Capitulo quatro
Nós sempre íamos juntos ao ministério, mas era quase que negativa as possibilidades de nos encontrarmos por lá. Sim, pois eu ficava no segundo andar onde era o quartel de aurores e a ligação entre nossos departamentos era quase nula. Ela lutava pelo direito dos elfos todos o dia. Um dia me explicara sobre como havia conseguido criar uma cessão somente para elfos, mas eu realmente não estava muito atento. As vezes ficava até tarde trabalhando e sempre quando isso acontecia me mandava um memorando pedindo para não esperar por ela avisando que voltaria de metrô, o que eu achava extremamente perigoso para o horário em que voltava. Ela certamente não era muito respeitada. “Ora! Onde já se viu defender elfos?!”, comentava o povo. Eu tenho muito orgulho da minha mulher por ter subido na vida do modo como subiu.
*-/-*
Naquele dia fiquei sabendo que Hermione havia saído mais cedo do trabalho. Eu de certa forma fiquei um pouco intrigado. Ela não havia mandado memorando algum avisando sobre sua saída. Eu queria muito voltar pra casa para saber se ela estava bem, mas meu chefe, Will McCulley, um homem ao qual admirava ao extremo chegou a minha sala com um sorriso indescritível.
- Vai se formar como primeiro do grupo! – Exclamou.
- Como? – Eu ainda processava as palavras.
- Vai se formar como primeiro do grupo! – Ele repetiu rindo abertamente me puxando para um grande abraço ao qual eu não retribui com muito gosto. Era o que estava esperando há tempos, e eu sabia exatamente o que ele ia me dizer após o abraço, e foi exatamente por isso que eu não o retribui com gosto. – Ah, Harry! Eu sempre soube que iria dar um grande auror! Tenho orgulho de tê-lo treinado. Ora, vamos! O ministro quer te ver. – senti-me extremamente desanimado ao ouvir “O ministro quer te ver”, ainda tinha certas esperanças de não ouvi-lo pronunciar tais palavras.
- Ah... Bem... Espero que não tome muito meu tempo. Queria realmente chegar mais cedo em casa hoje...
- Ora, Harry! Estamos falando do primeiro ministro da magia e suas honras! Quer mesmo abrir mão de alguns elogios e muitas paginas no profeta para apenas chegar cedo em casa?
Acontece que não era apenas chegar cedo em casa, era minha amiga, minha melhor amiga. E se ela estivesse passando mal? Se algo tivesse acontecido a Rony? Não! Não! Ela teria avisado. Mas... Que diabos havia acontecido? Ela nunca saíra do ministério sem me avisar.
- Acontece que mi...
- O ministro quer te ver Harry! O ministro! Você vai se formar como primeiro do grupo! Não vai fazer essa desfeita a ele, vai? São apenas alguns minutos, talvez possa chegar mais cedo em casa e comemorar com seus amigos sua premiação.
Tudo bem que os minutos de McCulley foram horas e horas de elogios, parabéns e quase dez taças de vinho recebendo um “Não, obrigada. Volto dirigindo para casa.”. Minha vontade era de decapitar Hermione. O dia em que eu sempre esperei, o que eu devia estar dando sorrisos sinceros em vez de amarelos a Scrimgeour e McCulley estava acontecendo e minha cabeça não parava de formular coisas terríveis a cada momento. Custava-a ter me mandado um memorando?
Fui sair da sala do Ministro mais tarde do que Hermione costumava sair quando ficava até tarde. O gordo das varinhas que ficava no saguão de entrada do ministério tinha os pés em cima do balcão, o jornal do profeta vespertino aberto sobre o seu bucho e a caneca de café sobre o jornal sendo sustentada apenas pela mão do gordo que roncava alto. Apertei o passo ao saber o quão tarde era quando observei o relógio.
Havia uma mulher esperando a cabine chegar. Cabelos castanhos longos compridos e extremamente lisos, apertava varias pastas contra o peito e cantarolava, era jovem e parecia nova no ministério. Eu achei realmente estranho ela estar extremamente detraída em um horário como aquele.
- Boa noite. – Cumprimentei. Eu não sabia quem era, mas mesmo apressado eu conseguia ser educado, ainda mais ao perceber que ela era bem bonita.
- Noite. – ela respondeu parando por algum tempo em meus olhos. Parecia bastante interessada nos mesmos. – Seus olhos são bonit... – ela parou os seus em minha insígnia que havia escrito “Harry Potter, auror em formação”. – Ah... Er... – ela corou – Então você é o famoso Harry Potter. Sempre tive certa curiosidade em te ver pessoalmente.
Eu sorri. A cabine chegou. Nós entramos.
- O que faz no ministério esse horário? – Eu perguntei tentando não manter o ar pesado dentro da cabine enquanto a luz sumia.
