O Templo das Sombras




O piso estava pavimentado por lajes extremamente perfeitas, todas com a mesma medida e em forma de rectângulo. Ao centro, erguia-se um templo imponente, mas ao mesmo tempo medonho, pois deixava escapar de si uma aura negra, tal como toda a clareira.

Era noite alta por o que parecia, pois a Lua erguia-se no céu, lançando um véu fantasmagórico de mistério sobre o local, que os deixava arrepiados.

- O que quer Dumbledore que procuremos? – quis saber Gina, envolvendo-se nos próprios braços, como para se aquecer.

- Não sei… - murmurou Harry, sacudido sucessivamente por arrepios.

- Talvez um Horcrux? – arriscou Ron.

Os três olharam para Harry que para os evitar voltou a sua atenção para o pergaminho. A próxima pista era: dentro encontrarás algo querido, algo perdido nas sombras da escuridão abrigadas da luz.

- Penso que não… é algo mais precioso, alguma coisa que perdi e de que gosto muito – murmurou Harry tentando lembrar-se do que seria. – Talvez seja melhor entrarmos, já que é dentro do templo que está essa coisa.

- Repararam que os Lethifolds não nos seguiram? – observou Hermione olhando para trás.

- Não deviam ter tanta fome quanto isso – sugeriu Ron, mirando o templo duvidosamente. – Ou então têm medo deste sítio. O que me faz pensar que não deveríamos estar aqui, porque se até os monstros têm medo, o que teremos nós que nem monstros somos?

- Eu sinceramente não sou monstro… mas quanto a ti não tenho a certeza – murmurou Hermione sarcasticamente.

- Deveriam estar a guardar o templo – alvitrou Harry. – Vamos.

- Tens a certeza que queres entrar? – perguntou Gina agarrando-o pelo braço para o fazer pensar melhor. – Pode ser muito perigoso. Estamos na Floresta Proibida e um templo por aqui deve ser habitado por… por…

- Por criaturas piores que aquelas que nos atacaram – completou Hermione. – A Gina tem razão, podes perder tudo, até a vida.

- Dumbledore confiava em mim para me dar esta missão. É verdade, pode ser perigoso, e por isso mesmo quero que fiquem aqui fora, eu vou sozinho – pediu Harry seriamente, enquanto tentava mentalizar os riscos que poderia correr dentro do obscuro templo.

- Não! Isso não! De certeza que não é pior que estar aqui fora – manifestou Ron rapidamente. – E não penses que vais sem nós. Viemos para te acompanhar, para te defender desses predadores implacáveis e mortíferos… não nos podes deixar agora aqui fora a mercê deles, não é?

Harry riu-se. Por vezes Ron conseguia ser um óptimo tónico para levantar a moral.

- O meu irmão, apesar de burro, está com razão. Se tu fores, nós vamos.
Harry revirou os olhos, estariam todos loucos?

- E obviamente, nós temos todo o direito de escolha, não nos podes ordenar que fiquemos aqui à tua espera. Por isso não percamos mais tempo que se faz tarde – disse Hermione, avançando à frente dos três.

Não valeria a pena argumentar com uns teimosos de tal calibre, a sua amizade era forte demais para algum deles ficar para trás, e assim se aventuraram nos recônditos obscuros do interior do templo.

Era bastante profundo e do seu exterior nunca se poderia imaginar que tinha uma extensão tão sombria. Ao contrário da Floresta, rondava um silêncio depressivo que os deixava pouco a vontade.

- Lumus – murmurou Harry ao mesmo tempo que Hermione, enquanto os outros se apressavam a imitar os dois, pois a escuridão era tão densa que não conseguiam ver um palmo à frente do nariz, o que os desorientava.

- Para onde temos que ir? – perguntou Ron num sussurro. Nenhum deles se atrevia a quebrar o silêncio arrepiante com um tom de voz muito mais alto.

- Parece-me óbvio… só temos um corredor por onde seguir – respondeu Gina.

