecia aproximar-se dali. Levantou-se e tentou ver o que era. Viu um homem entrar na frente e logo atrás Miller, que espantava alguns fotógrafos e repórteres. Miller fechou rapidamente a porta de entrada e chamou os seguranças, para que não permitissem a entrada dos “fofoqueiros de plantão” como ele mesmo descrevera. Gina inclinou o corpo um pouco mais prá frente para fitar o homem, um pouco distante. Era alto, como Mary imaginara, mas era loiro. Usava um terno preto e os óculos escuros cobriam parte de seu rosto. Aquele homem pareceu familiar à ruiva, mas não teve idéia de onde o conhecia. Tentou forçar um pouco sua memória, mas não teve tempo, pois logo o homem, seguido por Miller, entrou no elevador dirigindo-se ao último andar do prédio, onde provavelmente seria sua sala. “Será que ele estudou em Hogwarts?” Gina indagou a si mesma, mas imaginou que não, seria pouco provável. Lamentou não poder ter ficado mais tempo perto dele, para talvez conseguir recordar de onde o conhecia. Resolveu voltar ao seu lugar. Pensou que fosse besteira, e talvez nem o conhecesse, pois sempre tinha a impressão de conhecer as pessoas. Deveria ser coisa de sua cabeça. Mal tinha visto o homem por mais de um minuto. No entanto, por que não conseguia tirar aquela imagem de sua cabeça?

Draco abriu a porta da sala e observou cada detalhe. O lugar parecia bom. Caminhou até as janelas. Todos os vidros espelhados permitiam que a sala ficasse muito bem iluminada. Tudo o que precisava estava ali. Virou-se para Miller, que parecia esperar ansiosamente a aprovação do chefe.
- Não quero ser incomodado a nenhum momento aqui. Ninguém pode subir até esta sala sem minha autorização.
- Sim, senhor, já estão todos avisados.
- Está bem então. – Foi até sua nova mesa e sentou-se na cadeira confortável. Parecia agradável. Teria que ser já que passaria grande parte de seu tempo sentado ali. Encarou a mesa. Havia muitos papéis e pastas sobre ela. – E os relatórios que havia pedido? São estes? – indagou apontando para um pequeno monte com finas pastas com o emblema da empresa.
- Sim, senhor.
- Não esqueça de escolher minha secretária. Não posso cuidar de tudo sozinho.
- Mas, senhor Malfoy, eu posso...
- Não, Miller! Você tem outras funções. Preciso de alguém para organizar essa papelada, atender meus telefonemas e outras coisas mais. Quero alguém até essa tarde.
- Sim, senhor. – concordou um tanto chateado. Não achava necessário, mas jamais discordaria do chefe.
-Pode se retirar então.
Miller concordou com um gesto de cabeça e saiu. Draco, vendo-se sozinho, rodou por toda a sala verificando cada pequeno detalhe, cada quadro, cada livro da estante, cada tapete, cada poltrona. Vendo que tudo estava como queria, voltou para sua cadeira e fechou os olhos. Poderia dormir ali mesmo. Respirando fundo abriu novamente os olhos. Não queria trabalhar, mas era sua obrigação. Ajeitando a postura, pegou algumas papeladas e começou a analisá-las, mas seus pensamentos iam longe. Iam até um certo parque perto dali. Lembrando-se da menininha que conhecera no dia anterior sorriu. O que havia que o encantara a ponto de não conseguir deixar de pensar nela? Imaginou como deveriam ser os seus pais. Será que era trouxa ou bruxa? Não sabia ao certo. Por mais que aquela parte do bairro fosse trouxa, havia muitos bruxos que moravam por ali, inclusive Gina. Ah Gina... doce Ginevra... Como ela estaria? Será que mudara ou continuava igual? Ou pior, será que se casou? De repente Draco desviou o olhar dos papéis e encarou um ponto isolado da estante, com diversos livros. Pode recordar a biblioteca de Hogwarts, onde discutiu com Gina uma vez por ela manter amizade com Harry Potter. Não podia esquecer que o rapaz insistia com Gina mesmo ela sempre o recusando. E depois que ele havia “morrido”, será que finalmente a garota se entregara a ele? Sacudiu a cabeça num sinal negativo. Não, não queria imaginar aquela hipótese. Mas, se não fosse Harry, poderia haver muitos outros. A garota era lindíssima e adorável. Poderia namorar qualquer um que quisesse. Com certeza não estava sozinha. Namorando, no mínimo. Namorando como ele tentara milhares de vezes e não conseguiu nada mais além da confirmação de que não tinha capacidade de ficar com ninguém desde Ginevra. O som do telefone o despertou de seus pensamentos. Encarou o aparelho ao lado que mantinha uma luz piscando. Não estava acostumado a atender telefones. Tinha sempre uma secretária para fazê-lo. Deu um resmungo e tirou o telefone do gancho.
