Capítulo IV
Os dois jovens aparataram a uma distância segura da casa de Alastor Moody. O ex-auror ficava mais paranóico com o passar do tempo e eles precisavam sinalizar com as varinhas para indicar que queriam se aproximar.Isso evitava que Moody os recebesse com uma saraivada de feitiços e equipamentos desenvolvidos especialmente para capturar intrusos.
Quando avistou as fagulhas conhecidas, o velho Moody saiu de casa, arrastando a perna mecânica com mais dificuldade que o normal. Deu um sorriso simpático para Hermione enquanto seu olho mágico revistava Draco.
- Ah, é tão bom ver a bruxa mais brilhante da Inglaterra de novo! O que a traz aqui, Srta. Granger? E em tão agradável companhia?
Moody sabia ser desagradável quando queria, e lançou a Malfoy um sorriso sarcástico e assustador que deformava ainda mais seu rosto.
- Moody, nós estamos com um problema e precisamos encontrar uma pessoa. Foi o Sr Weasley quem disse que você poderia nos ajudar – explicou Hermione.
- Esse aguado está trabalhando com você? – perguntou Moody como se o jovem não estivesse ali.
- Sim, Draco está me ajudando. A Crawlley considera ele um dos melhores alunos da nossa turma.
- Se a Crawlley diz...- falou Moody dando de ombros e fazendo sinal para que ambos entrassem na casa.
O lugar onde Alastor Moody morava era uma cópia fiel de seu dono. Tinha um aspecto de remendo por todos os lados. Os móveis eram cobertos por inúmeros aparelhos estranhos que se moviam sozinhos e emitiam barulhos agudos.
Havia pedaços de pergaminhos por todos os lados com nomes e fotos dos bruxos mais procurados do século. Ao lado deles, imensos diagramas feitos pelo próprio Moody traçavam possíveis localizações desses bruxos.
Ele se jogou pesadamente sobre uma cadeira nada confortável, mas que lhe permitia esticar a perna sadia e a mecânica com mais facilidade. Indicou dois banquinhos estofados de veludo azul marinho e esperou que os jovens se sentassem.
- Bem, agora me diga o nome do bruxo e eu lhe digo onde encontrá-lo.
- Não é um bruxo, exatamente – explicou Hermione.
- Um aborto? Difícil ver abortos metidos em encrencas – comentou Moody soltando uma risada realmente divertida.
- Na verdade estamos atrás de um trouxa – cortou Malfoy que sentia imensa vontade de deixar aquela casa.
Apesar de saber que não havia sido Alastor Moody que o transformou em doninha no quarto ano em Hogwarts, era da imagem daquele ex-auror que ele se lembrava. E era a situação humilhante de ficar passeando dentro das calças de Crabbe que assombrava seus pesadelos, embora ele não admitisse isso para ninguém.
- O nome dele é Anthony Hilberg e pelo que o Sr Weasley conseguiu apurar para nós, ele é...
- Primo de Francis Avery – completou Moody. – Então o Hilberg anda aprontando de novo? Bom, posso lhe dar alguns endereços onde ele sempre acaba indo.
Moody puxou um pedaço de pergaminho e rabiscou alguns nomes de locais em vários lugares de Londres e até fora da capital.
- Aqui está – disse entregando o papel para Hermione.
Ela agradeceu e se despediu. Antes de saírem, Moody ainda deu vários avisos sobre como Hilberg poderia ser perigoso e sobre o conhecimento do mundo bruxo que ele tem. Seus capangas eram completos idiotas, mas Anthony Hilberg era astuto e por isso mesmo o trouxa preferido de todo bruxo das trevas.
- Para qual desses lugares vamos primeiro? – perguntou Hermione entregando o pergaminho a Draco.
O rapaz examinou todas as possibilidades e sugeriu:
- Podemos começar pelo mais óbvio: a antiga Alameda 4 de maio.
- Que raio de lugar é esse? – perguntou Hermione, achando muito estranho o fato de Malfoy dizer que era um endereço óbvio.
- Uau, finalmente eu vou poder ensinar alguma coisa para a Srta. Sabe Tudo?
A expressão deliciada no rosto do rapaz o deixava particularmente atraente e nem mesmo a contrariedade de Hermione a impedia de reparar nele. Aquele sorriso propositalmente torto e o olhar vitorioso eram provocadores e a jovem bruxa teve que se virar rapidamente para que ele não notasse suas bochechas corando.
