REUNIÃO



Um tenso Jerry White começou a anunciar a convocação do selecionado Inglês de Quadribol, titulares e reservas:

- Cho Chang (“Ah não!”- disse Toledo), Rogério Davies (“Que merda!”- vociferou Rony), Bernie Wolf (“Aquele trasgo!”- irritou-se Gina), Aldridge Wilson, Darius Thompson, Imelda Price (“É um campeonato de veteranos?”- questionou Draco maliciosamente)...

- E os outros convocados? – perguntou Vitor Krum.

O treinador da Inglaterra, às voltas com pergaminhos, atrapalhado pela maré de microfones e ofuscado pelos flashes das máquinas fotográficas, viu-se perdido frente às perguntas e exclamações dos jornalistas.

- E os Potter? E o Weasley? Ele não convocou Angelina Johnson? - era o que mais clamavam os jornalistas.

- Calma, pessoal - White tentava conter os ânimos –, Eu preciso ler os outros nomes da lista. – disse o treinador, tentando lidar com o assédio da mídia do mundo mágico.

- Ele ainda vai anunciar o restante – constatou Toledo, respirando aliviada.

Harry, Gina, Rony e Hermione continuavam formando uma “corrente”. Vanessa Carmichael ainda escrevia sofregamente em seu pergaminho.

- Rony Weasley, Cátia Bell, Angelina Johnson, Harry Potter e Gina Potter – finalizou o treinador, respirando aliviado e fechando o documento a sua frente.

- É um bom time – afirmou Vitor Krum, lacônico como sempre.

- Essa é a melhor seleção da Inglaterra dos últimos tempos. – declarou o repórter da TV Bruxa.

Na mansão de Draco Malfoy, o dono da casa deu gritos e socou o ar. Os jogadores dos Cannons cumprimentavam Harry, Gina e Rony pela convocação. Hermione, que não era fã do esporte, mas sabia o quanto o esposo e os amigos esperavam por aquele momento, deu um beijo em Rony e também um abraço carinhoso na cunhada e no melhor amigo.

Inesperadamente, Draco saiu distribuindo abraços e beijos. Até um espantado Harry e um quase enojado Rony receberam beijos do loiro.

- O que você pensa que está fazendo, Malfoy? – Questionou Rony com desagrado, limpando o rosto.

- Estou feliz, Weasley! – afirmou o presidente dos Cannons, dando o seu famoso “sorriso de um milhão de galeões”, como diziam as revistas bruxas de futilidades.
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Mais um trecho do perfil de Harry Potter para a revista “Seewitch”, por Vanessa Carmichael:

A alegria de Harry, sua esposa e cunhado, Rony Weasley, ao ser anunciada a convocação para o selecionado inglês foi contagiante, quase comovente.

Ainda sufocado pelos cumprimentos e abraços dos seus amigos, eu perguntei para o Eleito se ele realmente tinha alguma dúvida que seria convocado.

Harry sorriu e me disse simplesmente que aprendeu a esperar pelo pior. Hermione Weasley não esperou para dizer que ele precisa se alimentar melhor e realizar exercícios para melhorar o condicionamento físico.

- Nem mesmo grávida ela sossega – caçoou Draco Malfoy.

- Não. Agora ela ficou mais superprotetora ainda – concordou Rony.

Mas essas palavras foram ditas com descontração. Realmente, como foi amplamente divulgado pela imprensa bruxa, os jogadores dos Cannons e seu presidente possuem uma relação de amizade como não se vê na maioria dos times.

Impressionante também (no sentido positivo) é a postura de Harry Potter. De forma alguma ele se comporta como um astro. É assíduo nos treinos, gentil com os colegas, amoroso com a esposa. Em nada se parece com o rapaz arrogante que setores da mídia insistiam em retratar tempos atrás.

