Capítulo Dois
“Finalmente uma noite inteira de sono”, Hermione pensou enquanto deitava na confortável cama de seu apartamento em Londres.
Permitiu-se esquecer o hóspede indesejado que se encontrava no sofá de sua sala. Se preocuparia com ele pela manhã, agora estava cansada demais até para reclamar de ter que tomar conta de Draco Malfoy.
Sua missão era “cuidar” de Draco Malfoy até seu julgamento, ele tinha algumas informações incriminadoras, o que o tornava também alvo para os Comensais que ainda estavam foragidos.
Hermione adiara o máximo o ato de ir para seu apartamento. Limpou sua mesa diversas vezes, respondeu suas cartas, ficou um tempo conversando com Harry, até que ele teve que sair para uma missão. Só então viu que já adiara o suficiente, e que já estava bastante tarde para ir para casa.
Foi para a cela do Malfoy, buscá-lo sem pressa alguma. Antes, é claro, havia feito alguns exercícios de respiração para conseguir encará-lo com calma.
Malfoy, pelo visto, já tinha sido avisado, porque estava esperando por ela com a mesma calma fria. Não parecia nada feliz com a situação, mas seguiu Hermione em silêncio até o saguão do Ministério, internamente satisfeito por poder se movimentar por espaços mais amplos que sua cela. Se dirigiu para a lareira, esperando a auror, para lhe dizer para onde ir. Sabia que não aparatariam, pois além de estar sem a varinha, não tivera chance de passar no teste de aparatação.
Mas Hermione passou direto pelas lareiras, continuando seu caminho.
- Nós não vamos de flu, Malfoy.
- E vamos como? Voando? – respondeu sarcasticamente, lembrando o quanto ela detestava voar. Mas ainda a seguindo.
- Nós vamos com o meu carro – respondeu, se deliciando com a cara indignada do Malfoy.
- Eu não vou sair por aí, num transporte trouxa, com uma sangue-ruim – falou firmemente.
Hermione ignorou, não apenas a ofensa, como todo o comentário, se limitando a continuar andando até a saída do Ministério.
Vendo que não tinha alternativa, Malfoy voltou a caminhar e logo alcançou a auror.
Hermione tinha ganhado um belo carro dos pais ao terminar a guerra. Eles haviam guardado dinheiro para pagar pelos estudos dela, mas como não foi necessário o dinheiro foi suficiente para uma BMW Z4, vermelha.
Draco Malfoy podia ser um sangue-puro esnobe, e que não gostava nada da origem trouxa da jovem, mas ele era um homem. E como tal, não deixou de admirar o carro que estava estacionado a sua frente.
Hermione mal esperou Malfoy colocar o cinto e arrancou velozmente pelas ruas de Londres.
Se sentia livre, o vento batia no seu rosto, os cabelos, como estavam presos em um coque, não lhe atrapalhavam a visão. Adorava sair com seu carro em alta velocidade, se sentia livre de qualquer preocupação, era como uma válvula de escape.
Exatamente o que ela necessitava no momento.
Olhou para seu passageiro de soslaio. Por mais estranho que fosse, ele parecia estar... gostando da velocidade.
A indignação que sentiu quando Granger lhe disse que iriam de carro desapareceu no instante em que olhou para o carro da sangue-ruim. Mas, claro que não deixaria isso transparecer.
Mas quando ela colocou o carro em movimento foi praticamente impossível ficar impassível. Ele sentia-se mais livre do que em qualquer outro momento de sua vida.
Que seria muito curta, se a Granger não fosse ótima motorista.
Antes de chegarem ao apartamento da auror, eles fizeram uma rápida parada em um armazém. Hermione saiu sozinha após murmurar um feitiço que Draco desconhecia, mas tinha certeza que era para evitar uma fuga.
Nem 10 minutos depois ela estava de volta, com algumas sacolas de mantimentos, acomodando-as no porta-malas. E logo arrancou de novo a toda velocidade.
O silêncio era providencial, o único som que encontravam era do trânsito agitado da movimentada noite londrina e do vento.
Assim que entrou no apartamento de Granger, Draco notou que estava em um ambiente quase inteiramente trouxa. Quase soltou um gemido de desagrado, mas se segurou a tempo.
