O banquete de Halloween.

O banquete de Halloween.



Às avessas.

Capítulo 2 – O banquete de Halloween.

Ele está aprontando alguma, eu simplesmente sei disso. Ele anda todo quietinho e não veio com nenhuma gracinha sequer, é como se ele estivesse se desculpando por algo que ainda irá fazer. O Sirius fica assim quando está com más intenções e, pelo jeito que ele vem me tratando, eu diria que elas são péssimas.

Primeiro, em vez do costumeiro “E aí, caiu da cama de novo?” ao amanhecer, ele veio com um “Bom dia” bem educado. Educado demais.

Segundo, ele some sozinho, regularmente e ninguém parece saber para onde. Muito suspeito.

Terceiro, é quase Halloween e essa época deixa o Sirius inspirado para me pregar peças.

Ano passado, por exemplo, o canalha aproveitou que me senti indisposta para o jantar anterior ao banquete de Halloween e me disse que Dumbledore tinha anunciado que o banquete seria à fantasia. Eu, na minha ingenuidade, achei uma bobagem, mas fui correndo atrás de uma fantasia (A vantagem de você meio que andar com os Marotos é que você sabe como chegar a Hogsmeade facilmente). Quando cheguei na festa e vi que era a única babaca vestida de trasgo, fiz uma cara de “Foi uma brincadeira de Halloween, riam” e todos começaram a rir de mim. Pelo menos fiz com que pensassem que era essa a minha intenção, certo?

Eu nem fiquei muito brava com o senhor Black, ainda mais quando vi que ele era quem mais ria, eu só bati nele com meu bastão de trasgo feito de isopor e me sentei calmamente, como se todos estivessem vestidos de trasgo também.

Enfim, acho que tenho motivos para desconfiar dele. Essa época do ano acaba com os miolos dele ainda mais, se é que isso é possível.

Geralmente oJames participa dessas brincadeirinhas (ele também levou uma pancada bem feia do meu bastão) e foi por isso que o interroguei cheia de desconfiança:

- O que o Sirius está armando, James? – Uma sobrancelha dele se ergueu meio que me desafiando, ele sempre faz isso comigo. É meio que uma pose de ataque, sabe? A minha é cruzar os braços e ficar semelhante a um pimentão, mas a dele é bem mais charmosa. Fico tentando imitá-lo enfrente ao espelho, mas não da certo: as duas sobrancelhas se levantam juntas. Ele tentou me ensinar a fazer isso, quando eu pedi, mas deu errado, ele se enrola muito para explicar qualquer tipo de coisa.

- Eu não sei. – Disse simplesmente dando de ombros. Me decepcionei com a resposta, sobrancelha levantada não significa resposta sem graça!

- Como assim não sabe? – Posição de ataque, ele entendeu o recado e me deu uma resposta melhorzinha:

- Olha, eu também notei que ele está estranho, mas eu não sei de nada, juro. – Eu acreditei nele, ele se arrependeu demais da última vez que mentiu para mim na minha posição de ataque para repetir o erro.

Me senti aliviada por um instante. Se o Sirius estava estranho com James também tinha uma chance de eu não ser o alvo dessa vez. Quando disse isso, ele sorriu e falou divertido:

- Não creio, você é a vítima predileta dele.

Ótimo, era tudo o que eu precisava: ser a vítima predileta dele. O que seria dessa vez? Me obrigar a usar um nariz de palhaço e fazer um feitiço para eu sair por aí dançando cancã?

Não, era mais que isso, Sirius estava extremamente suspeito.James apenas riu quando lhe contei minha teoria do cancã, mas nós dois dissemos que tinha algo de muito estranho no jeito dele e foi exatamente isso que me motivou a agir de forma neurótica naquele sábado. Pôxa, se ele não havia feito nada nos dois últimos dias só podia significar que deixou seu golpe de gênio para o dia de Halloween! Quem sabe ele não tentaria algo parecido com o Episódio Trasgo?

Eu precisava ficar atenta a qualquer “E aí, Lily, soube que o banquete vai ser uma espécie de festa na piscina? Vista seu melhor biquíni e nos encontre no salão principal que vamos todos juntos para o lago!”. E não é que eu fiquei atenta? Atenta até demais, eu diria.