- Sabe, antes de conhecer Harry, eu fazia idéia dele como um sujeito que era quase uma divindade – disse a essa repórter o batedor brasileiro Andy Lopes – A gente cresceu ouvindo falar do “Garoto que sobreviveu”, do Eleito, então acaba tendo uma idéia equivocada sobre ele. Harry não é nada do que falam. É um cara muito legal. Um grande amigo mesmo!
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O debate da TV Bruxa a respeito da lista dos jogadores convocados por Jerry White estava quase insuportável. Tirando os comentários sarcásticos de Lino Jordan, o resto não passava de um falatório vazio. Até que finalmente a palavra foi concedida a Toni M’Bea.

- Toni M’Bea, o capitão do time dos Cannons é um dos nossos convidados na tarde de hoje, nesse debate a respeito da nova seleção inglesa de quadribol – anunciou solenemente Bobby Parsons, que a exemplo de Marla Donovan, comentava as partidas pela Rádio e TV Bruxa.

Diferentemente da comentarista, entretanto, cujas observações geralmente eram sucintas e objetivas, Parsons era pomposo e, na opinião de muitos telespectadores, profundamente chato.

Por outro lado, suas vestes bruxas elegantes e seus cabelos cuidadosamente assentados e mantidos imaculadamente pretos, mesmo já tendo passado dos cinqüenta anos de idade, faziam algum sucesso com as mulheres, notadamente as de meia idade.

- Toni, como colega de equipe de Potter, onde você acha que seu jovem amigo produz mais? – perguntou o comentarista com a sua voz solene – Na posição de apanhador ou de artilheiro?

O batedor africano, que estava impecavelmente vestido com um terno escuro, sorriu para as câmeras. Na mansão de Draco, os jogadores dos Cannons e o próprio dono das mansão estavam aguardando ansiosamente o comentário do colega de time, que todos sabiam, conhecia o esporte mais do que todos os jornalistas juntos, excetuando-se, talvez, Marla, que não estava presente no momento.

- Se você me permite, Boby – respondeu o africano – Harry produz bem em qualquer posição. Esse é o tipo do problema que deixará Jerry White feliz, com certeza. Onde Harry Potter for escalado ele será uma dor de cabeça para os adversários.

- Você não respondeu, Toni... – ia dizendo o comentarista.

- Ah, respondi sim – retrucou M’Bea com bom humor – Meu amigo Harry é bom em qualquer posição. Qualquer seleção ficaria satisfeita em ter um jogador como ele. Essa dúvida sobre onde colocá-lo, como artilheiro ou apanhador, é uma dúvida que a maioria dos técnicos ficariam felizes em ter.

Um constrangido Harry corou até a raiz dos cabelos quando os seus colegas aplaudiram, na sala de TV da Mansão Malfoy, a declaração do capitão dos Cannons.

- Que bonitinho ele assim vermelhinho! – caçoou Rony, desmanchando mais ainda os cabelos do amigo.

- É isso aí, Mister África! – vibrou Malfoy, apontando para a imagem da TV, como se o batedor pudesse vê-lo.
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- Eu acho que Price é uma ótima goleira, ainda que ela não esteja jogando como titular no seu clube – disse sensatamente Toni.

O debate versava agora sobre a qualidade dos jogadores convocados. Os “especialistas” em quadribol no programa da TV Bruxa tornavam qualquer discussão um grande mercado de peixe. Apenas as brincadeiras de Lino Jordan e os comentários sagazes de Toni M’Bea salvavam aquele programa de provocar uma sensação de tédio absoluto. Não na opinião de Hermione, é claro.

Não era essa, contudo, a opinião dos homens na sala. As garotas, por outro lado, mesmo as jogadoras, bocejavam com impaciência.

Depois de mais uma confusão de vozes que causou a declaração do africano, este, esperando que os debatedores se acalmassem, continuou:

- Rony Weasley deve ser o titular na posição de goleiro. Mas, qual outro grande goleiro possuímos na Inglaterra atualmente? – perguntou – Price é experiente e pode ajudar a unir o grupo, auxiliando White nessa tarefa.

