Enfermaria.



Às avessas.

Capítulo 1 – Enfermaria.

Eu estava tendo um dia péssimo, mas péssimo mesmo. Acordei atrasada, perdi a primeira aula, James havia me torturado durante a segunda com suas brincadeirinhas irritantes e agora o meu salto tinha quebrado. Sempre achei que, não tem jeito, quando meu salto quebra meu dia não se salva.

Mas, também, eu sou uma baixinha, que outra maneira tenho para me sentir confiante? Eu nunca tive amigas e, portanto, não tinha ninguém para dizer “ah! Que isso! Você é uma baixinha legal, ninguém liga para o fato de você ser tampa, Lily. Não mesmo, pode acreditar!”. Mesmo que as amigas nunca sejam sinceras quando tentam te botar para cima (pode acreditar que se você não está bem consigo mesmo, existe um bom motivo para isso) é sempre bom ouvir um elogio de uma pessoa que não esteja apenas querendo sair com você.

Aliás, outra coisa que não contribui muito nestes dias, por mais louca que eu possa parecer, é ter um garoto que seja classificado pela população feminina como lindo me perseguindo (tudo bem que pra me aporrinhar, mas...). James Potter algumas vezes consegue ser a criatura mais grotesca e repugnante que já conheci! Dá para acreditar que ele espirra só de chegar perto do meu lindo gatinho persa, o Salú? Que vá para o inferno a alergia dele, não admito que espirre no meu bebê!

E nem comecei a falar do quadribol... James e Sirius fazem parte do time de quadribol da grifinória. É o jogo mais imbecil que poderiam escolher para estimular a competitividade entre as casas... Por que não um campeonato de xadrez bruxo? Não tenho duvidas de que é muito mais saudável e estimulante do que atravessar bolas por aros gigantescos e trombar um nos outros com vassouras. Sem falar no suor!

Se um dia eu subir em uma vassoura de corrida poderei me considerar no fundo do poço. E o fundo do poço não é pouco, seriam milhares de saltos arrebentados, aulas perdidas e unhas quebradas!

Okay. Talvez eu esteja só exagerando. Este dia ainda poderia ter dado certo, se eu tivesse aproveitado as oportunidades.

Eu estava saindo da segunda aula muito apressada por causa do estresse que James tinha provocado e, para variar, tropecei e caí no chão com todos os livros que eu tava segurando espalhados por ali. As pessoas que estavam saindo da aula só passavam por mim e pulavam meus livros para poder seguir seus caminhos. Sinceramente, que falta de consideração! Se fosse ao contrário além de ajudar a pessoa, eu ainda daria uma bronca em quem provocou o acidente.

Bem, eu sou assim: Esquentada. Sempre fui e vou ser, e acho que isso é um dos aspectos que afastam as pessoas de mim (Pessoas normais, James não. Aquele lá é masoquista). Ninguém gosta de alguém que vive brigando e se estressando com tudo e com todos, é o que aprendi logo do inicio da minha vida acadêmica. Sempre que arranjava uma amiga ela acabava se afastando de mim por eu descontar o meu ódio do mundo nelas. Sei também que os meus acidentes rotineiros contribuem e muito para essa falta de amigas.

Mas pelo visto, não atrapalhavam para arranjar namorados e até ajudavam. Quando eu comecei a me levantar devagarzinho e dei um gritinho ao notar que o meu salto tinha quebrado uma voz me perguntou preocupado:

Você está legal?

Josh Simons é monitor-chefe junto comigo. Até hoje duvido que haja pessoa mais perfeita: ele é legal, muito bonito, tem um olhar de tirar o fôlego e ainda era politicamente correto! Tem alguma noção de como é difícil achar um bonitão interessante com a cabeça no lugar? Bom, até agora eu só conheço o Josh que se encaixe na descrição. E olha que eu já sai com muitos bonitões, digamos que apesar da aversão que pretendentes a amigos sentem por mim os pretendentes a namorados não se sentem assim.

Acho que eles só podem ser loucos de achar interessante em uma garota a habilidade de explodir seus tímpanos com um berro. Talvez eles fossem, vai ver que é por isso que os com quem saí não tinham juízo algum. Mas Josh tem juízo, ele é monitor-chefe – e é exatamente por isso que ao invés de gritar um “To sim, pode ir andando...” como faria se o dono da voz fosse James eu dei um falso gemido e falei toda dengosa:

Eu acho que quebrei meu salto...

É, eu sei. Eu devia ter dito um “to bem sim, obrigada” muito educado, mas não resisti fazer uma ceninha. Mas, também não sou nenhuma falsa! Estava realmente triste pelo meu salto.

Você machucou o tornozelo?

