Capitulo treze



Já era madrugada e estávamos no Trafalgar Square, era realmente engraçado ver aquele lugar vazio, o barulho constante da água do grande chafariz no centro caindo reinava e somente ele e o som de alguns carros distante... realmente distantes...

Fora triste o passeio na roda gigante. Diferente dos nossos passeios que apenas tinham risos brincadeiras esse fora o silêncio e somente ele. Hermione parecia querer aproveitar cada pedaço de mim, nada que me incomodasse, mas isso fazia aflorar a minha curiosidade sobre o que diabos estava a deixando daquela maneira. Aprenda a não aflorar a curiosidade de Harry Potter, ele costuma ser bastante eufórico quanto a descobrir os por quês.

Meu comportamento com Hermione sempre fora diferente do que com qualquer outra pessoa, quero dizer, eu realmente sei me controlar quanto a isso, talvez ela tenha me “adestrado”, ou sabe me domar muito bem.

Meus dedos percorriam seus cachos castanhos enquanto ela recostava sua cabeça em meu ombro apertando as pernas contra o peito sobre o branco que havia na praça. O silêncio, como sempre.

Focávamos a água que saia do chafariz num ato distraído. Eu sabia que não devia quebrar o silêncio, Hermione parecia estar muito concentrada todo esse tempo.

- Harry. – ela me chamou numa voz tremula e fraca. Senti uma lagrima grossa em meu ombro e eu parei de brincar com os cachos de seu cabelo. – Eu vou embora... – saiu quase como um sussurro.

Cerrei os dentes e fechei os olhos. Aquilo realmente doeu, mas eu ainda lutava, talvez se me fizesse de desentendido ela poderia dizer que não era o “Eu vou embora” que estava mesmo pensando, no sentido em que se passava pela minha mente, mas, do jeito que ela estava sofrendo esse “Eu vou embora” era algo extremamente assustador... Mais como um: “Adeus... foi realmente bom te conhecer.”

Queria poder me descontrolar naquele momento como fazer indagações compulsivamente, tipo: “O que?”, “Como?”, “Pra onde?” ou “Por que?”. Mas aquilo não ajudaria, não ali. Talvez eu tenha ficado estático processando as palavras dela antes de cerrar os dentes, sei que um nó subiu a minha garganta e eu o engoli.

- Por que? – indaguei tentando manter o controle.

Ela pareceu fazer o mesmo quanto ao nó na garganta, mas eu continuava a sentir algumas lágrimas a mais caírem em meu ombro.

- Lembra sobre querer tornar o F.A.L.E independente? – começou ela levantando o rosto e secando as lagrimas passando a olhar pra mim. Eu assenti com a cabeça passando a fitá-la. – O ministro disse que preciso de uma autorização vinda do ministro norte-americano, já que lá é basicamente a sede dos outros ministérios pelo mundo.

- Isso porque vai estar fundando algo independente a partir do ministério inglês? – indaguei.

Ela assentiu com a cabeça.

- Mas não a partir. Apenas porque comecei a levantá-lo dependente do ministério, preciso de uma autorização pra torná-lo independente. Sei que posso conseguir isso, agora que o F.A.L.E está tão forte, tudo depois do caso de Swanage, sei que se eu for até lá eu posso conseguir essa autorização.

- Quanto tempo pra você voltar? – perguntei receoso.

Ela suspirou.

- Scrimgeour disse que no que pode demorar dias também poderá levar anos. Ele receia que os norte-americanos tenham um certo preconceito quanto aos elfos, gostam bastante de escravizá-los se é que me entende... – ele suspirou novamente e podia ver aquele nó subir em sua garganta novamente. – Tenho medo de não voltar tão cedo... – sua voz saiu tremula novamente e seus olhos começaram a marejar.

Finalmente o que eu temia chegou aos meus ouvidos. Doeu, não vou negar, receber essa noticia e ainda a ver chorar. Era o bastante pra mim, o que afinal havia feito de ruim, Merlin? Um nó subiu até minha garganta ao pensar que talvez não a veria tão cedo, e dessa vez eu não iria conseguir engoli-lo.

Pus minhas mãos entre sua cabeça e encostei minha testa na dela tentando conter algumas lagrimas que se formavam em meus olhos.

- Se quiser mesmo ir eu vou estar ao seu lado te apoiando, não vou impedir que vá. – eu hesitei, mas continuei - Mas quero que saiba que nada vai me doer mais do que saber que não vai estar mais perto de mim, saindo comigo nos fins de semana, me fazendo sorrir, me ajudando com a comida ou até mesmo me fazendo companhia nos churrascos de Rony e Luna. – nós sorrimos tristemente já não contendo algumas lagrimas que realmente insistiam em cair. – Vou sentir sua falta. – sussurrei.

- Eu sei que vai... – ela respondeu no mesmo tom. Nós nos abraçamos forte. – O único motivo pelo qual me prende aqui é você, não sei se consigo viver longe de você depois de todos esses anos.

Eu a afastei secando as lágrimas do seu rosto e ela fez o mesmo bagunçado meus cabelos depois. Ri com a atitude dela, bagunçar meu cabelo era um certo ritual para ela. Lhe dei um beijo demorado na testa e depois voltamos a encarar o chafariz. Eu brincando com os cachos de seus cabelos e ela apertando as pernas contra o peito com a cabeça recostada sobre o meu ombro.

*-/-*

Hermione viajaria em duas semanas, pelo modo trouxa, avião. O ministro disse que talvez fosse mais bem vista se soubesse que tinha ido de avião, significava que ela sabia lhe dar tanto com trouxas quanto com bruxos, o que realmente era um ponto a mais.

