O Pedido



Programa do dia: um tour pela Mansão Malfoy. E foi bem longa essa excursão... Também, pudera! Draco fez questão de levar Gina a todos os aposentos da casa, começando pelo andar de baixo e pelos jardins. Essa etapa foi até rápida, e terminou na cozinha, onde os elfos estavam quase escondidos. Esses, por sinal, ficaram incrivelmente tensos quando o casal entrou no cômodo. “Isso é uma cozinha?!”, pensou Gina admirada com o tamanho do lugar. Pensou na cozinha de sua casa e no trabalho que sua mãe tinha nela há anos e ficou um pouco incomodada. - Ai, senhor! – choramingou novamente a elfa torcendo seu paninho encardido – Mikka já disse! Não tem nada! Ai que vergonha! Mikka envergonha o senhor Malfoy! – a criatura falava e batia furiosamente a cabeça contra a porta do forno – Mikka envergonha! Mikka elfa muito, muito, muito inútil! Gina tentou falar para a elfa para de se flagelar, mas recursos verbais não adiantaram de nada, ela ainda se debatia e choramingava sua “inutilidade” e sua “vergonha”. A ruiva torcia as mãos de nervosismo do mesmo jeito que os elfos torciam suas toscas vestes. Tomado por um impulso Draco pegou a elfa pelo nó do seu trapinho, que segurava a “roupa” de Mikka no pescoço e a ergueu na altura dos seus olhos. - Qual é o problema?! A criaturinha tremia e evitava encarar o seu senhor nos olhos. - Mikka... Mikka avisou o senhor Malfoy...Mas o senhor veio para a cozinha mesmo assim... Mikka não querer envergonhar a família... – ela começou a soluçar, mas Draco a advertiu que se ela chorasse ele ia ficar muito bravo mesmo e ela parou imediatamente – Não ter nada pra servir para a menina! Snif, snif... E Mikka sabe que não tem nada mais feio do que não servir nada para os convidados do senhor Malfoy... Diante dessa resposta Gina repetiu que não queria nada, se esforçando para ser gentil e fazer os elfos se sentirem a vontade com ela. Um pequeno avanço foi feito quando eles esboçaram um leve sorriso de simpatia na direção dela. Draco ficou muito constrangido quando a histeria da elfa doméstica, finalmente, fez sentido em sua mente. Como era possível que ele não tivesse mesmo nada para servir num dia importante como aquele? Foi um “surto Malfoy” (Gina encarregou-se de dar o apelido mais tarde), ele sentiu-se um péssimo anfitrião, muito pouco cortês, praticamente um sangue ruim de tão mal educado... Argh! O tal surto de finesse do louro só passou quando eles saíram da cozinha e Gina teve um acesso de riso pelos modos pomposos que o namorado assumira de repente, sem nenhuma explicação aparente. - Você está tão estranho hoje, Draco! – ela disse ainda sorrindo, seguindo-o escada a cima. - Você ainda não viu nada... – ele murmurou num tom impossível de classificar. Depois da cozinha, Draco começou a apresentar os quartos. Ele não demorou a notar que os quadros dos homens família não estavam mais lá. “Séculos de Magia Negra que tiveram que ser devidamente apagados para o bem da sociedade”, ele pensou ironicamente, fingindo ignorar que preferia que pelo menos o retrato de seu pai tivesse ficado. Ele nada comentou a respeito com Gina, que estava mexendo um tudo, com a típica curiosidade e a falta de comedimento dos Weasley. Pra que estragar a alegria dela com essas besteira? Ela ficava tão linda rindo como criança... Eles visitaram todos os quartos, um a um... Draco fazia questão de explicar a origem, a função decorativa e prática e, é claro, o preço de cada objeto que eles encontravam pelo caminho (que na verdade nem eram muitos). A ruiva estava tão entretida no seu passeio inusitado que não se importou que Draco estivesse tão irritante, apresentando sua própria casa como se