Ta legal, não tava doendo, mas quando ele perguntou aquilo de um jeitinho tão fofo eu não resisti.

Talvez sim, acha que eu torci? Ai não, como é que eu vou para ala hospitalar?

Eu te ajudo. – ele disse com um sorriso e depois me pegou no colo. ME PEGOU NO COLO! Tudo bem que era essa a minha intenção com aquele charminho todo, mas foi um choque que tivesse dado certo. Tava tudo tão bem que eu tive uma súbita lembrança desagradável: Cadê o James? Ele estava logo atrás de mim antes de eu cair...

Lá estava ele. Encostado numa das colunas com cara de poucos amigos, ele tinha visto minha ceninha. Quando olhei para ele e vi a sobrancelha dele se erguer com escárnio tive certeza: Eu estava com problemas.

Ele sabia que era tudo teatro, impossível de não saber. James é como se fosse um amigo, tem todas as características: esta sempre comigo, brinca comigo, ri das minhas brincadeiras, ouve minhas histórias, conta as dele, me dá presentes no natal... Só que não o considero como um amigo pelo simples fato de que eu não o suporto. Tudo bem que às vezes ele é legal e tudo, mas não posso ignorar cinco anos de aversão ao nome James Potter (não completamente).

De fato, com todo esse convívio, ele sabe das minhas artimanhas para capturar minhas vitimas (como chamo meus pretendentes a namorado, já que geralmente acabo com eles depois do encontro dizendo que nunca tive um pior.).

Minha sensação quanto a estar com problemas se comprovou correta quando notei, logo depois de Josh me depositar na cama da ala hospitalar, que James adentrava ao aposento.

Está doendo muito, Lily? – ele perguntou com um sorriso divertido.

Está. – forcei uma cara de dor que só fez com que ele soltasse uma gargalhada silenciosa (ele não é louco a ponto de deixar Josh perceber minha farsa e provocar minha ira).

Lily, você quer que eu fique te fazendo companhia? – Josh perguntou todo fofo. Eu dei um sorriso todo meloso, mas quando eu abri a boca para responder um “sim”, James foi dizendo todo chato:

Não será preciso, Camarada Simons (Eu odeio esse apelido bobo que ele deu ao Josh). Não queremos que perca a próxima aula e, muito menos, que deixe de monitorar tão impecavelmente nossos corredores , deixe que eu cuido da Lily – ao terminar a frase eu dei um chute nele com a perna que supostamente havia machucado (ele estava sentado no fim da minha cama). Aproveitando meu deslize ele disse com um sorriso: - Viu só? Ela está bem melhor...

Certo. Qualquer coisa é só falar, Lily. – Ele se despediu me dando um beijinho na bochecha e murmurou no meu ouvido: “não deixe que ele te incomode”.

Assim que ele fechou a porta atrás de si após sair do recinto, eu me virei para o James e murmurei chorosa:

Você é um estraga prazeres.

E você perdeu o direito de reclamar de minhas brincadeirinhas com o Snape, senhorita Evans, por que você acaba de fazer pior com esse pobre inocente – ou tolo, como preferir. – ele discursou divertido, começando a me empurrar para o lado da cama para deitar-se ao meu lado.

Ei! Ele não é tolo!

Mas não notou suas, nada sutis, investidas. Ou é um pateta, ou não está interessado em você – o que o torna novamente um pateta -, ou simplesmente finge ser um pateta. – sorriu para mim que já começava a o empurrar por ter tirado todo o meu espaço do colchão.

Eu sou a doente por aqui, desce da cama e sai daqui! – ordenei me sentando e colocando as mãos na cintura, eu sempre faço isso quando estou dando ordens.

Nada disso, prometi ao camarada Simons que tomaria conta da sua pobre Lilyzinha e vou ficar aqui contigo e perder a terceira aula. Acredita que vai ser a primeira vez que não terei uma desculpa falsa para cabular?

Foi aí que eu me toquei: a terceira aula, eu ia perder. A primeira eu perdi por que me atrasei, a segunda praticamente não assisti por causa deste encosto que estava me importunando e agora ia perder a terceira! Se eu pretendia fazer o NIEM’S este ano tinha que começar a me controlar melhor – ou achar um jeito de controlar o James.

Nada disso, eu não vou perder a aula... – disse me levantando rapidamente e começando a procurar minha mochila (que Josh havia gentilmente pego para mim antes de me trazer para a ala hospitalar).

Ei, você é a minha desculpa para cabular aula não pode simplesmente ter um acesso de Eu-preciso-tirar-boas-notas-nos-NIEM’S e ir fugir assim! – levantou-se também e me segurou pelo baço.

