Capitulo doze
Parei com o carro em nossa vaga do apartamento. Girei a chave e puxei o freio de mão, me virei e encarei Hermione que fez o mesmo com uma expressão cansada e sonolenta.
- Enfim sós. – murmurei divertido.
Ela riu pra mim encostando a cabeça no apoio do banco.
- Enfim sós... – ela disse num suspiro encarando a aba que a protegia do sol quando íamos de manhã para o ministério.
- Primeiro Gina, depois Rony... Quem será o próximo? Eu ou você? – indaguei encostando minha cabeça do apoio do banco e encarando a aba no teto do meu lado.
- Uau... O final da liga internacional de quadribol, primeiro os Norte-Americanos, depois os Australianos, quem será o próximo? Venezuela ou Inglaterra? – comentou divertida.
Eu ri distraidamente.
- Precisamos de um carro novo. – comentei depois de algum tempo.
- Que tal uma BMW? Ou um Dodge? – ela sugeriu como se fossem carros insignificantes.
- Creio que uma Lamborghini seja uma boa. – disse no mesmo tom que ela.
- Como se fosse mesmo comprar uma. – comentou ela rindo.
- O que? – me virei. – Tenho dinheiro o suficiente pra comprar um estoque de cada um.
- Não estou dizendo que não tem. – contrapôs. – Pra que iria comprar carros como esses sendo que ao menos os usa?
- Dar ao senhor Weasley seria interessante. Posso o enfeitiçar pra voar, e poderia até colocar um botão para deixá-lo invisível. Ele ficaria bastante grato depois da decepção que teve quando o seu Ford Anglia resolveu se aventura pela floresta proibida de Hogwarts e nunca mais voltou.
Ela soltou uma gargalhada que a fez tomar força para abrir a porta do carro e sair de dentro dele.
Fiz o mesmo que ela e nós subimos para o apartamento discutindo qual seria a melhor forma de dar o carro ao senhor Weasley, não que realmente quiséssemos dar um carro a ele, mas já que estávamos nos aprofundando num assunto não tão construtivo resolvemos não ficar nos esforçando para “evoluir” o papo, até porque já eram quase cinco da manhã e estávamos um tanto quanto mongóis.
Me joguei no sofá afrouxando a gravata e tirando os sapatos. Hermione jogou o terno sobre mim.
- Obrigada. Foi bastante cavalheiro da sua parte tê-lo me emprestado. – Disse sonolenta começando a subir as escadas enquanto eu me deitava no sofá – Preciso de um banho e uma cama, boa noite. - Eu soltei um muxoxo que era pra ter sido um “boa noite” já de olhos fechados. – Melhor não dormir no sofá, não vai acordar muito legal do pescoço, experiência própria. – recomendou ela.
Eu já estava tão longe que não dei muito ouvidos a ela, meu cansaço vencia a ultima força que tinha para subir a escada e me jogar na cama.
*-/-*
Acordei com o som da buzina constante de um carro do lado de fora do prédio. Realmente fora um péssimo negocio dormir no sofá, devia ter dado ouvidos a Hermione, mas como estava sem forças para levantar acabei ficando por lá mesmo.
Hermione saiu da cozinha a passos silenciosos, estava descalça, como sempre, carregava um pote de biscoito e abriu um sorriso ao me ver acordado.
- E eu sou muito teimosa, não é? – exclamou animada me vendo fazer uma careta enquanto levava uma de minhas mãos a nuca me sentando no sofá. – Quem disse para não dormir no sofá? – empurrou o pote de biscoitos para mim subindo no sofá e se pondo atrás de mim começando a fazer uma massagem que eu realmente estava precisando.
- Estava sem forças para ir ao meu quarto. – resmunguei pegando um biscoito do pote.
- Estava era com preguiça! – eu ri e ela bagunçou meu cabelo saindo de trás de mim e descendo do sofá. Levou a mão até o bolso e tirou um frasquinho de vidro onde continha um liquido verde água. – Tome, vai tirar a dor do mal jeito.
- Obrigado. – murmurei tomando a poção. Sabe, eu adoro poções, tudo bem que é uma das matérias que mais me trouxe notas baixas em Hogwarts, mas, elas são incríveis, o efeito é imediato, nada de remédios trouxas que faz efeito quando você já esta quase morrendo. Ok, costumo ser dramático.
Ela se sentou ao meu lado no sofá cruzando as pernas em cima dele e puxando o profeta que estava pousado no braço do móvel abrindo-o sobre as pernas e pondo-se a lê-lo.