fosse um guia de museu. No final da tarde, depois de se demorarem horas em cada um dos aposentos do segundo pavimento, eles chegaram ao lugar que Draco estivera esperando o dia todo para mostrar. Mas ele não permitiu que ela entrasse correndo e pulando como tinha feito a tarde toda. Ao contrário, obrigou-a a parar na porta e fez cara de mistério. Só então Gina se acalmou da empolgação em que estava mergulhada e deu uma boa olhada no namorado. “Ai que lindo...”, ela se derreteu, “Ai como eu sou ridícula!”, ela se recompôs. Ela notou como ele parecia muito mais adulto e sério estando dentro de sua própria casa. Lembrou-se que há poucos minutos, tinha achado muito engraçado ver os elfos o chamarem de “Senhor Malfoy” mas, prestando atenção, era isso que ele era. O jovem Sr. Malfoy... Achou lindo e meio triste. Mas quando ele sorriu daquele jeito que ela já tinha visto tantas vezes a tristeza se dissipou totalmente. - Esse é um lugar muito especial... – ele começou fazendo parecer muitíssimo mais especial do que ele dizia. – Eu quero te mostrar. - O que é?! – ela mordia o lábio inferior. Deduziu que fosse o maior quarto da casa, porque era a porta do fim do corredor, no meio, e era a única porta dupla no andar de cima. “Será que era o quarto dos pais dele?”, ela se perguntava achando que não havia melhor lugar pra os donos da casa fazerem seu quarto do que no maior aposento da casa. Mas achou melhor não perguntar, porque podia deixar Draco chateado. - Era pra ser o quarto dos meus pais, mas nunca foi. – ele respondeu as dúvidas de Gina sem saber – Meu pai achava que batia muita luz... – ele disse com uma expressão nostálgica e os olhos postos em algum lugar distante. Foi muito rápido, logo ele estava falando com a garota denovo – Sempre esteve assim, vazio, mas sempre foi meu lugar preferido da casa. Mais do que o porão! – ele deu uma piscadela marota, fazendo graça com famoso porão da casa dos Malfoy que já havia guardado material de Arte das Trevas e hoje só guardava ar úmido. Gina levou as mãos à cintura ansiosamente. - Oh! Se é melhor que o porão deve ser bom mesmo! – ela aderiu ao clima descontraído, mas na verdade, estava quase pulando na maçaneta. Com um movimento brusco Draco abriu a porta e, simultaneamente a entrada de Gina, disse: - Não é nada demais... – a falsa modéstia estava pulando em cada sílaba dessa frase. Gina não deixou de notar isso. Lúcio tinha razão: entrava luz demais! Tão logo Draco abriu as portas o corredor inteiro se encheu da luz do dia e os dois tiveram que apertar as pálpebras até seus olhos se acostumarem a forte luminosidade. Quando finalmente parou de lacrimejar Gina abriu os olhos e a boca ao mesmo tempo, mas nenhum som saiu dela. O que ela viu não era “nada demais” como tinha dito Draco, mas era “especial” como ele também tinha dito. Um quarto do tamanho da sala de jantar, as paredes forradas com uma tinta mágica aveludada azul. Não de uma cor só, mas que ia do azul sólido até o quase branco, num degradê irregular. O cômodo estava totalmente vazio, dava pra ver a poeira dançando contra a luz do Sol. Como num quadro, o sol se punha no centro da janela e Gina ficou em silêncio só olhando. - Eu não disse que era especial? – ela ouviu a voz de Draco sussurrando e sentiu seus braços em volta de sua cintura e seu queixo se apoiando em seu ombro. - É sim! – ela sorriu extasiada e falou baixo – Muito obrigada por me trazer aqui! – ela girou o corpo ficando de frente para o rapaz – Não só nesse lugar especial, mas na sua casa. Foi importante pra mim... Obrigada. Ele sorriu de um jeito diferente e a beijou. Um beijo afobado demais pra uma ocasião tão lenta e contemplativa. Gina