Ex-Segredo





— Então, hoje nós estudaremos um pouco mais à fundo a arte... ah — Ele dera um longo suspiro, enquanto esfregava uma mão na outra — A magnífica, maravilhosa, estupenda arte da adivinhação! Então, vamos formar duplas.

Lupin, assim como os demais alunos aplicados que se encontravam ali, naquela aula, estava posto na primeira fileira de carteiras, bem próxima a mesa do professor. Seus olhos azulados, inchados, indicando que não dormira bem, tentavam fitar algumas letras que aos poucos se revelavam naquela lousa. Mais uma noite de tortura, na qual tinha que se esquivar de todos seus amigos, professores, para esconder aquela face que ele temia tanto. Aos poucos, sua face deslizava entre seus dedos, caindo sobre a carteira.

— Lílian Evans e... — O professor colocara a mão direita na testa, enquanto seus olhos permaneciam forçadamente fechados. - Emmeline Vance!

Aos poucos sua mente saia daquela sala pequena, fechada e mal iluminada, que cheirava à mofo, e voava para um mundo imaginário, no qual somente ele e seus pensamentos poderiam descrever. Até que aquele mundo, não era tão imaginário assim.

— Sirius Black e James Potter!

Era o dormitório masculino da grifinória. Estava ele, embolado entre seus cobertores, em um sono profundo. Aos poucos, suas entranhas começaram a tremer, e seus pelos cresciam de tamanho sobrenaturalmente. Acordara em um susto, e a única reação fora sair correndo do local, esbarrando pelas portas e indo em direção aos corredores, normalmente neste horário, desertos.

— Dorcas Meadowes e Remus Lupin!

Mas estava enganado, não se encontrava solitário. Suas unhas estavam gigantescas, afiadas, e suas vestes se rasgavam como conseqüência do crescimento descomunal de sua pelagem. Ele lançou um último olhar de sanidade pela janela: a lua cheia iluminava a janela até o corredor, alcançando sua imagem.

— Garoto, acorda, garoto... — Dissera Dorcas, ao pé do ouvido do rapaz.

Um soluço desconcentrara sua atenção da lua. Incisivamente, girou pelo corredor, procurando o provável local de onde fora emitido. Caminhava lentamente, porém, pelo seu enorme peso era praticamente impossível não emitir ruído algum, já que o local também proporcionava uma amplificação do barulho. Aos poucos o soluço aumentava, talvez porque ele se aproximava da garota. Encostou suas longas garras na parede, entrando em outro corredor. Encontrara a garota, sozinha, chorando. Espera... conhecia aquela garota. Era...

— ACORDA!

Dorcas havia praticamente empurrado Lupin para fora da carteira, finalmente o acordando de seu sono profundo. Ele balançou a cabeça, olhando para um lado, e em seguida para outro, até encontrar a face enraivecida de Dorcas. Voltou a se encostar na carteira, passando a ponta de seus dedos pelos seus cabelos ralos, castanhos claros.

— Até que enfim, bela adormecida. — Dissera Dorcas, soltando um longo suspiro.

— Agora, queridos alunos, vamos começar. Estão vendo essas esferas em cima de suas mesas? Oh, não tem nenhuma esfera. — Em um estralo de seus finos dedos, em cada dupla de carteira aparecera uma bola de cristal, na qual podia apenas se ver uma fumaça azulada — Pronto! Então, o primeiro deverá mentalizar a bola, e tentar transmitir seus pensamentos para a mesma. O segundo, colocará sutilmente suas mãos sobre a esfera, tentando mentalizar os pensamentos de seu parceiro. Mas, tenham muita força mental!

— Vai lá Potter, mentaliza a Evans tomando banho. — Sussurrou Sirius, já segurando a bola entre suas mãos e encostando uma pálpebra na outra, forçadamente.

— Cala a boca. — Respondeu Thiago, lhe dando um murro em seu ombro, enquanto ambos caiam na gargalhada.