- Toni é o único cara que sabe o que está falando – falou Vitor Krum, obtendo a concordância de todos. Mas o búlgaro não tirava os olhos da televisão, o que causava bufos de impaciência de sua noiva.

- Céus! Isso parece aqueles programas trouxas de futebol que o meu pai assistia na TV aos domingos – comentou Hermione, que achava esportes em geral um tédio - Se não fosse por vocês eu nem mesmo chegaria perto de um campo de quadribol. - finalizou a medi-bruxa dos Cannons.
– Mas você não nos abandonaria, não é mesmo? – perguntou Gina, simulando uma expressão de pânico, que a deixava muito parecida com Fred e Jorge.

- Sei não... – refletiu Rony – Como a Mione está grávida, é melhor a gente deixá-la em casa e arrumar outro curandeiro...

– Acho que concordo com o Rony – disse Harry, solidário com o amigo. Ele não fazia a menor idéia do que uma mulher podia ou não podia fazer durante uma gestação. Mas achava que era seu dever defender a sua melhor amiga.

Hermione suspirou contrariada, o que fez com que Harry e Rony se encolhessem um pouco. Conheciam a garota a tempo suficiente para saber que ela estava no limite de uma explosão. Entretanto, para a surpresa dos dois rapazes, a jovem abrandou a expressão, abraçou os dois, que a ladeavam no sofá e disse, visivelmente se controlando:

- Garotos... Vocês sabem que eu amo vocês, não é mesmo? Acho muito fofa a preocupação de vocês com o meu estado. Mas...

- Lá vem a bronca – cochichou Andy para Toledo.

- PAREM DE ME TRATAR COMO SE EU ESTIVESSE INVÁLIDA! CASO OS SENHORES NÃO SAIBAM, GRAVIDEZ NÃO É DOENÇA! – berrou Hermione, sobressaltando Rony e Harry. Gina e Draco estavam achando engraçadíssimo tudo aquilo.

- Mas... mas... – gaguejou Rony.

- Rony, eu sou uma curandeira, lembra? – disse a jovem, agora de maneira meiga, aconchegando-se ao ruivo – Eu sei melhor do que ninguém até quando eu posso trabalhar. Mas não se preocupe. Eu deixo você me paparicar bastante durante a gravidez - completou a garota.

- Vocês querem privacidade? – perguntou Harry de brincadeira, fingindo tapar os olhos para não ver a cena amorosa dos amigos.

- Ainda não, Senhor Potter – Hermione devolveu a brincadeira.
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A recepção foi simplesmente deslumbrante. As pessoas aplaudiam à passagem do grupo e bandeiras inglesas tremulavam no vento frio da manhã. Gritos histéricos eram emitidos pelas garotas bruxas, que imploravam pela atenção de Mergulho Potter e Maluco Weasley. Rogério

Davies, que chegou depois, acompanhado por um verdadeiro batalhão de garotas vestidas de azul, recebeu uma sonora vaia dos torcedores dos Cannons, vaias que sobraram também para as suas fãs.

Mas, de uma forma geral, não havia muita hostilidade entre as torcidas. Todos esperavam que tanto os ases do time laranja quanto os jogadores ingleses do time galês representassem a contento a seleção da Inglaterra, que já obtivera tantas glórias no passado. Mas que andava capengando há muito tempo.

Aurores e demais funcionários do Ministério da Magia não apreciariam, em condições normais, aquele tipo de manifestação bruxa. Sempre dava trabalho fazer com que estas passassem desapercebidas.

Alguns trouxas olhavam, entre curiosos e divertidos, os bruxos com roupas extravagantes que entravam numa construção aparentemente abandonada, na verdade camuflagem para a entrada do complexo esportivo dos Chudley Cannons, atualmente o clube mais vitorioso da Grã-Bretanha.

Mas, naquele dia, os sisudos homens da lei da comunidade bruxa pareciam bem humorados e Harry pôde perceber que vários acenavam para os jogadores enquanto mantinham à distância os torcedores.