- Vim do Canadá. – Não que eu não tenha percebido isso, mas sabia que o inglês dela era diferente. Já presumira que não era na Inglaterra e sim De algum lugar da América do norte. – Me formei por lá, e bem... Meus pais morreram há alguns anos... – era meio estranho conversar com uma estranha no breu que estávamos. Não que eu nunca tivesse feito isso, mas mesmo assim era estranho. – Aquele-que-não-deve-ser-nomeado andou deixando a sua marca em meu país e... – a voz dela parecia sair com dificuldade. – Meus pais estavam no lugar onde ele atacou e bem... Você já deve presumir o resto. – ela concluiu logo
- Entendo... Não foi a única. Ele também matou meus pais.
Ela sorriu.
- Como se ninguém conhecesse sua história. - Nós saímos da cabine. – Bem, consegui um emprego recente no centro para testes de aparatação. Estou tentando me virar como posso agora que não tenho meus pais.
- É um bom emprego. – comentei. Não sei como havia esquecido, só sei que Hermione me veio a cabeça, deduzi, é obvio, que havia esquecido o porque estava com pressa. – Olhe, seu eu não estivesse com tanta pressa eu lhe acompanharia, mas...
- Não! Tudo bem. Foi ótimo te conhecer, meu nome é Meline Smith, pode chamar de Mel se preferir. - ela estendeu a mão e eu a apartei. Nós nos olhamos nos olhos por alguns minutos ainda de mão juntas. Os olhos dela eram castanhos, iguais os de Hermione.
- Seus olhos me lembram minha melhor amiga. – comentei ainda segurando as mãos dela.
Mel sorriu.
- Bom saber que lembro pessoas boas. – disse carinhosa soltando a minha mão. Eu sorri e ela deu as costas e continuou andando. Não sei porque mas queria ver os cabelos dela balançarem de um lado para o outro enquanto ela se afastava. – Ah! – ela se virou para dizer algo que aparentemente havia esquecido. – Obrigado por ter acabado com ele. Prometi a mim mesma que diria isso se caso viesse a te conhecer um dia.
Eu sorri colocando a mão no bolso e voltando a observar os cabelos dela balançarem de um lado para o outro. Não sabia naquele momento quem, mas ela me fazia lembrar uma pessoa, que eu certamente gostava muito, e eu digo, amava muito! Foi assim que Hermione voltou novamente a minha cabeça juntamente com a preocupação de saber o que havia acontecido. Encolhi-me ainda com as mãos no bolso para me proteger do frio cortante e segui para onde havia estacionado o carro o mais rápido que pude.
*-/-*
Eu abri a porta de casa e logo à frente encontrei Rony debruçado sobre o para-peito da varanda. Observando o movimento da rua. Ótimo, nada de ruim com Rony, parecia tudo tranqüilo.
- Acaso sabe onde está Hermione? – Perguntei me aproximando e ficando ao lado dele, debruçando também sobre o para-peito.
- Trafalgar Square. – ele respondeu sem emoção na voz. Trafalgar Square era um lugar legal. Era como uma enorme praça, no meio havia um chafariz enorme. Era muito visitado por turistas e era incrível o numero de pombos que havia naquele lugar. Perguntei-me o que havia acontecido para ela ter ido ao Trafalgar. O silêncio caiu sobre mim e ele. – Nós terminamos. – comentou Rony.
Não que aquilo tenha caído como uma bomba, eu esperava que aquilo acontecesse mais cedo ou mais tarde. Eu parecia mais namorado dela do que Rony, que era.
- Ah... – foi o que saiu da minha boca. – Você... Esta mal?
- Não, não estou. Não sei por ela, mas sinto como se alguém tivesse tirado o mundo de minhas costas. – ele olhava fixo para as águas do Thames. – Nós não brigamos. Apenas voltamos a ser amigos. – ele se calou. O barulho da televisão do andar de cima invadiu o nosso apartamento. Ficamos calados apenas escutando o que parecia ser desenho animado. Eu senti-me aliviado por eles não terem brigado como eu e Gina e algum deles querer deixar a casa. – Acho que ela esta precisando de você. – Rony se virou para me encarar
- Você acha? – me virei para encará-lo também.
Ele assentiu com a cabeça.
- Você é meio que a rocha dela, sabe... E, bem... Eu não sei o que ela esta sentido. Se ela esta mal, ou se esta sentindo o mesmo que eu. Você descobre isso fácil, sempre tiveram aquele negocio de se comunicar pelo olhar. – ele voltou a encarar a visão da varanda: o rio.
Eu ri por dentro. Rony realmente era muito mal em tentar desvendar os mistérios dos olhos de Hermione. Era o ponto fraco dela, os olhos castanhos. Sempre indicavam a alma dela. Bastava apenas um olhar e você sabia se estava triste, magoada, com raiva, feliz, disposta. É, dizem que os olhos são o espelho da alma. No caso de Hermione esse ditado era literalmente cabível.
