Metamorfose.
Às avessas.
Capítulo 3 – Metamorfose.
Eu nunca, nunquinha, nunca MESMO, vou dirigir palavra, pensamento ou qualquer outro tipo de interação ao Sirius Black. Para mim ele voltou a ser o Black. Não, vou fazer melhor – ou pior, como preferir -, eu vou afogá-lo na privada do banheiro da murta-que-geme. E ainda vou dar descarga para ver se estrago o penteado idiota dele. Como pode pensar que ele iria me deixar sem a tradicional “pregue uma peça na ruiva” de Halloween? Sou muito estúpida, muito. Ou será que devo dizer estúpido? Tudo começou logo pela manhã. Como na noite anterior eu tinha ido dormir muito tarde por conta do banquete, acordei quase na hora em que os elfos servem o almoço nos domingos.
Assim que abri os olhos tive uma sensação meio estranha. Primeiro eu notei que o quarto me parecia ligeiramente diferente do habitual e enxergava tudo embaçado. Depois comecei a me sentir mais alta, será que tinha esquecido de tirar meu salto alto antes de me deitar? E o mais esquisito de tudo foi que todas as minhas companheiras de quarto já tinham se levantado, geralmente eu sou a primeira a acordar – mesmo aos domingos-pós-banquetes. Este último foi quase tão estranho quanto ver vestes masculinas saindo dos malões ao pé das camas do dormitório.
Comecei a cogitar a possibilidade de Sirius ter me posto, enquanto dormia, no dormitório masculino para que eu levasse um susto quando acordasse. Essa possibilidade se tornou ainda mais nítida em minha mente depois de eu notar uma placa de madeira em forma de pomo de ouro escrito J.P. acima da cama onde eu estivera dormindo. A placa que eu dei no natal passado para James.
Enquanto eu me encaminhava para o dormitório feminino para tomar um banho no banheiro certo, formulava um plano maléfico para revidar a brincadeirinha de Sirius, ainda me sentindo estranhamente alta. Foi só quando o feitiço que protegia o dormitório feminino me impediu de dar acesso ao aposento que eu fui desconfiar que tinha algo mais errado do que eu imaginava. Voltei correndo para o dormitório masculino, sem me importar de ser vista já que o salão comunal estava vazio.
Quando parei enfrente ao espelho do banheiro para checar se estava tudo normal comigo, deparei-me com o reflexo de James com uma cara sonolenta e cabelos mais desordenados do que o normal. Tudo que pude fazer foi soltar um grito que soou extremamente grosso. Meu grito normalmente é fino e agudo como o de uma donzela em perigo que faz as pessoas vomitarem.
Levei as mãos à boca assustada e me sentei no chão do banheiro para fugir do reflexo de James no espelho. “Calma, Lily, não é nada de mais. No mínimo é um sonho e no máximo uma brincadeira estúpida de Sirius, mas com certeza você não se transformou em um clone de James Potter”. Pensei, tentando me reconfortar. Sentindo meu coração pular de desespero, ponderei: “Mas, e se eu realmente me transformei no James?”.
Não pude deixar de escapar um “Ai meu Deus!” E me assustei novamente com minha própria voz. Devagarzinho comecei a me levantar para me encarar novamente no espelho e, mais uma vez, a expressão amedrontada de James foi refletida nele. Foi então que ouvi a voz animada de Sirius se aproximando “mal posso esperar!” ele dizia, acho que para si mesmo. Ele tem essa mania de falar sozinho. “James, você já acordou?” Ele gritou divertido.
De imediato me encaminhei para a porta do banheiro e esperei que ele adentrasse o quarto. Assim que o traste o fez, explodi ainda com a voz de James emprestada: - SIRIUS BLACK!
-Você já acordou? Com está se sentindo hoje? Diferente? – ele perguntou curioso, obviamente tentando checar se seu plano dera certo.
- O que você fez comigo? – murmurei tentado respirar em meu ritmo normal. Se estivesse de volta à minha forma ruiva tenho certeza que estaria semelhante a um tomate!
- Então deu certo? – ele perguntou triunfante.
- O que está acontecendo? Fale ou te azaro! – eu me alterei colocando as mãos na cintura.