- Eu não sou obrigada a conhecer todos os lugares imundos que você freqüenta, Malfoy!
A resposta saiu mais dura do que ela imaginou. Mas a provocação de Draco foi além do que agüentava. Não suportava que ninguém questionasse sua inteligência, e suportava menos ainda quando a faziam pensar em outra pessoa que não Rony.
Draco estava boquiaberto. Hermione já fora agressiva com ele várias vezes, mas em nenhuma delas o chamou pelo sobrenome. Na verdade ela só o chamava de “você”, e “Draco” quando estava de bom humor.
Ele deu um passo, segurou o braço da garota com força e a virou de frente para si. Aproximou seu rosto do dela e falou, muito sério:
- Foi só uma brincadeira! Agora, se quiser saber, essa rua é a passagem alternativa para a Travessa do Tranco. Os bruxos que não querem ser vistos andando entre o Beco Diagonal e a “rua das trevas” usam uma passagem que fica nessa alameda.
Hermione se desvencilhou da mão do rapaz e massageou o braço no local onde ele a segurou. Seus olhos estavam cheios de lágrimas quando ela respondeu, magoada:
- Então vamos até lá!
Aparatou o mais rápido que conseguiu, deixando Malfoy para trás irritado consigo mesmo. Antes de sumir, ele pôde ver que Hermione se esforçava para não chorar. E a única coisa que conseguiu pensar foi na sua estupidez. Com certeza, segurá-la daquele jeito quando ela tinha escapado de ser violentada há menos de 24 horas não foi sua melhor atitude.
Aparatou em seguida e a encontrou encostada a um velho carro, estacionado na alameda vazia. Seu rosto estava impassível, sem sinais de qualquer emoção. Ele não falou nada, andou mais alguns metros e parou diante de um portão enferrujado que dava para um jardim em completo abandono.
Atravessou o portão e rumou para o fundo do terreno, onde retirou um dos tijolos da parede com extrema facilidade e logo um grande aro surgiu, dando passagem diretamente para a Travessa do Tranco.
Hermione o seguia de perto e imitou quando o rapaz colocou o capuz sobre a cabeça. Realmente, os cabelos de Draco chamavam tanta atenção quanto os cabelos da família Weasley.
Além disso, todos os freqüentadores daquele pedaço da Inglaterra seguiam a moda de encobrirem seus rostos. Assim, eles passariam despercebidos.
Os dois deveriam procurar uma estalagem, ao estilo do Caldeirão Furado, cujo nome era Toca do Dragão. Ficava a poucos metros da Borgin & Burkes. Eles andavam apressados como todas as pessoas naquele beco. Não se falavam, mas vez ou outra, um deles olhava o companheiro de soslaio, certificando-se de que estava bem.
Chegaram à Toca do Dragão e agora precisavam se decidir. O fato era que eles deveriam entrar e checar se Hilberg estava por ali. O que criava o impasse era a abordagem a ser usada para entrar na estalagem e perguntar sobre o trouxa.
- Eu tive uma idéia – falou Hermione quebrando o silêncio magoado que tanto incomodava Malfoy. – Mas você precisa me dar carta branca!
Draco ponderou. Ficar a mercê das idéias da Granger era no mínimo perigoso. No entanto, todas as idéias que ela teve até aquele momento haviam funcionado.
- Está bem, Granger, eu lhe dou carta branca – respondeu resignado.
Antes de explicar qualquer coisa, ela apontou a varinha para ele e lançou um feitiço que ele não foi capaz de bloquear. Sentiu sua pele arder e a cabeça repuxar tanto que não conteve um gemido de pânico e dor.
Quando a sensação passou, ele viu Hermione satisfeita e com o peito inflado, orgulhosa do que havia feito. Draco se virou para o vidro da vitrine atrás de si e observou a mudança provocada pela jovem.
Agora ele não era mais o loiro bonito de sempre. Suas feições estava levemente mais endurecidas e seus cabelos haviam ficado mais compridos e escuros. Quando se voltou para falar com a garota, ela apontava a varinha para os próprios cabelos que ficaram imediatamente lisos e chegavam até a sua cintura.
