~ Harry Defensor



- Você me batizar?

- É. Bem, só se você concordar. Pelo menos até a gente descobrir a sua verdadeira identidade.

- Pode ser – ele deu de ombros, mas eu percebi que ele parecia muito desconfiado.

- Então está bem, Harry!

- Harry?

- Gostou do nome? Se quiser eu mudo... É que eu tinha um cachorro com esse nome e ele acabou morrendo, sabe? Eu o amava tanto... Não que eu ame você, é claro. Só que... Ai meu Deus! Eu não quis dizer que eu te odeio! Você parece ser legal, entende? Ok, eu sei que eu falo demais!

Harry apenas riu. Simplesmente soltou um sorrisinho. E para falar a verdade, aquilo me deixou doidinha, pois ele ficava ainda mais lindo com aquele ar de felicidade.

- Não! Pode me chamar assim mesmo, gostei desse nome... Realmente gostei. É forte, sabe? Fica bem pra mim, e até que eu tenho cara de Harry!

- Pois é – agora era eu quem andava com as mãos nos bolsos. Aquela noite estava tão fria, aquele vento estava tão gelado – Sorte sua não sentir o frio que está!

- Deve ser. Nunca senti o frio, muito menos o calor... É gelado ser eu. Percebo uma brisa fina que me acompanha, mas isso deve ser normal.

- Li uma vez que as pessoas podem voltar porque deixaram algo não terminado na terra, você deixou algo não terminado aqui?

- O problema é que nem disso eu me lembro.

- Veja o lado positivo... Você pode voar! – Nossa. Grande coisa a se dizer para uma pessoa que está com perda de consciência. Mas eu não podia me condenar, afinal, meu jeito era esse. Era quase impossível eu pensar no lado negativ.

- Verdade...

- Chegamos! – apontei minha pequena casa que ficava um pouco longe da cidade. Eu morava com meu pai, mas sempre sentia a presença da minha mãe. Talvez eu fosse médium, sei lá.

- Adorei a sua casa! – foi a primeira coisa que Harry disse ao entrar na sala.

- Obrigada, é modesta, mas é bem limpa.

Ele sorriu novamente.

- Filha! Falando sozinha? – sabe Deus o que meu pai faria se eu contasse que estava falando com meu amigo fantasma.

- Não, apenas pensando alto! – sorri amarelo, apesar de quão engraçada teria sido a cena.

- Cadê a sua mãe? – Harry cochichou perto do meu rosto. Como se meu pai fosse capaz de escutá-lo.

- Depois eu te explico – retruquei baixinho.

- Já estava ficando preocupado com a sua demora. Afinal, o que tanto você faz lá naquele lugar, hein?

- Ah pai, você sabe que eu adoro ficar lá... Era aonde a mamãe gostava de ir.

- Gostava? – Harry havia falado mais alto do que o normal. Mas eu lógico, ignorei.

- Está certo, Mione. Agora... Sabe onde eu mais gosto de te ver ficar?

Fiz cara de desentendida óbvio, mas eu sabia perfeitamente a resposta dele a seguir.

- Dormindo tranquilamente em seu quarto, sem se importar com poesias difíceis ou livros sobrenaturais.

- Mas papai, o sobrenatural só não é mais do que o natural não explicado?

Agora quem fez cara de desentendido era o meu pai.

- Isso não muda o fato de você ter que ir dormir agora – ele foi me acompanhando até o meu quarto que era no sótão. Senti Harry rir não muito longe de nós, certamente achou engraçado o jeito corado que meu pai ficou ao desconhecer o sobrenatural.

- Boa noite, papai.

- Boa noite, Mione. Durma com os anjos!

Ou ele quis dizer fantasmas?

Em seguida fechou a porta e eu ouvi Harry rindo mais uma vez.

- Qual é o problema? – sinceramente eu fiquei assustada. Quanto mais ele ria mais roxo ele ficava, e de repente, a cor mudava para um verde limão e em seguida para amarelo. Eu ainda tinha que me acostumar com muitas coisas que ele sabia fazer.

- É que, sei lá... Você se mostrou tão valentona e sábia nas palavras quando estávamos sozinhos. Foi desconcertante ouvir você dizer papai – e prosseguiu rindo. Era incrível como ele conseguia me tirar do sério!

- Ah, cala a boca Harry! – eu teria o deixado ali, rindo como se houvesse escutado uma piada, mas o que ele fez a seguir me deixou muito mais esquisita do que eu já era.

- Desculpa Mione! Às vezes eu sou um chato mesmo, sei lá, é meu jeito ser assim. Não consigo pensar em alguma coisa engraçada e simplesmente ignora-la... Ah, me perdoa pelo livro também – daí ele beijou a minha bochecha e se acomodou no ar.

