CAPÍTULO 2
Capítulo 2
Aquele maldito povoado era monótono e pacato. Do jeito que procurava. As pessoas pareciam estar no século XVII. Ele teve que passar a manhã inteira empilhando livros, de maneira trouxa. Aquela casinha quase na beira de um brejo era a biblioteca da cidade. Também, o que mais ele esperaria de uma cidade que só tem uma ruela?
Na hora do almoço, ele devorou como um bicho o prato que a mulher de Graham lhe ofereceu. Depois de comer sentiu-se um esfomeado imundo. Um pobretão. Agora ele sente na pele qual a humilhação de ser pobre. Miserável. E não só no sentido literal da coisa. Mas um miserável em todos os sentidos que você pode imaginar. Pobre de amor, de dinheiro, de vida.
O grande causador de tamanha miséria não fui eu, senhoras e senhores.
Foi o próprio Draco.
Eu não já falei que comigo não se brinca? Pois bem, esse rapaz só está pagando pelas peças que me pregou.
Olhou ao redor mais uma vez. Olhou enfurecido para o corte na mão. Olhou para aquele tom de laranja no chão, que despencava das árvores planando, outonais.
Laranja, vermelho e amarelo. Os tons de cobre a brasa. E um pouco do seu sangue rubro, se misturando às folhas secas no chão.
Uma leve brisa fazia algumas folhas grudarem em sua calça de algodão sujo. Estava começando a fazer frio, aquela lenha nos braços pesava. E ele estava perdido. Não que ele não estivesse perdido ultimamente. Ele nunca sabia onde estava se metendo; becos escuros, ladinas, tabernas... Mas aquele bosque o estava enfurecendo.
-Mas que diabos!
Ouviu um “crack”, mas não se virou. Já estava ouvindo coisas, isso sim. Alguém limpou a garganta. Ele olhou com os olhos arregalados para a figura.
~Uma grande aparição~
Prendam suas respirações.
Eis que eu, como ator principal, exibo-me como grande intérprete que sou.
Prestem atenção.
O Destino nunca se mostrou tão presente quanto neste dia.
Era uma garota. Dezoito anos no máximo. Seus cabelos eram facilmente confundidos com a paisagem. Algumas manchas douradas, provavelmente causadas pelo sol, brilhavam entre os fios vermelhos com o resquício de luz entre as árvores. Seu colo estava ligeiramente à mostra. Sardento. Todo respingado de manchas marrons e convidativo. O vestido floral chegava-lhe aos tornozelos, mas era de uma transparência displicente.
Ela não sorria. Não se podia decifrar as feições. Mas Draco conhecia bem aquele rosto. Não se lembrava de ser tão angélico, mas se lembrava bem dele. Depois lhe ocorreu que talvez por conviver com os bruxos de mais baixo calão, qualquer feição mais delicada já o encantava. Seu espelho mesmo, só refletia seu cansaço e sua velha alma.
Não se mexeu nem ousou falar. Estava perdido, mas agora se sentia calmo e conformado.
-Perdido? – perguntou ela. Sua voz trazia um ligeiro tom de piada.
-Talvez.
-Ajuda?
-Quem sabe? – ele estava ficando cansado desse diálogo de palavras soltas.
-Certamente não eu. – ela disse apanhando um cesto de palha do chão.
-E então?
-O que? – algumas flores caíram quando ela balançou o cesto de um lado para o outro.
-Nome? – ele perguntou, já esperando pela resposta.
-Para que?
-Olha, eu estou cansado e perdido, você consegue formar uma frase com mais de três palavras?
-É claro! – disse indignada, postando as mãos na cintura.
-E você vai me ajudar, sim ou não?
-E o que eu ganho com isso?
-Mas que atitude mais sonserina, Weasley!
-De que me chamou?
Ele ficou calado. Ela ouviu, oras... Ou será que não era a Weasley? Mas esse cabelo berrante e esse nariz pequeno eram dela, lembrava-se perfeitamente.
-E o que é sonserina?
-É um adjetivo. Que quer dizer astuto. Uma gíria de onde eu venho.
-Certo... – disse ela pouco confiante. – E weasley, também é uma gíria?
-Hum... Sim.
-Meu nome é Belladonna. – ela estendeu a mão suja de terra – Donna, para os íntimos, o que não é o seu caso.
-Logan McCready. Você não tem sobrenome, não?
-É óbvio, mas isso não é tão importante assim. – ela entrou no tronco de um carvalho. Draco observou de longe. Logo saiu do outro lado, um pouco impaciente por ele ainda estar parado no mesmo lugar. – Um sobrenome generaliza quem somos. Os Maggot são a ralé da cidade, os Bolger são os ricos, parentes do banqueiro. Eu sou a Belladonna, simplesmente eu.
Ela falava e falava. Será que seus pais não lhe ensinaram a não falar com estranhos? Por falar em estranho, aquela situação é que era admirável. Ele tinha certeza absoluta que ela era a Weasley. Mas... O nome dela não era Belladonna, era? Qual era mesmo o nome que aquele ridículo do Cicatriz chamava ela? G... G... Gina? Isso mesmo. Então seu nome devia ser Virginia ou Gianne, sei lá! Mas, Belladonna? Ela disse que os íntimos a chamavam de Donna. Por que o Potty a chamava de Gina? Um apelido carinhoso? E o que a Weasley fazia numa cidade trouxa? Essa história está muito estranha. E Draco havia determinado, ele iria esclarecê-la.
Persistência.
O que nos deixa claro que se ele vive até hoje é por causa dela.
E que também nos mostra que ele também vai descobrir todo o mistério que ronda a garota. Ah, se vai.
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