Todos os dias eu, Sirius, Remus, James e Peter vamos tomar café da manhã na cozinha, que é bem melhor, já que os elfos preparam o que você quiser comer. É incrível, a única coisa que eu pedi para eles cozinharem e, meio desapontados, me disseram que não sabiam como fazer foram os chocolates da Sra. Potter. Eu sou viciada neles desde que os conheci nas férias de natal passada, na casa dos Potter, e foi por isso que atormentei James a semana toda na esperança que ele me desse um quando a mãe lhe enviasse a remeça de Halloween.

Eu, como sempre, fui a última a chegar na cozinha, já que eles acham engraçado não me contar em qual fruta do quadro que abre a passagem devo fazer cócegas (conclusão: todos os dias fico que nem uma tonta fazendo cócegas em todas as frutas de uma vez).

Como de costume, procurei pelo Remus e meu olhar cruzou com o dele para me certificar de que os quatro não faziam nada de errado antes da minha chegada. Remus é o mais transparente do grupo. Ele sorriu tranqüilo, tudo limpo. Meus quatro anjinhos estavam se comportando.

Desviei meu olhar para Peter, que se assemelhava a um porquinho devorando três mini tortas de uma vez. Tudo certo.

Vez do Sirius. Ele ainda estava sorrindo daquele jeito esquisito para mim. Estranho, muito estranho, mas não era hora de preocupar.

E, por último, meu olhar pousou em James. ISSO! Chocolates da Sra. Potter!

- Bom dia! – cumprimentei sentando-me ao lado de James, cheia de más intenções. – James, Jamezinho... – comecei alisando o ombro dele como quem não quer nada, mas sempre mirando a caixinha de chocolates que estava em cima da mesa.

- Não. – ele disse simplesmente, pegando um chocolate.

Sabia que ele não deixaria de primeira, não depois de na páscoa eu roubar a caixinha de bombons da mala dele e comer tudo sozinha. Mas, ainda assim minha missão era fácil.

Me aproximei dele e lhe dei um beijinho na bochecha.

- Tem certeza? – sorri já me sentindo vitoriosa.

- Tá legal... – ele respondeu me deixando pegar alguns chocolates.

- Oh, obrigada... – Fácil demais.

- Isso foi trapaça! – disse Remus divertido, sentado ao lado de Sirius que estava enfrente a mim na grande mesa da cozinha em que nos sentávamos todos os dias.

- Lógico que foi, Lily é uma trapaceira. – Sirius sorriu marotamente ao que eu apenas dei de ombros e levei um bombom à boca. Hmmm... Eu estava no céu.

- Hei! Talvez se eu a tivessesubornada com mais alguns destes elativesse saidocomigo. – brincou James, fazendo com que meu rosto esquentasse. Essa é a droga de ser ruiva, você não pode sentir nem um pouquinho de vergonha sem que todos percebam, já que seu rosto fica todo vermelho.

- Muito engraçado... – reclamei comendo três chocolates de uma vez. Não adianta, é só ver esses bombons e começo a ter os mesmos modos de Peter. Mas, é claro que, como Peter, eu nunca poderia engolir tanta coisa de uma vez sem me engasgar. Por isso, para acalmar a tosse, eu enchi minha boca com meio copo de suco de abóbora. Quando eu engoli um pouco do líquido meu olhar se levantou e parou no Sirius que estava sorrindo daquele mesmo jeito estranho e só pude fazer uma coisa: peguei o meu copo e cuspi o que ainda restava na minha boca ali dentro.

- O que deu em você? – Remus disse de uma maneira chocada enquanto os outros me encaravam perplexos.

- O QUE VOCÊ FEZ COM O MEU SUCO, SIRIUS? – posição de fúria: rosto escarlate, corpo completamente virado para a vítima, no caso o Sirius, e frases aos berros.

- Eu não fiz nada, Lily, fica calma ‘tá legal? – Sirius respondeu com mais um sorriso. Dessa vez eu conhecia aquele sorriso e, infelizmente, muito bem. Era o sorriso que as pessoas dão quando prendem o riso porque, por educação, não querem rir de você bem na sua cara.

Ao olhar em volta notei que até os elfos tinham parado de correr de um lado para o outro preparando comidas e mais comidas para me observar. Todos os marotos mantinham o mesmo sorriso de Sirius.

- Desculpe-me, então. – Posição pós-vexame: olhar fixo no chão, rosto cor-de-sangue e olhos ardendo. Voltei a me sentar – tinha me levantado, tanto era meu desespero – e os elfos voltaram às suas atividades.

