PRÓLOGO: A CONVOCAÇÃO
Perfil de Harry Potter para a revista “Seewitch”, por Vanessa Carmichael.
Falar em Harry Potter talvez canse as pessoas. Ou talvez não. Tudo o que poderia ser dito a respeito deste rapaz de vinte e um anos, moreno e de impressionantes olhos verdes, provavelmente já foi dito. Salvador e Herói do mundo mágico, desafeto durante anos do governo bruxo, que tentou prejudicar a sua vida de todas as formas, além de tudo isso, craque do quadribol.
Tímido, talvez arrogante, destemido, arredio, o Harry Potter que emerge dessa reportagem, entretanto, é um pouco de tudo isso, mas com certeza é bem mais (ou bem menos, dependendo do ponto de vista) do que as lendas que pairam em torno dele. Aqui procuramos entender o Harry Potter de carne e osso. Um jovem, casado com o primeiro amor de sua vida, atencioso com os amigos, atleta empenhado e até mesmo homem de negócios, função esta que parece incomodá-lo enormemente.
A verdade é que o Harry Potter que apresentamos em perfil exclusivo nessa reportagem é muito mais interessante do que as pessoas imaginam e fantasiam, mas ao mesmo tempo é um rapaz bem mais simples e afável. E sem sombra de dúvidas, muito mais humano.
A jornalista e escritora Vanessa Carmichael passou uma semana na companhia do ídolo do quadribol e herói do mundo mágico, e escreveu esta reportagem, que não se pretende isenta, pois Carmichael nunca escondeu a sua admiração pelo jovem, mas os leitores verão que em nenhum momento ela tentou endeusá-lo ou aumentar a dimensão de sua figura, que, como diz seu amigo Toni M’Bea, “não precisa de nenhum retoque para ser verdadeiramente grande”.
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- Olha, gente, já vai começar! – disse Toledo animada.
Todos ocuparam os lugares na espaçosa sala de TV da Mansão Malfoy, onde Draco havia chamado os jogadores após o treino para assistir a entrevista coletiva de Jerry White, que como era previsto, foi nomeado técnico da seleção de quadribol da Inglaterra.
Poucas vezes uma convocação gerara tanta expectativa quanto a que seria anunciada naquele dia. Depois, a TV Bruxa realizaria uma mesa redonda com Marla Donovan, Lino Jordan e o capitão do time dos Cannons, Toni M’Bea, além de outros convidados, onde seriam avaliados os jogadores que representariam a Inglaterra nas duas partidas do mês de fevereiro próximo. Era a continuidade das eliminatórias européias para a Copa Mundial dos Estados Unidos, em Agosto.
As equipes, devido ao congestionado calendário clubístico europeu, teriam apenas duas semanas para realizar treinos para esses jogos. Toledo e
Andy também embarcariam para os respectivos países, para jogar por suas seleções nas difíceis eliminatórias das Américas. Assim como Vitor Krum, que estava na mansão na companhia de sua noiva Lilá Brown, que partiria no dia seguinte para a Bulgária.
Harry acomodou-se num dos sofás, tendo Gina ao seu lado. A ruiva vinha marcando-o mais implacavelmente do que os artilheiros e batedores adversários após a estafa de vôo que vitimou o Eleito devido ao episódio do “Potter 500”. Ela cuidava da alimentação de Harry, obrigava-o a dormir cedo e, principalmente, como Hermione Weasley, a mais famosa curandeira esportiva do Reino Unido, havia recomendado, não deixava que o jovem se aproximasse de uma vassoura até o anúncio da convocação para o selecionado inglês.
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Continuação da reportagem da Revista “Seewitch”:
Duas mulheres comandam a vida de Harry Potter. Sua esposa Gina, namorada de infância e o primeiro amor de sua vida e a amiga, Hermione Weasley, considerada uma das melhores alunas da história de Hogwarts e curandeira do time dos Cannons. Bom, talvez uma terceira, Vera Ivanova, a engraçada e irreverente treinadora búlgara do time laranja.
Harry se recuperou lentamente da dependência que desenvolveu da “poção para dormir sem sonhar”, a mais forte de delas, “ND-32” (mais informações, confiram a página 16 desta edição). O que pouca gente sabe, é que às vezes o artilheiro ainda tem o sono agitado e sofre com a falta de apetite. Ele admitiu à repórter que Gina e Hermione são os pilares de sua recuperação e extraordinária performance na Liga Britânica.
No campeonato encerrado recentemente, Potter foi artilheiro, considerado o melhor em sua posição, e escolhido pela imprensa esportiva bruxa e pelos torcedores, em eleição promovida pelo “Profeta Esportivo”, o melhor jogador do campeonato.
