~ Mentiras magoam corações
- Pai! Deixa o menino respirar!
- Não Mione, tudo bem... Eu entendo o seu pai – Rony deu aquele sorriso que derrete até metal – É um prazer conhece-lo, senhor Granger.
- Igualmente, Jhony!
- É Rony, pai!
- Oh, desculpe-me... Ando meio distraído ultimamente! Muito trabalho sabe?
- Eu sei, eu sei. Imagino como deve ser difícil amarrar os navios do outro lado da cidade, não é mesmo?
- Bem – meu pai corou violentamente – não fica tão difícil quando a gente trabalha à muitos anos... Para falar a verdade já me acostumei – após isso, ele soltou as mãos um pouco bruscamente das de Rony, ficando aquele clima chato.
- Então, vamos? – quis cortar aquele silencio constrangedor.
- Sim, claro! – Rony pareceu acordar dos pensamentos.
- Aonde vocês pretendem ir? – por que meu pai sempre tinha que cortar a nossa sinfonia, hein?
- Uma lanchonete bem confortável lá na cidade... Hum, da Madame Rosmerta, conhece?
- Ah, sim! Lógico. Fomos amigos na infância – respondeu dando um sorriso no qual o Rony não retribuiu.
- Agora podemos ir?
- Pode sim, Hermione... Só não demorem a voltar.
- Até logo! – nos despedimos e um frio intenso me apertou na região do abdômen enquanto observava meu pai se distanciando da porta da sala. Agora era só eu e ele.
- Então... Está frio não é mesmo? – Cara, por que eu sempre falava do clima?
- Ah, sim! Está bastante.
Respirei profundamente, enquanto depositava as mãos congeladas nos bolsos do casaco, tentando de todas as maneiras achar mais assuntos para uma conversa civilizada.
- Você está bonita – e novamente ele sorriu me fitando dos pés a cabeça – Realmente bonita... - não era bem disso que eu estava falando, mas tudo bem.
- Obrigada, você também está – senti meu rosto frio esquentar em segundos – Onde é essa lanchonete?
- Não é tão longe daqui. Fica a algumas esquinas da nossa escola. A essa hora não deve estar tão cheia... Melhor não acha? – em seguida, deu um sorriso maroto.
- É. Melhor – engoli em seco com esse pequeno gesto. Pensamentos bobos vieram a minha cabeça. Só em pensar no fato de nós dois sozinhos, aquele silêncio, talvez um beijo... Ai... O beijo, morria de vergonha ao pensar nessa cena.
- É logo ali na frente – ele adotou um tom de voz mais rouco, se não estivesse ao seu lado jamais imaginaria que era realmente o Rony que estava falando.
Na minha frente só enxergava a escuridão. Os únicos pontos iluminados eram alguns bares de esquina repletos de homens que ocupavam mesas com várias garrafas de cerveja. Nunca andei para aquele lado da cidade, e certamente não conseguiria voltar para casa sozinha.
- Aqui não parece ter muita gente, não é mesmo? Ouvi dizer que a lanchonete de Rosmerta vive cheia, mas... Você não acha que por aqui é vazio demais?
- É esse o meu objetivo. No silêncio tudo fica mais gostoso, não acha Hermione? Parece um tanto proibido... – encostou-me na parede de um beco, enquanto eu sentia seu hálito quente, sussurrando em meu pescoço.
- Até onde você quer chegar, Rony? – quis parecer tranqüila e determinada, mas internamente eu estava apavorada. Minhas pernas tremiam e enquanto eu engolia em seco, senti as mãos deslizando em locais quase inadequados – Saia! Fique longe de mim! – gritava tentando cessar aquele toque, mas parecia impossível empurra-lo para longe de meu corpo.
- O que foi, garota? Eu sei muito bem que por dentro você não é nada santinha. Sei que me deseja, que estou em seus sonhos, deixe-os tornarem realidade... Vamos, irei ajuda-la se for preciso – e novamente ele avançou sobre mim, segurando-me pelos pulsos e fazendo-os colidirem com a parede logo atrás.
