Capítulo Um
- Fale a verdade logo, Malfoy! – Hermione bateu a mão na mesa com força.
- Já falei tudo o que eu sei, sua maldita sangue-ruim!
Hermione sentou na mesa desanimada. Aquele já era o terceiro dia de interrogatório, e estava cansada de ouvir as mesmas respostas a cada pergunta que fazia. Parecia que ele falava realmente a verdade. Olhou irritada para o jovem e suspirou.
Draco Malfoy foi detido pelos aurores há quatro dias quando saía de uma casa, à noite, em um bairro inteiramente trouxa de Londres. Há quase duas semanas o departamento tinha recebido uma pista a respeito do Comensal foragido Draco Malfoy. Alguns aurores foram mandatos para investigar o caso, montaram tocaia e o capturaram.
Hermione, enquanto brincava com sua varinha, analisava detidamente Draco Malfoy, a pedra nos seus sapatos enquanto estudante.
- Vamos lá, Malfoy! Você sabe mais do que está falando. – ela tentou mais uma vez.
- Eu já disse, Granger. Já falei tudo o que eu sei. – até o sarcasmo dele já estava cansado.
O homem que estava sendo interrogado não lembrava em nada o garoto que a atormentara tanto. Seus cabelos estavam mais compridos, quase alcançando seus ombros, e estavam sem corte nenhum, algumas pontas mais curtas que outras. A barba estava por fazer, e não era apenas dos dias que passara em interrogatório. Ainda usava as mesmas roupas com que fora capturado, roupas que ficavam entre trouxas e bruxas.
Hermione se levantou mais uma vez, e voltou a caminhar pela sala. Sabia que estava sendo observada, testada. O espelho que refletia a sala, que refletia seus passos cansados indo e voltando, indo e voltando, nada mais era senão um espelho dupla-face.
“Igual aos trouxas”, Hermione pensou quando conheceu o lugar.
Sabia que seu chefe estava do outro lado do espelho vendo todas as suas ações, suas perguntas, seus discursos. Ainda estava sendo testada. Bufou.
Tudo bem que ela era uma exceção entre os aurores. A única que não passou pela estafante Academia de Aurores. Mas eles podiam confiar no seu trabalho. Podia não ter enfrentado as aulas, mas já passara por coisas que muitos aurores ali nunca tinham sequer ouvido falar. E ainda fizera todos os testes da Academia necessários para ser auror.
Hermione Granger era uma heroína na comunidade bruxa, juntamente com Ronald Weasley e, claro, Harry Potter. Juntos, os três derrotaram Voldemort. A batalha final pode ter sido apenas de Harry, mas os dois continuaram ao seu lado, impedindo qualquer Comensal ou criatura das trevas de atacar o rapaz.
Dessa forma, depois da derrota de Voldemort, eles prestaram os N.I.E.M.s e, sem nenhuma surpresa, Hermione foi a melhor colocada obtendo a maior pontuação vista em anos. Assim, ela prestara todos os exames para ser auror, e também passara.
Mas a maioria dos aurores veteranos, incluindo seu “chefinho”, não aceitavam que ela podia ser tão boa quanto qualquer um ali.
- Granger, você está me deixando tonto... e vai acabar furando o chão... – ele definitivamente não parecia estar em um interrogatório, sua postura mais parecia que tinha sido convidado para uma conversa casual sobre as ultimas publicações de herbologia.
Parecia apenas educadamente interessado.
Hermione ignorou o comentário e sentou-se de frente a ele, tendo a mesa a separá-los.
- OK, Malfoy. Vamos começar de novo.
Ele não demonstrou um sinal de cansaço ou irritação. No seu rosto, apenas a mesma indiferença desde que fora preso.
- Nome Completo.
Lição número 1 de Interrogatórios: comece sempre com perguntas simples, que tenham respostas óbvias. Baixa a guarda do interrogado. Hermione tinha todas as lições decoradas.
- Draco Lucius Malfoy.
Hermione suspirou. Já tinha perdido as contas das vezes que fizera a mesma pergunta.
- Idade.
Com um floreio de varinha conjurou uma jarra de água e um copo.
- 19 anos.
Lentamente virou a jarra despejando parte do seu conteúdo para o copo, sem tirar os olhos de Malfoy.
Viu um rápido lampejo de brilho nos olhos dele enquanto olhava para a água, que não durou mais que um segundo, mas foi tempo suficiente para que notasse.
- Água, Malfoy? – ofereceu com um meio-sorriso.
Draco Malfoy não fez um movimento. Mas o brilho desta vez foi mais forte.
Hermione bebeu um gole bastante devagar.
- Ah! Esqueci! – outro meio sorriso. – Malfoys não pedem nada, não aceitam nada de sangues-ruins – bebeu mais um pouco da água em seu copo.