- Sabe... Você não precisava falar isso. Eu sei como é ser do jeito que a gente é. Muitas pessoas camuflam como elas são realmente, e nós apenas mostramos a nossa verdade.

- Acho que se alguém me mandou aqui para baixo, foi para aprender lições de vida contigo. Não havia outra pessoa mais especial como você. Deve ter puxado a sua mãe.

Com certeza se eu me olhasse no espelho naquela hora, eu estaria parecendo um tomate maduro. Nem tanto por eu ter escondido a morte da minha mãe, e sim pelo elogio que ele havia feito a mim. Eu! Especial! Fala sério, ele desconhecia o tratamento que eu levava na escola.

- Ah, minha mãe... Desculpe por isso.

- Sem problemas!

- Noite, Harry.

- Noite, Mione...

Lembro-me até hoje que demorei mais do que o habitual para dormir aquela noite. Não pelo fato de ter um fantasma flutuando ao meu lado e sim porque aquilo me deixou meio abalada. Se não fosse a luz da lua iluminando tão sonhadoramente a minha janela, acho que eu não pegaria no sono de jeito nenhum. Ainda mais sabendo que no dia seguinte eu teria que encarar os idiotas do meu colégio.

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Bom dia flor do dia! – eu sabia que era meu pai, mais uma vez entrando no quarto e escancarando a janela. Ah, vai dizer que ninguém nunca te acordou com uma frase animadora que faz a sua cabeça doer de tão alto que é pronunciada?

- Ah... Bom... Bom dia... – foi só me virar para o lado que encontrei o Harry me encarando. Se eu não estivesse com a cara amassada, o cabelo bagunçado e um pouco de baba no canto da boca, não teria dado um grito ao perceber que um garoto lindo como ele estava me vendo acordar.

- Hermione! Céus, o que foi? – meu pai correu e sem perceber atravessou o meu amigo fantasma, sentindo uma leve brisa de ar gelado.

- Eu... Bom... Vi uma barata horrenda e cascuda!

- E cadê a garotinha que quase me estrangula para eu não matar nem um mosquito?

Sorri amarelo novamente, pois havia me esquecido desse pequeno detalhe. E de repente uma vontade louca de estrangular o Harry, me subiu pela cabeça. Vê se pode, o danado estava lá rindo que nem da ultima vez!

- Tudo bem. Agora vamos esquecer as baratas cascudas, os mosquitos e qualquer estrangulamento... Esqueceu que hoje você tem aula?

- Nossa! – dei um tapa tão forte na testa que até hoje sinto a dor, nada exagerada. – Como eu pude me esquecer que hoje é dia de estudar?!

- Mione, você precisa ter consultas num psiquiatra... Estudar? Sai fora! Odiava quando era vivo, imagina agora que eu já morri? Nunca ouviu a palavra descanse em paz?

Foi inteligente o que ele falou. Mas ele não podia ter respostas melhores do que as minhas! Fala sério, eu me esforçava para conseguir. Foi aí que eu tive uma maneira melhor de cortá-lo, simplesmente mostrei a língua. Há algo melhor a se fazer quando alguém é melhor do que você em seus plenos 15 anos de idade? Certamente havia.

Não demore a se arrumar para tomar café, ok? – e em seguida meu pai se retirou. Se ele soubesse que me mandou trocar de roupa na presença de um garoto, iria se atirar da minha janela desejando cair de cabeça no chão até um traumatismo craniano o atingir.

- Então... Vai ficar me olhando?

- Ah! Desculpe... Vou dar uma volta por aí, espero você lá fora.

Procurei no meu armário uma roupa não muito nova. Como se eu tivesse roupas novas! Mas isso não vem ao caso. A questão era: melhor me vestir mal, porque certamente alguém fingiria tropeçar com um suco melado e tudo cairia sobre mim.

- Tchau, pai! – o beijei rapidamente, a tempo de pegar duas torradas para comer pelo caminho.

- Mas... Hermione você nem se alimentou!

- Eu como até chegar lá. Não posso me atrasar.

- Está certo, tome cuidado! É perigoso andar sozinha – Lógico que não passou pela cabeça meio careca do meu pai, que enquanto o Harry estivesse comigo eu jamais estaria sozinha.

Caminhei certa de que estava ciente onde o meu amigo fantasma se encontrava. E olha que eu não era tão boa em chutes, viu?

- Vêm, Harry! - o avistei ao longe, no cais onde a gente se encontrou pela primeira vez. Ele parecia angustiado eu percebi, mas ao ver-me pronta para sair seu rosto transparente iluminou. Acho que o compreendia. É melancólico ficar sozinho.

- Você está bonita! Não que você não seja... É que hoje aquela face cansada foi embora – em seguida deu mais um daqueles sorrisos que fazia minhas pernas tremerem.

