E você, me entende?
Os primeiros vestígios de luz começavam aos poucos, invadir por completo o dormitório masculino grifinoriano. Os raios de sol brincavam no rosto de Lupin, que tentava impedi-lo, colocando o seu rosto sob o grosso travesseiro de penas. Sua cabeça latejava, e seu corpo o impedia que levantasse naquele momento. As tensões do dia anterior ainda não haviam saído totalmente de seus pensamentos, criando delírios a noite inteira. O que mais temia durante anos e anos, agora, corria sérios riscos de se realizar. Virou o corpo para o lado, pressionando os dedos contra a fronha do travesseiro. Assim permaneceu, por alguns minutos à mais, lutando contra a própria cama.
Estava novamente caindo em sono profundo, suas pálpebras pesavam, sua respiração voltava a se prolongar... quando de repente, sente um enorme peso sobre seu corpo, e gritos ensurdecedores.
— Acooorda Remus! Ta na idade da loba né, fica saindo a noite inteira. — Sirius soltava uma grande gargalhada, enquanto arrancava o travesseiro da face de Lupin, e os demais cobertores. Exibiu uma face um tanto quanto chocada, ao ver a feição do rapaz. — Nossa, você ta mal hein? — Com o último vestígio de consciência que poderia haver em sua cabeça, ele saiu de cima dele, apertando firmemente seu ombro. — Acorda, vai, já estamos descendo pro café.
Com o corpo pesado, os músculos cansados e uma dor de cabeça insuportável, Lupin lutou contra seu próprio organismo. Não fazia a mínima menção de se irritar com Sirius, já que evitava o mínimo de esforço possível. Seguiu arrastando seus pés em direção ao salão comunal.
***
— Então, isso é tudo. - dizia Lupin, sustentando o rosto entre suas mãos. Seus olhos, se isso era possível, estavam mais inchados do que o dia anterior. Sua face estava amarrotada, tanto quanto suas veste, que habitualmente se encontravam em demasia organização. Seus cabelos estavam desalinhados, e exibia um ar doentio.
— Então, a Dork... digo, Dorcas, descobriu seu segredo. — indagara Peter.
— Não sei, isso é o pior de tudo. Ela pode ter pensado que era apenas coisa da minha imaginação, ou pior...
— Cara, ninguém fai acreditar nela. Ela é simplesmente aquela garota Nerd ao extremo, que fife delirando entre suas leituras. É isso que o pessoal vai pensar, não se preocupe Remus. Famos, coma um pouco, essa geléia esta magnífica. — Dizia Sirius, com a boca lotada de torradas com geléia.
— Será que vocês não levam nada a sério? Queria que VOCÊS estivessem na minha pele, queria que VOCÊS sofressem com uma identidade oculta desde sua infância. Queria que VOCÊS sofressem a dor de nunca poder contemplar uma bela noite de lua cheia, sem ter que virar uma besta sanguinária! — As veias de Lupin saltavam de seus punhos, aparentando querer rasgar sua pele esbranquiçada. Seus olhos, naturalmente azuis, estavam levemente avermelhados, resultado da junção de cansaço e fúria.
Sirius para de mastigar, e um filete de saliva com geléia escorria pelo lado de sua boca. Estava paralisado, olhando fixamente Lupin, assim como todos os demais marotos faziam.
— Entendo, Lupin. — dizia James — Mas, como Sirius “quis” dizer, ninguém vai acreditar na Dorcas, além disso, ela não é muito de conviver entre as pessoas...
— Estou vendo que com vocês, não conseguirei conversar mesmo. — Empurrando a garrafinha que continha suco de abóbora para o centro da mesa, Lupin se levantou, se esquivando com dificuldade dos alunos que ali transitavam. Era raro se comportar com tanta fúria assim, sempre era calmo, sereno, talvez “lerdo” em demasia. Mas havia realmente se preocupado com tal assunto.
Caminhava pelo corredor, afoito, atraindo inúmeros olhares curiosos. Não por te uma aparência desejável, bela, mas por estar com o sobretudo vestido ao contrário. A costura estava totalmente para fora, e só podia o identificar pelo brasão estampado em sua camiseta. Seus olhos se ergueram, até avistarem duas garotas, uma ruiva, outra morena. Apressou o passo para poder alcançá-las. Ainda tivera dificuldade, pois o seu pé não se curara totalmente e ainda mancava discretamente. Lílian e Marlenne se viraram para fitar Lupin, exibindo ambas uma face de surpresa.
— Lupin, o que...
— Depois, Lílian, depois. Preciso de ajuda de você, aliás, vocês duas. Vocês podem vir comigo até o salão comunal? A essa hora, não deverá ter ninguém.
As garotas se entreolharam, e concordaram com a idéia.
***
— Quero que vocês me ensinem como conquistar uma garota. Do que elas gostam, como elas gostam de ser tratadas, e porque elas são tão, tão... teimosas. — Dizia Lupin, caminhando de um lado para outro, enquanto falava, com as mãos atrás de seu corpo esguio.
— Lupin esta apaixonado? — Perguntou Lílian, segurando um riso entre os lábios.
— Eu... - ele pensou por um instante, antes de prosseguir - Sim, estou apaixonado.
— Lupin, fala sério, você com esse seu jeitão de CDF atrai muitas corvinais por ai. — Marlenne não se comportou, e soltou uma gargalhada, mesmo que todos ali estivessem sério. — Que foi? A Downson que me falou isso!
— Você e o Sirius realmente se merecem. — Lílian sorriu, enquanto analizava Marlenne fechar a cara para si e virar-se para o outro lado, esbravejando — Querido Lupin, não sei mesmo como te ajudar. E não é tão fácil assim, tem que saber o gosto da garota. Ninguém é igual. Você poderia me descrever a personalidade dela?
— Ahn... — Ele parara de caminhar, concentrando sua pouca energia mentalizando a face de Dorcas — Ela é... irritante, mal educada... digo, inteligente, sim... ela é muito inteligente. Teimosa, ahn... acho que é só.
— É... acho que vamos ter que passar pra visão popular. Primeiro, garotas adoram presentes. Não dê flores, pois ela pode ser alérgica. Espere para conhecê-la melhor, para depois lhe presentear com um belo buquê de rosas. Não dê perfume também, o aroma pode lhe irritar o olfato. Roupa, nem pensar. A roupa pode ser menor do que o seu manequim, e ela pode se sentir gorda ao provar a roupa e não servir, uma garota odeia isso! E se você der mais larga, ela pode pensar que você a acha obesa. Não dê jóias, pode incomodar sua pele...
— Lílian, eu disse que quero uma “ajuda” sua. Não complique mais as coisas.
— Ainda não sei como é que o Potter pode se apaixonar por uma “coisa” dessas. — Advertiu Marlenne, ainda emburrada.
— Olha aqui, sua nanica, fica quieta...
— Fica quieta você, sardenta!
— Sardenta é a sua avó, sua...
Lupin se segurava para não rir da situação. Não era uma risada de gozo, mas de desespero. Não agüentava mais, todos a quem procurava ajuda, ao invés de auxiliá-lo, o confundia mais ainda. Girou em seus calcanhares, se retirando do salão comunal e caminhando na direção do dormitório masculino. Conforme se distanciava, ainda escutava perfeitamente a discução entre Marlenne e Lílian. Procurava descansar, recuperar suas energia e sua aparência habitual, para bolar um plano sozinho.
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