Ela podia notar que Malfoy estava no máximo de seu autocontrole. Sorriu internamente.
- Malfoys não bebem água, não é? – continuou com o seu discurso, dividindo o olhar entre o copo e Malfoy. – Malfoys também não tratam bem seus elfos...
A auror podia notar que os nós das mãos do interrogado estavam brancos, por estar tentando se controlar. Seu maxilar estava cerrado. Bebeu mais um pouco de água.
- Malfoys também não são presos... – ela se calou um pouco. – Mas espere! Você e seu pai estão presos! Inacreditável, não? – terminou balançando negativamente a cabeça.
Draco esqueceu que estava preso, que estava em um interrogatório, e se levantou num rompante de raiva batendo a mão na mesa.
- Agora já chega, Granger! – gritou – Agora...
Hermione levantou apontando a varinha para ele.
- Não! Agora já chega você! – gritou se aproximando perigosamente dele – Acha que é o único aqui cansado desse interrogatório?
A auror continuava com a expressão dura, mas sorria por dentro. Conseguira seu intento, ele perdeu o ar de indiferença. Se estivesse mentindo, agora poderia se trair.
Draco voltou a se sentar. Com um aceno de varinha Hermione fez desaparecer a água de cima da mesa e sentou nela, encarando Draco de cima.
- Acho que agora podemos continuar...
- E então? Como foi com o Malfoy hoje?
Assim que entrou no seu “compartimento” no QG dos aurores, Hermione deu de cara com Harry, que a estava esperando para saber das ultimas novidades.
- O de sempre. Mas hoje ele ficou irritado. – respondeu com um sorriso enquanto se sentava numa cadeira.
Era tão bom ter Harry ali, presente, para poder contar-lhe os problemas e as descobertas. Tudo era muito sigiloso nesse departamento. Ninguém podia falar nada sobre o trabalho para alguém de fora. E, além do mais, Harry estava quase na mesma situação que ela.
Também por ser considerado um herói, foi permitido que ele apenas prestasse os exames da Academia, e, se passasse, não precisaria cursar. Mas, mesmo tendo estudado bastante com Hermione, Harry não passou em alguns testes, e teve que cursar as matérias que não passou.
No entanto, para Harry a situação era ainda mais complicada. Havia aqueles que acreditavam que ele era um super-herói, e que resolveria tudo sozinho. Mas havia também, nisso incluso a maior parte do departamento, pessoas que acreditavam que ele tivera apenas sorte e que não deveria ter privilégios, como não cursar a Academia, por causa disso.
- O Malfoy contou exatamente a mesma história que tem contado desde o inicio. Que sim, ele passou pela iniciação e se tornou Comensal e que sim, a primeira missão dele era achar um modo de abrir Hogwarts e matar Dumbledore, ou, o velho caduco, pelas palavras dele. Mas que ele não conseguira completar a missão matando o diretor...
- Nisso, infelizmente, eu posso testemunhar a favor dele – Harry interrompeu, ainda escorado no batente do cubículo dela.
- É, eu sei. Ele então disse que fugiu. Tanto de nós quanto de Voldemort, porque não seria aceito em nenhum lado, nem mesmo pela família. Você sabia que quando o Malfoy pai descobriu que ele tinha fugido, o deserdou no mesmo instante? – Harry negou. – Pois é, nós já confirmamos com o próprio Lucius Malfoy. Bom, encurtando a história, Draco Malfoy esteve escondido esse tempo todo, até algumas semanas atrás, quando alguém o reconheceu e o resto da história você já sabe.
Harry acenou confirmando.
- Pode ser estranho, mas eu realmente acredito que ele esteja falando a verdade. Ninguém persiste tanto tempo na mesma história.
Harry preferiu mudar de assunto. Olhou com carinho para a amiga. Ela parecia tão cansada.
- Há quanto tempo você tem uma noite inteira de sono?
Hermione desviou o olhar dos olhos preocupados do amigo. Mas sabia que não adiantaria mentir.
- Desde que o Malfoy foi preso...
- Eu não acredito, Mione! Você tem que se cuidar mais!
O ano em que passaram caçando as horcruxes, aproximou muito o trio. Naquela época só podiam contar com eles mesmos, o que os fez ficarem ainda mais ligados. A preocupação de Harry era normal.
- Harry esse é o meu trabalho. Eu sabia que teria dias assim quando escolhi essa carreira.
Assim que Draco Malfoy fora preso, recebera uma convocação urgente para o Ministério. Passou, então, mais da metade da madrugada lendo todos os relatórios feitos a partir das investigações sobre Draco Malfoy. Tinha que estar preparada para o interrogatório.