Sirius e Remus tiveram uma crise de risos enquanto Peter engolia uma quantidade incrível de torradas por segundo. Já James pegou minha mão, virou a palma para cima, colocou ali três chocolates e fechou meus dedos sobre eles.

- É para você ficar mais calma. – ele sorriu, como se estivesse explicando sua ação.

- Obrigada – murmurei mordiscando a ponta de um dos chocolates.

- O que nós vamos fazer hoje? Ir a Hogsmeade? – James perguntou aos outros, Sirius e Remus – que pararam de rir – assentiram, e Peter... Bem, Peter ainda comia.

- Você vem com a gente, Lily? – Convidou Remus. Ele meio que se preocupa com o fato de eu não ter amigas, eu acho... Ele está sempre me convidando para ir com eles nos lugares, o que é super gentil. Mas, provavelmente eu os atrapalharia com algum de seus planos, então disse apenas:

- Eu acompanho vocês até lá, depois nos separamos. – Comi mais um bombom – Eu tenho que fazer umas coisas por lá, sabe como é, sozinha.

- Certo. – Remus sorriu. Um silêncio meio desconfortável se instalou e eu pude perceber uma coisa milagrosa: Remus é a única pessoa capaz de compreender a minha cabeça, a de James e a do Sirius ao mesmo tempo! Ele com certeza deveria ter uma pista do que Sirius pretendia...

- Oh meu Deus! – exclamei assim que pensei nessa possibilidade.

- O que houve, Lily? – James perguntou com um sorriso divertido.

- Nada. – Droga de falta de auto-controle – Eu só... Bem, acho que devemos ir logo, não é mesmo? Faltam alguns minutos para o restante dos alunos e a professora McGonagall partirem...

- É melhor irmos logo mesmo, Mimi já está começando a se estressar conosco por partirmos sempre depois do resto dos alunos. – Sirius concordou. Ei! Espere aí! SIRIUS CONCORDOU COMIGO! Ele deve mesmo estar querendo se desculpar por alguma besteira que ainda vai fazer, ele nunca concorda em nada comigo. Talvez seja mais seguro escrever para a Big, a namorada dele que estuda na França e que por acaso é prima de James. Ela deve ser a única capaz de repreender Sirius – a não ser Remus, quando tem alguma sorte.

- Bem, eu não consegui tocar no assunto com Remus até o momento em que Sirius resolveu apostar uma corrida com Peter até a loja de artigos para quadribol – Às vezes ele consegue ser mais infantil que uma criancinha de três anos de idade – deixando-me a sós com ele e James.

- Remus – comecei assim que Sirius e Peter dispararam a nossa frente, era meio estranho ele não ter convidado James, mas acho que ele gosta mesmo de vencer – Você sabe o que Sirius está aprontando?

- Ah você também notou. – ele disse como se confirmasse algo que lhe ocorrera e sorriu divertido – Foi por isso que cuspiu seu suco todo hoje de manhã lá na cozinha?

- Foi. – resmunguei dando um tapa no ombro de James para que ele parasse de rir. – E então, você sabe?

- Nenhuma pista. – ele não me convenceu. Como eu já disse, Remus é muito transparente.

- Se não quer me contar tudo bem, mas saiba que você está na minha lista negra – falei ameaçadoramente me despedindo com um “Até logo!” e indo para o caldeirão furado sozinha.

Okay, agora eu tinha de arranjar o que fazer enquanto os meninos não voltavam para Hogwarts. Geralmente quando eu fico no ócio eu como muito, muito mesmo, mas eu não estava com fome. O fato de o Remus parecer saber e talvez participar da tramóia de Sirius me tirou totalmente o apetite. Deveria ser sério.

Eu fiquei um bom tempo no Caldeirão furado, batucando a mesa do bar de leve e meio que incomodando os clientes da madame Rosmerta com aquele Tum-tum-tum. Quando ela, a madame Rosmerta, veio ver quem era a mocinha a quem estava incomodando a todos pareceu um pouco surpresa. Talvez surpresa não seja a definição certa, ela estava parecendo ter pena de mim – Não estranhei já que tinha motivos para isso acontecer, mas não os que ela imaginou.

- O que houve Srta. Evans? – Ela me encarou com um sorriso gentil, que antes de ela notar que era eu perturbando seus clientes tinha sido uma careta ameaçadora.