achou que ele estava estranho com todo aquele papo de “lugar especial” mas nem passou pela sua cabeça enche-lo de perguntas no meio de um beijo tão bom quanto aquele. Tão bom e tão rápido... Draco abriu as portas da janela (que na verdade dava para uma grande varanda que Gina não tinha visto ainda) e permitiu que uma brisa gelada entrasse. - Obrigado por me levar na sua casa também e por me mostrar para a sua família. Foi muito corajoso... – ele alisou o rosto dela delicadamente e sorriu – Foi terrível como interação social, mas como experiência espiritual foi único! – Gina deu risada, mas Draco não gargalhou como ela. Apenas a acompanhou com um sorriso leve. “Ele definitivamente tem algo errado hoje...”, Gina pensou parando de rir com dificuldade. – Eu posso te trazer aqui mais vezes, se você quiser... - Eu ia adorar! – ela disse abraçando-o e deixando a cabeça descansar no peito dele – Mas me conta, você pretende morar aqui? - Pretendo. E você? - Eu o quê? – ela perguntou alegre e distraída. Draco riu silenciosamente enquanto afagava seus cabelos. Então ergueu o rosto dela delicadamente, pelo queixo, e a olhou por um bom tempo. Ela o encarava curiosa e inocentemente. - Weasleys! – Draco exclamou finalmente. Agora a expressão de Gina era toda interrogação. E ele riu. Riu de achar graça, de irritação, de nervoso, de arrependimento prematuro e de felicidade. Deu risada até seus olhos começarem a lacrimejar e até Gina cruzar os braços e fazer bico em sinal que não estava gostando de ser o motivo da piada. E ele parou de rir e a abraçou com força pela cintura e, novamente, a beijou afoitamente. Isso a fez pensar que ele estava ficando mais esquisito a cada minuto que passava: Primeiro começava a rir sem motivo, depois dava esses beijos desesperados... “Deve ser a emoção de estar em casa novamente!” ela deduziu em pensamento. Quando eles se separaram perceberam que, de algum modo, tinham ido parar no chão, meio sentados, meio deitados. Draco, com o rosto ligeiramente corado pelas risadas, olhou no fundo dos olhos da namorada. - Eu realmente tentei ser sutil e tornar isso mais fácil... Mas não deu certo. Porque você, menina vermelha, não é NADA sutil. – ele riu e ela fez-se de indignada – O que eu estou tentando dizer é que essa casa é grande mais pra uma pessoa só... Gina apertou os olhos por um momento. Mordeu o lábio. Enrolou uma mecha de cabelo. “Ele não está dizendo que... Não, não está! Até parece... Mas se não é isso o que pode ser?”. Não podia ser mais nada além daquilo, ela sabia. Finalmente ela sorriu, deitou a cabeça para o lado, e disse com um pouco de manha, olhando para os próprios joelhos: - Você está me pedindo em casamento, Malfoy? A voz dele soou cheia de surpresa. - Não! Estou apenas querendo que você passe a noite aqui! – Gina fez uma cara genuinamente constrangida e Draco não teve coragem para manter a mentira – Não, não, é brincadeira! É claro que eu estou te pedindo em casamento! - Está mesmo? – a idéia lhe pareceu subitamente absurda. Ele fez que sim com a cabeça, tendo a mesma impressão que ela. - Não faça esse tipo de piadinha comigo, Draco! – ela quase implorou, com os olhos marrons cintilando. Ele tirou algo do bolso do casaco e colocou contra a luz. - Eu tenho até um anel caso você aceite... – e o anel reluzia dourado sob a luz avermelhada do Sol poente. – E então Weasley? O que você me diz? – um tom de tensão pairava na voz de Draco. Ele estava em pânico e achou que estava prestes a dizer algo muito ridículo - Quer se casar comigo? – e foi assim que Draco Malfoy disse a frase mais absurda da sua vida. 

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