Conseguiu tirar um cochilo no começo da manhã, na cadeira desconfortável de seu cubículo. Não durou nem meia hora, e já estava sendo chamada para começar o interrogatório. Teve uma folga pela tarde e foi para seu apartamento tomar um banho e tentar dormir um pouco.
Os interrogatórios não tinham hora para começar. Qualquer hora era boa o suficiente para fazer um. Podia começar pela tarde, ou mesmo pela madrugada. Isso confundia o interrogado, foi o que aprendera.
- E pelo jeito não tem se alimentado direito, também...
Isso era verdade, não lembrava a ultima vez que sentara numa mesa para fazer uma refeição decente. Estava se mantendo a base de poções revigorantes e sanduíches prontos que pedia no Caldeirão Furado. Apenas acenou, confirmando a suspeita de Harry.
- Então pegue sua bolsa, que nós vamos almoçar com o Rony, no novo restaurante que abriu no Beco.
Hermione abriu a boca para protestar, mas não teve tempo.
- Eu sei que você tem que preencher todos os relatórios, mas eu te prometo que no máximo em uma hora você estará de volta. Até lá não vão querer fazer outro interrogatório com ele. – Harry viu que ela ainda hesitava. – Ora, vamos! Até uma super-auror precisa almoçar!
- Tudo bem, tudo bem! Você venceu. – pegou a bolsa, e guardou os papéis nas respectivas gavetas. – Mas antes eu tenho que avisar o chefe.
Draco Malfoy olhava entediadamente para o teto de sua cela no Ministério, enquanto esperava o tempo passar.
Não podia reclamar do lugar, era melhor que muitos lugares que ficara enquanto estava escondido. Pelo menos a cela era limpa, e não estava em Azkaban, também.
“Pelo menos por enquanto”, pensou amargamente.
Não podia reclamar do lugar, mas não podia dizer o mesmo do serviço. Não tinha hora para dormir, a comida era ruim e pouca, e bebida, apenas um pouco de água.
Já estava cansado de olhar para a cara da sangue-ruim a cada interrogatório enfadonho. Sempre as mesmas perguntas, às vezes ela mudava as palavras, talvez achasse que ele era estúpido, ou algo do gênero, mas no final, era tudo a mesma coisa.
O mais triste era saber que a sangue-ruim da Granger tinha se dado bem na vida, enquanto ele estava preso e a mercê das pessoas que sempre desprezou.
Mas não por muito tempo. Tinha um trunfo na manga. Só estava esperando o momento mais adequado para usá-lo. Afinal, ele ainda era um Malfoy, e os Malfoy não vão presos!
Todos sabiam que seu pai o havia deserdado, e pensavam que estava mais pobre que o Weasel. Mas esqueciam que sua mãe não o havia deserdado. E agora que estava morta, toda a parte dela da fortuna Black era dele, o que não era pouco dinheiro.
Tinha certeza de que, se não fosse liberado, conseguiria comprar sua liberdade.
- O quê?! – Hermione levantou com o susto. – Ah, não! Não, não, não... Nem pensar... – repetia enquanto voltava a se sentar, e tentava se acalmar. – Você só pode estar brincando!
O dia até então estivera bom. O interrogatório fora o mais satisfatório até agora, o almoço com Harry e Rony lhe melhorara consideravelmente o humor e terminara os relatórios antes do tempo previsto.
Mas agora isso!
- Isso não é uma opção, Granger – seu chefe disse seriamente. – você nunca teve uma escolha, realmente.
- Mas, por que eu? – perguntou quase desesperada.
De todos os aurores do departamento, por que justo ela?
- Simples, Granger. É você quem sabe tudo sobre ele, foi você quem conduziu toda a investigação. Você é a pessoa certa para cuidar disso – o tom que usou não admitia réplicas.
- Ok – suspirou e levantou-se.
Já estava na porta quando seu chefe a chamou.
- Hoje, Granger. Não se esqueça.
Ela não fez nenhum sinal de que tinha escutado, e continuou seu caminho.
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N.A./ Olá folks! Minha primeira D/Hr. Mais uma escrita para um challenge... eu adoro challenges XD. Mas neste, pelo jeito as mestras desistiram... já deveria ter saído o resultado e nada...¬¬’
A fic já está concluída, mas vou postar os capítulos aos poucos... Quanto mais reviews eu receber, antes eu posto novo capítulo, ok?
Agradecimento especial para Amandita, que betou com muito carinho essa fic, e me ajudou muito!!! Sem ela, eu nem teria conseguido começar. Ah! Foi ela também quem fez a capa dessa fic para mim. *-* Muito obrigado Amandita!!!
Até o próximo capítulo... See ya!
NA²/ Era para eu ter postado 2ª este capítulo, mas o FeB estava com problemas.... ¬¬'
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Comentários (1)
^^
2014-05-27