- Em primeiro lugar, James, a ameaça não tem exatamente o efeito esperado quando sua varinha não está em punho. – ele parou para me encarar com um sorriso maroto. – e, em segundo, não vai pegar bem para você colocar as mãos na cintura desse jeito.
- O que você fez comigo? – choraminguei desesperada.
- Bem, eu... – ele começou sendo interrompido por um grito agudo vindo do dormitório feminino.O MEU GRITO! – Acho que a Lily também acordou! – ele sorriu marotamente.
- Co-como? – gaguejei imaginando o que viria em seguida.
- Vamos até o dormitório feminino e explico a vocês dois de uma vez... – ele falou como quem está se divertindo como nunca.
- Eu não posso mais entrar lá... – respondi mal-humorada ao que ele me respondeu apenas me puxando pelo braço até a escada que a alguns minutos me impedira de passar. - E agora? – desafiei.
- Simples – ele sorriu. Retirou do bolso um frasquinho e um medidor. Puxou um pouco do líquido no medidor e confirmou: - Vinte segundos são o suficiente?
- O que?
- É, vinte segundos basta – concluiu apesar da minha resposta e me entregou o medidor com o líquido de cor roxa. Eu apenas o encarei incrédula e ele falou, confirmando meus temores:
-Beba.
- Só se você beber.
- Você quer ou não saber o que há contigo? – ele disse, me convencendo a entornar aquilo que eu suspeitava ser uma poção na minha boca. No mesmo instante senti minha pele se repuxar e meu estômago se embrulhar, minha visão que já estava danificada desapareceu por uns segundos. Quando me recuperei dos efeitos da poção, Sirius olhou para mim e disse: - Perfeito. Tem vinte segundos para subir a escada.
Pus-me a correr escada a cima e quando cheguei na porta do dormitório esperei por Sirius. Ele repetiu o mesmo processo pelo qual passei e alguns segundos depois se transformou numa versão feminina dele mesmo. Será que foi isso que aconteceu comigo? Quando ele chegou ao topo da escada, já voltando à sua forma masculina, adentramos ao dormitório em que eu deveria ter acordado esta manhã.
Assim que pus os pés no chão carpetado senti meu nariz coçar, mas coçar MUITO. Tive uma crise de espirros como o que James sempre tinha sempre que chegava perto do meu gatinho. Será que agora que estava no corpo de James teria que suportar essa alergia ao Salú?
- Sirius – James, sob a forma de Lily Evans, falou aparecendo debaixo da minha cama, coberto até o pescoço pelo meu edredom. – Tem algo de muito estranho acontecendo, eu estou no dormitório feminino! Você precisa me tirar daqui antes que as garotas... – ele exclamou de repente notando minha presença. Foi muito esquisito me ver arregalando os olhos e soltando um grito aterrorizado.
- O que está acontecendo? – ele perguntou tremendo de leve, saindo de seu esconderijo.
Bem – Sirius sorriu marotamente – olhe-se no espelho.
James hesitou um pouco, mas logo se dirigiu à penteadeira e soltou um grito idêntico ao que havia soltado ao acordar no dormitório feminino.
- Muito bem – ele começou dirigindo-se ameaçadoramente para Sirius. Foi estranho vê-lo descontrolado, isso é raro. – Explique-se.
- Vocês trocaram de corpo. – Sirius sorriu divertido. Eu e James nos encaramos e depois voltamo-nos para Sirius, gritando simultaneamente:
O QUE VOCÊ FEZ?
- Foi uma brincadeira de Halloween! – ele disse em sua defesa. Notando que não nos convencera alegou: - Já estava na hora de vocês se acertarem, talvez um entenda o outro melhor agora...
- Sirius, eu não preciso de sua ajuda para “me acertar” com ninguém! – ele disse furioso, com o rosto vermelho. Meu rosto.
- O que quer dizer com “se acertarem”? – olhei de Sirius para James – Eu achei que já éramos amigos...
- É. Mas, talvez um de vocês queira algo mais... – ele sorriu marotamente.
- O que?
- Nada, Lily, ele que está ficando maluco...
- Ótimo. – olhei para o Sirius com seriedade – A brincadeira acabou, traga-nos de volta ao normal.
- Eu não sei como. – ele disse com uma certa confusão. Eu juro que achei que fosse brincadeira, cheguei até a achar engraçado e ri, mas ao notar a expressão aterrorizada de James – na verdade minha – parei de achar graça em qualquer coisa.