- Nada – respondi enjoada. O que poderia ser aquilo que o Sirius estava tramando mancomunado com Remus e, talvez, até com James?

- Foi o jovem Potter não foi? – Ela disse em tom de consolo sentando-se ao meu lado na mesa de bar.

- Acho que foi. – Respondi como se aquela mulher soubesse de meus problemas. – Ele e os amigos dele.

- Os homens são todos iguais... – Ela suspirou resignada. Achei aquilo meio engraçado no inicio, uma das pessoas mais bonitas e bem-sucedidas em relacionamentos amorosos que conheço dando uma espécie de ataque de fúria feminista. Meu problema nem tinha nada a ver com o fato de os homens serem todos iguais, tinha a ver com o fato daqueles três homens em especial terem uma queda por me pregar peças. Mas, é claro que ela não tinha como saber disto.

- Mas, não se preocupe. Você é muito bonita... – Ela continuou, interpretando meu silêncio como dor interna. Eu dei um sorrisinho, não achava educado rir na frente da moça, mas o que tinha a ver eu ser bonita com o meu problema? Sirius é meio galinha, mas eu duvido muito que se eu der uma de conquistadora para cima dele ele desista de seu plano. Até porque, Big realmente provocou alguma mudança nele desde que começaram a namorar.

Bem, foi só quando a madame Rosmerta completou a frase que eu comecei a suspeitar de que não estávamos falando, exatamente, da mesma coisa:

- Logo arranja um novo namorado.

Eu a encarei perplexa.

- Puxa, madame Rosmerta, mas o que isso tem a ver com os meninos? – perguntei sem me ligar ainda de que era IMPOSSÍVEL que ela soubesse do meu problema.

- Bem, você pode até gostar muito do Potter, mas ele não merece que você sofra por ele. Procure um namorado novo e vai esquecê-lo rapidinho... – DO QUE ELA ESTAVA FALANDO? Eu e o James, ela só podia estar louca de pensar que eu estava com dor de cotovelo ou algo assim.

- O que? – foi tudo o que consegui pronunciar, piscando sem parar.

- É, talvez não seja tão fácil assim esquecer um rapaz, já percebo há muito tempo a maneira como você olha para ele... Deve mesmo estar apaixonada. – Ela me lançou um sorriso reconfortante. De que maneira eu olho para ele? Ela deve estar louca, só pode...

- Sabe, eu também estou passando por isso. O meu noivo... Bem, isso não importa... – Ah! Já entendi. As pessoas sempre acabam enxergando seus próprios problemas acima de tudo, era isso que a madame Rosmerta estava fazendo: transferindo seus problemas para mim. Eu não poderia simplesmente chegar para uma moça de coração partido e gritar no ouvido dela “Acoooooooooooorda!”, por isso eu disse um:

- Obrigada, você me ajudou muito. Estou me sentindo bem melhor... – com um sorriso agradável, e saí de lá bem rapidinho antes que pudesse gerar mais confusões.

Ótimo! Agora eu tinha que achar outro lugar para passar o tempo. Eu não conheço muito bem Hogsmeade, apesar de vir muito aqui escondida (o que esses Marotos fizeram comigo?). Geralmente fico no caldeirão furado experimentando novos coquetéis – podem me chamar de louca, mas não suporto cerveja amanteigada – e batendo um papo com a madame Rosmerta, quando ela está em condições psicológicas, é óbvio.

Até que foi, de certa forma, bom me sentir constrangida de ficar em um dos meus lugares preferidos. Eu conheci algumas lojas de Hogsmeade bem interessantes que nunca tinha visitado, como uma de artigos para animais onde eu comprei uma coleira nova para o Salú, ou como uma que vende tinteiros coloridos onde comprei um verde.

E, também, se eu não tivesse ido visitar o correio para ver se as corujas de lá estão sendo bem tratadas – meu terceiro lugar preferido em Hogsmeade, sendo o primeiro a Dedosdemel e o segundo o caldeirão furado – não encontraria Josh Simons. Com toda essa estória do Sirius estava sendo realmente desleixada com a monitoria e estava deixando todo o trabalho para ele, por isso fiquei super constrangida quando ele veio falar comigo:

- Ah! Olá, Lily. Como está seu tornozelo? – ele perguntou gentilmente. Tornozelo? Por que ele estava perguntando do meu tornozelo?