- Agora me ouça. – pediu Hermione – Nós vamos entrar nesse lugar e sentar para beber alguma coisa. Depois vamos começar uma discussão e você vai me chamar do seu insulto favorito. Mas tem que fazer isso com raiva e bem alto, combinado?
- Qual o objetivo dessa baixaria toda? – perguntou levantando uma das sobrancelhas.
- Se o tal Hilberg e seus amigos estiverem aqui vão ficar incomodados com isso.
- E se isso não acontecer? Afinal, ele pode muito bem fingir que é um bruxo, já que conhece tanto assim sobre a gente.
- Se isso acontecer, a gente inverte a situação. Eu saio da estalagem e você fica conversando com ele, até ganhar sua confiança.
- Quem disse que eu vou conseguir ganhar a confiança desse trouxa?
- Oras, você é um Malfoy ou não? Que eu me lembre você sempre conseguiu o que quis! – disse em falsa bajulação.
Ela virou as costas para o rapaz, jogando graciosamente os cabelos para trás, e seguiu para a estalagem. Draco conteve um sorriso e a seguiu. Sim, ele era um Malfoy, embora acreditasse que o que ele mais queria naquele momento fosse impossível conseguir.
Os dois ocuparam uma mesa próxima a uma janela embaçada e coberta de poeira. Higiene era um tipo de coisa que os bruxos daquele lugar não davam o devido valor.
A mesa era de madeira rústica e mal trabalhada, e os bancos nada confortáveis. O assoalho rangia a cada passo, mas o som era abafado pelas conversas altas dos clientes. Uma escada no fundo do bar dava passagem para os quartos que ficavam no andar de cima.
Hermione olhava para tudo e para todos na expectativa de encontrar alguma pista, qualquer coisa que pudesse indicar quem era Hilberg. Infelizmente, a ficha que o Sr Weasley levantou para eles não tinha foto e qualquer um daqueles sujeitos mal encarados poderia ser o primo de Avery.
- Ele não vai andar com uma placa pendurada no pescoço com o nome pintado, Granger! – zombou Malfoy acompanhando os olhares da moça.
- Não sei se você reparou, Malfoy – disse Hermione com uma raiva visível, especialmente notada na pronúncia do sobrenome do rapaz – Mas se tem uma coisa que essa gente aqui não é de modo algum é discreta!
- Você não sabe mesmo nada sobre o mundo de cá, não é? Sua perfeição nunca permitiu que viesse até esses lugares “estranhos”? Nem precisa responder! Mas fique sabendo de uma coisa, Granger, você pode ser ótima com feitiços e poções, mas na hora de lidar com gente de verdade é uma completa inútil!
- Eu dispenso suas análises psicológicas a respeito da minha capacidade em lidar com as pessoas, Malfoy. Mas agradeço imensamente a sua aula sobre esse “lado” do mundo bruxo que eu não faço a mínima questão de conhecer! Para você deve ser fácil conviver com esse tipo de gente. Apesar de se dizer muito nobre e requintado, sua família sempre teve que conviver com a pior espécie de bruxos que já existiu no mundo.
Ambos tremiam de raiva. A discussão chegara ao ponto deles esquecerem que estavam ali em missão. Hermione olhava o rapaz como se estivessem novamente em Hogwarts e ele não passasse do esnobe sonserino que ela tanto odiava. Draco crispava os lábios, revoltado com cada resposta da moça. A última insinuação sobre sua família o fez perder o controle.
Levantou-se bruscamente, virou a mesa com força, arremessando-a longe, apontou o dedo para o rosto de Hermione ainda mais assustada e berrou para todo mundo ouvir:
- Agora você passou dos limites sua imunda sangue-ruim!
Ele saiu da estalagem com passos firmes e logo alcançou a rua. Hermione estava realmente abalada com a situação, mas sua mente de auror trabalhava depressa e ela se aproveitou da situação para forçar uma crise de choro. As lágrimas custavam a sair, mas o esforço fez seu rosto avermelhar e logo ela descobriu que nem todas as pessoas que freqüentavam lugares como aquele eram criaturas ruins. Um grupo de bruxos e bruxas se aproximou dela.
Uma das bruxas lhe estendeu um lenço encardido que ela aceitou de bom grado O pano tinha um odor de naftalina, mas pelo menos estava limpo e ela pôde se refazer mais rapidamente.
- O-obrigada! – disse com um soluço forçado.