- Sim?
- Senhor Malfoy, já escolhi a moça. Gostaria de conhecê-la agora? – Miller indagou do outro lado da linha.
- Não. Hoje não. Confio em sua escolha. Haverá alguma reunião hoje?
- Não, senhor.
- Então eu já vou. Levarei estes relatórios comigo e os analisarei no hotel. Quero descansar.
- Sim, senhor.
Desligou o telefone, pegou as papeladas colocando-as em sua pasta e foi até a janela. Podia ver toda a cidade dali. A vista era belíssima. Os prédios e ruas com construções antigas contrastavam com as mais modernas. Dando meia volta, saiu e trancou a porta da sala. Caminhando pelo pequeno hall foi chamar o elevador, que demorou a chegar. Ao fechar a porta pôs os óculos escuros. Não ficaria por ali correndo o risco de alguém conhecido o ver. Chegando ao térreo, a porta se abriu. Saiu dali lentamente, dando um sorriso seco aos outros funcionários que o cumprimentavam. Olhou distraidamente para a bancada da recepção. Viu uma mulher de costas para ele, mexendo em um computador. Sentiu o coração palpitar sem motivo. Os cabelos era vermelhos, cor-de-fogo como sempre dizia a Gina. Como não lembrar dela. Dificilmente via-se alguém com cabelos de cor tão natural e exótica. Queria se aproximar e ver seu rosto, mas Miller apareceu de repente em sua frente.
- Senhor. Seu carro já está na entrada.
- Obrigado Miller. – disse irritado e sarcástico, coisa que o homem não entendeu, e foi andando rapidamente para a saída.
Teve o intuito de bater naquele baixinho que se metera em seu caminho quando ia ver aquela mulher. Quem seria? Resolveu ignorar os pensamentos ao pegar as chaves do carro na mão de Dany. Entrou em seu novo conversível prata e deu a partida. A arrancada evidenciou que não era nada prudente no trânsito. E não era. Sempre foi ousado e irreverente. Fazia o que queria. Talvez fosse um defeito seu, mas pouco lhe importava. Era assim e não iria mudar.
Rodando pela estrada com seu carro caríssimo, atraindo a atenção de todos por quem passava, teve uma idéia. Dirigiu-se para o parque. Esperaria a menina loira ali. Foi até o banco que sentou no dia anterior e ali mesmo ficou observando o lugar e as pessoas. Reparou que o movimento era pouco e o lugar estava tranqüilo. Resolveu ler os relatórios da empresa. Parecia um bom momento. E ali, lendo e fazendo anotações pessoais, não percebeu que o final da tarde começava a surgir. Terminou de escrever uma última nota e suspirou aliviado por ter terminado. Levantou o olhar dos papéis e, para sua surpresa, deu de cara com um par de olhos azuis. Sobressaltou-se por um segundo e a dona dos olhos riu, vendo a cara engraçada que o homem fizera. Draco, reconhecendo-a do dia anterior, abriu um imenso sorriso. Sabia que a encontraria novamente.