- Hã? – Que expressão mais idiota, me odeio cada vez que digo “Hã?”.

- Seu tornozelo. – ele sorriu – Já melhorou do tombo da semana passada?

- Oh! – eu dei um sorriso forçado – Sim, está bem melhor.

- É, eu imagino. É uma boa subida até aqui... – Ei! Não dá para me deixar mais constrangida?

- Olha, Josh, me desculpe não estar dividindo o peso da monitoria com você. Ultimamente eu ando realmente envolvida com os estudos para os NIEM’S. – como eu sou mentirosa. NIEM’S? Por pouco eu não me esqueci dos estudos essa semana!

- A forma como você se dedica ao estudo é uma das coisas que eu mais admiro em você. – eu sorri me fingindo tímida com o elogio, eu estava me sentindo péssima. – Você se parece muito com a Kary, nesse aspecto.

Oh, meu deus! QUEM É KARY?

- Kary? – não me controlei.

- Minha namorada, eu nunca te apresentei a ela? – Eu não acredito que uma Kary roubou meu cara perfeito. Ele é meu! Como essa Kary se atreveu a tanto? Eu nem conheço ela para a espancar – não que eu venha a fazer isso, sou contra a violência (a não ser quando se trata de James, aquele lá às vezes merece uns tapas).

- Não, não apresentou, mas estou ansiosa para conhecê-la. – Eu espero nunca ter que olhar para essa garota. Por que uma Kary quando se pode ter uma Lily?

- Ela é realmente maravilhosa, sabe? –Merlim, acho que vou vomitar. Não tem nada pior do que um garoto apaixonado – pela garota errada, lógico.

- Que bom ter encontrado a garota certa, Josh. – Eu sou a garota certa, seu palerma! EU!

- É, foi realmente uma sorte. – Azar. Foi um tremendo azar, meu querido.

- Bem, eu preciso ir. – Eu acho que vou chorar. Quando finalmente encontro alguém que preste, ele tem namorada. E há cinco anos, como vim a descobrir mais tarde com as fofoqueiras de plantão do meu dormitório. Eu sou uma burra mesmo!

- Tudo bem. Tchau, Lily.

Que maravilha! Meu lugar preferido fica lotado nos dias de visita ao povoado. Eu me sinto constrangida no número dois. E agora acabo de passar um momento mais que desagradável no número três e provavelmente ele nunca mais será meu lugar preferido, por que eu sempre que for lá vou começar a me lembrar do acontecido.

Cansada de procurar outro lugar legal para ficar que não estivesse lotado, me sentei na borda da calçada perto de uma loja fechada. Todo mundo que passava por mim não me notava – de modo que fiquei ali deprimida em paz – até que o James me viu e resolveu se sentar ao meu lado.

- Qual o problema agora? – ele perguntou sem rodeios. Gosto disso nele. Odeio quando as pessoas demoram muito a chegar ao ponto da questão, isso me estressa muito.

- Você sabia que Josh Simons tem uma namorada? – perguntei a ele sentindo que meus olhos estavam ficando cheios d’água. Eu não suporto chorar, me faz parecer fraca.

- Sabia. – ele me encarou.

- Essa Kary é melhor do que eu? – Okay, eu não consigo controlar meu choro mesmo. É só eu deixar escapar uma lágrima que desabo.

- Ah, Lily, não chora. Eu não sabia que você gostava tanto desse cara... – Nem eu, meu filho.

- Ela é ou não é? – disse em tom ameaçador. Deve ser engraçado ver uma pessoa chorando – ou seja, que parece frágil – tentando ser ameaçadora.

- Na minha opinião, ninguém é melhor que você.

- Então por que ele preferiu essa Kary? – Disse tentando enxugar as lágrimas, desesperada.

- Por que esse cara é um idiota, Lily. Você não precisa de alguém como ele, iria ficar entediada. – ele sorriu divertido – Precisa de alguém como eu – ele completou me fazendo soltar uma risada.

- Viu só, você precisa de alguém que te faça rir.

- Então, você sugere que eu contrate um palhaço? – sorri me levantando, já tinha parado de chorar e me sentia mais disposta a procurar um novo lugar preferido número três.

- Não acho que o Camarada Simons vá aceitar suborno, Lily. – eu ri de novo.