- Ele não devia ter dito aquilo! – falou uma voz bastante grossa atrás do grupo.
Hermione avistou um homem forte, o rosto de queixo quadrado escurecido pela barba por fazer e os cabelos ralos bem aparados.
- Oras, Anthony! – exclamou a bruxa que emprestou a lenço a Hermione. – Foi apenas uma briga de casal, não foi, minha querida?
Hermione concordou com a cabeça, mas continuou olhando na direção do homem chamado de Anthony. Poderia ter dado tanta sorte assim?
- Você sabe que esse insulto me incomoda, Lauren! – falou o homem.
- Olha, ser trouxa nunca te impediu de fazer nada do que quisesse! – disse para o homem que continuava carrancudo e virando-se para Hermione explicou - Sabe, minha linda, Anthony é completamente trouxa. E ainda assim é muito famoso aqui. Não se deixe abalar pelo que o rapazote lhe disse. Se quiser, conheço ótimos feitiços para dar a devida lição nele.
Hermione esboçava um sorriso de contentamento. Apesar de ter se irritado de verdade com Draco, a briga deu o resultado que ela esperava. Descobrira onde estava o ladrão do Espelho e agora era só dar o sinal que o Ministério mandaria alguém para prendê-los.
No entanto, e se só Hilberg estivesse ali? Ela não podia acusar o homem sem provas. Procurou se acalmar e pensar em alguma coisa para fazer.
- Eu devo estar horrível! Tem algum espelho no banheiro para eu me arrumar?
Ela sabia que a resposta devia ser negativa. Se nem no Caldeirão Furado tinha espelho no banheiro, naquele lugar caindo aos pedaços é que não teria.
- Eu tenho um espelho no meu quarto – informou Lauren.
As duas já se levantavam para subir quando uma mão firme segurou Lauren e cochichou alguma coisa em seu ouvido.
- Relaxa, Anthony! Ninguém vai encostar a mão nele. A menina só precisa se recompor. Você viu o que ela passou!
E saindo de perto do trouxa, as duas alcançaram as escadas e subiram para o segundo andar, que conseguia ser ainda mais empoeirado que o primeiro.
A bruxa mais velha abriu a porta do quarto e indicou um grande objeto coberto por um lençol, que com certeza era a peça mais limpa do quarto. Aproximou-se e puxou o lençol com cuidado para que a moça pudesse se mirar e recompor o visual.
Hermione ainda mantinha os olhos fechados. Respirava fundo e a bruxa notou sua tensão.
- Pode olhar, menina! Você não está tão mal assim!
Ela criou coragem e abriu os olhos. Naqueles poucos instantes chegou até a ver a si mesma e passou as mãos sobre os cabelos. Pensava no que Harry lhe explicara anos antes, que o espelho mostraria os desejos secretos do coração de cada pessoa. O homem mais feliz veria apenas a si mesmo.
Seus pensamentos foram interrompidos quando a imagem passou a mudar. Ela não via mais seu próprio reflexo arrumando os cabelos. Via um lindo gramado, as pessoas em pé olhando para ela, que caminhava até o altar onde Rony a esperava.
Ela andava com passos delicados, ao ritmo da orquestra de fadas. Usava um vestido verde claro, os cabelos arranjados em um coque gracioso, com adornos de flores naturais. Ela se aproximava de Rony, e ele estava lindo. Como sempre, pensou feliz. A cerimônia estava no final e o celebrante indicou que eles já poderiam se beijar.
Foi um beijo apaixonado como todos os outros que haviam dado durante o namoro. Ela não via nada, porque a imagem refletida de seu desejo optava por manter os olhos fechados enquanto sentia aquele beijo.
Mas quando o beijo acabou e ela abriu os olhos, quem ela abraçava não era Rony. O beijo apaixonado foi dado em Malfoy. Ela cambaleou assustada com o que viu e saiu apressada do quarto.
Lauren a seguiu, perguntando o que estava acontecendo.
- Não sei chegar em casa sozinha! – explicou por sobre o ombro. – Sou estrangeira e essa é a primeira vez que venho até Londres e...
Ela havia alcançado o último degrau que dava para o bar da estalagem e trombara com um grande corpo coberto por peles. Olhou para o alto atordoada, pronta para se desculpar, mas seu rosto ficou completamente pálido.