No referido complexo do time laranja, estava para se reunir a nova seleção inglesa de quadribol, fato que motivava aquela euforia toda. Havia uma presença majoritária de torcedores dos Cannons, mas bandeiras azuis dos Tornados e também de outras equipes, conviviam em harmonia com as bandeiras, bonés e flâmulas laranjas que os excitados torcedores estendiam aos seus ídolos para que esses concedessem seus autógrafos, notadamente o casal Potter e Rony Weasley.

Vitor Krum, Andy Lopes e Cris Toledo também eram bastante assediados, uma vez que estavam de passagem pela sede do time, pois só se apresentariam no dia seguinte aos seus respectivos selecionados.

- Eu sinto que alguns jogadores dos Cannons será campeão do mundo em breve – dizia Draco Malfoy aos jornalistas, ostentando a gabolice de sempre – Talvez três jogadores ao mesmo tempo, se é que vocês me entendem – sorriu apontando para Harry, Gina e Rony, que se aproximavam, ladeados por uma avalanche de torcedores e jornalistas.
Davies, que vinha logo atrás, não parecia apreciar muito a atenção que todos dispensavam ao trio.

- O importante é que os Cannons são o melhor time do mundo e é justo que coloquemos nossa estrutura a serviço do selecionado inglês – continuava Draco Malfoy, com um sorriso triunfante nos lábios.

Quando finalmente todos os convocados se reuniram e perfilaram-se para os excitados fotógrafos, os flashes das máquinas bruxas quase cegaram os jogadores.

Os comentários da imprensa, de modo geral, versavam sobre a juventude do time (à exceção da goleira Price, que todos apostavam, seria reserva de Rony), sobre a maneira elegante que os jogadores estavam vestidos (uniformes de passeio cedidos pelas Organizações Potter-Malfoy, desenhados por Dino Thomas), com calças brancas e pulôveres vermelhos, uma mistura de roupa bruxa e trouxa.

Davies, contudo, ficou bem longe de Harry e Rony.

- Ele acha que a gente vai estuporá-lo – disse Rony ironicamente.

- Ele bem que merecia – intrometeu-se Gina, sorrindo em seguida para as câmeras, abraçada ao irmão e a Harry.
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Rony bem que imaginou que a esposa estava aprontando alguma coisa. Despedira-se de Hermione naquela manhã e a jovem disse de maneira enigmática que se veriam mais cedo do que ele imaginava.

Quando conseguiram enfim passar pela barreira de torcedores, jornalistas e seguranças, White, parecendo um tanto nervoso, anunciou de maneira formal:

- Sejam bem-vindos ao selecionado inglês, rapazes e moças. - disse o treinador.

Ocupavam a sala de reuniões do complexo esportivo. Wolf, que recentemente quisera acabar com Harry no famoso episódio do “Potter 500”, sorria amistosamente para o craque dos Cannons, que retribuiu sem mágoas ao cumprimento. Gina, entretanto, olhava para o batedor dos Falcões fazendo sua melhor cara de brava.

Eusebyus Nathingale, chefe do Departamento de Esportes Mágicos do Ministério, ao lado do treinador, pediu a palavra:

- Caros amigos – disse o homem de meia idade, antigo campeão europeu de duelos – Espero que essa seleção, que representa realmente o que há de melhor atualmente no quadribol inglês, nos represente com a grandeza esperada. Sejam todos bem-vindos. Estarei à disposição para o que precisarem. - comentou com entusiasmo e visivel satisfação.

- Antes de começar os treinos, todos passarão por uma avaliação física realizada pela Doutora Weasley – explicou o treinador, apontando amistosamente para Hermione, que havia entrado no recinto naquele momento, para a surpresa dos seus amigos e de Rony.

- Espere um pouco – disse Darius Thompson, um grandalhão loiro, batedor do time União de Puddlemere. – A avaliação da doutora aí – e moveu a cabeça na direção de Hermione de maneira depreciativa – pode determinar a nossa permanência ou não na seleção, certo? - disse com aspereza o batedor.