O apartamento não era grande, era do tamanho certo para uma pessoa. Draco podia ver duas portas fechadas, que imaginava serem o quarto da sangue-ruim e o banheiro. Do outro lado havia uma porta aberta, que deixava entrever uma cozinha trouxa. A sala, onde se encontravam, estava na mais perfeita ordem e uma das paredes era tomada por uma estante cheia de livros.
Típico - pensou.
Havia uma poltrona colocada estrategicamente ao lado da lareira e um grande sofá colocado de frente a uma estranha caixa quadrada. Por mais curioso que estivesse a respeito daquilo, nada o faria perguntar para Granger o que era.
Comeram em silêncio os lanches que a auror tinha comprado. Cada absorto em seus próprios pensamentos. Draco ficava pensando o quanto seria melhor se qualquer outro auror fosse responsável por ele. Sabia que a Granger não faria nada que infringisse a lei, e isso significava que certamente não conseguiria suborná-la. Estava na hora de pensar em um plano B.
- Você pode usar o banheiro para se lavar, Malfoy. É a porta a direita – disse apontando para o lugar indicado. Ele não respondeu nada, só se dirigiu para lá.
Quando saiu do banheiro, encontrou um cobertor e cobertas dobradas sobre o sofá.
- Você dorme no sofá – e com um sorriso irônico continuou. – Fique a vontade para arrumá-lo como lhe aprouver. – e virou-se, entrando na porta da esquerda.
A cama parecia mais confortável do que lembrava. Hermione se remexia na cama, aproveitando a oportunidade de poder dormir. O sono estava tão gostoso, que seria quase um sacrilégio quebrá-lo.
O que não tardou a acontecer.
Uma sirene alta e estridente tirou Hermione de seu descanso. E ela não estava realmente feliz com isso.
Hermione Granger fora treinada para acordar e levantar completamente desperta ao menor sinal de problemas. E esse, era um grande sinal.
O seu alarme estava tocando. Isso só podia significar que Draco Malfoy estava tentando, ou tinha tentado fugir.
Pegando a varinha que estava em sua cabeceira, Hermione foi para a sala, com a mesma camisola fina que sempre usava para dormir.
- Onde pensa que vai? – perguntou com a voz alta para sobrepujar o alarme apontando a varinha diretamente para o seu peito.
O fugitivo estava na porta, tentando abrir os diversos tipos de fechaduras que havia ali. Mas parou o que estava fazendo na hora, quando viu a Granger apontando a varinha para si.
- Não, não, não... – disse balançando a cabeça. – Tentando fugir, Malfoy?
Ele não conseguia responder nada. Maldita a hora que lhe confiscaram a varinha! Estava mais que irritado, e aquele alarme não ajudava em nada.
Hermione se aproximou lentamente dele, ainda com a varinha apontada para o peito do “pretenso fugitivo”. Draco foi se afastando, até voltar para o sofá, seu rosto impassível escondia as emoções que explodiam dentro dele.
Com um feitiço silencioso, ela o prendeu amordaçado ao sofá, não querendo que ele voltasse a fugir. Logo depois, fez outro, desligando a maldita sirene.
Nesse momento, batidas fortes na porta foram ouvidas.
Hermione conseguiu esconder a varinha no arranjo de flores da entrada, e entreabriu a porta, apenas o suficiente para ver quem estava batendo.
Era o vizinho do apartamento de cima, acompanhado por uma velhinha, que Hermione reconheceu como a vizinha do lado. Abriu a porta.
- Sim? – atendeu como se não tivesse acabado de evitar uma fuga. – Posso ajudá-los?
- Está tudo bem, srta. Granger? – a velhinha perguntou tentando olhar para dentro do apartamento.
- Nós escutamos um alarme vindo do seu apartamento, e como sabemos que mora sozinha, viemos ver se precisava de ajuda. – o homenzarrão cheio de músculos do andar de cima exibia um olhar nada inocente para seus trajes.
- Muito obrigado por se preocuparem, mas está tudo sob controle – sorriu para eles. – Foi apenas o Bichento que ativou meu novo alarme. – como se estivesse ouvindo a conversa, Bichento apareceu entre os pés da dona.
- Tem certeza?
