Na casa de uma amiga
O dia todo Draco tinha ficado sentando na sala de espera do Ministério, sem ninguém para vigia-lo (como Percy tinha tão veementemente afirmado durante todo o caminho), mas sem nenhuma atenção especial (como ele achava que merecia). Tinha estado muito tenso a princípio, mas o barulho constante, o vai-e-vem das pessoas e os planos para o que faria quando finalmente saísse dali o distraíram totalmente por quase três horas. “Três horas?”, pensou ele surpreso ao olhar no relógio da parede. Sem vontade de perder mais três horas ele foi até a mesa da secretária cheio de pose. - Esse atendimento é pra hoje? – a frase carregada de irritação, o sorriso visivelmente falso. - O senhor está esperando pra ser atendido?! – disse a mulher de cabelos arrepiados, erguendo os olhos aparentemente surpreendida pela pergunta. - Não! – Ah, a ironia! A arma número um dos Malfoy em qualquer situação. - Estou aqui esperando porque eu sou IDIOTA! É ÓBVIO que eu estou esperando pra ser atendido! - Mas... – ela gaguejou – O jovem Sr Weasley disse que o senhor... Bem, ele não me avisou... Eu... “MALDITO!”, foi a única palavra publicável que lhe ocorreu. O Weasley o tinha feito de palhaço! Tinha o levado até lá sem necessidade, é claro. Ele estava esperando há horas e se tivesse ficado calado não seria chamado nunca. “Como eu não pensei nisso?”, ele se perguntou sabendo que provavelmente tinha sucumbido ao costume dos Malfoy de ir ao Ministério responder a acusações. - Eu... eu anuncio o senhor... – ela foi rapidamente até a porta onde havia a placa “Ministro da Magia”, ia abri-la, quando de repente voltou-se novamente para Draco – Como é mesmo seu nome? - Draco Malfoy – ele disse sem se importar com a expressão horrorizada que tomou conta do rosto da secretária. Não se passou nem um minuto e a mulher o conduziu até a entrada da sala. - Senhor, aqui está o rapaz. – sem esperar resposta ela saiu da sala e fechou a porta. Draco ficou intrigado. “Esse cara AINDA é Ministro?! É o fim da picada mesmo...”, pensou lembrando da indignação de seu pai quando soube da nomeação. Indignação suficiente para faze-lo desligar-se do Conselho. – Eu não me relaciono com esse tipo de gente! – Lúcio tinha dito na ocasião, cheio de raiva. Lembrando-se disso, o louro cumprimentou o Ministro sem um pingo de simpatia. Ele observou a sala rapidamente, avaliando o preço dos objetos e o estilo da decoração, como sempre fazia quando entrava num lugar novo. Achou tudo muito barato e brega. Especialmente aquela mesa de canto com fotos. “Putz...Nada mais cafona do que fotos de família no lugar de trabalho...”, ele pensou revirando os olhos. “Especialmente pra um cara sem família.”, completou a voz mais maldosa da cabeça de Draco. - Sente-se, Sr Malfoy. – o homem disse com polidez. - Estou bem em pé. O Ministro lançou-lhe um olhar curioso (quase divertido) e sentou-se. - Como quiser. O que o trouxe aqui? - Peter Weasley. – ele disse ironicamente, errando o nome de propósito. – Ele praticamente me coagiu. Disse que eu estava sendo procurando, coisa que, pelas três horas que eu fiquei esperando, não deve ser verdade. - Percy não mentiu. – o ministro meneou a cabeça - O senhor estava sendo procurado, mas não como um criminoso. Draco sentou-se na cadeira, esquecendo que tinha dito que não queria sentar, e cruzou os braços. - Pois bem, eu estou aqui. O que vocês querem comigo? O Ministro não se intimidou com a postura impertinente de Draco. Ele já tinha visto coisa bem pior, em situações bem piores e com pessoas bem piores, portanto, pra o ministro esse era só um moleque malcriado. “Faltaram um tapas quando ele era criança”, pensou ele. O homem abriu uma gaveta de sua mesa, procurou algo e depois colocou um papel sobre a mesa. - Primeiramente: seus pais foram enterrados aqui. – ele indicou o papel com um movimento de cabeça. Muito depressa o louro apanhou o papel. - Memorial das vitimas da guerra?! – ele exclamou e olhou interrogativamente para o Ministro – Que palhaçada