- Hermione! – exclamou Hagrid, feliz em ver a jovem bruxa ali - O que faz por esses lados? Não me diga que está a serviço do departamento? Eu cruzei com o Draco há alguns minutos. Estava indo para o Caldeirão Furado e parecia mais irritado que de costume.
A garota tentava lembrar o feitiço de desaparecimento mais potente que conhecia. Queria lançar em si mesma! Os olhos de todos os clientes estavam depositados sobre ela.
Hagrid estava ali e falava animado para o dono da estalagem:
- Esta menina ainda vai ser a auror mais brilhante do Ministério!
Procurando uma brecha na conversa, ela saiu discretamente de perto do meio-gigante e tentou alcançar a porta.
- Vai a algum lugar? – perguntou Hilberg parando a sua frente.
Ela tentou aparatar, mas não conseguiu. A tentativa frustrada provocou risos nos demais bruxos.
- Ninguém aparata aqui, menina! Isso evita que os clientes saiam sem pagar a conta – explicou Lauren, que agora se posicionava ao lado de Hilberg.
- Hagrid! – gritou Hermione chamando pela ajuda do amigo.
Com dois únicos passos Hagrid se juntou a jovem e antes de qualquer explicação, ela aproveitou a distração das duas pessoas que tampavam a passagem e alcançou a rua. Agora poderia aparatar, mas não podia deixar Draco sozinho. Eles o viram com ela e se o achassem, o rapaz acabaria encrencado.
Correu desabalada para a rua que a levaria até o Beco Diagonal. Hilberg também havia deixado a estalagem e tentava alcançá-la. Ele não tinha varinha, mas era acompanhado de perto por Lauren, que lançava inúmeros feitiços na direção da garota.
Os bruxos que faziam suas compras por ali saíam do caminho com gritos de pânico. Ninguém esperava ver uma cena daquela desde que Lorde Voldemort finalmente fora destruído por Harry Potter.
Os gritos de pavor que se espalhavam pelas lojas chamaram a atenção de Malfoy. O companheiro de missão de Hermione não estava no Caldeirão Furado, como falou a Hagrid que estaria. Tinha parado no meio do caminho, mudando de idéia e se deixando ficar numa simpática e calma padaria que havia sido inaugurada há pouco tempo, no mesmo local onde a sorveteria de Fortescue ficava em seus tempos de Hogwarts.
Bebericava um chá sutilmente batizado com conhaque e quando viu a confusão que se formava no final da rua, deixou sobre a mesa o suficiente para pagar a bebida e dirigiu-se para o local.
Logo avistou Hermione correndo em sua direção. Atrás dela, boa parte dos bruxos que antes estavam na estalagem. Reconheceu na multidão alguns dos rostos que ele tanto odiava. Eles engrossavam a fileira dos perseguidores da moça e foi com gosto que Draco estuporou alguns.
Lançou para o alto o sinal que alertava o Ministério sobre conflitos. Logo alguns aurores começaram a aparatar entre a multidão e a confusão foi aos poucos contida. Draco esperou que Hermione se aproximasse mais e puxou a jovem para um outro caminho que ele conhecia.
Ela se deixou conduzir e logo eles estavam na alameda novamente. Quando se atreveram a olhar para trás, perceberam que dois trouxas do bando de Hilberg gritavam:
- Eles foram por aqui!
Estavam quase sendo alcançados. E naquele momento havia outros trouxas na rua, impedindo que eles aparatassem. Hermione praguejava contra si mesma por não ter se lembrado de aparatar quando alcançaram a passagem que dava para o terreno.
A correria toda a deixou cansada e ela respirava com dificuldade. Malfoy também não estava em sua melhor forma. O conhaque que a linda garçonete serviu a mais em seu chá o deixava com as pernas bambas.
Nesse ritmo vamos ser alcançados em breve – pensou.
Os passos estavam mais próximos e, num lapso de desespero, Draco teve uma idéia. Deixou que Hermione passasse a sua frente, puxou a garota pela capa, arrancando a proteção contra o frio e deixando a jovem somente de calças jeans e uma fina camisa de manga comprida verde.
Ela parou com o solavanco do puxão e olhou para trás em tempo de ver que o rapaz também arrancava a própria capa. Embolou-as de qualquer jeito e lançou numa lata de lixo.