- Eu não te dei o direito de fazer isso! Está me machucando! Saia de cima de mim, saia! Socorro – mas meus gritos parecem confundir-se com a escuridão – Socorro! – e agora as lágrimas rolavam delirantes dos meus olhos. Eu não queria que fosse assim, não queria! Porque ele estava fazendo isso? Tinha que ser perfeito, droga.
- Ninguém pode te ouvir, Hermione. E eu não vou sair daqui sem ficar com a única garota que ainda não peguei naquele colégio.
- Eu tenho nojo de você, nojo! – minhas pernas tentavam chutar qualquer parte do corpo dele que podiam encontrar pela frente. Mas aquela boca parecia não querer desgrudar de meu pescoço.
- Largue-a, seu covarde! - Da onde vinha aquela voz? Esse foi meu primeiro pensamento, e ao virar-me reparei em alguém.
Alguém cuja voz eu reconhecia claramente. Uma luz forte envolvia o Harry e senti meus joelhos cederem quando Rony resolveu me empurrar, para procurar o invasor de seus gestos. Harry? Tentei dizer mas minhas cordas vocais estavam entaladas pelo nervosismo.
- Se acha o bom, não é mesmo? Mas te digo uma coisa, Ronald Weasley! O dinheiro não compra a felicidade, muito menos o amor... E pode acreditar, o dinheiro não irá salvar o seu lindo rostinho agora.
- Quem é você, seu fedelho intrometido?! Como ousa atrapalhar o meu momento com a minha garota?
Não conseguia acreditar! Ele estava vendo o Harry. Conseguia saber claramente da onde aquela voz heróica surgia! Ainda no chão, olhei desesperada de um para o outro e percebi que uma luta corporal não tardaria a ocorrer.
- Ela é a minha garota! Jamais irá ser sua.
- Estava sendo até você aparecer e estragar tudo. Já sentiu os lábios dela, seu imbecil? Viu o quão doce eles são?
Como ele ousava? Podia ter me prensado a força contra a parede, mas nunca havia colado seus lábios aos meus. Sabia perfeitamente que estava tentando irritar o Harry, e pelo jeito conseguiu, pois no momento seguinte ele correu e pulou sobre Rony.
Os olhos estavam em fúria, chamuscavam como um fogo crepitando em uma lareira. Uma chama imortal que me parecia que jamais sairia de seus instintos. Foi a primeira vez que o vi realmente furioso.
- Seu mentiroso! – um soco acertou a boca de Rony – Limpe a sua boca suja ao falar da Hermione!
- Você não tem autoridade para mandar em mim! – recuperando-se do soco, ele avançou sobre Harry e lhe depositou um agressivo soco no mesmo. Cambaleando Harry tentou se levantar mas foi atingido novamente por um chute no estômago. Caiu deitado sobre o chão enquanto Rony depositava mais socos em seu corpo desprotegido.
- Não! Largue ele, ele não tem nada haver com isso, seu idiota! Largue-o! – sem pensar duas vezes, pulei sobre Rony tentando com todas as forças possíveis, livrar o Harry desses ataques. Meu coração sofria, meu coração doía, nunca me perdoaria por acreditar numa pessoa tão arrogante.
- Não se intrometa, sua pobretona retardada! – Rony gritou, praticamente cuspindo as palavras em meu rosto. E senti uma ardência em minha bochecha quando um tapa forte me acertou. Novamente eu caí sentindo meu próprio sangue escorrendo por meu queixo. Mas isso não importava, apenas o Harry invadia meus pensamentos. Ele não podia morrer, não agora que finalmente conseguiu, não sei como, tornar-se humano.
- Harry... Não... – tentei levantar mas fui empurrada e dessa vez, minha cabeça acertou numa mureta. Senti os joelhos cederem e tudo escurecer novamente, mas tive tempo de ver uma sombra se materializar atrás de Rony. E em seguida desmaiei sentindo que acabara de perder tudo... Era como se eu houvesse deixado Harry para sempre.