Quero ver quem vai me impedir! – Provoquei fuzilando-o com o olhar.

Ah não, Lily! Eu sei que você quer assistir à aula do professor Binns, mas não acho que a srta. Pomfrey vá permitir que saia com um tornozelo tão inchado... – ele disse o mais alto que pode com fingida preocupação.

Srta. Evans, onde pensa que vai? O que o Sr. Potter disse é verdade? – A srta. Pomfrey disse aparecendo rapidamente no local.

Não, eu...

É sim, enfermeira! Ela está mentindo por que quer ir a aula... – ele disse como quem estivesse muito preocupado com minha atitude.

Pode se deitar, Evans! Vou ir preparar uma poção analgésica para acalmar sua dor.

Tudo bem, o fato da enfermeira ser somente alguns anos mais velha que eu, e isso não ajudar a me transmitir alguma segurança, não me incomodou. O que me incomodou, na verdade, foi ela nem verificar se meu tornozelo estava realmente inchado antes de me dar alguma poção.

Estava nas mãos de uma enfermeira sem experiência alguma e extremamente exagerada.

- Não se preocupe – James falou ao notar minha expressão.

É claro, para que me preocupar em ser intoxicada com uma poção que eu não preciso tomar?

Não devo me preocupar com o que?

Com o tornozelo, ela nem vai suspeitar. Ela é muito desligada para uma enfermeira.

Ah! Agora estou mais tranqüila: a enfermeira também é desligada.

Céus!

Ah claro! E não devo me preocupar também com a poção que POR SUA CAUSA eu vou tomar? – atirei um dos travesseiros da cama na qual eu tinha voltado a me deitar nele.

James revirou os olhos. Eu que reviro os olhos por aqui, isso é injusto!

Francamente, você vai ser um fracasso como curandeira! É só uma poção analgésica!

E você por algum acaso é um grande entendedor do assunto? Os seus inúmeros acidentes lhe tornaram um?

É.

Quando ouvi aquele é tão displicente, eu só ri. Okay, eu sou louca, mas foi engraçado. E parece que ele também pensou desta forma, já que começou a rir também.

Com certeza foi um péssimo momento para Sirius aparecer, eu e James estávamos parecendo um casal de “amiguinhos” ali rindo.

Ahn, estou interrompendo?

Ele soou arrogante, como de costume. Eu repugno o jeito do Sirius, mas é difícil me acostumar com sua beleza. Mas, é claro que tudo se resolve quando ele abre a boca...

O que você ta fazendo aqui?

É sério, se todos os amigos se tratam com essa “delicadeza” não quero um, muito obrigada.

Eu que te pergunto. Você sumiu depois da ceninha da miss simpatia.

Sirius disse deitando-se também na minha cama – como James havia feito também a pouco – ignorando minha presença.

Hã-Hã – Eu pigarreei. Se tem uma coisa que eu odeio é ser ignorada.

A Lily machucou o tornozelo... – James falou como se fosse começar a rir novamente, o que Sirius completou. Deixe-me dizer que a risada de Sirius é extremamente escandalosa!

Quase que imediatamente a enfermeira entrou com alguns frasquinhos fumegantes nas mãos – certamente estava aprontando minha poção, ó Merlim! – e disse indignada:

O que os senhores estão fazendo com a minha paciente? Desçam daí! Vocês não têm alguma aula para assistir?

Puxa, Srta. Pomfrey, nós realmente gostaríamos de ficar com a nossa amiga... – Sirius fez uma de suas caras de coitado, depois eu que faço teatro por aqui. Sinceramente, acho que ele usa essas habilidades magníficas como ator para fins malignos, como hipnotizar as mulheres.

Certo, mas fiquem quietos. – ela disse simplesmente, voltando para seus afazeres.

James e Sirius tinham conversas realmente entediantes, tanto que fiquei olhando para o teto até a enfermeira chegar com minha poção.

Quando olhei para aquela gosma asquerosa, que a Srta. Pomfrey chamou de poção tive uma “quase-ânsia-de-vomito”.

Só vai te fazer dormir. – James me tranqüilizou.

Mais segura, dei um gole. O gosto era horrível, terrivelmente amargo! Na mesma hora eu fiz uma careta e engoli o que tinha na boca e pousei o frasco na cômoda.

Deixe de bobeira, não é tão ruim. – James disse surpreso com a minha reação.

Experimente então! – Falei amargurada (deve ter sido a poção).

Foi uma satisfação tão grande ver James repetir a mesma careta que proferi um “Gostoso... Humm...” provocante.

Minutos depois eu estava dormindo. Acho que Sirius ficou bem entediado ali, já que James também adormeceu.

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