Pela primeira vez, Dorcas olhava fundo nos olhos de Lupin, que lembravam bastante seus próprios olhos, à não ser pela proporção e tamanho. Enquanto seus olhos eram grandes, afilados, os de Lupin eram pequenos, aparentavam estar cansados. Ele tentava mentalizar algo... flores. Isso, flores! Enquanto fechava os olhos, com os braços cruzados à altura de seu peito, tentava imaginar um enorme campo florido, alternando entre rosas e tulipas. Dorcas tocava delicadamente a esfera, que tomava uma coloração múltipla. Ele prosseguia com seus pensamentos. Agora via com detalhes, cada flor, mas seu olhar fora desviado para sua direita, que ao longe, poderia se distinguir a copa de uma enorme árvore velha e sem folhagens. Seus galhos estavam desnudos, e balançava conforme a brisa lhe tocava, em uma dança ritmada. Ele conhecia aquela árvore, muito bem... era o Salgueiro. Como em um Flash de imagens, veio seus caninos, uma lua cheia, o túnel do salgueiro, a casa dos gritos, e por final, ele, em fase se transformação. Fora acordado por um grito, vindo à sua frente. Era Dorcas.

— C-calma, você... você não viu... quer dizer, você viu errado! — Dissera Lupin, enrolando sua língua entre os dentes, com palavras atropelando uma as outras.

Ela não respondeu nada, ou se respondeu, fora entre seus soluços. Não chorava, não derramava uma única lágrima, apenas soluçava, com o peito arfando ferozmente. Seus olhos estavam vidrados no de Lupin, inertes. Ele começava a se acanhar, não sabendo como reagir à aquilo. Sabia que tinha de ter abandonado a Adivinhação no ano anterior! Ela arrastou a cadeira para trás, com a esfera ainda entre suas mãos. Saiu correndo, batendo suas sapatilhas no chão de pedra, enquanto era advertida pelo professor e recebia o olhar de todos ali presentes. Lupin a seguiu, tentando esconder sua face entre seus braços.

Ela corria pelos corredores, desviando perfeitamente de todos os alunos que por ali transitavam. Já Lupin tentava se esquivar, mas sempre acabava esbarrando em alguém. Já extremamente ofegante, apoiou suas mãos sobre os joelhos, erguendo a cabeça e fitando o vulto de Dorcas se dirigindo ao jardim. Balançando a cabeça negativamente, ele voltara a correr, finalmente, a alcançando. Ela estava parada, em frente ao lago, ainda com a bola em mãos. Lupin procurou se aproximar devagar, caminhando na ponta de seus pés.

— Era verdade? — Sussurrou Dorcas, com uma voz seca, forçada a sair.

— Não, lógico que não! Eu... andei lendo muito livros de ficção, principalmente sobre lobisomens. Você, principalmente você sabe, que este tipo de livro muda totalmente a nossa percepção, e nos faz imaginar coisas... impossíveis! — Ele odiava mentir, mas era forçado. Se sua identidade fosse desvendada, ele corria sérios riscos de vida. — Por favor, acredite, é tudo...

Levando seus braços acima de sua cabeça, Dorcas pegou impulso, jogando a bola de cristal ao ar, na qual fizera um arco caindo perfeitamente no lago. Ela virou-se rapidamente, encarando Lupin. Bufava, enquanto serrava seus punhos. Em seu íntimo, ela sabia que ele estava mentindo, mas ela custava acreditar naquilo, não poderia ser verdade. Ele, estava receoso que ela tivesse acreditado em suas palavras de pura ilusão. Batendo os pés, ela se retirou dos jardins, caminhando em direção novamente ao castelo. Em um momento, Lupin pensou em correr atrás dela, até arrancar um “Acredito em você” dela. Mas, era melhor não, ou poderia achar a situação extremamente forçada, e desenvolver segundos pensamentos.

Agora, seu segredo estava em mãos de uma desconhecida, e teria de tomar atitudes para isso, para que continuasse gozando de sua liberdade.

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