Capitulo dezesseis
Algo ao qual eu já havia me acostumado era me jogar em sofás, camas, cadeiras e poltronas, e os da sala do apartamento já estava acostumado a me receber.
Focava aquela caixa de papelão lacrada pela minha varinha a dois meses atrás. Ali dentro estava tudo que me fazia a lembrar. Tudo? Ah, não, me perdoem eu costumo me esquecer que existem lembranças. E eu não poderia apagar as que eu tinha com ela da memória. Céus! Eu precisava trabalhar, precisava viver, e eu simplesmente não conseguia. Pegava-me pensando em Hermione de uma forma compulsivamente absurda ao qual eu certamente não era capaz de controlar.
Meus cotovelos apoiados nos joelhos, meus olhos focados naquela caixa e meus pensamentos inertes em uma tremenda luta ao qual eu estava a favor de me segurar para não abrir a caixa, porém, devo ter me esquecido de frisar o quanto meu time é fraco em guerras mentais. Eu contra mim mesmo e o “mim mesmo” sempre vencia. Completamente deprimente...
Não foi bem uma surpresa (não para mim) quando aguarei a caixa e rompi seu lacre dando de cara com um retrato onde Hermione sentava em sua confortável poltrona vermelho vivo em seu quarto inerte em uma leitura. No fundo uma imensa estante de livros e ela com as pernas dobradas sobre a poltrona onde repousava nelas seu livro. Observei cada traço visível do seu rosto e percebi que aqueles cachos castanhos lhe davam um ar de anjo, ou algo delicado, sensível, não soube explicar e ainda não sei.
Queria saber o que realmente estava acontecendo dentro de mim. Não só naquele momento mas em todos que ela esteve longe. Acreditava que limitar minha mente a certos pensamentos me deixaria mais confuso do que qualquer coisa, mas de qualquer forma o fazia.
Era toda essa confusão em minha cabeça que talvez estivesse gerando minha loucura interna e externa. E naquele momento em que estive olhando aquela foto deixei que meus pensamentos avançassem, deixei ser lavado pelo “mim mesmo” novamente e foi ai que cheguei a pensamentos completamente intrigantes, mas maravilhosos.
Quem sabe um relacionamento? Mais profundo... Bem mais profundo! Uma vida ao seu lado? Uma noite? Não! Não! Eu a amo? É claro que a amo! É maravilhosa! É linda... Como ela cresceu... Eu estive ao seu lado sempre! Seus lábios são macios... Seu perfume é melhor que o “aroma floral” de Gina. Queria a beijar agora... Beijar? Sim! Beijar... Ela tem gosto de que? Certamente de algo bom, a sim! Isso é mais do que certo! Mas eu não posso a provar agora! Teve mais de onze anos pra fazer isso! Por que nunca fiz? POR QUE NUNCA FIZ? Eu só posso estar louco! Como estive cego!? Eu a amo! E qual seria sua definição para o “amo”? Amar? Acredito que o sinônimo de amar seja Hermione, afinal, ela é a única pessoa que vem a cabeça quando ouço tal palavra.
Ainda estava difícil acreditar que tudo isso havia saído de mim mesmo, da minha mente, dos meus pensamentos.
Foi basicamente ai que descobri que estava apaixonado por Hermione. Algo realmente assustador para mim, foi como a redescobrir. Como a conhecer novamente, porém sabendo que já a conhecia. Extremamente complexo. Eu não sabia se isso era bom ou ruim, eu só queria a ver, poder a abraçar forte, sentir seu perfume e por incrível que pareça... queria a beijar. Queria sorrir, mas ainda pensava que isso era algo ruim pra mim. Eu não devia ter me apaixonado por ela. Nunca!
Visto que eu nunca devia ter me apaixonado por Hermione, que tal fingirmos que tudo isso foi um surto do meu próprio cérebro e que tal idéia nunca existiu. Apenas se passou pela minha cabeça como algo absurdo. Justamente podemos adotar agora o lema: “Eu não amo, nunca amei, nem nunca vou amar Hermione Jane Granger!”.
Vamos manter isso até onde eu agüentar. Quem sabe foi realmente um surto de uma hora em que eu estava em um estado de profunda loucura interior? Quem sabe... E naquele momento... Quem dera!
*-/-*
Vendi o apartamento...
Sim, você leu isso! Eu posso garantir e ainda sim repetir: Eu vendi o apartamento.
Não abri duas cartas que Hermione me mandou nas ultimas duas semanas, Bichento estava na casa de Rony e eu estava no caldeirão furado enquanto não achava um lugar para ficar.
Fui abrir as cartas depois de quase um mês que ela havia me mandado. Eu estava pensando seriamente em queimá-las, mas era como se eu fosse incapaz de fazer isso. Até porque eu nunca me perdoaria. Deus! Como eu era idiota!
Eu estava frio, seco, meu ciclo social se limitava a Rony. Não via Hagrid a quatro meses, meu rendimento no trabalho estava caindo e Will me sugeria férias toda vez que entrava em meu escritório.
Além de estar relativamente estressado de ouvir meu cérebro gritar por ela me sentia cansado. Como se cada dia fosse uma guerra, acordava cansado e se a vida sem ela fosse assim eu simplesmente me limitava a dizer que viver não teria graça.