- Certo – respondeu White, ligeiramente desconfortável. Harry imaginou o que diria Vera Ivanova se um jogador se dirigisse dessa forma arrogante a ela ou a algum membro de sua comissão. A búlgara certamente o desencarnaria na hora. White, entretanto, parecia desconcertado.

- Como saberemos se ela será justa? Ela é casada com o Weasley e é a melhor amiga dos Potter – insistiu Thompson – Como saberemos se ela não vai prejudicar os outros jogadores? - finalizou o batedor bruscamente.

- A “doutora aí”, tem mais decência do que você terá em qualquer momento da sua vida, Thompson – retrucou Rony, levantando-se e encarando o batedor.

- Só um trasgo retardado como você, e que pensa e fede como um, poderia duvidar da honestidade da Hermione – acrescentou Gina, também se levantando e encarando o outro jogador de maneira ameaçadora.

- Ora, ora, a “Família Grifinória unida” – retrucou Thompson com um sorrisinho de desdém.

- Eu não preciso de família alguma para fechar essa sua boca grande! – vociferou Harry, caminhando na direção do jogador, bem maior e mais forte do que ele, mas que realmente parecia surpreso com a audácia do artilheiro dos Cannons.

- Senhores! – disse energicamente Eusebyus Nathingale. Angelina e Gina seguravam Harry, enquanto Rony era contido por Catia Bell e Cho Chang.

- Eu gostaria de falar! – praticamente gritou Angelina, sobressaindo-se no meio da balbúrdia.

Todos os jogadores agora estavam em pé entre os assentos da sala de reuniões. Era um aposento grande, onde dezenas de cadeiras confortáveis eram dispostas em fileiras. Na primeira delas estava sentado o batedor do União. Ele havia se levantado e estava de frente para os demais. Pela sua cara, pretendia dizer mais alguma coisa muito desagradável, mas de maneira surpreendente, Bernie Wolf e Aldridge Wilson, quase tão grandes como ele, lançaram-lhe olhares ameaçadores. Wilson, um negro alto e forte, que poderia passar por irmão mais novo de Toni M’Bea, disse apenas:

- Cale a boca, Thompson! - Ele era realmente assustador com seu tamanho.

- Vamos nos acalmar, senhores – repetiu Nathingale – Pois não, Srta. Johnson, pode falar.

- Eu quero dizer que confio plenamente em Hermione. Eu a conheço desde a escola e ela cuidou muito bem das pessoas durante a guerra – disse a capitã dos Tornados, obtendo a concordância da maioria dos jogadores.

- O meu colega aqui costuma falar mais do que a boca – explicou Wilson, ainda olhando de maneira hostil para o outro batedor. Ambos jogavam na mesma equipe, uma das mais tradicionais da Inglaterra – Gostaria de deixar claro que o que ele disse não reflete a opinião da maioria de nós. -finalizou o batedor sensatamente.

- É isso aí – concordou Bernie Wolf.
Como acontecia com alguns jogadores particularmente violentos, o batedor dos Falcões não parecia uma má pessoa fora do campo de quadribol.

- Eu gostaria de falar também – disse calmamente Hermione.

- Todos queremos ouví-la, Doutora Weasley – concordou o representante do ministério.

- O senhor talvez não esteja bem informado, Sr. Thompson – falou a curandeira de maneira enérgica – Nós, curandeiros, realizamos um juramento quando nos formamos. Nós juramos dar o melhor de nós para tratar as pessoas, e eu tenho feito isso desde a guerra. O senhor conhece muito pouco o meu marido e os meus amigos se julga que eles aceitariam qualquer tipo de favorecimento ilícito. E depois... – acrescentou com um meio sorriso –

Pelo pouco que eu entendo de quadribol, não acho que eles precisem de qualquer favorecimento.