Com certeza eu estava vermelha! Elogios sempre me deixam assim, até os do meu pai... E vindo de um garoto fofo como o Harry, eu ficava literalmente nas nuvens!

- O caminho é um pouco longo – quis demonstrar que não tinha me abalado com o que ele havia dito.

- Veja o lado positivo... Eu posso voar! Minhas pernas agradecem.

Agora quem sorriu fui eu. E percebi de canto de olho, que ele não parava de olhar para mim. Isso me deixou um pouco constrangida, mas na realidade eu dava pulos por dentro. Foi legal da parte dele se lembrar desse lado postivo que eu mesma tinha o alertado.

- Sabe... Não se assuste ao perceber como as pessoas me tratam naquele colégio. Eu já estou acostumada, entende?

- Como eles te tratam?

- Ah, acho que são invejosos!

Ele ergueu as sobrancelhas como se tentasse entender, ou sei lá, podia até ter pensado: que garota humilde.

- Inveja do que?

- Porque é óbvio que eu sou melhor do que eles em qualquer matéria. E esse meu jeito toda perfeitinha também não agrada muito. É difícil para mim! Eu não posso mudar a minha personalidade e o meu temperamento... Só porque eu respondo todas as perguntas e não tenho roupas bonitas, eles me condenam! Sou a pobretona que sabe lá como, tem inteligência. Eles não admitem esse tipo de coisa.

Nossa! Eu me abri com um fantasma! Não que o Harry seja igual a todas as almas penadas... Ele era diferente! E estava se transformando num amigo que eu rezada para ter.

- Os humanos são esquisitos. Tem preconceito, inveja, raiva, rancor... O problema é que eles só demonstram esse ponto negativo da vida. Eu garanto à você, Mione... Se eles te enxergassem com os meus olhos, veriam a pessoa maravilhosa que você é. E isso vale mais do que qualquer roupa de marca.

- Obrigada, Harry... – Eu tinha certeza que se naquele momento eu falasse algo mais, era capaz de chorar na frente dele! Eu sou sensível com essas coisas, e tenho que admitir: tudo o que ele falou devia ter uma certa lógica, pois meus olhos já estavam marejados.

Aquela é a sua escola? – após alguns minutos de caminhada na estrada de pedra, chegamos ao nosso destino.

- É sim... – respirei guardando todo o ar possível nos meus pulmões – Pronto para sessão tortura? – quis parecer divertida.

- É isso o que vamos ver – Harry adotou um timbre de voz muito incomum, fazendo com que os pêlos da minha nuca se arrepiassem.

- O que você vai fazer? – questionei surpresa. Um erro tolo, pois foi só colocar os pés naquele lugar que aquela nojenta da Pansy soltou uma de suas pérolas:

- Falando sozinha, come-livros? Essa é a nova tendência dos nerds super dotados?

Eu a ignoraria se ela não me empurrasse, fazendo com a pilha de livros caísse no chão.

- Vê se me deixa em paz! – na hora eu explodi. Já estava cansada de ser maltratada, bem, nem tanto por esse fato, mas ser maltratada na frente de um garoto era algo horrivel! Outro erro tolo, pois foi só juntar os livros que ela veio em minha direção e... Não sei bem como aconteceu, mas no segundo seguinte o Harry havia tomado o corpo dela de tal forma que a Pansy andava tropeçando nas proprias pernas com os olhos saltando das órbitas! Parece horrivel do jeito que eu estou falando... mas acreditem: todas as testemunhas riram, inclusive eu, que gargalhei mais alto ainda quando após ele deixar o corpo, ela caiu de cara na lama.

- Tchauzinho, querida! – dei um adeus para Pansy que cuspia lama até pelos ouvidos – Se eu me encrencar você está ferrado, Harry – sussurrei, é claro.

- Relaxa, esquentadinha... Isso só foi o meu plano número um!

Eu sabia perfeitamente que aquele só era o começo. E parecia estar certa, porque ao avistar o Rony, a desgraçada da Lilá fingiu derramar suco na minha blusa. Ela o amava e isso era fato, volte e meia os dois estavam se entrelaçando pelo colégio. O pior aconteceu a seguir: Rony e seus amigos riram de mim! Ele só fazia essas coisas grosseiras quando estava em companhia daqueles brutamontes.

- Ops! Desculpa por essa sujeira, Hermione – a Lilá me espetou com aquela voz irritante – Mas isso é pouco para a imundice em que você mora, não é?

- Esqueceu o cérebro em casa, ô filhote de cruz-credo?

Eu era extremamente péssima com ofensas! Meus pais sempre me ensinaram a demonstrar educação seja com quem fosse. Mas essa certamente era uma emergência. Mãezinha que me desculpe, mas aquela vaca mereceu!

- Oh! Como você ousa... Sua, sua pobretona! fechei os olhos ao perceber que algo ruim iria acontecer comigo.

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