*-/-*
O trafalgar Square não era muito longe. Ta! Era um pouco longe sim. Mas eu não me importava de ir andando, alias, já fiz isso diversas vezes. Aquele lugar era ótimo, lindo, e de vez em quando era divertido ver os trouxas se atrapalhando. Eu já passei horas sentando em um banco daquele lugar rindo dos trouxas que ficavam desesperados quando batia o vento e levava folhas, pastas, objetos. Eu de vez em quando ajudava com uma magia discreta, mas certo dia eu certamente não me contive em deixar um menininho cair na água para pegar o brinquedo que o vento levara. Eu ri, mas depois fiquei com remorso por saber que poderia muito bem ter ajudado com um feitiçozinho discreto o brinquedo de não ser levado. Mas, pelo menos estava um dia quente.
A ponta do meu nariz já estava dormente do frio quando enxerguei a luz forte e amarela do grande chafariz no meio do que Rony chama de piscina. O lugar estava um pouco vazio devido ao horário, não foi difícil encontrar Hermione. Ela olhava fixo o chafariz que jogava a água para cima, mas sua mente parecia distante. O vento batia em seus cabelos os fazendo voar para trás e ela parecia não se importar muito com o frio apesar de ter os lábios um pouco roxos.
Eu me aproximei e me pus ao seu lado, ela não se moveu. Presumi que continuasse distante, mas de certo modo ela parecia saber que era eu quem estava ao lado dela.
- Me deixou preocupado. – comentei mantendo meus olhos no mesmo ponto que ela mantinha os dela.
- Imaginei. – ela respondeu calma, sem me olhar. – Desculpe-me não ter mandado um memorando avisando, mas é que eu realmente fiquei assustada quando recebi Rony em minha sala. Ele nunca me visitou no ministério.
- Fiquei sabendo sobre o que... bem...
- Terminamos. – ela concluiu minha frase. O que eu achei ótimo. – Foi sobre isso que conversaram no café, não foi?
- Bem, basicamente eu só pedi pra ele sentar com você e conversar sobre o relacionamento que você mesmo disse... Estava ficando péssimo a cada dia.
Eu vi de esgueira ela dar um sorriso de canto de boca.
- Na verdade acho que nunca devíamos ter começado nada. – ela esfregou as mãos tentando esquentá-las. – Nós criamos algo que nunca existiu. Acabamos perdendo muito tempo em um relacionamento que nem ao menos chegava perto de ser um namoro na qual o casal se amasse. – ela respirou devagar. O silêncio caiu. – Ele está com Luna. – aparentemente calma ela falou.
Aquilo era um pouco assustador. Eu ao menos sabia que Rony andara se encontrando com Luna.
- Quer dizer que ele te... te... – eu ainda procurava um termo melhor.
-Traiu? – fiquei imensamente grato dela ter tomado minha fala na maior naturalidade. – Eu particularmente não considero uma traição, Harry. – Ela fitou um garotinho que brincava com um barquinho de papel na água. – Nós paramos de namorar há tempos, apenas deixamos isso claro para os dois hoje.
Ela não parecia nem um pouco triste, decepcionada ou qualquer outra coisa, mas também não parecia feliz. Parecia apenas aliviada.
- Pensei que estivesse triste.
- Achou que eu iria chorar?
- Não vou negar.
Ela sorriu se virando para me encarar e eu fiz o mesmo.
- Harry, eu chorava quando brigava com Rony até mesmo quando éramos amigos. – ela disse com um sorriso estampado no rosto. – Coisa que também nunca foi diferente com você.
Eu abri um sorriso que logo se fechou ao sentir um vento gélido e congelante passou levando junto consigo o barquinho de papel do menininho que começou a chorar.
Uma mulher alta e toda empacotada de casacos veio correndo pegar a criança no colo e abafar seu choro voltando logo depois a um grupo que aparentemente eram turistas desacostumados com o frio da Inglaterra.
O vento de tornou mais intenso. Hermione bateu o queixo. Eu coloquei minhas mão em suas costas e a puxei para perto tentando a proteger do frio. Ela passou seus braços em volta do meu tronco por dentro do meu casaco se aninhando em meu peito, procurando se aquecer ao máximo.
Eu observava as pessoas enquanto tentava aquecer ela, a Mel. Alguns pingos d’água começaram a cair. Eu olhei o céu escuro ao qual não havia nenhuma estrela brilhante amostra.
- Creio que seria bom voltarmos pra casa. – comentei.
Ela levantou o olhar procurando observar o céu. Uma gota de água bateu em sua bochecha e ela riu juntamente comigo. Limpei a gota em sua bochecha com meu dedão.
- É. – afirmou ela. – Vai chover.
- Sim. Vamos?
Ela assentiu com a cabeça. Peguei em sua mão gelada e rumamos para casa em meio a uma garoa leve.
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