Modesto como é, Harry manifestou à repórter a sua preocupação com a carreira de sua esposa, temendo que o talento da ruiva acabasse eclipsado, como se ela fosse apenas a “Senhora Harry Potter”, e não uma das melhores artilheiras da Europa.
Digo para ele que essa preocupação parece infundada, uma vez que Gina Potter foi também escolhida uma das melhores jogadoras do torneio, empatada no voto popular com Angelina Johnson e Jane O’Neal, como principais artilheiras, e na opinião dos jornalistas, superior a capitã dos Tornados, o que não é pouca coisa, pois estamos falando de uma das maiores jogadoras surgidas no Reino Unido nos últimos dez anos, e possível capitã da seleção da Inglaterra.
Mesmo assim, Harry sempre enaltece o papel das suas companheiras de artilharia, Gina e Cris Toledo, essa última uma grande amiga do casal, titular da seleção do Peru.
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- Potter, qual será a sua atitude se o treinador White escalar Johnson e Bell como titulares e colocar sua esposa na reserva? – perguntou um repórter da Rádio Bruxa na primeira entrevista concedida pelo jovem após se recuperar parcialmente da estafa de vôo que o acometeu após o jogo contra os Falcões, partida na qual anotou a marca histórica de quinhentos e dez pontos.
A pergunta visivelmente irritou o artilheiro dos Cannons.
- Se eu não me engano, é White quem escala o time. Aliás, é ele também quem convoca os jogadores. Não cabe a mim dizer ao treinador quem ele escolhe para a equipe titular. Eu nem mesmo sei se ele pretende me convocar – respondeu de má vontade o craque.
- É verdade que você e White se reuniram esse dias? – perguntou um repórter da revista Wizzard Sports.
- Ele me visitou no hospital. Apenas isso. Uma visita social – respondeu o Eleito.
- É verdade que você não vai se apresentar na seleção se alguns jogadores forem convocados? – insistiu o jornalista da Rádio Bruxa.
- Isso é o maior absurdo que eu ouvi na minha vida! – indignou-se Harry – Quem disse isso?
- Bem, Rogério Davies andou insinuando... – ia dizendo o jornalista.
- Se Rogério Davies insinuar qualquer coisa contra Harry Potter, ele vai se arrepender muito disso – interrompeu Draco Malfoy, que até então estava anormalmente quieto – O Senhor Potter seria incapaz de realizar qualquer tipo de ingerência desonesta na convocação do selecionado inglês. Ele não precisa disso.
- Mas, Senhor Malfoy... – tentou insistir o jornalista.
- Cuidado com o que você fala, moço! – advertiu Malfoy friamente – Qualquer idiota que dê ouvidos às baboseiras de Rogério Davies pode ter seríssimos problemas com os nossos advogados. Você acha mesmo que Potter precisa pressionar algum treinador para jogar? Diga isso para os seus ouvintes e diga também para Rogério Davies o seguinte: - Potter é o melhor jogador de quadribol do mundo! O único que joga bem tanto de artilheiro como de apanhador. Ah... – completou o loiro, como se tivesse subitamente se lembrado de algo importante – Diga também para Rogério Daves que eu mandei isso aqui para ele. Oferta das Organizações Potter-Malfoy.
Com o seu tradicional sorriso estudado nos lábios, Malfoy fez um gesto com o dedo médio em riste, praticamente acabando com a coletiva, pois os repórteres caíram na gargalhada.
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- Aquilo era mesmo necessário, Draco? – perguntou Harry a seu sócio. Aliás, essa era a pergunta mais freqüente que ele fazia para o loiro após os shows de Malfoy para a mídia bruxa.
- Parabéns, cara! – disse Rony Weasley, cumprimentando o presidente dos Cannons e causando surpresa em todos os presentes. Rony não era de elogiar as performances de Malfoy perante a imprensa. Normalmente o achava exibido. Mas, para o ruivo, aquelas insinuações contra o seu melhor amigo foram demais – Eu sempre disse que aquele Davies não passava de um exibido idiota! – completou Rony.
- Nós não sabemos se Davies disse realmente aquilo – ponderou Harry, pretendendo ser justo.
- Creia, Harry, ele disse – confirmou Draco – O cara tem patrocinadores pessoais que não ficarão contentes se o “gracinha” Davies não for convocado para a seleção. Ele já está dando desculpas. Depois pode dizer que não foi convocado porque você o perseguiu pelo fato dele ter aceitado a convocação anterior. Eu tenho informantes nos outros times...