Realmente foi muito bom eu ter encontrado com o James. Quando eu disse que não queria ir ao caldeirão furado ele nem insistiu, e fomos ao Cabeça de Javali. Eu nunca tinha estado ali antes e devo admitir que não foi uma das minhas melhores experiências. O lugar era imundo e eu simplesmente tive nojo de comer ou beber algo vindo daquele barman esquisito.

Como James também não teve coragem de pedir nada, ficamos sentados em uma das mesas conversando, enquanto ele fazia um de seus desenhos.

Essa é uma das coisas que mais admiro nele, os desenhos que ele faz. É uma das poucas provas que tenho de que ele não é um completo idiota o tempo todo.

- Eu achei que você tinha coisas importantes a fazer... – ele falou sem tirar os olhos do papel que rabiscava sem parar.

- Quê? – falei me esquecendo da desculpa que dei hoje cedo para não incomodar os garotos.

- Se não ia fazer nada de importante, porque não quis vir com a gente? – ele perguntou ainda concentrado em seu trabalho.

- Ah, eu não queria atrapalhar vocês... – eu senti meu rosto esquentar um pouco.

De repente ele parou totalmente de fazer qualquer coisa e ficou me encarando como se esperasse que eu dissesse “brincadeirinha!”. Decepcionado por eu apenas olhar para baixo, tentando desviar a minha atenção, ele disse simplesmente um:

- Lily, você é nossa amiga – ergueu uma sobrancelha – por que iria nos atrapalhar?

- Ah vocês tem suas brincadeirinhas e não precisam de uma pentelha se metendo nos assuntos de vocês...

- Você já é nossa pentelha oficial, Lily! – ele riu voltando a desenhar sabe-se lá o que.

Eu fiquei realmente incomodada com aquilo tudo, até alguns segundos atrás eu sou uma completa excluída socialmente e sem amigos, e agora, além de ser a pentelha oficial dos marotos, eles me consideram como sua amiga. Eu sempre gostei muito de todos eles e tudo mais – bem, talvez não sempre, para ser mais exata faz só três anos que gosto deles -, mas sempre os vi como pessoas caridosas que me aturam e que, na verdade, adoram me pregar peças. Nunca me arrisquei a vê-los como amigos, podia provocar desilusões, sabe como é.

Talvez James só estivesse usando a palavra “amiga” como uma força de expressão.

- O que você quis dizer com “amiga”? – tirei isso a limpo.

- O que qualquer pessoa normal quer dizer com a palavra “amiga”. – murmurou sem desviar a atenção do papel.

- Você não é exatamente normal, como vou saber o que você considera como sentido de palavra que uma pessoa normal venha dizer? – perguntei sem rodeio.

- ‘Tá legal, você tem razão: você é uma pentelha mesmo. – ele parou para me encarar de novo, dessa vez com uma expressão impaciente – Amiga no sentido de pessoa a quem tenho muito afeto. Satisfeita?

- Você tem muito afeto por mim? – é muita informação para minha pobre cabeça ruiva!

- Você acha mesmo que se eu não tivesse te aturaria por tanto tempo? – ele riu voltando para o desenho.

É, pensando bem não tem mesmo outro argumento que explique isto. Poderia até dizer que é só porque ele quer sair comigo, mas isso já deixou de ser verdade há algum tempo – mesmo que de vez em quando ele faça aquela proposta odiosa: “Quer sair comigo no próximo final de semana, Lil?”.

Talvez eu e o Potter tenhamos nos tornado amigos e eu nem percebi. Assim mesmo, sem meu consentimento. Desde o fim do meu quinto ano que ando com os marotos, na certa seríamos todos no mínimo íntimos.

Eu tenho amigos!

Pela primeira vez em toda minha vida eu posso afirmar com toda a certeza que tenho que EU TENHO AMIGOS!

É uma sensação tão boa saber que pode contar com alguém, mesmo que – é claro – eu possa me virar perfeitamente bem sozinha. Tão boa que agarrei oJames pelo braço e dei um beijo estalado na bochecha dele.

- O que foi isso? – ele perguntou meio abobado.

- Obrigada por ser meu amigo! – eu dei mais um abraço nele. Eu juro que fico para morrer quando esses ataques de afetividade acabam, é um vexame muito grande.

- Você ficou louca de vez? – ele riu.

- Ai meu Merlim, desculpe-me! – eu voltei a mim.

- ‘Tá tudo bem. – ele disse entre risadas.