- Por favor, diga que isso não está acontecendo comigo... – Choraminguei sentando-me em minha cama. Minha vontade foi de matar o Sirius!
- Bem, pensem pelo lado positivo: pode ser divertido! – ele sorriu tentando nos encorajar, mas tudo o que conseguiu foi um tapa na cabeça de James e lágrimas de mim. Eu desabei, comecei a chorar.
- Ah, como é que é? Não pode ser tão ruim ficar no corpo um do outro... – ele insistiu.
- É sim! – gritei com as lágrimas descendo de meus olhos com mais intensidade – Sem ofensas, James.
- Tudo bem. – ele sorriu divertido.
- Bem, agora é com vocês... – ele disse começando a se dirigir à porta.
- COMO ASSIM É COM VOCÊS? – gritei fazendo-o parar.
- Eu já fiz minha parte, Lily! – ele respondeu.
- Não. Você começou tudo isso – parei para respirar, a alergia estava realmente terrível – e você vai resolver!
- Eu não posso fazer mais nada, Lily – ele disse como se me ensinasse a soletrar – não sei como fazer o antídoto!
- Você deve ter retirado essa brincadeira estúpida de algum livro, lá não tem o antídoto? – James perguntou me enchendo de esperanças.
- Estúpida? – fingiu-se indignado, e vendo meu olhar de censura prosseguiu: - Eu não me lembro qual era o livro, só sei que está na seção restrita. Mas, eu acho que não dizia o antídoto lá...
- Você bateu seu próprio recorde de irresponsabilidade! – me estressei – Além de pregar uma peça arriscada em nós ainda usou uma poção sem antídoto! Como espera que voltemos ao normal?
- Bem, vocês terão que aprender a conviver com isso agora...
Talvez essa tenha sido a única vez que eu ouvi Sirius Black, já que foi exatamente isso que eu e James fizemos o restante daquela semana. Tentamos nos adaptar com a nossa própria figura.
Eu até estou podendo suportar as “aulas-de-como-ser-James-Potter”. Porém, o que realmente me incomoda nisso tudo é o Sirius viver dizendo: “Não sejam tão dramáticos, não pode ser tão ruim”. Bem, vou lhe dizer uma coisa, Sirius, talvez você tenha essa opinião infeliz por que não está passando pelas mesmas coisas esquisitas que eu e James estamos, como:
Coisa esquisita #1. Eu ter, todos os dias, de me olhar no espelho e me sentir realmente atraída pela minha imagem refletida ali.
Coisa esquisita #2. Eu estar andando com curativos pelo rosto por ser incapaz de fazer a barba sem me machucar.
Coisa esquisita #3. Eu ter barba. Essa coisa realmente penica!
Coisa esquisita #4. James ter de se depilar– porque eu o obrigo, óbvio. Os garotos tem mais facilidade de conviver com pêlos na perna do que as meninas com pêlos no rosto.
Coisa esquisita #5. James estar usando maquiagem. (pelo mesmo motivo dele estar se depilando).
Coisa esquisita #6. Eu não precisar mais pentear os cabelos, eles não se assentam mesmo.
Coisa esquisita #7. Não só James estar penteando os cabelos, como, também, estar aplicando nele uma poção hidratante alisadora.
Coisa esquisita #8. Ter de dar um fora em Hillary.
Coisa esquisita #9. Hillary estar interessada em mim para inicio de conversa.
Coisa esquisita #10. Todo o negócio com a minha visão.
Coisa esquisita #11. Todo o negócio com a minha voz.
Coisa esquisita #12. James ser uma Monitora-chefe.
Coisa esquisita #13. Eu ser um Maroto.
Coisa esquisita #14. James usar uniforme feminino.
Coisa esquisita #15. Eu usar uniforme masculino.
Coisa esquisita #16. Nós termos de usar um feitiço de limpeza invés de tomar banho e, apesar de ter o mesmo efeito, eu sinto falta de me enfiar embaixo do chuveiro por três horas.
Coisa esquisita #17. Eu ter COGITADO a possibilidade de beijar minha imagem no espelho. Além de a minha imagem no espelho ser James e eu ter pensado isso ser a coisa mais esquisita de todas, isso não é nada saudável!
Ah! E de quem é a culpa mesmo? DO SIRIUS!
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!