Suas duas cartas me fizeram criar certo animo. E não! Ela definitivamente não estava voltando! Simplesmente o fato de saber que ela estava vivendo inferno lá me fazia sentir que pelo menos minha vida por ali esta melhor. Eu me martirizava constantemente por pensar dessa forma, mas na verdade o que eu realmente queria era estar ao seu lado tentando ajudá-la naquele momento.
Ela estava sozinha, e eu estava sozinho. Ela vivendo o inferno de ter que enfrentar aquele ministério todo dia e eu vivendo minha vidinha sem sentido tentando inutilmente convencer a mim mesmo de que a imagem “Eu amo Hermione” era um mero surto de meu cérebro.
As cartas de Hermione eram escassas e quando apareciam vinham com no máximo cinco linhas e sua caligrafia malfeita dava a impressão de ter sido feita em meio a uma segunda guerra mundial onde ela provavelmente estaria correndo de uma bomba que avistara caindo do céu. Eram sempre a mesma coisa “Queria que estivesse aqui”, “Preciso tanto de um abraço seu agora”, “Sinto falta de me aninhar em você e me sentir segura”, “Falta uma parte de mim” e etc. Posso dizer que era bem melodramático! Assim, quero ver quando a pessoa que mais ama estiver longe de você! Minhas respostar se limitavam a “Estou louco!”, “Sinto sua falta”, “Saudades” e “Que vidinha que eu tenho sem você por perto!”.
Posso dizer que aceitei que amava Hermione, sim, eu aceitei depois de cansado, moído, vencido, derrubado, lutei até o meu ultimo segundo contra isso, mas eu simplesmente descobri que isso sempre existiu dentro de mim.
Era tão difícil aceitar as lagrimas escorrendo pelo meu rosto. Acreditava que nunca mais faria isso depois que Voldemort morreu, mas o que mais me fazia chorar era saber que eu estava chorando e que ela não estava lá pra limpar minhas lagrimas. Chorei porque não agüentava mais lutar contra o “Eu amo Hermione” contra o “mim mesmo” e lutar contra o dia-a-dia sem ela. Era estressante, cansativo, monótono e devagar.
Havia acabado de chegar ao pequeno quarto onde estava hospedado no caldeirão furado, minha cama estava desarrumada e minha roupa do dia anterior jogada em um sofá. Meus pensamentos novamente nela, queria poder chegar naquele quarto abrir a porta e me deparar com ela sorrindo, eu abriria outro, a abraçaria, diria que a amava e lhe daria um beijo. Um beijo... Isso me fazia lembrar muito do dia em que ela foi embora. Sua boca me pareceu tão convidativa naquele instante...
Meu medo, meu maior medo. E se ela não me amasse? Não sentisse o mesmo que eu sinto por ela. Não achasse meus lábios convidativos, meus olhos o espelho de ternura e amor, minha voz um tranqüilizante e meu abraço um manto de proteção como eu achava dela?!
Meus devaneios foram interrompidos por batidas fortes na janela. Edwiges tentava entrar e carregava uma carta, provavelmente dela. Levantei-me num solavanco abrindo a janela e deixando que ela entrasse e largasse a carta sobre a minha cama enquanto ia em direção a sua gaiola onde poderia se recompor da longa viajem.
Era um pedaço de pergaminho rasgado onde simplesmente havia escrito “Me tira daqui” numa letra garranchosa e tremula. Um canto do pergaminho estava enrugado e pegava o “qui” do “daqui” fazendo com que ele estivesse visivelmente borrado por o que eu deduzi ser uma lágrima. Olhei para Edwiges que me fitava, conhecia minha coruja e a cena que vira não fora nada agradável. Podia quase ver o rosto da minha Mione banhado em lagrimas pelos olhos da minha coruja alva.
Que diabos estaria acontecendo? Acredito que não era simplesmente pressão do trabalho. Pensamentos maldosos começaram a invadir minha mente. Mas me limitei a pensar que estaria imaginando demais. Olhei novamente aquele pedaço de pergaminho. Eu estava me martirizando demais por algo que poderia ser completamente idiota, mas se eu começava a acreditar que estava desenvolvendo um sexto sentido quanto a Hermione. E o que eu pensava certamente não era nada legal, a não! Pode acreditar! Eu sabia que estava desconfortável demais em meu trabalho. Algo de errado, algo que não fazia parte da viajem estava dando errado.
Meus dedos tremeram ao segurar aquele pergaminho novamente. O que fazer? Ela estava quilômetros de distancia. Minhas vistas caíram sobre a minha Firebolt. Não! Não pensem que eu a usei! Ela era relativamente uma das vassouras menos velozes da época. A Cleenswep superou a marca das Fires e das Nimbus depois de criar o modelo Cleenswep 5000. Era a mais rápida e justamente por conseguir ultrapassar a velocidade de um pomo eram proibidas em finais de liga nacionais, internacionais e a copa mundial de quadribol. A pesar disso os colégios bruxos não proibiam o seu uso em atividades extracurriculares como quadribol, fazendo com que a marca ganhasse uma certa popularidade entre os jovens jogadores, mas não eram recomendadas para quem queria seguir a carreira de jogador se acostumar com uma vassoura rápida e depois ter que se contentar com outras menos rápidas em uma partida oficial de quadribol.
É claro que Harry Potter nunca deixaria de comprar esse modelo de vassoura! Me sentia um pomo quando voava nela. E quando dei por mim eu sobrevoava Londres e logo em algumas horas, poucas, estaria sobrevoando oceano. Louco? Imagina! Era simplesmente Hermione.
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