Ouviu os gritos dos homens de Hilberg, que agora não estavam mais em apenas dois capangas, mas em cinco brutamontes, e fez sinal para que Hermione continuasse a correr.
Quando chegaram na quadra seguinte, a moça parou sem fôlego, apertando a barriga que doía devido ao excesso de exercício e ao ar frio inalado no trajeto.
- Não... consigo... dar... nem... mais... um... passo. – informou muito cansada.
Draco olhou para os lados a procura de alguma chance de aparatar ali, bem em frente a uma praça repleta de trouxas. Havia gente demais e isso lhes traria problemas ainda maiores.
Virou-se para vigiar a esquina e quando um dos homens finalmente atravessou correndo, parando no meio da rua para procurar algum sinal dos dois, ele se decidiu. Puxou as mãos de Hermione para perto de si e a envolveu num abraço, enquanto sussurrava:
- Fica quieta! Eles estão vindo para cá!
Hermione se deixou ficar envolvida naquele abraço. O rosto de Draco era o primeiro a ser visto, já que ele teve o cuidado de esconder a garota que era conhecida deles.
Notou satisfeito que o exercício dera ao cabelo da menina o seu natural aspecto cacheado e rebelde. E aquele maldito cheiro de flores e frutas apareceu de novo.
Os trouxas que seguiam as ordens de Hilberg continuavam perto. Um deles viu a ponta da capa presa entre a tampa e o latão de lixo e gritou:
- Por aqui, eles foram em direção à Praça da Realeza!
A Praça da Realeza era exatamente o ponto que Hermione escolheu para descansar. Os homens agora se aproximavam com mais velocidade e em poucos instantes estariam ali, diante deles.
Hermione sentiu o coração de Malfoy disparar e sem se dar tempo para pensar o jovem bruxo a puxou mais para perto, encostando-se ao muro de tijolos aparentes da construção atrás de si.
Segurou Hermione pelo rosto, a fim de tapar-lhe as feições e impedir os homens de identificá-la, e em seguida a beijou, no exato momento em que os cinco capangas de Hilberg passavam por eles.
Por mais distantes que os passos e gritos dos cinco trouxas ficassem, a ponto de não serem mais ouvidos, os dois não paravam de se beijar.
Hermione sentia as mãos fortes de Malfoy ainda segurando seu rosto com firmeza e carinho. Sua pele era macia, diferente das mãos calejadas de goleiro de seu noivo. Sentia a boca de lábios finos cada vez mais quente em contato com a sua, e as duas línguas se enroscando numa espécie de dança frenética e bem ensaiada.
Draco não entendia o que o levou a fazer aquilo. Mas agora que estava ali, não queria parar. Seu corpo pedia o corpo de Hermione com um desejo tão grande que chegava a doer.
Os corações dos dois estavam desencontrados. Batiam num ritmo totalmente novo, desconexo, febril. Um ritmo como uma antiga canção de guerra, que dava coragem para seguir adiante na batalha.
A moça sentia que seu corpo havia despertado de um jeito único e pensou que seria maravilhoso se eles não tivessem que sair dali. Ainda ficaram se beijando por um bom tempo, até que Draco se aproximou mais do corpo de Hermione.
A proximidade fez Hermione perceber o que havia provocado em Draco e ela recuou assustada. Olhou para baixo e ficou ainda mais embaraçada. Sentia o mesmo que ele. Queria o mesmo que ele. Mas a confirmação desse desejo no corpo do jovem foi como um aviso: eles precisavam parar.
Ela respirou fundo várias vezes e de um jeito muito rápido. Era quase como se ainda estivesse correndo tamanha a força com que o coração esmurrava seu peito. Draco virou-se de costas e também procurou se concentrar em outra coisa enquanto sentia o sangue quente correndo nas veias.
- Acho que eles já foram – disse a jovem tentando quebrar o constrangimento. – Podemos voltar para o alojamento e explicar a situação à Crawlley.
Ele voltou-se para ela, ainda confuso, e apenas murmurou:
- Mas ainda não recuperamos o espelho.
Hermione não sabia se ficava alegre com a notícia ou se ficava preocupada. As ordens de Crawlley, no relatório, eram bem claras e ela não gostava de ser contrariada por qualquer motivo que fosse: eles só deveriam voltar para o alojamento quando tivessem o espelho em mãos.
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