~ Um encontro incomum



Aquele inverno nunca fora tão gelado. Lembro-me bem dos meus joelhos encolhidos contra meu corpo. O vento podia estar cortante naquele cais, mas eu não me importava com esse pequeno obstáculo. Você queria o que? Que eu fosse para casa tomar um chocolate quente como todos faziam? Não, era quase impossível mudar a minha opinião, afinal, eu amava aquele lugar! Era maravilhoso ler os meus livros até o sol se pôr... Muitas pessoas, disso eu sei, desconhecem a beleza que fica o mar quando os raios refletem nele. Mas eu sabia bem como era sentir aquela sensação, pois era a única vez que eu me sentia mais feliz... Era como se o céu fizesse aquele espetáculo apenas para mim, pois eu não o abandonava nem no inverno, quão frio estivesse.

Estava compenetrada lendo umas poesias de um cara famoso, quando de repente, assim do nada, ele apareceu ao meu lado.

- AAAAH! – gritei a ponto de ficar surda com a minha própria voz, mas eu não fui a única, pois ele também berrou.

- Quem é você? – me perguntou após o silêncio cair e os olhos saltarem das órbitas. Como se eu fosse a intrusa naquele lugar! Como se ele fosse digamos, normal.

- Quem eu sou? Acho que a questão aqui é quem é você! Ou, o que exatamente é você.

- Como quem sou eu? Ora, eu sou o... Eu sou o... Bem, eu não me lembro quem eu sou!

- Você parece um... Não! Não pode ser!

- Não pode ser o que? Está me deixando com medo!

- Eu é que deveria estar temendo algo... Pois se você ainda não percebeu, é transparente! – respondi assim mesmo, sem nenhum sentimento, sabe Deus se ele tinha sentimentos.

A cena a seguir teria sido engraçada, se ele não tivesse dado um grito maior ainda ao perceber que talvez fosse um... Fantasma! Bem, eu não estava exatamente acostumada com fantasmas falando comigo, apesar de sempre querer ter contato com algum... Sim, eu era esquisita, mas como sempre eu não me importava com quase nada, a não ser pelo fato de acabar derrubando o livro na água após me assustar com aquela voz ensurdecendo ainda mais os meus ouvidos.

- Mas que droga! – debrucei-me para tentar inutilmente enxergar o livro que afundava – Olha o que você fez!

- Eu fiz? Você está ficando doida? – dou risada até hoje, recordando quando ele apontou o dedo para si mesmo, que acabou atravessando o próprio, bem, digamos corpo.

- Você está rindo do que? – ele se zangou ao me olhar debruçada contra o chão, tentando sem sucesso, cessar aquela gargalhada que eu me odiava por ter.

- Isso... Isso foi extremamente cômico!

- Sua mãe nunca te ensinou a não rir da desgraçada dos outros?

Eu não podia culpá-lo! Afinal, como ele adivinharia que a minha mãe já era morta?

- Já sim e a sua? – Não, eu não quis comentar sobre o fato de não tê-la mais comigo. Não me julgue está bem? Ainda doía falar nela com essa naturalidade!

- Eu... Bem... Não sei quem é minha mãe.

Nossa! Aquilo doeu ainda mais no meu coração. Se ele não fosse tão transparente, eu juraria que naquele momento uma lágrima havia escorrido. O que fazer quando um fantasma chora? Eu não tinha a mínima vocação para psicóloga! Mas não diga que eu não tentei...

- Er... Desculpe, eu havia me esquecido – Sim, eu falei uma coisa totalmente nada haver para uma cena dolorosa!

- Não tem problema – mas ele me pareceu um fantasma com inúmeros problemas – Hum... Você é estranha!

Veja que audácia me chamar de estranha! Fiquei... Não! Não era agora que eu iria falar um palavrão, fiquei chateada da vida por isso, mas quis parecer uma pessoa normal. O que certamente estava longe, bem longe de eu ser!

- Estranha? Eu?! Por quê?

- Você conversa com um fantasma como se fosse a coisa mais normal do mundo!

- E você é um fantasma! Tem algo mais estranho do que isso?

Isso aí, eu o fuzilei com a resposta mais inteligente que eu consegui elaborar. Não que eu fosse uma pessoa má por não me importar com a cara triste que ele ficou... Mas você queria que eu fizesse o que? Tipo assim: olá senhor fantasma, é que eu adoro coisas sobrenaturais, sabe? E você, com esses olhos verdes parece muito convidativo de se conversar! Fala sério, eu era esquisita, mas nem tanto, não é?

- Volta aqui! Onde você está indo?

- Para casa, ora... Ou você acha que eu vou ficar aqui escutando alguém me chamar de estranha?

- Não! Você não pode!

- E por que não posso? Você por acaso vai me impedir? Ops, desculpa, esqueci que você é um fantasma e certamente me atravessaria... – nunca percebi que eu podia ser tão grossa! Acho que me abalei com a tal historia de eu ser estranha.

- Você tem que me ajudar, poxa! O que eu vou fazer aqui sozinho? Eu nem sei meu nome!

- Ah, sei lá... Vá para a luz! – cara, eu não acredito que falei essa coisa tão idiota.

- Luz? – ele me olhou com uma cara mais idiota ainda.

- Esquece! – eu continuaria o meu caminho tranquilamente se não fosse o fato dele me derrubar! Isso mesmo, aquele fantasma podia me tocar! Não me pergunte como, não agora.

- Você... Você... Você... – entrei em estado de choque

- Gente como eu, pode fazer isso?

- Não! Essa é a questão... Como você conseguiu?

- Eu sei lá. Apenas tentei te segurar pra você não ir embora e consegui!

- Tudo bem senhor fantasma, tudo bem. Agora que a gente já se conheceu eu já posso ir?

- Me deixa ir contigo!

- Pirou?

- É sério! Até eu me lembrar de alguma coisa... Pelo amor de Deus, seja piedosa! Eu não sei o que fazer, eu nem sei quem eu sou.

Eu não podia deixá-lo ali sozinho. Mas simplesmente não conseguia abandonar ele, era mais forte do que eu! Tipo assim, não que o meu coração tivesse amolecido pelo olhar fofo dele, ou pelo fato dele parecer ter minha idade, ou ainda mais... Eu tinha que admitir: para um fantasma jovem, ele estava muito, mais muito conservado! Bem, não é que ele conseguiu me fazer derreter?

- Está certo. Você vem comigo! Mas nada de querer falar enquanto alguém estiver presente, ouviu? Não é agora que eu quero ser chamada de louca.

- Aee! Valeu! Muito obrigado mesmo... Você é um anjo, um anjo! – e ele simplesmente beijou a minha mão! E foi bom, sabe? Uma sensação legal, pois até aquele momento só o meu pai e a minha avó haviam me beijado daquele jeito. Meio gelado mas legal.

- Então... Noite bonita, não é?

- Pois é... Linda – ele parecia distante. Flutuava ao meu lado com as mãos no bolso, e sinceramente, lindo era ele! – Qual é o seu nome? Esqueci de perguntar.

- Sou Hermione. Hermione Granger, prazer.

- Prazer... Nome legal!

- Obrigada, fantasma.

- Ser chamado assim é tão esquisitamente esquisito!

- Então eu posso colocar um nome em você?

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Gente, desculpa aí esse começo meio nda aver >.<'
mas a fic vai melhoraando, garanto!
:DDD

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