é essa? - Sabemos que é um costume da sua família enterrar seus mortos no cemitério particular em sua propriedade, mas como sua casa esta interditada... Opa. As coisas estavam ficando bem esquisitas. - Minha casa está interditada?! - Sim. – o Ministro olhou para ele irritado pela interrupção – Estamos desmalignizando os locais por onde Voldemort esteve e onde se realizou magia negra. –uma pequena pausa, um olhar fadigado, uma expiração ruidosa - Sua casa vai nos dar muito trabalho, talvez até mesmo anos! Draco fez menção de responder a ironia da última frase, mas o homem prosseguiu falando. - Quando nosso trabalho terminar você pode muda-los de lugar se quiser. Eu apenas achei que eles foram vitimas da maldade de Voldemort como qualquer outro, e que isso deveria ser lembrado. “Quando se trata de Tom, todos perdem Draco...”, ele lembrou da frase que Gina tinha lhe dito certa vez. Só agora ele compreendia o quão certa ela estava. Se não fosse por Lord Voldemort seus pais talvez nunca tivesse se envolvido com magia negra e talvez, ainda estivessem vivos. Ele achou que seria humilhante admitir, mas decidiu naquele momento que não mudaria o túmulo de seus pais. - Era só isso? – Draco de levantou. - Sente-se senhor Malfoy! – ele ordenou usando um tom imperativo que não deu brecha para desobediencia. Se fosse uma criancinha, Draco teria estremecido de medo, mas ele não o era. “Quem esse cara pensa que é pra me dar ordens?!”, pensou o jovem irritado, mas se sentou mesmo assim. “Tinha que ser da laia do nosso grande herói!”, ele ironizou olhando de relance para uma das fotos da mesa. - Diga-me, senhor Black, - ele disse pausada e ironicamente - em que mais eu posso ajudar? - Como você deve saber, conseguimos capturar muitos Comensais da Morte. A maioria esmagadora réus confessos... – o olhar compenetrado de Draco indicava que esse era um assunto que muito o interessava - Um deles citou o senhor como um Comensal recém ordenado. - Quem foi o desgraçado?! – Draco berrou, embasbacado com a afirmação. - Mcnair. – ele respondeu secamente. - Ora! Isso é ridículo! Pode procurar em mim a marca, garanto que não vai achar nada! Ele não foi submetido a poção da verdade?! Que tipo de incompetentes vocês tem trabalhando aqui?! O rosto do Ministro se contraiu de raiva pela menção da palavra “incompetentes” e sua voz ficou um pouco mais grave. - Não nos adiantaria procurar a marca. Depois da morte Dele todos os seus seguidores foram libertados e a marca desapareceu de seus corpos. – Draco resmungou alguma coisa – Macnair envenenou a própria poção da verdade, desse modo não pudemos confirmar nem desmentir o que ele disse. E para sua informação, temos aqui alguns dos bruxos mais valorosos do mund... - Mcnair filho da mãe! - ele vociferou sem esperar que o outro terminasse – Tudo que eu quero é acabar logo com isso, Sr. Black. Tudo que eu não preciso agora é de uma acusação de uso de magia negra. – ele confessou pensando em Gina – Eu não fiz nada. - Também acho que não. – confessou o Ministro com ares de cansaço – E também quero terminar com esse maldito assunto, há uma maneira bem fácil de fazer isso. Draco teria sorrido de satisfação, mas não lhe pareceu apropriado rir diante daquele homem de maneiras tão estranhas. Ele parecia esgotado. Draco imaginou brevemente o que toda aquela maldade poderia fazer a um homem... Teve por ele uma simpatia leve, que logo se dissipou como se nunca tivesse acontecido. - Então diga logo qual é! Eu não vejo a hora de voltar pra casa... – ele disse urgente, esquecendo por um segundo que não podia voltar pra casa. O Ministro inclinou-se para frente. - Tudo que precisa fazer é responder a duas perguntas. Primeira: Aonde você esteve esse ano todo? - Na França – o louro disse prontamente. Nunca pensou que ficaria tão feliz em colaborar com o Ministério da Magia – Em Marselha, eu estive em uma estalagem trouxa, mas fui visto em muitos lugares exclusivos para bruxos. Será fácil confirmar. - Ótimo. – a resposta parecia ter convencido. – Vamos para a segunda questão: E aonde você esteve na noite de 7 de julho? - Bem, essa foi a noite em que eu saí de casa... - Mas temos informações sobre uma comemoração em sua homenagem, em homenagem a sua ordenação como Comensal... – o outro insinuou. - Sim...