- Olá, Diana. – Draco falou, fitando-a. A menina parecia uma princesa. Um vestido rosa florido e os cabelos curtos presos em duas tranças. Encantadora.
- Oi, Draco. – A menina riu como se tivesse dito algo engraçado. Sentou-se ao lado dele e o fitou séria como se o estivesse analisando. – O que tá fazendo aqui?
- Eu vim trabalhar e vim te ver também. Você me lembra alguém que eu amei muito.
Diana abriu um sorriso de orelha a orelha como se tivesse ganhado a melhor notícia do dia.
- Minha mãe fala a mesma coisa. – Ela falou ainda sorrindo e se aproximou do loiro, como se quisesse lhe contar um segredo. – Você é bruxo também, não é?
Draco a encarou estático. Como ela poderia saber?
- Sim, vo-você também é?
- Sim. Toda a minha família é. – falou como se não fosse importante. Levantou-se do banco ao parecer lembrar de algo. Tirou de dentro do vestido o colar de cristal que pendurava em seu pescoço. – Olha, eu ganhei.
Draco fitou o cristal paralisado. O colar era muito parecido ao que dera para Gina quando estavam juntos em Hogwarts. Aproximou o olhar da pedra querendo comprovar. Sim. Era idêntico. Poderia afirmar até que era o mesmo. Lembrava-se perfeitamente. Estranhou, poisnão havia muito daqueles cristais, eram raros. Diana percebeu que ele estava sério demais e guardou novamente por dentro da roupa, desconfiada. Olhou-o séria e depois abriu um sorriso. Dando um beijo em seu rosto, acenou com a mão despedindo-se e foi embora. O loiro ainda estava estático. Imaginou se aquela menina seria um fantasma que viera perturba-lhe trazendo lembranças de Gina. Não queria acreditar que tinha visto aquele colar. Só poderia ser outro igual. Não havia sentido algum. Pegou sua pasta e foi para o carro. Precisava voltar para o hotel e pensar.
No caminho, não conseguia parar de pensar na menina. “Por que aqueles olhos, aquele sorriso e aquele colar?” perguntava a si mesmo em busca de alguma idéia que fizesse sentido. Terminava de estacionar o automóvel no estacionamento do hotel quando o celular tocou. “Ótimo” afirmou com ironia.
- O que é Alonzo? – perguntou ao confirmar pelo identificador. – Mais notícias?
- Sim senhor. Notícia que vai agradá-lo muito. – Seu sotaque espanhol era forte. – Consegui o endereço do lugar onde sua Ginevra trabalha.
- Espere um minuto. – Draco, com os olhos arregalados, apoiou o aparelho entre o ombro e o ouvido e pegou a pasta. –Eu vou pegar um papel e ...
- Não precisa! – interrompeu com uma voz muito satisfeita. – O senhor sabe onde é.
- Então diga logo homem! – Largou a pasta no banco ao lado e voltou a segurar o aparelho nervoso.
- Numa empresa chamada DMG's Company. Ou seja, na empresa do senhor.
Draco não acreditou. Paralisado, quase deixou o aparelho cair, mas a voz do homem no outro lado da linha que gritava pelo nome dele não permitiu.
- Obrigado Alonzo, depois entramos em contato.
Draco desligou o aparelho e o jogou em cima da pasta. Com a boca ainda entreaberta parou para associar as informações que escutara. Era demais para sua cabeça. Lembrou-se da mulher da recepção. Só poderia ser ela. Era muita coincidência. Por que ela tinha que trabalhar justamente em sua empresa? Apoiou a cabeça no volante, queria fugir naquele mesmo momento. Esteve próximo demais dela e nem percebera. Sentiu medo e confusão. Queria encontrá-la, queria vê-la, mas a idéia de proximidade o causava pânico, e além do mais não queria que ela o visse. Ela não podia vê-lo. Mais do que em qualquer outro momento de sua vida, não tinha idéia do que fazer.

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