- A não ser que haja alguma passagem secreta, o que eu duvido, ou Dumbledore diria alguma coisa – murmurou Harry, iluminando as paredes com a sua varinha. Estas tinham uma espécie de Hieróglifos desenhados, de origem desconhecida, que pareciam não ter fim.

Hermione estendeu a mão para lhes tocar, mas uma sombra saiu de dentro da estranha imagem, contorcendo-se violentamente, e a empurrou com força para trás, fazendo-a soltar um grito e cair de costas no chão empoeirado, húmido e bolorento. Como um sinal de que fizeram algo que não deveriam ter feito, a seguir a essa sombra muitas mais começaram a imitá-la, sendo que, à sua volta, eram talvez dezenas as que o faziam, deixando-os comprimidos uns contra os outros, enquanto Hermione continuava deitada no pavimento gelado, paralisada de terror.

- Não se mexam – murmurou Harry.

Os três obedeceram enquanto tentavam controlar a respiração acelerada e os corações que batiam como loucos.

Observaram aquelas sombras a nascerem das paredes enegrecidas, a espalharem-se pelo corredor onde se encontravam, a acariciá-los friamente com as suas formas indecisas, até se deixarem fluir para a saída, onde desapareciam sob o luar. Quando lhes pareceu não haver mais nenhuma daquelas estranhas criaturas, respiraram de alívio, como se a sua vida estivesse por um fio. Mais tarde descobriram que estivera mesmo.

- Hermione, estás bem? – perguntou Ron, completamente coberto por suores frios, enquanto se baixava ao lado da namorada para a ajudar a erguer-se.

- Sim… meu Deus… perturbámos estas almas… - disse ofegante, como se tivesse corrido numa maratona.

- Agora já sabemos que é melhor não voltarmos a tocar em nada – disse Harry limpando os óculos à camisola. – É melhor continuarmos, elas podem voltar.

- Sim… - murmurou Gina. – Quanto mais depressa sairmos deste lugar melhor. Penso que preferia enfrentar dez vezes o Quem-Nós-Sabemos, a ter que permanecer aqui.

À medida que avançavam, a passagem foi ficando cada vez mais negra e a qualquer momento esperavam uma debandada de espíritos como há pouco.

O fim do imenso corredor terminava numa ampla sala circular sustentada por seis pilares e praticamente vazia, onde ao centro se erguia um alto altar onde repousava… um véu negro.

- Sirius! – exclamou Harry repentinamente, avançando para o altar.

Percebera agora ao que se referia a frase: dentro encontrarás algo querido, algo perdido nas sombras! Só a simples visão do véu o fez recordar de tudo o que se passara um ano antes no ministério da magia.

- Espera, Harry! – gritou Gina urgentemente tentando alcançá-lo, mas foi tarde demais.

Quando Harry pisou o primeiro degrau que se dirigia para o altar, várias sombras se materializaram dos seis pilares, sombras bem mais corpóreas que as anteriores. Não hesitaram em avançar para ele, que recuou, consciente do erro que fizera. A sua ânsia de voltar a encontrar o padrinho atraiçoara-o.

- Expecto Patronum! – gritou, apontando-lhes a varinha.

O seu Patrono foi de encontro a uma das sombras, mas esta dissolveu-o com um gesto de um braço deixando Harry em estado de choque.

- Hermione! – exclamou Ron aflito. – Faz alguma coisa!

- O quê?!?! O Patrono não resultou!!! – gritou Gina, vendo as sombras a avançarem para eles lenta e gradualmente.

Subitamente uma delas saltou sobre eles, indo-se fixar em Hermione e mordendo-lhe o ombro.

- Aaah! – berrou Hermione de dor, enquanto sentia um dentes afiados, mas inexistentes, perfurarem-lhe a carne.

- Expelliarmus! – disse Ron, apontando a varinha à sombra, fazendo-a se afastar, mas menos de dois metros.

- No pergaminho que o Dumbledore te deixou não diz nenhuma forma de derrotar estes monstros? – perguntou Gina urgentemente.