- Claro, tudo sob controle. Por favor me desculpem por tê-los acordado no meio da noite.
- Sem problemas – a velhinha respondeu. – Passe no meu apartamento uma hora dessas, para tomar um chá.
- Qualquer coisa que precisar, srta. Granger, não hesite em chamar – seu vizinho lembrou.
- Muito obrigado. E mais uma vez me desculpem pelo incômodo. – respondeu já fechando a porta.
Hermione voltou a pegar a varinha, trancou a porta, e só depois se voltou para Malfoy.
- Amanhã nós conversamos sobre isso. – virou as costas e voltou para seu quarto. Sem desfazer os feitiços que o prendiam.
Draco grunhiu em resposta, não conseguindo falar nada e nem mesmo se mexer.
Hermione acordou bem disposta. Apesar do contratempo na madrugada, conseguira dormir o suficiente. Além disso, tivera uma idéia maravilhosa para o que fazer com os dias que estava de “licença” para tomar conta do Malfoy.
Não se deixaria abater por esse contratempo, pensou enquanto começava sua rotina matinal. Usaria isso a seu favor.
Quando foi para a sala, já pronta para um novo dia, viu Malfoy dormindo desconfortavelmente na mesma posição que o deixara.
Na noite anterior estava tão irritada com a tentativa de fuga dele, que nem cogitara soltá-lo, mas agora pensava se não teria agido errado.
Parou de se remoer ao notar seu “visitante” acordando.
- Bom dia Malfoy – ele revirou os olhos em resposta – Eu espero que você não tente fugir quando eu retirar os feitiços...
Malfoy estava imóvel, nem piscou em resposta. Pelo jeito, era a resposta que a auror esperava, porque então retirou os feitiços dele.
Draco Malfoy não disse palavra, mas tentou massagear o pescoço que estava duro pela posição incomoda em que dormiu.
- Pode usar o banheiro primeiro. Depois estarei te esperando na cozinha. Nós precisamos conversar. – disse e sem esperar resposta foi para a cozinha preparar seu café da manhã.
Isso já estava se tornando um hábito, Draco pensou irritado enquanto ia para o banheiro. Ela sempre saía antes que pudesse lhe responder, ou soltar um de seus comentários característicos.
O banheiro era pequeno, como o resto da casa. Mas estava “feliz” demais por poder manter certa higiene, que não reclamou disso.
Resolveu tomar um banho, mesmo não tendo roupas limpas para trocar. Desde que fora preso, mal conseguira lavar o rosto. Demorou mais que o necessário no chuveiro, mas não se importou. Só olhou desgostoso para as roupas sujas que teria que voltar a vestir, se estivesse com sua varinha poderia fazer um feitiço de limpeza nelas. Vestiu-as resignado, já que a outra opção era pedir para a sangue-ruim ajudá-lo, e isso ele não faria nem sob a maldição da tortura.
Quando chegou à cozinha, a mesa já estava posta. Era uma bela mesa de desjejum, poderia rivalizar com a que os elfos faziam na Mansão Malfoy. A Granger tomava uma grande caneca de café enquanto lia o jornal, mas não tinha comido nada ainda, parecia estar esperando por ele.
Draco se sentou de frente para ela com tanta naturalidade que parecia o dono do apartamento.
A auror então desviou o olhar do jornal, o colocando de lado, enquanto passava geléia em uma torrada.
- Tem café na cafeteira, e se não quiser tem água. Prefiro algo forte para começar o dia. O que estiver na mesa pode se servir. – ela parecia estranhamente... simpática nesta manhã.
- O que é uma cafeteira? – perguntou com a voz arrastada como se não se importasse com a resposta.
- É aquele aparelho no balcão atrás de você.
Ele se serviu de café e comeu elegantemente, mesmo que sua vontade fosse esquecer toda a educação, fazia muito tempo que não via uma mesa como aquela. Comia também em silêncio, esperando a Granger falar o que queria.
Mas ela parecia bastante entretida com seu café para falar qualquer coisa com ele.
Eles terminaram o café ainda em silêncio. Hermione, com um aceno da varinha, fez as coisas voltarem para seus devidos lugares e se dirigiu para a sala. Draco a seguiu e se jogou de qualquer jeito no sofá, esperando a conversa que agora não tardaria.