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Um odor muito familiar tomou conta da minha atmosfera, e um vento suave passou por meu rosto fazendo algumas mechas de cabelo o tocarem inerte. Reconhecia mesmo de olhos fechados aquele lugar. Era o cais. Pisquei ainda confusa com uma forte dor de cabeça, e quando tentei levantar do chão senti braços firmes e sólidos me segurarem, a ponto de não me deixar cair.
- Hermione! Finalmente você acordou. Estava aqui pensando positivo esse tempo todo em que esteve dormindo.
- Harry! O que houve com seu rosto?! – o toquei delicadamente, como se aquele toque cessasse o sangue que escorria de sua face, ou até mesmo a sua dor.
- Não foi nada... Ai! Uns amiguinhos daquele imbecil apareceram também. Mais pode deixar – adiantou-se ao se deparar com uma Hermione assustada – Eu tomei conta deles direitinho.
- Estou tão envergonhada.
- Não pense mais nisso, tudo bem? Passou... Eles não irão mais te fazer mal. Eu não vou deixar mais nada acontecer – e senti um calor real. Humano. Um abraço confortável fez com que minhas lágrimas molhassem sua camiseta.
- Amanhã cedo serei o alvo de piadas da escola! Isso não é justo... Não é! Ele me enganou, irá contar para todos. Todos!
- Ninguém se atreveria a te fazer mal, Mione. Agora eu estou aqui... Com você!
- Se lembra quando eu te falei que nada importava? Que o pensamento de qualquer inergúmeno não me faria mal? Pois agora eu me importo, Harry! Mais do que nunca me importei!
- Pára! Pára, ok? – apertando-me mais em seus braços – Você não é assim. Não pode deixar que os outros pensem por você! Os impeça em fazer sua dor cair em lágrimas. Seja forte, droga!
- É fácil você dizer isso não é mesmo?! Você nem se quer sabe o que eu estou passando agora... Não faz idéia do que eu passei até chegar aqui!
- Você tem razão. Acho que nunca senti algo parecido – Harry se afastou e em lágrimas silenciosas ele tentou acrescentar algo.
Porém, eu nunca ouvi realmente o que ele quis dizer naquela hora. De costas para mim, abaixou a cabeça e como se tentasse com todas as forças dizer algo naquele momento, acrescentou sem me olhar:
- Não cometa os mesmos erros que eu, Hermione.
- Erros?! Do que você está falando Harry? Onde você errou? O que está acontecendo? Como você conseguiu voltar? Céus! Dei-me explicações!
- Eu não devia ter me intrometido na sua vida dessa maneira. Você estava certa. Eu estraguei tudo... Talvez não tenha volta.
- Está me assustando, Harry. Quer, por favor, me explicar o que está acontecendo aqui?!
- Sou um anjo, Hermione! Um anjo extremamente fraco e idiota. Há uma explicação para tudo isso, sim. Eu simplesmente arruinei os meus planos... E com isso estraguei os seus também.
- Anjo? – minha voz saiu fina – Porque você não me falou... Porque estava me enganando todo esse tempo? Mais que droga, Harry! Porque você fez isso?!
- Porque eu amo você! – e mais lágrimas rolaram de seu rosto – Será que não percebe? Não entende que tudo o que eu fiz até agora não está certo?
- Mas...
- Nada que eu quero fazer estará certo... Nada. Nós anjos, viemos aqui em baixo quando os nossos protegidos mais precisam da gente. Nossas forças, nosso bater de asas, tudo... São apenas para quem escolhemos proteger! Eu me envolvi de tal maneira em sua vida que... Agora não consigo livrar-me dela. Eu amo você! E isso está errado. Eu falhei, a missão falhou... Tudo foi por água abaixo! Sou transparente pois ainda não tenho as forças necessárias. Tomei decisões erradas... E a principal foi tentar te ajudar.
- Qual é o problema em amar alguém?! - dúvidas cruéis e revoltantes vieram a minha cabeça. A dor de Harry era a minha dor naquele momento; como se fossemos um corpo só, onde todos os sentimentos estavam demasiado carregados para o coração suportar.
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