- É isso aí, moça! – disseram Wilson e Wolf. Angelina puxou os aplausos, aos quais todos, exceto Thompson aderiram.
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Depois da tensão causada pelo batedor, as coisas ocorreram um pouco mais calmas para os lados do selecionado inglês. Todos, inclusive o mal educado batedor do União de Puddlemere, foram minuciosamente examinados por Hermione, apesar de Rony continuar achando que a sua esposa se esforçava em demasia.

Thompson, aliás, continuava emburrado no início da tarde e ficou resmungando baixinho quando foi anunciado que o escrete da Inglaterra teria um preparador físico, última moda entre as equipes de quadribol profissionais, que havia sido indicado por Hermione, o que demonstrava o quanto a curandeira era ouvida e respeitada pelos homens que dirigiam o esporte no país.

Durante muito tempo o quadribol era profissional apenas porque remunerava os seus jogadores (e muito menos do que os esportes trouxas).

As equipes tinham apenas um capitão, que escalava o time e realizava os treinamentos, que eram sempre simulações de situações de jogo.

Ocorre que, influenciados pelos esportes trouxas, norte-americanos e japoneses começaram a se preocupar com a parte física dos atletas bruxos e não apenas com a técnica. Em um brilhante artigo publicado recentemente na conceituada “Revista de Medicina Mágica”, edição da Grã-Bretanha, Hermione Weasley, usando a sua experiência como curandeira do time dos Cannons, demonstrou com dados e estatísticas médicas (que Rony julgou que ninguém entenderia) que os jogadores de quadribol gastavam uma quantidade de energia imensa para se manter voando por horas numa vassoura. E não apenas energia mágica. O esforço afetava os músculos, os ossos, enfim, toda estrutura física do bruxo. Daí a importância de uma preparação física adequada para garantir que os jogadores se tornassem mais resistentes, evitando a temida “estafa de vôo”, que vitimara Harry Potter após marcar quinhentos e dez pontos contra os Falcões.

Quando os Duendes de Dublin contrataram um preparador físico, os tradicionalistas do quadribol torceram o nariz. Julgavam ser mais uma jogada promocional do time dos “descolados” dos dois lados da Irlanda. Dois títulos da Liga Irlandesa, um título britânico e ótimas colocações na Copa Européia, entretanto, demonstraram que aquilo não era apenas um luxo exibicionista. E o fato do time sensação da Irlanda ser a equipe com menos contusões, parecia dar razão à idéia de preparação física, como Hermione havia percebido e comentado em seu artigo.

O preparador apresentado à seleção era um homem loiro, alto e forte, quase uma versão mais encorpada de Gilderoy Lockhart, professor do “Trio Maravilha” no segundo ano em Hogwarts. E definitivamente mais afetada.

Dell Walker era o “personal-trainer” dos bruxos modernos e “antenados” com tudo o que se passava no mundo dos trouxas. Entre os seus clientes estavam famosos corredores de vassoura da Inglaterra e de outros países. Modelos, atrizes bruxas e nada mais nada menos do que Baby Jane O’Neal. Mas o fato de ter sido indicado por Hermione Weasley parecia dissipar dúvidas sobre a sua suposta competência.

- Bem, queridos – disse de maneira delicada. Delicada demais, na opinião de alguns jogadores – Vamos começar com exercícios leves para fortalecer a musculatura. Sabe, eu adoro o seu cabelo – disse aparentemente sem motivo algum para Gina. Mas o seu... – lançou um olhar de desdém para Harry.

- Nossa! – disse Harry de maneira irônica – Isso me matou de desgosto...
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- Sabe, querida, eu adoro o seu cabelo... Mas o seu... – dizia Rony, imitando o jeito afetado do Sr. Walker.

- Acho bom ir se acostumando com ele, Weasley – afirmou Draco Malfoy, que havia dado uma passada no refeitório do clube, onde alguns jogadores ainda faziam um lanche após o treino puxado da tarde.
O Gold Hotel providenciara aposentos para os atletas (“Com aquelas camas?” - perguntou Gina, muito interessada) até o embarque para a Noruega, e providenciara chaves de portais, usadas pelos jogadores após os treinos em Chudley. Certamente forneceria também refeições, mas a maioria preferiu um lanche reforçado preparado pelos elfos empregados dos Cannons, pois temiam dormir em cima dos pratos se esperassem pelo jantar do luxuoso hotel.