- Acredito que você precise de umas férias... – comentou ela levando a mão até o pote de biscoito ainda concentrada no jornal.
- Férias? Pra que eu iria pegar férias? – indaguei me levantando já livre daquela dor incomoda no pescoço.
- Seu trabalho é exaustivo, chega cedo, porem com a cabeça cheia de preocupações. Fica matutando em casos sem nexo. Precisa descansar. As vezes penso que sua cabeça esta pra explodir.
Eu ri.
- Acho que não é necessário, não agora, se eu acumular minhas férias quando estiver realmente com a cabeça explodindo vou ter bastante dias pra descansar. – Peguei meu sapato no chão e comecei a subir as escadas pronto para um banho relaxante.
- Harry. – Hermione me chamou quando estava quase no topo da escada. Eu me vire. Ela hesitou e eu arqueei a sobracelha. – Quer mesmo ficar hoje em casa? – indagou.
Eu assumi um ar pensativo.
- Green Park? – sugeri.
- Hyde Park! – ela disse animada.
- Fechado. – falei no mesmo tom que ela. Adorava passeios em companhia de Hermione. – Só espere eu tomar um banho. Que horas são?
Hermione olhou o relógio em seu pulso.
- Meio dia e quarenta e cinco.
- Ótimo! Podemos almoçar fora.
Ela pos a mão na cintura.
- Espertinho... Só porque hoje é seu dia de fazer o almoço.
- Eu pago pra você, Mione. – disse tornando a subir as escadas.
Ela soltou um riso incrédulo.
- Esse não foi o meu pensamento, certo, Harry James?
- Eu sei que não! – já quase gritava, pois acabara de entrar no patamar de cima do apartamento. – Estou sendo esperto tentando me livrar de uma bronca por não querer fazer o almoço.
- Harry! – escutei um grito repreensivo na parte dela no andar de baixo.
Entrei no meu quarto fechando a porta rindo aos ventos. Seria mais um sábado perfeito ao lado de Hermione. Desabotoei minha camisa e desafivelei o cinto da minha calça. Sentei na beirada da cama pronto para tirar minhas meias e olhei distraidamente para a cabeceira da cama. Parei meu olhar por lá alguns segundos. Um porta-retrato onde havia meus pais dançando, um qual eu realmente nunca abri mão de deixá-lo fora da cabeceira, ao lado outro porta-retrato onde Hermione ria para um ponto distante que não fosse para mim. Foto tirada na nossa formatura do sétimo ano, mais especificadamente no baile de formandos onde ela tinha sido acompanhada por Rony que dera as caras de ficar secando outras garotas na frente dela.
Apesar disso, ela não apagara seu sorriso lindo. Pensei naquele momento, como ela conseguia ser tão perfeita às vezes, o quanto me sentia grato por tê-la ao meu lado todos os dias, me fazendo sorrir, sendo compreensiva. Peguei o retrato e o fiquei admirando. Era linda. Indaguei a mim mesmo o porquê havia colocado uma foto dela sozinha enquanto as outras que estavam espalhadas pelo meu quarto eram sempre acompanhadas de varias pessoas. Mas, ela sempre fora especial pra mim, e ali eu ainda não havia percebido o que o “especial” significava. Talvez precisasse de uma grande experiência para quem sabe eu entender todo o significado do “especial”.
*-/-*
Os meses foram se passando e eu e Hermione como sempre, unidos. Minha vida se resumia a ela assim como minha felicidade. O departamento do F.A.L.E estava crescendo. Hermione estava realmente se empenhando bastante, virava noites às vezes na sala sobre a luz fraca da lareira. Eu costumava lhe fazer companhia, seria realmente estressante pra ela virar uma noite sozinha. A distraia e no final ela caia no sofá se aninhando sobre mim e dormíamos até tarde.
Ela me ajudava em alguns casos no ministério, a maioria eu solucionava sozinho, mas alguns eu precisava de sua sábia ajuda. Dividíamos a cama constantemente já que era demasiadamente chato dormir sozinho. Ficávamos conversando até tarde sobre coisas relevantes até pegar no sono. Vez ou outra acordava durante a noite e simplesmente ficava a observando dormir, sua respiração lenta, seu rosto, e me perguntava o que estava acontecendo comigo. Mas nada nunca passara do “minha melhor amiga, eu posso.”.