Harry não se sentia propriamente com tempo para estudar um bocado velho de papel, com seis enormes sombras traiçoeiras a avançarem para os seus amigos e para si.

- Que me lembre não!

- Então vê melhor! Com certeza há alguma pista, alguma dica! – pediu Gina recuando, enquanto as sombras se aproximavam deles.

- Mas…

- Não há nenhuma idéia melhor! Seguimos-te até aqui, é o mínimo que podes fazer! A nossa vida já está em risco e não é isso que vai piorar a situação! – declarou Hermione num gemido, agora um pouco menos nervosa por saber a consistência das coisas que enfrentavam, mas com dores lacinantes no ombro. – Rápido!

Harry voltou a abrir o pergaminho e ler em voz alta a frase que os levara até às garras daqueles demónios: dentro encontrarás algo querido, algo perdido nas sombras da escuridão abrigadas da luz.

- É óbvio! – exclamou Hermione. – Elas são derrotadas através…

- Da luz – completou Harry num gemido. – Mas será preciso um feitiço deveras forte… algo que as bana eternamente daqui…

- O Lumus Solem Maximus! A forma mais potente do Lumus! – exclamou Hermione, levantando-se com a ajuda de Ron.

- Lumus Solem? Já ouvi isso em algum lado…

- Foi o que usei contra a Armadilha do Diabo, no nosso primeiro ano – explicou Hermione olhando as sombras cautelosamente. – Não é um feitiço difícil, apesar da sua potência, só têm que se concentrar um pouco e conseguem dominá-lo.

As sombras já estavam extremamente próximas deles, possivelmente a preparar outro ataque.

- Aos três – disse Harry em espírito de iniciativa. – Um… dois… três!

- Lumus Solem Maximus!!! – gritaram os quatro num coro retumbante, mas não foi tão alto quanto os guinchos agudos que as almas soltaram dos seus corpos sombrios sem boca, quando uma fortíssima luz lhes embateu de frente.

Em trinta longos segundos, as sombras debateram-se para os alcançar, mas sem o conseguirem, pois a luz não as deixava avançarem e acabaram destruídas, possivelmente transportadas para outro mundo onde não atormentariam mais ninguém.

Respiraram de alívio ao vê-las desaparecerem como fumo e Gina foi averiguar o ferimento de Hermione.

- Não é fundo mas… - murmurou indecisa.

- Vai se lá saber se essas coisas têm doenças estranhas! – completou Ron fora de si.

Harry sentia-se extremamente culpado, no final de contas, a culpa fora sua, eles estavam ali por sua causa e eles quase morreram por causa da sua idiotice. Olhou para o altar onde repousava o véu. Agora duvidava sobre o que haveria de fazer… tentar trazer o seu padrinho de volta ou ficar com os seus amigos?

- Harry, vai – declarou a voz de Gina.

Ele voltou-se para trás e o seu olhar demorou-se sobre os seus amigos, Ron e Hermione, e sobre o amor da sua vida, Gina.

- Não posso… e se eles voltam?

- Duvido que voltem, e, se voltarem, nós aguentamos bem com eles – sorriu-lhe Gina amavelmente, um doce movimento que Harry considerou comovente. – Não te preocupes, ficamos bem.

- Hermione… desculpa – pediu Harry baixando a cabeça.

- Por favor! Não tens que me pedir desculpa. A culpa foi minha, distraí-me, foi só isso. Agora apressa-te que não me apetece passar aqui a vida.

- É melhor fazeres o que ela manda… já sabes como é quando fica irritada – aconselhou o seu melhor amigo.

Harry acenou, num gesto de agradecimento e encaminhou-se para o altar. Quando colocou o pé no primeiro degrau encolheu-se, com receio que as sombras regressassem, mas nada aconteceu e Harry continuou a subir até ao cimo, onde à sua frente, a menos de vinte centímetros, se encontrava o véu.

Examinou o local: não havia palavras, indicações do que haveria de fazer, só o cinza da pedra e o negro do véu. Fez o única coisa que lhe ocorreu… tocou-lhe.

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