Ela passou um dia com os pais, explicando o porque viajaria, e que talvez não voltaria tão cedo. Ajeitou as coisas para que o F.A.L.E continuasse funcionando corretamente enquanto ela estaria lá pedindo autorização e o resto foi somente eu e ela.

Nós aproveitamos como se realmente fossem nossos últimos dias. Inclusive trocamos o carro. Prometemos não falar sobre sua viajem até o dia do aeroporto para não causar tristezas ou qualquer outra coisa. Realmente aproveitamos enquanto o dia em que ela estaria indo para tão longe de mim se aproximava.

Não nos mostramos abalados ou nada do tipo na ida para o aeroporto. Os pais dela estavam lá a esperando para se despedirem, e assim mesmo, ela se mostrou forte, como se fosse um simples viajem de férias. Eu sabia que ela estava se roendo por dentro. Ela voaria e eu sabia que ela odiava estar a metros do chão, e eu nem ao menos estaria ao seu lado...

- Tchau, Harry. – ela disse sem jeito depois que os pais dela insistiram em querer que nos despedíssemos a “sós”. Eu assenti com a cabeça. – Bem... – parecia bastante interessada em qualquer ponto que não fosse meus olhos. – Podemos nos corresponder por cartas. Creio que Edwiges ficaria feliz em nos ajudar a trocar cartas. – Assenti com a cabeça novamente. Ninguém falou nada por uns segundos enquanto eu sabia que Hermione estava ficando agoniada. – Bem... posso voltar nas férias quem sabe... – deu de ombros. – Um dia nós teríamos mesmo que seguir nossas vidas separados, não é? - Ninguém falou nada novamente. Ela ergueu o olhar e finalmente me olhou nos olhos. – Fala alguma coisa!

Dei um sorriso torto.

- Eu adoro você. – disse num tom suficientemente baixo para que ela pudesse me escutar.

Os olhos dela imediatamente marejaram enquanto mantivemos o contato visual por alguns longos segundos, mas logo ela abaixou as vistas sem jeito, botou sua franja para trás da orelha e umedeceu os lábios dando alguns passos para trás assentindo freneticamente com a cabeça.

- Melhor eu ir logo... – Não que ela não tenha gostado do que disse, ela só não queria chorar, e eu estava praticamente a forçando a fazer isso. – Vou sentir sua falta. – murmurou mais para si mesma do que para mim. Deu as costas e começou a dar passos receosos até o portão onde a levaria ao seu avião. Estava prestes a atravessá-lo quando ela parou hesitante, pareceu lutar um pouco para olhar para trás, mas finalmente o fez. Eu tinha as mãos nos bolsos e meus olhos brilhavam enquanto eu tentava inutilmente engolir algumas lagrimas. Minha vida se resumia a ela e eu apenas estava a deixando ir, quem sabe a veria de novo depois de alguns anos? Nos olhamos de longe antes dela começar a correr em minha direção deixando as lagrimas escorrerem vivas pelo seu rosto. Ela se pendurou em meu pescoço enquanto eu passei meus braços em volta de sua cintura, nos envolvendo em um abraço forte e talvez o último de um longo, ou melhor, enorme intervalo para o próximo. – Eu também adoro você. – disse soluçante ainda me apertando forte como se eu fosse seu oxigênio.

- Tente não demorar! – meu tom era quase de suplica.

- Farei o possível! – ela falou e nós nos afastamos, mas ainda sim continuávamos abraçados. Levei uma de minhas mãos ao seu rosto enquanto a outra continuava sem sua cintura. – Farei por você. – ela acrescentou em um sussurro.

- Promete que quando voltar vai continuar morando comigo?

Ela sorriu.

- Claro!

Abri um sorriso triste. Olhei fundo naqueles olhos castanhos, quanto tempo iria levar para vê-los novamente? Enquanto pensava eu inocentemente que os teria para a vida toda. Quem sabe ainda pudesse?

Estava perdido em seus olhos em quanto ela muito bem parecia estar perdida nos meus quando me dei conta da proximidade dos nossos rostos. Estávamos realmente perto e eu havia perdido noção de local ou de qualquer outra coisa. Foi como seu nunca a tivesse visto, como se nunca tivéssemos nos olhado.

Um calor pareceu percorrer minha espinha quando senti os lábios dela nos meus. Eram mesmo macios e eu queria saber que gosto tinha... mas, espere! Que diabos estava fazendo? Ela era Hermione! Minha melhor amiga! Por que meus lábios estavam colados no dela? Me separei devagar não querendo transparecer que havia me surpreendido, e realmente foi uma surpresa. Senti a respiração quente dela bater minha face e talvez aquilo tenha tirado qualquer surpresa ou indagação da minha mente. Queria provar novamente, sentir aqueles lábios... que gosto ela tinha... mas ela se afastou, não antes de eu poder perceber ela se arrepiar.

Sorriu torto pra mim mordendo os lábios inferiores dando passos para trás me encarando.

- Tchau... – murmurei quase para mim mesmo do que para ela. Sorri incerto.

- Tchau... – ela disse no mesmo tom que eu, provavelmente mais baixo.

Deu alguns passos para trás ainda me encarando e depois se virou passando o portão e finalmente sumindo de vista.

Passei um tempo encarando aqueles portões como se ela pudesse reaparecer por ele gritando que era tudo mentira e que ficaria. Mas infelizmente não foi como pensei. Sorri tristemente voltando a colocar minhas mãos no bolso soltando um longo e pesado suspiro. Virei e logo vi os pais de Hermione atrás de mim. A Sra. Granger tinha um sorriso triste e o Sr. Granger um radiante. Me despedi rápido passando por eles sem os encarar. Segui para o carro sem querer ver a partida do avião, talvez fosse pior pra mim.

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