Rony voltou da lua de mel com Luna e logo os típicos churrascos no quintal durante o domingo começaram a fazer parte do calendário. A casa dos dois era maravilhosa, dava uma sensação de paz. E era lindo observar os dois juntos, como uma família feliz. Engraçado que eu não sentia falta de “uma família feliz”, afinal, eu já tinha uma: Hermione! Mas apesar de estar feliz com ela, continuava a me sentir incompleto. Faltava algo, mas o que?
Foi exatamente ai que tudo começou. No ápice da minha felicidade incompleta ao lado de Hermione.
Final de inverno em Londres e ela começara encarnar com comportamento estranho. Seus sorrisos eram fracos e de vez em quando amarelos. Um sentimento um tanto quando de “carência” passou a tomar conta dela. Me elogiava mais do que o normal e procurava sempre estar me agradando. Perguntei a ela o que estava acontecendo já que o brilho de seus olhos estava há tempos desaparecidos e ela afirmava não ser nada, mas eu, com meu profundo dom de decifrar seus olhos sabia que não era nada. Não mesmo!
Certo dia voltávamos do ministério. O silêncio que tanto me incomodava reinava dentro do carro, o transito na Belvedere Road estava terrível e eu me controlava para não lançar um feitiço no carro. Já estávamos presos a horas ali. Hermione olhava através da janela do carro distraída e com o olhar distante enquanto eu tamborilava os dedos no volante assobiando uma música qualquer.
Bati nervosamente as duas mãos no volante encerrando minha seqüência de batucadas e enfiei as mãos em meus cabelos os bagunçando ainda mais. Passei no rosto respirando fundo.
- Não faz sentido! – bufei. – É assustador passar por isso! Não somos trouxas, ok? - Hermione não me deu atenção. Continuava a olhar pela janela do carro. A observei e vi que ela tinha um sorriso triste nos lábios. – Hermione! – a chamei amorosamente. Ela olhou pra mim saindo de um transe desfazendo o sorriso tristonho. – Algum problema? – Indaguei. Ela balançou a cabeça negativamente e passou a fitar novamente a visão da janela. Eu respirei fundo. – Hermione, não esta dando pra disfarçar, ok? Não comigo!
Ela suspirou fechando os olhos, os abriu abruptamente e se voltou pra mim e eu vi, naquela hora, milhares de lagrimas sendo reprimidas por trás daqueles lindos olhos castanhos. Senti um aperto no coração e lhe toquei a face amorosamente afastando alguns cachos de seu cabelo. Talvez ela finalmente falasse o que estava lhe afligindo. Pegou minha mão que ainda estava em seu rosto e a abaixou passando a fitá-la de cabeça baixa.
- Quero ir no London Eye. – sua voz saiu fraca.
London Eye? É uma roda gigante. Dizem ser a maior do mundo, da pra se ver boa parte de Londres lá de cima.
Eu fiquei estático durante alguns segundos.
- Hermione... Caso não se lembre... Odeia altura...
- Não estou me importando com a altura. – retrucou ela rapidamente.
- Podemos deixar para outro dia, deve estar cansada. Temos milhões de fins de semanas juntos para andar nela...
- Não! – ela exclamou levantando a cabeça e me olhando nos olhos. – Por favor, Harry! – seu tom era quase de suplica. – Quero ir naquela roda gigante hoje e quero ir com você. Não vai me entender agora, mas me dê um tempo! Por favor! Só quero me sentir segura ao seu lado como me fez sentir em outras vezes que estivemos a metros do chão. – o silêncio reinou enquanto nos olhávamos nos olhos tristemente. Era como se a dor que eu via em seu olhar fosse minha também, apesar de nem ao menos saber o que lhe causava tanta dor. – Por favor... – acrescentou com a voz rouca e fraca.
Respirei fundo fechando os olhos. Assenti com a cabeça silenciosamente. Foi realmente um sufoco tirar o carro do engarrafamento, mas nada que uma magia discreta não resolva.
Saímos do carro e eu segurei sua mão a apertando forte indo em direção a grande roda que girava lentamente enquanto grupinhos de turistas esperavam animados por uma cabine livre para poderem ver Londres lá de cima.
- Tem certeza de que quer fazer isso? – indaguei receoso, afinal, era quase alarmante ver Hermione se prontificando a ficar metros do chão, ela fazia isso em casos de: “É a única saída!”
Ela assentiu com a cabeça se encolhendo um pouco por causa do vento forte.
Soltei a mão dela e a puxei para perto passando meu braço pelas suas costas. Era como se o silêncio que reinasse entre a gente fosse o último.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!