Foi aí que eu notei a folha de papel em que ele estivera desenhando. Tinha lá um desenho meu, meu mesmo, sério. Eu, ruiva, olhos verdes, cabelo-nem-cá-nem-lá. EU!

- Você me desenhou? – eu perguntei pegando a folha tomada principalmente pela cor vermelha, por causa de meus cabelos.

- É. – eu vi ele sorrir.

- Como, se nem ao menos me olhou direito? – disse encarando aquele desenho perfeito, que mais parecia um retrato.

- Eu não preciso, Lily, já decorei seus traços... – senti meu rosto esquentar muito – quando digo muito, quero dizer muito mesmo, quase um pimentão ambulante.

- Posso ficar com ele? – eu perguntei sem tirar os olhos do meu eu desenhado.

- Pode. – ele sorriu novamente – vamos logo embora, estou morto de fome.

Não é para menos, já deveria ter se passado quase quatro horas e não tínhamos comido nada por conta da higiene daquele local. Então nós saímos do Cabeça de Javali deixando uma moeda em cima da mesa, afinal ninguém nos expulsou dali, mesmo sem termos comido ou bebido nada – e também, diante do estado precário das instalações, o bar precisa de muitas gorjetas.

Logo que passamos pela porta do bar vimos Sirius, Remus e Peter vindo em nossa direção – Peter estava ofegante provavelmente por causa das corridas humilhantes com Sirius.

- Nós estávamos procurando vocês. – Remus falou.

- Por que? – eu perguntei, totalmente alheia a toda coisa.

- O banquete de Halloween já começou, ruiva, onde está seu relógio? – Sirius disse com um sorriso maroto.

- O que? – quatro horas nada, haviam se passado sete horas e eu nem senti! Deveria ter imaginado que se passou tanto tempo, já que a luz do Cabeça de Javali já tinha começado a ficar fraca quando fomos embora.

- Se apresse! – Sirius falou me puxando. Não o culpo já que todos tinham começado a correr para Hogwarts e eu fiquei ali parada, tentando entender o que estava acontecendo.

Bem, se possível, imagine a cena: a porta do grande salão principal se entre abre com um estrondo deixando passar três garotos ofegantes à frente, e uma ruiva atolada de sacolas de Hogsmeade sendo puxada por outro garoto. Tudo isso interrompendo o discurso do diretor.

Não é nada bonito de se imaginar, não é mesmo?

Sabe o que mais não é nada bom de se imaginar ou ver? Quando toda essa cena acontecer, como se não bastasse o fato de todos estarem olhando para você, inclusive a namorada do seu cara perfeito, a Kary, o diretor soltar uma risadinha e falar:

- Os últimos serão os primeiros... Sr. Black, Lupin, Pettigrew, Potter e Evans? Bem vindos ao nosso banquete! – Por que será que o Evans sempre tem que vir depois do Potter? Que mania mais chata essa de ligar um nome ao outro só porque somos famosos por nossas discussões no quinto ano!

- Desculpe, diretor... – murmurei como se ele pudesse me ouvir lá da frente, seguindo os outros para a mesa da grifinória onde todos nos encaravam com expressões curiosas.

Tirando o acontecido e o fato de ter me sentado logo enfrente ao Josh e a Kary – só que eles estavam na mesa da corvinal -, o banquete foi muito divertido. Eu ensinei o Remus, o Peter e o Sirius a brincar de adoleta e, já que não tínhamos nada melhor para fazer, os fiz brincar disso a noite toda.

James não participou por que precisou ter uma conversa particular com a Visinha-e-ex-namorada-dele, a Hillary – Só para informar, eu não gosto dela e passei a gostar menos ainda quando vi um desenho dela no caderno do James no sexto ano. EU SOU A MUSA POR AQUI! Mesmo que só tenha descoberto que ele sabe me desenhar hoje.

Enfim, apesar dos pesares eu tive um Halloween bem tranqüilo. Tranqüilo mesmo, sem brincadeira, sem trasgo, sem Sirius Black endoidecido – um pouco invejoso por conta de estar na coleira enquanto o James aproveita a vida com a Hillary. Talvez a estória do Sirius querer me pregar peças fosse só fruto da minha imaginação.

Quando eu cheguei no meu dormitório tudo o que pude fazer foi me jogar na cama e cair no mundo dos sonhos.

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