- É isso que ele chama de exercícios leves? – reclamou Angelina – Estou esgotada!

- Você está brincando, Malfoy! – disse Rony espantado.

- Não, ele não está! – apartou Hermione, que havia entrado naquele momento no refeitório e analisava minuciosamente os itens da refeição dos jogadores – Rony, você precisa comer mais frutas e fibras!

- Por que o Harry pode comer guloseimas e eu não? – perguntou o ruivo, fazendo cara de criança birrenta.

- Por que o Harry está abaixo do peso – explicou pacientemente a curandeira – Vocês é magro, mas tem bastante músculos.

- E comendo como você come... – disse Angelina.

- Hum... Você acha que eu tenho músculos o suficiente? – perguntou Rony, sedutor.

- É o suficiente para mim – respondeu Hermione, baixando o tom de voz, como quem confidencia alguma coisa muito importante.
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O cansaço havia diminuído consideravelmente após uma semana de treinos puxados, ou havia se incorporado ao físico e à psique dos jogadores. Mesmo Thompson havia parado de reclamar. Talvez porque o preparador físico ameaçasse, a cada reclamação, “esfolar o seu traseiro gordo”, o que arrancava risadas dos demais jogadores. Angelina e Wilson quase passavam mal de tanto rir. O Sr. Walker, não obstante o jeito afetado, sabia ser duro com os jogadores quando necessário, embora Harry ficasse muito incomodado com a mania do preparador de querer arrumar o seu cabelo.

Finalmente o treino com vassouras, goles, balaços e pomo! Antes apenas realizaram treinamentos físicos e de controle de vôo, acostumando-se ás vassouras que seriam usadas durante as partidas das Eliminatórias, de marca diferente daquelas utilizadas pela maioria dos jogadores em seus respectivos clubes.

Não foi surpresa o fato de Harry ter sido o primeiro a se habituar às novas vassouras. Deu vários loopings e alguns poucos minutos depois já era capaz de realizar as manobras mais espetaculares.

Acidentalmente, um pomo de treino escapou das mãos de White e ia sobrevoando o campo, quando Harry, fazendo uma curva fechada o apanhou a poucos metros do chão.

Como essa parte do treino era acompanhada por torcedores e jornalistas, aplausos e assobios se seguiram à manobra espetacular de “Mergulho Potter”. Logo, dois times foram escolhidos, o time titular com Rony, Angelina, Gina, Catia Bell, Wilson, Thompson e Harry como apanhador. Os reservas, completados pelos suplentes dos Cannons, Nat Mars, Apolo Cole e Ben Woodrow.

Foi um ótimo treino. Angelina, Catia e Gina se entenderam às mil maravilhas e Harry apanhou o pomo várias vezes, o que sempre arrancava aplausos dos espectadores.

Quando todos estavam de banho tomado e prontos para se submeter à saraivada de perguntas da imprensa bruxa, Harry viu com desagrado Dan Carter, o mais inescrupuloso jornalista do mundo mágico, no meio da multidão de repórteres.

- O bastardo parece feliz com alguma coisa – cochichou Rony para Harry.

- Quem sabe alguém morreu – respondeu Harry com ironia.

Assim que Rony, Harry e Gina sentaram nos respectivos lugares, perceberam porque Carter estava feliz. Não era só o bom treino do time inglês que havia despertado a excitação dos repórteres que foram a Chudley naquele fim de tarde fria.

- Potter, você já sabe que não poderá jogar contra a Alemanha? – perguntou um jornalista do Profeta Esportivo sem a menor cerimônia.

- ELE O QUÊ? – vociferou um surpreso e indignado Draco Malfoy, que naquele momento entrava na sala de entrevistas.

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