Revelações
Capítulo Três – Revelações
- Por que você fez isso? – perguntou Harry
temeroso.
Como
se aquela situação já não fosse esquipática o suficiente, Harry percebeu cólera
nos olhos de Dudley.
Com
medo do que poderia acontecer com ele, Harry deu um largo passo para trás,
ainda olhando no fundo dos olhos do seu primo. Se não tivesse feito isso,
talvez não repararia na mudança que podia ser lida nos olhos de Dudley. Agora
era um sentimento muito diferente. Desamparo.
Quando
Dudley abriu a boca, Harry preparou-se para ouvir as mais terríveis palavras
saindo da boca do primo. Mas o que saiu não foi muito mais do que um sussurro
arrastado e raivoso:
-
Ah, então você quer saber o que está acontecendo comigo? Ah, não me diga que
o grande e magnífico bruxo Potter não sabe o que acontece com o seu primo
insignificante e sem poderes? – Harry estava aturdido com a declaração e o
tom de seu primo. Harry achava que ele era idiota demais até para saber o que
era sarcasmo, mas viu que estava enganado. Muito enganado. – Então eu falarei
para você.
“Pense
comigo. Durante 15 anos da sua vida, você foi criado, melhor dizendo, mimado
pelos seus pais. Durante 15 anos você viveu sem saber se virar. Mas acontece
que, de repente, chega alguém e lhe diz que você e sua família correm risco
de vida. Que esse alguém que deu essa notícia é seu primo e vive com você. E
essa pessoa, que é muito poderosa, está atrás dele. E que ele, seu primo,
conseguiu derrota-lo, o vilão, diversas vezes. Até aí estamos felizes. Não
existem tantos riscos. Não precisamos nos preocupar. Apesar de você quase ter
morrido, não importa. Seu primo poderá salva-lo.
“Mas
a partir do momento em que você ouve seu primo gritando, contorcendo-se e
chorando, enquanto dorme, você começa a perceber que as esperanças de você
conseguir sobreviver são escassas. E então você percebe que você pode até não
morrer. Mas e se os seus pais, aqueles que te mimaram por toda a sua vida,
morrerem?”
Harry
percebeu que, nesse momento da narrativa, Dudley havia abandonado a postura. Não
conseguia mais prosseguir com aquela encenação. Agora Harry podia notar que
seus olhos estavam ainda mais vermelhos. Sua expressão denunciava claramente
que ele estava à beira de romper-se em lágrimas.
- Você entende o que eu estou tentando dizer? – Dudley disse isso com
um tom de voz tão baixo que Harry teve de se esforçar muito para compreender o
que ele dizia. – Eu não conseguiria viver sem eles! Por isso resolvi morrer
antes deles... – e sua voz foi morrendo.
Harry
ainda estava atordoado por causa das revelações que seu primo tinha acabado de
fazer a ele. Mas de repente começou a pensar que Dudley estava sendo muito egoísta.
Sim. Afinal, assim como ele dizia precisar de seus pais, Vernon e Petúnia também
deveriam precisar muito dele. Pois ele era o único filho deles, e sempre foi
mimado.
Repentinamente
ele descobriu que ele também estava sendo egoísta demais. Depois que Sirius
morrera, ele havia se fechado mais ainda em seu pequeno mundo. Não dava mais
atenção aos que se preocupavam com ele. Estava achando que só ele sofria
assim. Mas não era verdade.
Remus
sempre fora muito amigo de Sirius, James e Peter. Era o único que havia
permanecido firme e forte. Deveria estar sofrendo muito com a perda de seu
amigo. E seus amigos, Ron e Mione? Também deveriam estar muitíssimo
preocupados com o que estava acontecendo com Harry. Ele não mandava mais notícias,
não se preocupava mais com aqueles que sempre estiveram ao seu lado.
Nesse
momento ele sentiu nojo de si mesmo. Não havia contado aos amigos sobre a
profecia. Só ele e Dumbledore sabiam o que ela dizia. Ele precisava mudar esse
quadro.
Então
um soluço mais alto partiu do canto em que seu primo se encontrava. Até o
momento ele havia se esquecido do primo. Apesar de continuar achando seu primo
muito egocêntrico, Harry não podia deixa-lo ali, daquela forma. Abaixou-se até
ficar no nível dos olhos de Dudley e disse:
-
Dudley, escuta aqui. – Com isso Dudley levantou os olhos opacos e fixou-os nos
verde-vivos de Harry – Eu não posso te prometer que vou acabar com tudo isso,
mas te prometo que vou fazer o máximo que eu puder. Não só por você, mas por
todas as pessoas que confiam em mim.
Assim
que terminou de falar, Harry ouviu alguém batendo à porta. Achou que deveriam
ser os Weasley. Bateu de leve no ombro do primo (“Se cuida”), subiu
rapidamente ao seu quarto e pegou o malão.
Mas
qual não foi sua surpresa ao abrir a porta e deparar-se com a pessoa que menos
esperava ver naquele momento.
Seu
malão caiu com estrépito no chão à medida em que ele boquiabria-se cada vez
mais. Com um fio de voz ele indagou:
- O
que você está fazendo aqui?
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