– Draco observou o homem redobrar sua atenção – Mas eu saí de casa secretamente, tão logo meus pais foram dormir. A ordenação aconteceria na noite seguinte... Havia alguma hesitação na voz de Draco, puro nervosismo em lembrar daquelas coisas, e isso não passou desapercebido. - E pra onde você foi? – disse o Ministro com o tato dos que estão acostumados a tirar informações das pessoas. - Pra...casa de uma amiga... - Que amiga? – ele insistiu. - Ora o que importa?! – Draco perdeu a paciência – Eu não virei um comensal e isso é tudo que é necessário saber. O Ministro argumentou que era de suma importância saber aonde ele passara a noite, porque Mcnair havia dito que a cerimonia da Marca tinha acontecido naquela mesma madrugada, após a festa e que só então Draco tinha fugido. Portanto, se ele dissesse seu álibi, o assunto estaria resolvido. ”Isso tudo era inveja? Mcnair seu porco!”, ele pensou enraivecido, desejando que o Comensal não tivesse morrido para que ele pudesse lhe dar um soco na boca. - Diga aonde você esteve e depois confirmaremos com a poção da verdade. Poção da verdade? Draco pensou depressa no que poderia acontecer e recusou-se veementemente a responder. - Não seja teimoso garoto! – esbravejou o Ministro – Se você não tem nada a esconder tome poção da verdade para que possamos saber onde você esteve! Ele sabia que o responsável por fazer o relatório oficial das investigações era Percy Weasley e sabia que Arthur Weasley era membro do conselho, portanto, assistiria ao seu interrogatório. “Eu estive na casa dos Weasley naquela noite”, ele se imaginou dizendo sob ação da poção, “ E dormi com a filha caçula deles. Dormir metaforicamente falando, é claro...” Seria o fim de qualquer chance de ter um relacionamento com Gina nas próximas cem encarnações. Draco levantou e deu uma volta pela sala. Odiava a autoridade a sua frente lhe dizendo o que fazer. Odiava que a família de Gina trabalhasse ali. Odiava que o maldito Ministro fosse padrinho da pessoa que ele mais detestava. Odiava não poder ir pra casa. Odiava não ter mais “casa”, no sentido familiar da palavra. Odiava não poder dizer aonde tinha estado e o que tinha ficado fazendo... - Eu estou DIZENDO que não tenho envolvimento com essas coisas. Eu ABANDONEI A MINHA FAMÍLIA pra não seguir esse caminho e você prefere acreditar no CRETINO do Mcnair, que não teve coragem nem de se manter vivo! O arroubo raivoso de Draco surpreendeu o Ministro, mas ele não deixou isso transparecer em sua expressão. - Garoto... – a voz baixa – Eu acredito em você. Você é desagradável, mas não acho que seja ruim. Só que a minha opinião não interessa! Tome a poção e siga a sua vida! Entenda que eu não posso libera-lo até que tenhamos certeza de que Mcnair estava mentindo. Draco mordeu o lábio. - Isso não é tão fácil... Não envolve só a mim. Sirius Black, o Ministro da Magia, ergueu as sobrancelhas e Draco se perguntou porque ele tinha aquela expressão de entendimento. - Sinto informar que até que isso se resolva o senhor vai ter que ficar sob custódia do Ministério. – ele disse levantando-se e indo em direção a porta. - Eu estou preso?! – Draco disse abobado. – Você não pode estar falando sério! O homem deu de ombros e suspirou, aquela era uma frase que ele estava ouvindo muito nos últimos meses. - Eu preciso escrever uma carta... – o louro pensou alto. Black não deu sinais de ter escutado, abriu a porta, chamou a secretária e voltou-se para Draco com um sorriso ligeiramente malvado. - Acompanhe a Sra Jones até nosso...quarto de hóspedes. – ele virou de costas para a mulher e disse em voz baixa – Lá encontrará um pergaminho e uma pena para escrever a sua carta.
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