- Aquele filho da... – ia dizendo Gina – Hummm – você sempre pode me impedir de falar palavrões desse jeito. Eu não ligo – disse a ruiva, pois Harry a havia interrompido com um beijo.
- Você fez muito bem de falar aquilo sobre o Davies – concordou o carrancudo Vitor Krum.
- Mas... – ia dizendo Harry, que não gostava de passar por arrogante frente à mídia bruxa.
– Entenda uma coisa de uma vez por todas, Potter! – interrompeu Malfoy – Você é meu sócio, meu melhor jogador, minha fonte de lucros e eu vou defendê-lo sempre que alguém encher o seu saco. Você é bonzinho demais com esses caras! E além de tudo, você é um cara legal e eu gosto de você! – finalizou o presidente do Cannons, com um ar embaraçado.
Gina riu muito da “confissão” de Draco. O loiro, mais embaraçado que nunca, olhou em volta e se deparou com as expressões sorridentes de Hermione, Rony e Toledo, que faziam uma cara de “a gente já sabia disso!”
- Hem... quero dizer... – pigarreou Draco, o rosto assumindo um tom levemente rosado – Ah, você sabe! Alguém aí quer cerveja amanteigada? – disfarçou o presidente dos Cannons, saindo da sala em busca das bebidas. O que era desnecessário, pois ele possuía elfos domésticos para tarefas como servir bebidas aos convidados.
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Dentre os ocupantes da sala da Mansão Malfoy estava a Srta Carmichael. Ela acompanhava a semana do Eleito a fim de compor um perfil de Harry para a revista “Seewitch”.
A biografia conjunta que a prestigiada jornalista havia escrito de Harry, Rony e Hermione era considerada, de longe, o melhor trabalho a respeito de Harry Potter. Sem sensacionalismos baratos, sem sentimentalismos piegas, sem pretensões a revelações “íntimas”, em suma, um trabalho considerado sério por todo o mundo bruxo e que havia recebido inúmeros prêmios. E há meses constava da lista dos livros mais vendidos do mundo mágico na Inglaterra.
A seriedade da jornalista, uma morena bonita, na faixa dos trinta e cinco anos, atraiu a atenção e a admiração de Hermione. Principalmente porque a curandeira era a única do antigo Trio Maravilha de Hogwarts a ter paciência para ler os livros que publicavam sobre eles. Ela não tinha dúvidas que o de Vanessa era o melhor de todos. E o único realmente sério, na opinião da jovem.
- O White vai falar – advertiu Vitor Krum, sentado numa das poltronas grande o suficiente para acomodar duas pessoas, abraçado à noiva, e apontando para o aparelho de TV sintonizado na TV Bruxa.
Hermione Weasley e a Srta Carmichael, por razões diferentes avaliavam os semblantes dos jogadores, principalmente Harry, Gina e Rony. Elas sabiam que ser convocado para a seleção nacional era o ponto alto da carreira de qualquer jogador de quadribol.
Hermione continuava achando aquele esporte a coisa mais próxima que existia de uma arena romana de gladiadores. E tão perigoso quanto. Mas havia aprendido a respeitar a opção dos seus melhores amigos e do homem que amava. Fazer o que, se eles adoravam aquele jogo de loucos?
Embora nenhum bruxo em seu juízo perfeito pudesse sequer imaginar que Harry, Gina e Rony estivessem fora da seleção, eles estavam visivelmente tensos. No sofá principal, estavam os dois casais. Percebendo a tensão do marido e do melhor amigo, Hermione, que já segurava a mão de Rony, segurou também a mão de Harry e sorriu confiante para ele e Gina.
- Vai dar tudo certo, vocês vão ver – ela disse.
Da outra poltrona que ocupava, Draco pensou a princípio em fazer algum comentário sobre o fato de estarem os quatro formando uma corrente de mãos. Mas não teve coragem. Os laços que uniam aquele quarteto eram maiores do que a simplicidade daquelas mãos unidas. Observando Vanessa Carmichael, o loiro percebeu que a jornalista, confortavelmente acomodada num pufe, rabiscava algo num pergaminho, olhando sorridente para os quatro jovens. Ela também havia percebido, é claro, a coisa maravilhosa que era a amizade deles.
Finalmente, depois de comerciais que pareciam intermináveis, Jerry White entrou ao vivo da sede da Federação Inglesa de Quadribol. As câmeras da TV Bruxa deram um close no novo treinador do selecionado, que parecia um tanto desconfortável com toda aquela atenção.
Mas quando falou, sua voz saiu sem hesitação. Ou seja, ele já tinha o escrete definido. A sorte estava lançada!
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Oi, gente!!! Mais uma fic!!! Aguardo comentários!!
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