Massageou mais uma vez o pescoço dolorido da noite mal dormida.
- Espero que essa noite tenha lhe servido de lição – ela começou – Se você tentar fugir mais uma vez não serei tão boazinha.
- Acredite, você não foi nem um pouco boazinha – simplesmente não conseguia evitar, esses comentários apareciam sozinhos.
A auror respirou fundo, tentando se acalmar para continuar.
Draco deu um meio-sorriso, pelo menos ainda conseguia fazê-la perder a paciência.
- Eu tenho uma proposta...
- Pode parar, Granger. Seja ela qual for, não estou interessado – ela a interrompeu.
- Espero que saiba que eu posso te botar em Azkaban...
- Isso é o que você pensa – respondeu lembrando da sua herança.
- Sinto lhe informar, Malfoy – começou a auror - bem, na verdade eu não sinto, mas nem com a herança que recebeu de sua mãe, conseguirá se livrar de Azkaban se for condenado.
Draco a olhou atônito. Como ela soubera? Será que havia tido a audácia de investigar sua vida? Sua contas bancárias? E ainda tinha a ousadia de dizer aquilo sorrindo! Maldita sangue-ruim!
Como se lesse os pensamentos do rapaz, ela simplesmente respondeu:
- Malfoy, eu fiz a minha lição de casa. Eu sei tudo sobre você.
Ela sabia seu trunfo. Estava na hora de pensar em outra saída. Para ganhar tempo, resolveu ouvi-la.
- Talvez agora você tenha interesse em me ouvir...
Ele continuou calado mas prestando atenção ao que ela falava.
- Eu quero que você me ajude a encontrar e capturar os Comensais foragidos...
Draco se endireitou no sofá, prestando mais atenção.
- E o que eu ganharia com isso?
- Eu testemunharia a seu favor no julgamento, e talvez isso nem se torne necessário dependendo de sua ajuda.
Draco refletiu silencioso. Sua mente trabalhando a mil, pesando os prós e contras.
Hermione entendeu o silêncio. E deixaria que pensasse o tempo que achasse necessário.
Enquanto isso, pensava na reação de Harry quando lhe contasse que estava “hospedando” o Malfoy. Sorriu. Ele não iria gostar nada disso, e gostaria menos ainda se lhe contasse o plano que teve para prender os outros Comensais.
- E seria garantida minha liberdade?
Hermione sorriu. Ele estava quase cedendo.
- Se eu obtiver sua total colaboração, e se você não estiver me escondendo nada, ou esteja planejando fugir mais uma vez, sua liberdade estará praticamente garantida.
- Ok, eu te ajudo – ele levantou do sofá. – Não é como se eu tivesse alguma escolha realmente.
- Exatamente. – respondeu mantendo a seriedade de auror, mas bastante feliz por poder manter seu plano.
Hermione acenou então com a varinha, e na sua mão apareceram uma pena e pergaminho. Ele a olhou parcialmente intrigado.
- Você agora só tem que assinar este documento que fiz, que vai me garantir que você não tem a intenção de me enganar.
Entregou a pena e o pergaminho para ele, que os pegou e leu, antes de assinar. Quando assinou, sentiu uma pequena ardência na mão, então viu que a tinta, vermelho escura, era sangue. Ele arqueou as sobrancelhas para ela.
- O que você esperava? Esse tipo de documento pede uma seriedade maior, que apenas o sangue pode garantir. Veja, eu também tive que assinar.
Ele então notou o nome dela, assinado também com sangue.
- Agora podemos começar os preparativos – ela anunciou animada.
Se quem estivesse com ela fosse Harry ou Rony, eles já teriam gemido de antecipação. Mas Draco Malfoy não sabia o que o esperava uma Hermione Granger animada.
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NA/ O segundo capítulo postado. O que acharam desse capítulo?
E mais uma vez obrigado para Amandita, que betou essa fic para mim. *-*
A fic terá 5 capítulos, o que significa que só faltam 3. Estou esperando reviews, ok?
Amanhã eu vou prestar vestibular... Torçam por mim...
Até o próximo capítulo...
See ya!
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Comentários (1)
:D
2014-05-27